Através do Tempo - Entre Vidas escrita por Biax


Capítulo 27
XXVII – Tempo ao Tempo




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Assim que Rebeca sentiu seus pés tocarem o chão de novo, olhou ao redor. Estavam em uma praia de areia branca. Olhando para trás, conseguia ver a transição de areia para a grama, que ia além das montanhas, ao longe.

— Ainda estamos na mesma dimensão? — Rebeca olhou para Haziel.

— Sim, estamos. A casa de Ethan não está muito longe daqui.

— Ele consegue saber o que estamos conversando?

— Não, estou me certificando de que não. Então, fique tranquila. — Deu um sorriso gentil, começando a andar em direção ao mar.

Rebeca o seguiu. — Por que você me trouxe aqui?

— Acredito que você precise colocar alguns pensamentos em ordem. Estou certo? — Parou antes de chegar na areia molhada e se sentou.

— Você também consegue ler mentes? — questionou, um pouco desconfiada.

Ele riu de forma leve e divertida. — Não, mas sou bom em saber o que as pessoas estão sentindo.

Ela suspirou, e resolveu se sentar também, cruzando as pernas. Olhou para o mar. As ondas iam e vinham, calmamente, quase como se estivessem com preguiça. Realmente, era um lugar tranquilizador.

— Quando você quiser, Rebeca. — Haziel disse, observando o horizonte.

— Você é tipo um psicólogo das estações? — Abriu um sorrisinho, se sentindo mais relaxada.

— Bom, você pode me ver assim. Eu costumo ouvir o que aflige as almas das estações com frequência. E eu as aconselho conforme o necessário.

— Okay... Será que você consegue me aconselhar?

— Posso tentar. — A olhou, sorrindo. — E caso não consiga, pelo menos você colocou para fora o que a atormentava.

Era incrível como Haziel conseguia transmitir tanta leveza e segurança, mesmo dizendo pouco. Sua presença era acolhedora, positiva, calma e sincera, acima de tudo. Ele transmitia que realmente se importava com o que ela estava sentindo.

— Bom... basicamente... estou completamente confusa. — Olhou para suas mãos em seu colo.

— Com o quê?

— Com tudo. Com... meu relacionamento com Ethan e com Gabriel. Eu... eu amo tanto os dois, mas... Não sei. Parece que só o Ethan está na minha cabeça agora. Tudo o que eu descobri sobre nós... Eu estava tão tranquila quanto a tudo isso, mas agora... Eu não sei o que pensar. Eu não sei se deveria contar tudo isso a Gabriel, porque sei que é injusto ele não saber, afinal esteve sempre comigo, mas... tenho medo dele não aceitar, de ficar chateado. E o pior, de eu não querer mais ficar com ele.

Haziel ficou alguns segundos em silêncio, pensando. — Sabe Rebeca, você acabou de descobrir tudo pelo que já passou, seja com Gabriel ou Ethan. Acho totalmente compreensível que esteja confusa. Não acha que está querendo apressar o que precisa ser levado de forma lenta?

— Eu sei, mas... eu quero resolver tudo logo. Olha como eu estou! Eu não sou assim. Estou com vontade de chorar a todo momento por não saber o que fazer. Eu só quero sumir, sabe?

— Acredito que você está muito apegada ao que sente e ao que tem medo de sentir. Você não considera se deixar levar pelo que sente por Ethan para saber até onde vai?

— Claro que não! — O olhou, alarmada. — Isso seria muito injusto com Gabriel! Eu já me sinto culpada o suficiente com o que aconteceu até agora, imagina se eu me deixar levar!

— E você também não considera contar tudo a Gabriel? — Ele continuava calmo.

Rebeca baixou seu olhar para a areia. — Ele não entenderia. Ele... já se sente inseguro por Ethan ser do jeito que é, imagina se eu contasse.

— O que você acha que ele faria?

— Ele ficaria extremamente chateado, e com certeza se sentiria traído. Provavelmente ia me deixar sozinha e ir embora, sem falar nada.

— O que mais te atormenta nisso tudo? O fato de Gabriel não entender e ir embora, ou o fato de você gostar de Ethan e deixar Gabriel para trás?

Rebeca engoliu seco, sentindo suas mãos geladas. Com certeza eram as duas coisas, mas...

— Eu... eu tenho medo de deixar de amar Gabriel — admitiu, com pesar na voz. — Depois de tudo o que passamos. Eu jurei que nunca o deixaria... O que sinto pelo Ethan é muito forte... parece que esse sentimento passa por cima de tudo.

— Você deixou de amar Gabriel? — Algo em sua voz chamou a atenção de Rebeca, e ela o olhou.

Não, não deixei. Eu o amo.

— Não.

— Você ama Ethan e Gabriel. Talvez em intensidades diferentes, mas ama. Existem diversos tipos de amor, Rebeca, não apenas um. Talvez você não precise ficar tão preocupada assim, não é pecado amar duas pessoas ao mesmo tempo, muito pelo contrário. Acredito que... você deva primeiro identificar o tipo de amor que você sente por eles.

