Através do Tempo - Entre Vidas escrita por Biax


Capítulo 26
XXVI – Desespero




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As quatro pessoas conversavam entre si, baixinho.

A cabeça de Rebeca ainda doía, se sentindo cansada e para baixo. Sua visão ficou um pouco turva e fechou os olhos por alguns segundos.

— Beca? — Ouviu a voz de Gabriel ao seu lado. — Você está bem?

A garota estava conseguindo manter os pensamentos quietos. Parecia que havia água dentro de sua cabeça. Um mar furioso, levando ondas a baterem contra as paredes de seu cérebro. Era uma sensação estranha. Parecia que vozes sussurravam em sua mente. Vozes que diziam que ela precisava escolher um lado, mesmo que não quisesse escolher um.

Talvez fosse a culpa que dizia isso? Culpa por Gabriel não estar incluso naquela história toda. Ele estava ali, mas não sabia de nada. Não era justo com ele, porém, talvez ele não entendesse se soubesse.

Qual era a coisa certa a se fazer?

Por um momento, Rebeca sentiu falta de casa. Durante toda a viagem, não havia parado para sentir saudade de sua família ou moradia. Agora, parecia que tudo havia acumulado e sido liberado de uma vez. Seu coração se apertou. Tudo o que ela queria era poder deitar em sua cama e dormir. Então, lembrou da sensação de suas cobertas. Como sentia falta de dormir uma noite inteira e acordar de amanhã, com os pássaros cantando, toda enrolada nos cobertores.

Ela se sentiu aquecida, quase como se estivesse lá. Sua consciência fazia um bom trabalho a levando para longe. Só assim para ter uma pequena pausa de toda aquela loucura. Aos poucos, as coisas iam se resolvendo. Mila foi pega. Não poderia fazer mais nada para modificar o futuro. Uma coisa a menos para se preocupar.

Agora, ela parecia ter sido o menor dos problemas, mesmo tendo causado tudo aquilo.

O rosto de Gabriel aparecia na frente de seus olhos fechados. Ele parecia triste. Talvez já soubesse de tudo o que aconteceu. Talvez resolvesse ir embora. E se fosse? Ela ficaria bem com isso?

Não. Não ficaria.

Rebeca abriu os olhos, percebendo algo estranho. Estava deitada. Se sentou rapidamente, olhando ao redor e vendo que estava no quarto de Ethan. O céu estava de um azul claro e limpo, indicando que ainda estava cedo.

Não. Eu desmaiei? O que aconteceu? Não posso ter perdido tudo!

Jogou as cobertas para o lado, tentando desenroscar suas pernas dela e saiu da cama desengonçadamente, quase tropeçando nos seus tênis que estavam ali. Abriu a porta do quarto, olhando para o corredor vazio.

Silêncio.

Seu coração começou a bater rápido. Rebeca saiu correndo, tropeçando nos próprios pés e caindo com um joelho só. Levantou e continuou a correr, fazendo pressão com uma mão ao mesmo tempo na batida dolorida. Desceu as escadas, quase caindo de novo, e seguiu o outro corredor. Não havia ninguém na cozinha. Continuou correndo até a sala.

Ninguém.

Seguiu, indo até o primeiro cômodo vazio. Respirando rápido, girou no mesmo lugar, vendo as paredes brancas. Era estranho estar ali, sozinha. As paredes claras pareciam fazer pressão contra seu corpo. Começou a se sentir sufocada, então andou rápido para a cozinha, sentindo a garganta apertar.

Onde estava todo mundo?

Eu perdi a reunião. Eu não sei o que aconteceu com a ruiva. Não sei o que aconteceu depois. Não sei onde Ethan ou Gabriel estão. Não me despedi de Haziel, que foi tão gentil comigo. Por que eu apaguei?

Rebeca se aproximou da mesa redonda e da parede de vidro, olhando o mar. Seu coração pesava. Sentou no chão, dobrando e abraçando as pernas. Deixou a cabeça apoiada nos joelhos e começou a chorar. Parecia que tudo estava preso dentro dela, como se nunca fosse conseguir liberar.

Será que Ethan se sentia dessa forma? Cheio de emoções e incapaz de liberá-las?

Durante sua vida, em todos os momentos tristes e ruins, chorava. Chorava até ficar com os olhos secos e doloridos. Era assim que conseguia se sentir melhor, mais leve. Parecia que daquela vez não estava ajudando.

— Beca? — Com um sobressalto, olhou para trás, vendo Gabriel se aproximando e sentando ao seu lado, ao mesmo tempo que a abraçava.

Ela suspirou, sentindo o peito tremer, e acabou sentindo o cheiro que vinha dele, enquanto o abraçava de volta, se sentando de qualquer jeito, meio deitada. Uma boa sensação a tomou. Aquela sensação de acolhimento e segurança, mas também não deixava de pensar o quão injusta estava sendo.

Ele estaria me abraçando se soubesse o que aconteceu?

— Por que você está chorando? — Gabriel questionou, com a voz suave, segurando a cabeça dela em seu peito.

