O resgate do tigre escrita por Anaruaa


Capítulo 9
ciúmes




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Na noite seguinte, Kelsey me convidou para jantar. Ela era boa cozinheira e preparou uma massa recheada deliciosa. 

— Esta é uma das melhores coisas que já comi. Na verdade, só fica atrás de manteiga de amendoim, chittaharini.

— Fico feliz que goste da receita da minha mãe. Ei, você nunca me disse o que chittaharin significa.

Eu beijei seus dedos.

— Significa “a que cativa a minha mente”.

— E iadala?

— Querida.

— Como se diz “eu te amo”?

— Mujhe tumse pyarhai.

— E “estou apaixonada”?

Eu sorri.

— Você pode dizer anurakta, que significa que você “está se afeiçoando a alguém”. Ou pode dizer que é kaamaart, que significa que você é uma “jovem intoxicada com amor ou perdida de amor” Prefiro a segunda forma.

— Sei, sei. Tenho certeza de que você gostaria de anunciar que estou bêbada de amor por você. Como se diz “meu namorado é bonito”?

— Mera sakha sundara.

Após o jantar, Kelsey perguntou se eu gostaria de ajudá-la a preparar a sobremesa. Fomos até a cozinha e começamos a preparar biscoitos.

Eu não conseguia evitar ficar próximo dela, e a todo instante eu arranjava um modo de tocar nela. Ela começou a se distrair e derrubar coisas.

— Ren, você está me distraindo. Quero que me dê um pouco de espaço para que eu possa terminar de preparar a massa.

Eu a obedeci, mas fiquei perto dela, de forma que ela se encostava em mim de vez em quando. Quando ela terminou de formar os biscoitos e colocá-los no forno, anunciou que tínhamos 15 minutos até que eles ficassem prontos.

Eu a puxei para um beijo. Nossos beijos estavam mais quentes, mais ousados. Nós não tínhamos mais medos ou reservas. Ambos sabíamos o que queríamos e que o outro queria o mesmo.

Enquanto nos beijávamos, o timer disparou. Eu havia erguido Kelsey e a colocado sentada sobre a bancada da cozinha. Eu estava em pé, entre suas pernas, abraçando-a. Uma mão dela estava entrelaçada em meus cabelos enquanto a outra me puxava pela camisa. Quando paramos de nos beijar, ela se desculpou:

— Sinto muito pela camisa.

Ela estava constrangida, então peguei sua mão, beijei a palma e lhe dei um sorriso satisfeito:

— Eu não.

Ela me empurrou e saltou para o chão. Pressionando os dedos contra meu peito, ela disse:

— Você é perigoso, rapaz.

Eu sorri.

— Não é minha culpa que você esteja intoxicada por mim.

Comi os biscoitos de chocolate, com gotas de chocolate e recheio de manteiga de amendoim, que eram deliciosos e em seguida senti os tremores. Dei um leve beijo em Kelsey e me transformei em tigre, subindo para o quarto dela em seguida. Deitei-me próximo à cama de Kelsey enquanto ela se preparava para dormir. Ela me abraço e sussurrou:

— Mujhe tumse pyarhai, Ren. 

Ela se aconchegou a mim e dormiu em paz.

No sábado quando acordei, percebi que Kelsey estava abraçada a um objeto branco. Me aproximei e percebi que era um tigre de pelúcia. Sentei-me em uma cadeira e fiquei observando enquanto ela dormia. Pensei que ela provavelmente havia sentido a minha falta, por isso arranjou aquele brinquedo para me substituir. Ela acordou e pareceu constrangida ao me ver ali, cobrindo a cabeça com o edredom.

— Bom dia, dorminhoca. Sabe, se queria tanto dormir com um tigre, era só dizer . Quando comprou isto?— Perguntei segurando o brinquedo.

— Na semana que voltei.

— Então sentiu a minha falta?

Ela suspirou e sorriu.

— Como um peixe sente falta da água.

— É bom saber que sou tão necessário assim à sua sobrevivência — eu me ajoelhei ao lado da cama e tirei o cabelo do seu rosto. — Eu já lhe disse que você é a coisa mais linda de manhã?

Ela riu.

— Fala sério. Meu cabelo está todo desgrenhado e eu estou de pijama.

— Gosto de ver você acordar. Você suspira e começa a se remexer. Rola para um lado e para outro algumas vezes e em geral murmura alguma coisa sobre mim.

