O resgate do tigre escrita por Anaruaa


Capítulo 10
Kishan




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Os dias se passarão sem qualquer problema. Não tivemos nenhuma notícia de Lokesh e acabamos relaxando.

Kishan ainda viria para Oregon e Kelsey e eu, por precaução, havíamos separado e enviado para a Índia itens que achávamos importantes, para o caso de termos que sair às pressas.

No dia dos namorados, nós iríamos a um baile beneficente. Eu pretendia levá-la para jantar e dar-lhe um presente especial: os brincos de minha mãe.

Escolhi uma roupa elegante e achei interessante escolher um vestido especial para Kelsey. Eu não pretendia controlar a forma como ela se vestia, mas naquela noite, eu queria que ela usasse algo novo, que nunca tinha usado com outro homem ou em outro evento qualquer. E sabia que Kelsey não iria sair para comprar roupas. Assim, escolhi um vestido de chiffon cereja com saia tipo sereia e mangas tulipa e sandálias altas de tiras no mesmo tom de vermelho. E escolhi para mim uma gravata no mesmo tom do vestido, para combinarmos. Kelsey protestou quando pendurei o vestido dentro de uma capa em seu armário:

— O que é isto, Tigre? Acha que agora pode escolher o que vou vestir, é?

— Gosto de você com qualquer roupa — e a puxei para um abraço apertado. — Mas queria vê-la neste vestido. Vai usá-lo esta noite?

— Você provavelmente quer que eu o vista porque não o usei num encontro com ninguém. Agora não suporta o vestido pêssego porque diz que ele cheira a Li mesmo depois de ter sido lavado.

— O vestido pêssego fica lindo em você e eu o escolhi especialmente para você. Mas tem razão. Ele me faz lembrar Li e eu quero que esta noite seja apenas nossa — eu beijei seu rosto. — Venho buscá-la para jantar em duas horas. Não me faça esperar demais.

— Não farei.

Eu encostei a testa na dela e falei com sinceridade:

— Odeio ficar longe de você.

Sai de lá e fui para a minha casa me arrumar. Eu vesti uma camisa branca com colete cinza e gravata de cetim. Peguei o paletó do smoking e o segurei, jogando-o as costas. Peguei o buquê de rosas vermelhas, que escolhi para ela e fui até sua casa, toquei a campainha e esperei enquanto ela descia as escadas.

Quando ela abriu a porta, eu a olhei de cima a baixo. Ela estava linda usando o vestido e as sandálias que eu havia escolhido. Ela havia cacheado os cabelos, e usava maquiagem. O batom e o esmalte das unhas combinavam com a cor do vestido. Ela estava deslumbrante.

Eu sorri e estiquei o braço, revelando o buquê de rosas que eu trazia escondido nas costas. Ela me olhava com um sorriso.

— Ren! Você não pode esperar que eu vá a um baile com você assim! Já é difícil o bastante quando se veste de maneira normal.

— Não tenho ideia do que você está falando, Kelsey — Segurei um cacho do cabelo dela e o coloquei atrás de sua orelha—Ninguém vai nem me notar com você ao meu lado. Está absolutamente linda. Agora posso dar seu presente de dia dos namorados?

— Você não precisava me dar mais nada, Ren. Acredite, você já é um presente e tanto.

Então eu tirei a caixinha do bolso e abri, revelando os brincos de diamantes e rubis, engastados em estrelinhas de ouro.

— São lindos!

Eu a ajudei a colocar os brincos, que ficaram lindos nela. Ela se virou e ficou nas pontas dos pés para me beijar.

— Obrigada. Adorei.

— Por que razão estou vendo um “mas” em sua expressão?

— Esse “mas” é porque você não precisa comprar coisas caras para mim. Fico perfeitamente feliz com coisas normais, comuns, como... meias.

— Meias não seriam um presente romântico. Esta é uma ocasião especial. Não estrague minha noite, Kells. Diga apenas que me ama e que adorou os brincos.

Ela envolveu meu pescoço com seus braços e sorriu.

—Eu te amo. E... adorei os brincos.

Eu sorri. Adorava ouvi-la dizer que me amava. Ela me soltou e  virou-se, pegando um embrulho sobre a mesa e o entregou a mim.

— É muito pobre, se comparado com os brincos e as rosas. Acontece que é difícil presentear tigres ricos.

Eu rasguei o papel enquanto ela dizia:

— É "O conde de Monte Cristo". Fala de um homem acusado injustamente e mandado para a prisão por muito tempo, até que escapa e busca a vingança contra seus delatores. É uma história muito boa que me fez pensar em você no cativeiro por centenas de anos. Pensei que podíamos dar uma pausa em Shakespeare e quem sabe lê-lo juntos.

— É um presente perfeito. Você não só está me oferecendo uma nova obra literária, o que sabe que aprecio, como também está me oferecendo horas e horas de leitura a seu lado, que é o melhor presente que poderia me dar.

