Rebeca observou o cara, esperando ter medo. Apesar de bonito, ele era um pouco assustador.

Ele continuou a encarando com aquele sorrisinho de lado.

— O quê? — Rebeca sussurrou, confusa.

— Eu disse que vocês iam se ver de novo — disse simplesmente.

Só uma pessoa passou por sua cabeça naquele instante.

— Pois é — falou, levantando os braços, como se quisesse mostrar suas roupas. — Diferente, não?

Essa voz... — Guardião? — perguntou surpresa.

— O próprio — respondeu cortês, como sempre.

— Mas... — O olhou dos pés à cabeça. — Cadê sua máscara? Como assim você tem corpo?

— Nada me impede de ter um corpo, mas também nada me impede de não ter um.

Ainda estranhando, Rebeca se aproximou. Parou em sua frente e depois deu a volta, o analisando de todos os lados e voltou a ficar em sua frente. Então o abraçou pela cintura.

— Você é real — falou impressionada.

Ele pareceu um pouco surpreso com a atitude, mas a abraçou pelos ombros. Pouco depois, ela se afastou.

— Está bonitão, hein. — E ele sorriu de leve. — Mas você é meio sinistro.

— Acredito que continuo tendo meu ar de mistério, concorda?

— Hm, sim. Concordo. — Balançou a cabeça e lembrou de Gabriel.

Deu um passo para o lado e o viu de braços cruzados.

— Gabriel. — O Guardião virou, ficando de frente para ele. Uma sobrancelha de Gabriel se levantou. — Nós nos conhecemos, você apenas não se lembra de mim.

Ele fez uma careta, e Rebeca riu, sabendo que o Guardião tinha lido a mente dele.

— Para de ler a mente dele. — Rebeca reclamou, divertida. — Isso não é agradável.

— Peço desculpas — disse caminhando até ele.

O Guardião parou na frente de Gabriel, levantou a mão e encostou o dedo indicador no meio da testa dele. O mais novo arregalou os olhos levemente, piscando algumas vezes assim que o outro se afastou. O momento durou três segundos.

— O que você fez? — Rebeca perguntou, se aproximando.

— Apenas ativei as memórias dele sobre mim.

— E você pode fazer isso?

— Sim... e não, não posso mexer com as outras memórias dele.

Rebeca fez bico.

Para de ler a minha mente.

O Guardião a olhou e sorriu. — Só posso fazer isso porque as memórias de Aloys estão frescas na mente dele. — Indicou Gabriel.

Gabriel olhou para baixo, com uma cara séria, parecendo bem confuso.

— Gabriel? — Rebeca colocou a mão no ombro dele.

Ele encarou Guardião. — Que estranho... Não consigo lembrar do seu rosto.

— É porque você nunca viu. — Rebeca explicou. — Na verdade nem eu vi. Aliás, por que você está assim agora?

— Achei que seria melhor...

Novamente, Rebeca olhou para ele, analisando suas roupas. Ele estava todo de preto. Calça preta, não muito justa, uma blusa preta e um casaco preto, que estava fechado. E ainda calçava sapatos sociais.

— Você não está com calor não? — Ela perguntou.

Ele olhou para baixo rapidamente. — Não sinto calor. Nem frio.

Que útil. — Mas deve estar uns vinte e cinco graus. Ninguém olhou estranho para você?

— Ninguém me viu.

— Então como veio para cá?

— Eu me transporto por portais.

— Uau...

— Mas já que você acha estranho, posso mudar de roupa. Só um instante.

Assim que ela piscou, o Guardião sumiu.

— Mas que... — Olhou ao redor e encontrou Gabriel a olhando com uma cara estranha. — O que foi?

Ele colocou as mãos nos bolsos da bermuda e olhou para o chão. — Quando vocês ficaram próximos assim?

Rebeca analisou a cara dele, juntando as sobrancelhas.

Ele está com ciúmes?

— Depois que... o Aloys sumiu, eu fui atrás dele. Eu precisava conversar com alguém e ninguém melhor que ele para me ouvir, não é?

— Hm... e o que ele está fazendo aqui? — A olhou. — Ele não disse.

— Pois é, ele não disse. — Deu de ombros. — Bom, vamos descer.