— Então eu falo dormindo, é? Isso é constrangedor.

— Eu gosto. Depois você abre os olhos e sorri para mim, mesmo quando estou como tigre.

— Que garota não iria sorrir quando você é a primeira coisa que ela vê? É como acordar na manhã de Natal e encontrar o melhor presente que você já ganhou.

Eu ri e beijei sua bochecha.

— Quero conhecer Silver Falls hoje, portanto levante esse esqueleto preguiçoso da cama. Vou esperar você lá embaixo.

Passamos um dia agradável nas cachoeira. Falamos sobre os namorados de Kelsey, sobre Kishikinda e sobre a minha necessidade de correr livre pela floresta.

Os dias se passaram e nós estávamos felizes com nossa rotina. Íamos à faculdade e passávamos todo o resto do tempo juntos. Eu quase não ficava na minha casa, como homem ou como tigre e  resolvemos não voltar para as aulas de Wushu. Nós conversávamos sobre vários assuntos, líamos juntos e alguns dias da semana, falávamos com Kadam ou Nilima.

A maior parte do meu tempo como humano eu passava na universidade, então ficava com Kelsey como tigre na maior parte do tempo. Mas mesmo nesta forma, nós nos comunicávamos bem, porque Kelsey aprendeu a ler minhas expressões de tigre.

Ela dormia no chão, aconchegada a mim todas as noites. Eu me transformava e a colocava na cama, cobrindo-a com a colcha de retalhos.

Quando Kadam telefonava, eu sempre estava na casa de Kelsey, então conversávamos em Hindi. Kadam estava pesquisando sobre o paradeiro de Lokesh e, ao mesmo tempo, tentando esconder Kelsey dele. Para tanto, tínhamos que providenciar documentos a fim de preservar a identidade dela. Nós tentávamos esconder estes fatos para que ela não se assustasse, mas Kelsey começou a desconfiar e queria saber sobre o que conversávamos. Eu lhe dizia que estávamos em uma conferência de negócios, o que às vezes, era verdade.

Nós seguíamos uma rotina, e apesar de estarmos juntos o tempo todo, meu tempo como homem ainda era curto. Eu escrevia poemas e deixava em sua mochila, para que ela soubesse que eu pensava nela, e para que se lembrasse de mim durante as aulas,

Um dia, senti saudades dela. Tanta saudade que tive que sair da minha aula mais cedo e seguir seu rastro até encontrá-la. Ela ficou surpresa quando apareci atrás dela.

— Como você sabia onde era a minha aula?

— Saí cedo hoje e segui seu rastro. Fácil como rastrear uma torta de pêssego com chantili, que você prometeu fazer para mim mais tarde. Não me esqueci disso.

Seguimos juntos até o oratório de idiomas, onde Kelsey devolveria um vídeo. Eu finalmente conheci o tal Artie.

— Oi, Artie. Quero devolver um vídeo.

Ele empurrou os óculos nariz acima.

— Ah, sim. Eu já tinha me perguntado por esse vídeo. Está muito atrasado.

— É. Eu peço desculpas.

Ele o deslizou para um espaço vago, e voltou-se para Kelsey:

— Ainda bem que você teve a integridade de devolvê-lo afinal.

— Certo. Eu tenho muita integridade. Até mais, Artie.

— Espere, Kelsey. Você não retornou minhas ligações, então imagino sua secretária eletrônica não esteja funcionando. Vai ser difícil encaixar você, mas acho que estou disponível na próxima quarta.

Ele apanhou o lápis e a agenda e já estava escrevendo o nome dela, ignorando-me totalmente.

— Olhe, Artie, estou saindo com outra pessoa agora.

— Acho que não pensou nisso com clareza, Kelsey. Nosso encontro foi muito especial e senti uma conexão verdadeira com você. Tenho certeza de que, se reconsiderasse, veria que devia estar saindo era comigo. — Ele me lançou um olhar — Eu sou obviamente a melhor opção.

— Artie!

Ele empurrou os óculos novamente para cima e olhou para Kesley, tentando convencê-la com os olhos a ceder. Eu me coloquei entre os dois, mas Artie me olhou com desprezo e disse, cheio de auto confiança:

— E quem seria você? — perguntou  com a voz anasalada.

— Sou o homem com quem Kelsey está saindo.