Tipo de amor...?

— Mas... e se o amor que eu sinto por Ethan for maior?

— Bom, aí você terá que fazer uma escolha.

O estômago dela se apertou e ela se escolheu, dobrando as pernas com os joelhos na altura do queixo. As abraçou e encostou a testa ali. Fechou os olhos e se concentrou no som que as ondas produziam, tentando se acalmar.

— Sabe, Ethan também está confuso com seus sentimentos.

— Ele falou com você sobre os sentimentos dele? — Levantou a cabeça, curiosa.

— Não, mas eu consigo sentir e até ver nos olhos dele.

Ela suspirou. — O que eu faço? — perguntou desanimada.

— Tire um tempo para você, Rebeca. Não precisa resolver tudo hoje. Você tem direito de esquecer desse assunto um pouco, para poder repensá-lo mais tarde, com mais clareza. — Balançou a cabeça de leve, olhando para o horizonte. — Está pronta para voltar?

— Pronta, pronta, não. Mas vamos. — Levantou.

Haziel riu e levantou, já com a mão para cima. Rebeca a segurou, e eles voltaram ao cômodo branco da casa de Ethan. Andaram lado a lado até a cozinha, onde Ethan e Gabriel estavam. Ele, sentado no banco da ilha, debruçado sobre ela, provavelmente dormindo, e Ethan de pé, atrás dela.

Ao olhá-lo, Rebeca sentiu as bochechas quentes.

— Acho que esses dois estão prontos para retornar para casa, Ethan. — Haziel disse gentilmente, com uma pontada de seriedade. — Me permite levá-los?

Ao ouvir aquilo, Rebeca estranhou e encarou Haziel, que deu uma rápida piscadela para ela. Ela sorriu, se sentindo como uma criança. Ele andou até Gabriel e balançou seu ombro de leve, o fazendo acordar.

— Hora de ir para casa, Gabriel.

Ele se endireitou, olhando para Haziel e depois para trás, para Rebeca, que deu um pequeno sorriso para ele. Gabriel levantou na mesma hora e andou até ela, pegando sua mão e a puxando para a sala, ansioso em ir embora. Rebeca olhou para trás enquanto andava, vendo Ethan no mesmo lugar, a olhando.

— Vamos lá. — Haziel andou atrás dos dois, até o primeiro cômodo.

Eles pararam no centro da sala, e Rebeca continuou olhando para Ethan, que não havia sequer se mexido.

Até mais, Ethan.

Fechou os olhos e sentiu uma leve brisa passando por seu corpo. Quando os abriu de novo, viu que estava em sua sala. Por uns segundos até esqueceu de todos os seus problemas. Parecia que faziam anos que não voltava para casa, e aquela sensação a tomou por completo, sentindo o conforto que aquele lugar proporcionava.

— Obrigada, Haziel. — Ela agradeceu, sentindo os olhos úmidos.

— Não há de quê, Rebeca. — Sorriu e se aproximou, a abraçando. — Agora preciso ir... Não se apresse, está bem? — sussurrou em seu ouvido. — Leve o tempo que achar necessário.

— Sim. Obrigada por tudo. — Eles se soltaram, e Haziel deu um breve aceno para Gabriel, sumindo logo em seguida. Rebeca olhou ao redor, vendo todos os móveis nos mesmos lugares e se jogou no sofá, abraçando uma de suas almofadas preferidas, se sentindo mais feliz.

— Lar doce lar. — Gabriel disse, se sentando ao lado dela.

Sim. Lar doce lar.

Os dois ouviram barulhos vindos do andar de cima. Pareciam passos, que logo desceram as escadas. Eles se endireitaram no sofá, e viram a si próprios descendo e parando no meio da sala.

— Uau, vocês já voltaram? — A outra Rebeca disse, com um sorriso enorme. — Podemos ir para casa, Felix!

— É! — O outro Gabriel concordou, feliz. — Foi um prazer representar vocês. — Fez uma reverência.

— Ah, uma coisinha. — A outra Rebeca apontou o dedo indicador para cima, pensando no que falar. — Você tem uma visitante lá no celeiro.

— Visitante? Quem é? — Rebeca questionou, surpresa.

— Vai descobrir se for até lá! — Riu.

— Mas por que ela está lá e não aqui?

— Faz uns dias que ela chegou e não tinha para onde ir. Melhor do que ficar aqui, né? — Felix se pronunciou. — Vai, vamos para casa. — Cutucou a outra.

— Vamos! Até mais para vocês! — Se despediu, pegando a mão de Felix e desaparecendo.

Rebeca e Gabriel trocaram olhares rápidos, e logo a garota levantou, saindo de casa em direção ao celeiro. Só no meio do caminho percebeu que estava descalça. Não conseguia lembrar onde seus tênis estavam, mas logo esqueceu esse fato, enquanto andava.

Assim que entrou, viu alguém sentado em seu sofá amarelo e abriu um sorriso feliz e surpreso.


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