Desceram e foram para casa, aproveitando para tomar café. Trocaram de roupa e ficaram na sala.

— Ele nem vai voltar mais. — Gabriel disse, cruzando os braços. — Vamos caçar alguma coisa para fazer.

— Ele vai voltar sim.

— Já faz quase uma hora que ele sumiu.

— Mas ele vai voltar. Esqueceu que no mundo dele o tempo é diferente? Não lembra como ficamos a madrugada toda no museu enquanto estávamos no mundo dele?

— Estranhamente eu lembro — disse emburrado.

Rebeca suspirou. Nunca tinha visto ele se comportando assim. — O que foi, hein? — perguntou impaciente.

— ... é só eu sair que você me troca.

— Quê?! — Arregalou os olhos e suspirou. — Você era ciumento assim nas outras vidas? Porque olha...

— Eu não sou ciumento. — Fez bico.

— Não, imagina. — Riu e se aproximou dele, dando um beijo em sua bochecha. — Para de ser besta, não somos tipo almas gêmeas? Aquele lance de que nossas almas sempre vão procurar pela outra e tudo...

Ele riu. — Sei lá — disse olhando para as mãos, parecendo envergonhado.

— Se preocupa não. Pelo que o Guardião falou, nós convivemos durante muitas vidas, mas eu estava sempre atrás de você.

— Que perseguidora. — Sorriu.

Rebeca revirou os olhos, balançando a cabeça de leve, e Gabriel se aproximou, dando um beijo de leve em seus lábios.

Aquilo quase sempre desarmava o sarcasmo dela.

Eles se separaram, e um movimento chamou sua atenção, logo na frente deles.

— Me perdoe. — O Guardião falou.

Corando, Rebeca se afastou de Gabriel. — Que demora.

— Fui o mais rápido que pude.

Agora, ele vestia uma camiseta cinza, que parecia ser fina, a mesma calça e tênis pretos.

— É, está melhor agora. — Rebeca disse, o olhando de cima para baixo. — Mas acho que dá para melhorar.

Então, ela se ajoelhou no chão, sentando nos calcanhares e segurou a barra da calça dele, começando a dobrá-la para cima, até chegar no meio da perna. Fez igualmente com a outra barra.

— Agora sim está com mais cara de verão. — Levantou.

— Agradeço, então.

— Hm, bom... Então? Você não disse o que veio fazer aqui.

Ele retomou sua habitual feição séria. — O livro foi roubado.

— C-como assim? — Se assustou com a notícia repentina.

— Alguém conseguiu quebrar a minha barreira e me expulsar de lá. Então aproveitou o momento em que eu estava desorientado e o pegou, sumindo tão rápido quanto apareceu.

Rebeca o encarou de forma chocada. — M-mas... e agora? O que... Eu...

— Eu sinto muito, falhei em meu dever.

— Calma... se... se essa pessoa conseguiu quebrar sua barreira quer dizer que ela é bem forte, não é?

— Sim, ela é. Tanto que eu mal senti sua presença. Apenas senti quando já estava sendo tirado de lá... Eu precisava te avisar, afinal, o livro é seu.

— Mas... e agora? — questionou, preocupada.

— Eu sairei em busca dele. Vou recuperá-lo a todo custo.

— Você veio só para me avisar?

— Sim, para caso fosse ao museu e não encontrasse o livro.

— Mas como você vai encontrar ele?

— O livro transborda energias diferentes. Há energias suas nele, então facilita na hora de sentir sua presença... Já me estendi demais aqui, preciso ir.

— Não. — Segurou o braço dele, sentindo o coração disparando. — Eu tenho que ir junto com você.

— Quê? — Gabriel se pronunciou, levantando. — Você está louca?

— Por quê? É o meu livro! — Olhou para ele.

— Você não tem poderes, como acha que vai conseguir fazer alguma coisa?

Rebeca parou, pensando naquelas palavras.

Droga, o que eu posso fazer? Não tenho como ajudar, mas...

— Não importa, eu preciso ir junto — disse decidida para o Guardião.

Ele analisou o rosto dela e olhou para Gabriel. — Deseja ir também?

Gabriel olhou de forma meio assustada para Rebeca, e ela segurou sua mão, o incentivando.

Antes dele afirmar, os três sumiram da sala.