A expressão de Artie era de incredulidade. Ele olhou para Kelsey por trás de mim e disse com sarcasmo:

— Você prefere sair com esse bárbaro que comigo? Talvez eu tenha julgado mal o seu caráter. Está claro que você faz escolhas questionáveis baseadas puramente em impulsos lascivos. Pensei que fosse de um calibre moral mais alto, Kelsey.

— Escute aqui, Art...

Eu poderia ter achado graça na atitude auto-confiante dele, mas achei desrespeitosa a forma como ele dirigiu-se a Kelsey, então me aproximei de seu rosto, para ameaçar baixinho:

— Nunca mais a insulte. A garota deixou sua posição clara. Se algum dia eu souber que você voltou a persegui-la ou a alguma outra garota, voltarei e tornarei sua vida muito desconfortável. — Talvez seja melhor você escrever isso para não esquecer. Faça uma anotação para si mesmo lembrando também que Kelsey nunca mais estará disponível. Nunca mais — falei apontando para a agenda.

Eu estava muito irritado e pronto para atacar o homem desprezível à minha frente. Então Kelsey tocou o meu braço. Eu relaxei imediatamente e suspirei, cobrindo a mão dela com a minha. Nós saímos dali em direção ao carro. Abri a porta pra ela e verifiquei se o seu cinto estava afivelado. Inclinei-me e perguntei:

— Que tal um beijo?

— Não. Você não precisava ter sido tão ciumento. Não merece nenhum beijo depois disso.

— Ah, mas você merece.

Ela sorriu e eu a beijei.

Alguns dias depois, eu estava esperando por Kelsey, quando uma moça Indiana me abordou. Ela começou a me falar sobre si, de onde vinha, quem eram seus pais e foi bastante direta quando disse que queria o telefone dos meus pais, para que os dela pudessem ligar para eles. Ela me disse que havia gostado de mim e que achava que nós poderíamos nos conhecer e às famílias um do outro.

Eu fiquei muito perturbado, mas tentei responder de forma bastante respeitosa que já estava comprometido com outra pessoa. Ela se desculpou, afastando-se.

Vi Kelsey perto dali. Ela estava sentada com Jason a seu lado. Ele saiu apressado enquanto eu me aproximava dos dois. Fiquei olhando enquanto ele se afastava. Então perguntei à Kelsey o que ele queria.

— Engraçado, eu ia lhe fazer a mesma pergunta. Quem é a garota?

Mudei de posição, pouco à vontade.

— Venha. Vamos conversar sobre isso no carro.

Depois que deixamos o estacionamento, Kelsey cruzou os braços e perguntou em um tom sério, que me surpreendeu:

— Quem é ela?

— O nome dela é Amara.

— E... o que ela queria?

— O número do telefone dos meus pais... para que os pais dela pudessem ligar para os meus.

— Para quê?

— Para combinar o casamento.

— Você está falando sério?

Eu sorri

— Está com ciúme, Kelsey?

— É claro que estou. Você é meu!

Peguei a mão dela e lhe beijei os dedos. Era a primeira vez que ela admitia estar com ciúmes de mim.

— Gosto que você tenha ciúme. Eu disse a ela que já estava comprometido, não se preocupe, minha prema.

Kelsey ficou impressionada pela forma como a moça me abordou e nós conversamos um pouco sobre a cultura do casamento arranjado na Índia. Depois falamos sobre o meu noivado com Yesubai.

— Você queria se casar com ela? Seus pais a escolheram para você, certo?

— Eu... aceitei o arranjo. Estava ansioso para ter uma esposa. Esperava ter um casamento feliz, como o dos meus pais.

— Mas você a teria escolhido para esposa?

— Não era uma escolha minha. Mas, se isso a faz se sentir melhor, eu escolhi você, embora não estivesse procurando ninguém.

— Então você teria ido até o fim, embora não soubesse nada sobre ela?

— O casamento era e ainda é diferente na cultura indiana. Quando você se casa, tenta deixar seus pais felizes com alguém que tenha a mesma formação cultural que você e que adote e mantenha as tradições e os costumes importantes para sua família. São muitos os fatores a se considerar, como educação, riqueza, casta, religião e local de origem.

— Então é como selecionar candidatos para a faculdade? Será que eu teria sido aprovada?

— É difícil dizer. Alguns pais acreditam que namorar um estrangeiro desonra você para sempre.