Em resposta, balançou a cabeça, negando. Não conseguiria falar, mesmo que quisesse, e apenas o abraçou mais forte. Permaneceu assim durante alguns minutos, até começar a se sentir dolorida pela posição. Fungou, passando as mãos nos olhos enquanto se erguia.

— O que aconteceu? — Sua voz saiu rouca. — Eu... desmaiei, não é?

— Sim — respondeu, preocupado. — Mas Ethan te pegou antes de você cair. Ele disse que você estava exausta.

— Estava — concordou. — O que aconteceu depois?

— Ethan deixou você deitada na grama enquanto resolviam o que fazer com Mila... Eu sabia que você ia querer saber tudo com detalhes, e só não fiquei com você para saber exatamente tudo o que aqueles caras iam decidir.

O estômago dela respondeu, dando uma apertada desconfortável.

— Bom, eles começaram a falar tudo o que a Mila fez de errado, e perguntaram o porquê ela fez tudo aquilo, só que ela não quis responder. Depois, dois deles sumiram e voltaram. Ethan disse que foram consultar Deus, para saber o que fariam com ela...

— E aí? — Arregalou de leve os olhos.

— Eles decidiram que iam apagar ela. Ethan me explicou que eles iam apagar tudo o que existia nela. Seria como se ela nascesse de novo e começasse tudo do zero.

— Então... ela esqueceria tudo o que fez — comentou, baixo.

— Sim. Eles chegaram a considerar voltar no tempo e impedir que ela roubasse o livro...

— Mas assim nada disso teria acontecido e... — começou, ficando alarmada.

— Eu sei. — A interrompeu. — Eu tive que me intrometer nessa parte, apesar de ter me sentido meio... fraco no meio de todas aquelas pessoas. — Deu de ombros, meio envergonhado. — Mas eu sabia que você ia ficar brava com aquilo. Apesar que, segundo Ethan, nós não saberíamos que aquilo realmente aconteceu... Enfim... eu disse o que eu achava. Esqueceríamos tudo, e eles consideraram.

Rebeca deu um pequeno sorriso, vendo como ele se importava com o que ela acharia daquilo tudo.

— Bom, eles levaram a Mila para outro lugar. Depois disso, Ethan te pegou e fomos para uma casa, depois para o Ponto Nulo, e viemos para cá. Ethan te deixou no quarto dele, e depois disse que ainda precisava resolver algumas coisas, e que poderíamos ficar à vontade aqui.

— Isso faz tempo?

— Não sei exatamente. Acho que sim... — Analisou o rosto dela. — Está melhor?

Não. — Não sei. Minha cabeça dói.

Gabriel continuou a analisando, preocupado. Seus olhos transmitiam o que ele sentia. Ele estava preocupado com ela, e Rebeca só se sentia pior ao perceber isso.

Eu não posso ficar desse jeito. Só vou deixá-lo mais preocupado ficando com essa cara de tristeza.

— O que você fez esse tempo todo lá?

— Depois que você saiu da casinha? Eu acho que dormi. Ethan me acordou, falando que você tinha pego a ruiva.

— Você dormiu por tanto tempo assim?

— Não foi tanto tempo. — Fez bico. — Acho que eu dormi durante uma hora, mais ou menos. Não tem como eu ter certeza. — Uma hora? Pareceu que eu fiquei dias indo para lá e para cá nas estações. — Então, como você conseguiu pegar ela? — perguntou em um tom curioso.

De novo, toda a trajetória pelas estações passou por sua mente. Ela tentou focar na que importava.

Como eu peguei a Mila...? Ah sim... eu pulei nela.

— Eu estava com uma sensação estranha, quando a vi saindo da floresta com o livro... Ela estava perto do lago, e eu corri e pulei nela. Caímos na água... e por um momento achei que ela ia me matar. Ela viu que o livro estava se desfazendo na água e me olhou muito furiosa. Mas... não conseguiu fazer nada. Acho que a água a impedia de fazer algo, e nessa hora, Haziel apareceu e me tirou de lá.

— Haziel? Era aquele homem que veio com você quando estávamos na reunião?

— Sim. Ele me ajudou... a me sentir melhor, depois do choque.

Gabriel ficou um pouco impressionado. — Caramba, você passou por altas aventuras enquanto eu estava dormindo.

É, passei...

Rebeca passou as mãos nos olhos, sentindo que eles estavam um pouco inchados. Os dois ouviram vozes se aproximando, e logo Ethan apareceu na cozinha, acompanhado de Haziel. O último viu os dois no chão, e deu um sorriso acolhedor para Rebeca, estendendo a mão para ela. Sem sequer questionar, ela levantou e segurou sua mão, tamanha confiança que tinha nele. Apenas deu uma rápida olhada para Gabriel enquanto iam para a sala, e disse um “já volto” sem voz.

Haziel e Rebeca andaram devagar, de braços dados até a primeira sala. Assim que chegaram no centro dela, sumiram.


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