Através do Tempo - Entre Vidas escrita por Biax


Capítulo 28
XXVIII – Essências




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— Rebeca! — Isabel berrou e abriu os braços, saindo correndo em direção a ela. — As duas se chocaram ao se abraçar, sorrindo feito bobas.

— Isabel! — Rebeca exclamou, sem acreditar. — Você realmente veio!

— É claro! Não poderia deixar de vir te ver, menina! — Se afastaram um pouco para se olhar.

É claro que Isabel não vestia mais as roupas do convento. Suas roupas eram modernas, calça jeans cinza, uma camiseta preta e uma blusa de flanela xadrez vermelho e preto. Seus cabelos cacheados estavam na altura do queixo, e até usava um par de óculos.

— Você não mudou nada, fisicamente. — Rebeca comentou, a olhando dos pés à cabeça.

— Você não tem noção de como eu esperei por esse momento! Tudo bem que eu te encontrei em outras vidas, mas... — exclamou, toda energética.

— Quê?! Você viu minhas outras versões? — Arregalou os olhos.

— É claro! Acha que eu fiz o que todos esses anos desde o convento? Olha, calma, eu tenho tanta coisa para falar e também quero saber de tudo o que você fez que não sei por onde começar!

— Eu acho que... — Gabriel se pronunciou. — Eu vou para casa, para deixar vocês conversarem.

— Que isso, Gabriel! — Isabel o abraçou de supetão. — Desculpe, foi muita animação, mas bom te ver também!

Ele acabou por sorrir e abraçá-la de volta. — Bom te ver também, desde que você não roube a Beca de novo para fazer o almoço.

— Não se preocupe com isso. — Deu risada e o soltou. — Nada de almoço ou roubo. — Deu uma olhada para atrás deles. — E aquele Ethan?

— Ah... Ele está na casa dele.

— Ah, poxa. — Colocou as mãos na cintura, fazendo bico. — Achei que vocês estavam sempre juntos.

Ué. — Agora que nossa aventura acabou, acho que precisávamos ficar quietinhos em nossas casas. — Deu um sorrisinho sem graça. — Por que perguntou dele?

— Hm... Nada, nada. Eu até fiz uns bolinhos. — Apontou para o sofá, onde havia uma cesta de vime pequena. — Para fazermos uma festinha.

— Ah, que bonitinha. Faz quanto tempo que você está aqui nos esperando?

— Hoje é o terceiro dia só. Aquela outra Rebeca me deu um susto, viu? Eu cheguei toda animada e ela ficou me olhando com cara de “quem diabo é você?”. Achei que você já tinha me esquecido.

— Eu nunca te esqueceria! Quer dizer, não enquanto eu fosse eu. — Ela estava realmente feliz por Isabel estar ali. Além de rever sua amiga, poderia se distrair com assuntos que não tinham a ver com Ethan.

Isabel sorriu, parecendo feliz. — É tão bom estar com uma versão sua que sabe de mim.

— Hm... na verdade eu não sei tanta coisa assim de você.

— Não, eu quero dizer que você sabe que eu não sou humana. Eu não preciso medir minhas palavras para não parecer que sou louca, sabe?

— Ah, entendi. — Riu. — Então sim. Mas você precisa me contar tudo. — Segurou sua mão e a puxou para o sofá. — Gabriel! — chamou sua atenção.

Ele a olhou assustado, com metade de um bolinho na mão. — Quê? — falou de boca cheia.

— Você sai pegando os bolinhos sem pedir? Cadê sua educação? — Olhou para Isabel, envergonhada pelo que o outro fizera. — Desculpa — pediu, vendo a cara assustada dela.

— Eu achei que... — Ele começou.

— Ah, tudo bem. — Ela de ombros. — Já que o Ethan não está aqui, não tem problema.

— Como assim? — Rebeca não entendeu a relação.

— Esse bolinho era meu e eu tinha colocado uma essência de leitura de mente, porque aí eu comia e ia conseguir saber o que aquele cara estava pensando.

Rebeca sentiu seu corpo começando a travar. — ... então ele vai conseguir...

Gabriel deixou a metade do doce em cima da cesta e levantou, olhando para Rebeca, parecendo surpreso consigo mesmo, mas então seu sorriso começou a sumir, dando lugar para uma cara séria e chocada.

Não...

Isabel olhava para os dois, estranhando aquela atitude. Colocando as mãos na cabeça, Rebeca começou a andar para trás, saindo do celeiro.

Não, por favor, não!

— Rebeca! — Gabriel a chamou, indo atrás dela e segurou seu braço, a fazendo parar e olhá-lo. Seu olhar estava inconformado. — Você...

E, sem querer, ela acabou sentindo o que Gabriel estava sentindo. Angústia, raiva, confusão, ressentimento, traição... tristeza.

— Você não ia me contar... — disse baixinho. — Você... ama mais ele — afirmou, com as sobrancelhas juntas e voz embargada.

— Não, Gabriel, por favor, eu...