— Quer dizer que o simples fato de namorar uma garota americana o desonra? O que seus pais teriam dito sobre nós?

— Meus pais viveram numa época muito diferente.

— Ainda assim... eles não aprovariam.

— O Sr. Kadam é como um pai, de certa forma, e ele aprova você.

— Não é a mesma coisa.

— Kelsey, meu pai amava minha mãe e ela não era indiana. Eles vinham de culturas diferentes e tiveram que fundir tradições divergentes. Mesmo assim, foram felizes. Se havia alguém naquela época capaz de nos entender... eram eles. E os seus pais? Eles teriam gostado de mim?

— Minha mãe teria adorado você. Ela iria fazer biscoitos de chocolate e manteiga de amendoim toda semana para o genro querido e dar risadinhas todas as vezes que o visse, como Sarah faz. Meu pai nunca achou que homem algum seria bom o bastante para mim. Ele teria dificuldade em me deixar partir, mas também acabaria gostando de você.

Chegamos à garagem. Kelsey franziu a testa e me disse:

— Não me agrada a ideia de que haja outras garotas atrás de você.

— Agora você sabe como eu me senti. Por falar nisso, o que Jason queria com você?

— Ah. Ele me deu isto aqui.

Ela me entregou um artigo sobre o acidente que ela evitou semanas antes, quando foi ao teatro com Jason. O artigo tinha uma foto dela, o que me deixou preocupado.

— Kelsey, quando essa foto foi tirada?

— Há cerca de um mês. Por quê? Algum problema?

— Talvez não. Preciso ligar para Kadam.

 Kelsey ficou me olhando nervosa enquanto eu falava em Hindi com Kadam. Expliquei a ele sobre a revista e nós decidimos pedir a Kishan que viesse aos Estados Unidos.

Quando desliguei o telefone, Kelsey quis saber o que estava acontecendo.

— Seu nome e sua foto estão nesta revista. É uma publicação pouco importante, então talvez tenhamos sorte.

— Do que você está falando?

— Tememos que Lokesh possa rastreá-la até aqui.

— Ah. Mas isso não é difícil. Tenho matrícula na faculdade e carteira de motorista — respondeu, confusa.

— Alteramos tudo. O Sr. Kadam tem seus contatos. Ele providenciou para que seus registros não combinem nome e foto. Você acha mesmo que ele podia providenciar um passaporte em uma semana para que você fosse para Índia no verão passado?

— Não tinha pensado nisso. Mas, Ren, estou matriculada na faculdade com o meu nome e existem registros sobre mim no sistema de adoção que poderiam levar a Sarah e Mike. E se ele os encontrar?

— O Sr. Kadam alterou esses dados também. Os registros do estado oficialmente dizem que você foi emancipada aos 15 anos e todas as suas faturas vão para uma conta oculta. Até a minha carteira de motorista é falsa e estou registrado com um nome diferente. Kelsey Hayes oficialmente frequenta a Western Oregon, mas sua foto foi trocada de forma que ele não possa identificá-la. Não deixamos nenhum registro do seu nome ligado à sua foto. Esses eram os documentos mencionados no e-mail que você viu no meu computador.

— E quanto ao meu anuário da escola do ensino médio?

— Cuidamos disso também. Apagamos você dos registros oficiais. Se alguém entrasse em contato com um antigo colega seu com um anuário nas mãos poderia identificá-la, mas as probabilidades de isso acontecer são pequenas. Teriam que verificar cada escola do país, supondo-se que saibam em que país procurar.

— Então você acha que esse artigo significa...

— Que existe um registro pelo qual ele pode encontrá-la.

— Por que vocês dois não me contaram tudo isso antes?

— Não queríamos preocupá-la desnecessariamente. Nosso desejo era que levasse uma vida tão normal quanto possível.

— E agora? O que vamos fazer?

— Se tudo correr bem, vamos terminar o período, mas, por via das dúvidas, mandei buscar Kishan.

— Kishan está vindo para cá?

— Ele é um bom caçador e pode me ajudar a ficar de olho nas coisas. E também teria menos distrações que eu.

— Ah.

Eu a puxei para um abraço tentando acalmá-la:

— Não vou deixar que nada aconteça a você. Prometo.

— Mas e se alguma coisa acontecer a você? O que eu posso fazer para ajudar?

— Kishan vai me dar cobertura para que eu possa cuidar de você.


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