— Você ama ele — interrompeu, inconformado e a soltou. — Vocês... tiveram... — Olhou para baixo e balançou a cabeça.

— Gabriel... — Tentou tocá-lo, mas ele se afastou. — Por favor, você precisa entender tudo.

— Não, eu já entendi. Não precisa mais ficar pensando no que fazer, você já sabe. — E passou por ela, indo para a rua.

— Gabriel. — Se virou, o acompanhando com o olhar. — Por favor!

Ele não se virou, e Rebeca sabia que ele estava agindo certo, ao contrário dela. A culpa a impedia de ir atrás dele, então ela apenas o assistiu ir embora, com lágrimas escorrendo pelo rosto.

— Beca. — Isabel a abraçou, e ela retribuiu o abraço, chorando ainda mais. — Me perdoa, onde eu estava com a cabeça em deixar aquele bolinho fácil... — Rebeca balançou a cabeça, inconformada com tudo aquilo. Aconteceu tão rápido que mal deu tempo de raciocinar. — Você... me deixaria ler sua mente para saber o que aconteceu? Talvez eu possa te ajudar de alguma forma.

E de novo, toda as lembranças passaram por sua mente, pensando se seria uma boa ideia Isabel saber de tudo. Mas ela nada tinha a esconder dela, então, por que não? Talvez ela realmente pudesse ajudar com algo.

— Tudo bem — concordou, passando as mãos no rosto. — Vai ser mais fácil do que contar tudo.

Isabel puxou Rebeca pela mão de volta ao celeiro e se sentaram no sofá. A mais nova sentou com as pernas dobradas, com os joelhos na altura do queixo, enquanto Isabel comia a outra metade do bolinho.

— Como... isso funciona, exatamente? — Rebeca perguntou, tentando parar de pensar em Gabriel.

— Hmm... — Terminou de comer antes de falar. — Eu tenho uma habilidade, onde consigo colocar essências poderosas em comidas. E, pegando esse bolinho como exemplo, coloquei uma essência de leitura de mente, e quem comer, consegue ler a mente das pessoas a sua volta durante um período de tempo.

— Então... você consegue colocar outros tipos dessas essências?

— Sim. Tudo o que eu quiser colocar, eu consigo. Força física, telecinese, habilidade para voar...

— E como você conseguiu isso?

— Bom, eu arranjei meio que um emprego na dimensão Dyo. Viram que eu tinha uma tendência a dar “razões” para as pessoas que eu conhecia, então... Me deram a habilidade de dar habilidade.

— Como assim dar razões?

— Eu sempre fui muito conselheira, sempre procurava um jeito de ajudar quem eu conhecia, e meio que dar uma certa autoestima, eu acho. Por exemplo, tive uma amiga que era pessimista o tempo todo, então tive que mostrar para ela todas as coisas boas que ela tinha em sua vida, e assim ela passou a melhorar o jeito que ela via tudo.

— Você... meio que dava a oportunidade das pessoas verem lados que antes não viam? É isso?

— Isso! Isso mesmo. Então acharam que eu era “merecedora” dessa habilidade, e a partir daí, comecei a fazer isso e ajudar outros seres em suas missões, dando poderes temporários para eles fazerem seus serviços.

— Entendi...

Isabel suspirou, vendo a desanimação da amiga. — Tô vendo que é bastante coisa... Vou ter que ver desde o começo.

— Então vai demorar?

— Um pouco.

— Mas por que o Gabriel viu tudo tão rápido? Ele soube de tudo em um piscar de olhos!

— Primeiro, por que ele não sabia como controlar a habilidade, e segundo porque foi como uma avalanche para ele, veio tudo de uma vez só, e como você estava pensando nesses momentos o tempo todo, algumas cenas apareceram primeiro para ele, sem ser na ordem certa dos acontecimentos.

Rebeca passou as mãos no rosto, querendo voltar a chorar, porém, se segurou. — Eu estava tão preocupada em como iria contar tudo para ele... Pensando se contava ou não, se falava logo... Eu tinha até decidido esperar um pouco, para pensar direito e... — Suspirou. — Agora já era.

— Vem, descansa um pouco. — Isabel deu batidinhas em seu colo. Então, Rebeca se ajeitou e deitou sua cabeça nas coxas de Isabel, fechando os olhos.

Ela não queria ficar pensando, mas era impossível. O rosto angustiado de Gabriel aparecia em sua mente a cada segundo, e a culpa a consumia de um jeito que nunca acontecera antes.

Não adiantaria culpar Ethan, adiantaria? Ele demorou tanto para aceitar aquele amor, que não teria motivos para...

E se depois que ele aceitou, quisesse que tudo isso acontecesse? Como se quisesse que Rebeca ficasse confusa e o escolhesse? Ele seria capaz de algo assim?

Ou Rebeca já estava levando aquilo para longe demais só para aliviar sua culpa?

Não importa o que eu pense agora. Ferrou tudo de vez.

Gabriel nunca vai me perdoar, e eu nunca irei me perdoar pelo que fiz.

O que eu vou fazer?


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