Nós saímos em seguida e fomos ao restaurante onde eu havia reservado uma sala privada. Nos sentamos e começamos a ser servidos por 3 garçons exclusivos, Kelsey reclamou:

— Um restaurante normal teria sido perfeitamente bom para mim.

— Um restaurante normal é para onde centenas de homens estão levando suas namoradas esta noite. Não é especial nem tem privacidade. Eu queria você só para mim.

Eu peguei a mão dela e beijei.

— É meu primeiro dia dos namorados com a garota que eu amo. Queria vê-la brilhar à luz de velas. Por falar nisso...

Peguei no bolso do paletó uma folha onde eu havia escrito um poema e entreguei a ela. Ela pediu para que eu o lesse. Eu desdobrei o papel e comecei:

Acendi uma vela e observei a chama.

Ela dançava e se retorcia.

Livre e rebelde.

Cativou-me e cintilou em meus olhos.

Quando passei a mão sobre ela,

Agitou-se.

A chama elevou-se e ardeu, mais quente.

Quando afastei a mão, o calor diminuiu,

Tornou-se mais fraco e se extinguiu.

Estendi novamente a mão para desfrutar o calor.

Será que queimaria? Formaria bolhas e inflamaria?

Não! Formigava e aquecia,

Queimando lentamente, rubro,

Ateando-me fogo no corpo e na alma;

Era luzidio, luminoso, radiante,

O rubor do rosto dela.

Ren

Eu baixei cabeça ao terminar de ler. Ela levantou-se e veio até mim, sentou-se no meu colo e me abraçou.

— É lindo.

— Você é linda.

— Eu lhe daria um beijo agora, mas você ficaria todo sujo de batom e... o que a garçonete iria pensar?

— Ela pode pensar o que quiser.

— Estou travando uma batalha perdida, não estou?

— Está. Pretendo beijá-la... muito, antes que esta noite acabe.

— Sei. Então é melhor eu começar. Você não acha?

— Eu diria que sim.

Nós nos beijamos até que a garçonete voltou para anotar o pedido. Kelsey ficou constrangida e enrubesceu. Eu sorri satisfeito.

O rosto de Kelsey estava borrado de batom e imaginei que o meu estivesse do mesmo jeito. Ela levantou-se e saiu enquanto eu fazia o pedido à garçonete e limpava meu rosto com um guardanapo.

Lembrei-me de um outro jantar, quando eu recebi minhas 6 horas como homem e em como as coisas haviam mudado. Naquela ocasião, Kelsey me evitava, tentava esconder seus sentimentos. Agora ela não tinha medo nem vergonha de se sentar no meu colo e me beijar apaixonadamente. Ela estava segura o bastante para demonstrar seu amor por mim, mesmo em público. Nada no mundo poderia me deixar mais feliz. E de fato, eu nunca me senti tão feliz assim em toda a minha longa existência. Kelsey era a razão disso.

Depois que Kelsey retornou, percebi que ela estava brincando com o brincos e parecia pensativa.

— Não gostou deles?

— São lindos, mas me sinto muito culpada por você gastar todo esse dinheiro comigo. Acho que devia devolvê-los amanhã. Talvez eles o deixem pagar apenas uma taxa de aluguel.

— Vamos falar sobre isso depois.

Eu não queria dizer a ela que aqueles eram os brincos de minha mãe. Não ainda. Não queria que ela se assustasse ou se sentisse obrigada a aceitá-los. Mas estava adorando vê-los com ela. Tinha certeza de que mamãe aprovaria.

Após o jantar, fomos ao baile. Nos dirigimos imediatamente à pista de dança. Kelsey estava tão linda que eu não conseguia desviar os olhos dela. Ela também me olhava o tempo todo. Nós dois estávamos felizes e completos.

A música que tocava era linda. Eu comecei a assoviá-la enquanto guiava Kelsey na dança. Ela me disse que aquela música traduzia o que ela sentia por mim, reconhecendo que por muito tempo, tentou negar seus sentimentos até para si mesma. Eu passei a prestar mais atenção à letra e então respondi:

— Eu sabia quais eram seus sentimentos por mim desde aquele beijo antes de sairmos de Kishkindha. O que a deixou louca de raiva.

— Ah, o que você achou que fosse esclarecedor?

— Foi esclarecedor porque foi ali que eu soube. Soube que seus sentimentos por mim eram tão fortes quanto os meus por você. Não se pode beijar um homem daquela forma sem estar apaixonada por ele, Kells.

Ela tocou meu cabelos e perguntou:

— Então foi por isso que você ficou tão metido e seguro de si depois daquele dia.

— Sim. Mas toda aquela petulância desapareceu depois que você foi embora.

Parei de sorrir imediatamente. Só a lembrança daquele tempo era capaz de causar uma dor imensa. Beijei-lhe os dedos e pedi, quase implorando:

— Prometa que nunca mais vai me deixar, Kelsey.

Ela me olhou nos olhos e respondeu:

— Prometo. Eu nunca mais vou deixar você.

Sentindo a sinceridade naquela promessa, eu a beijei levemente e sorri aliviado, voltando a conduzi-la. Estava tocando um tango e Kelsey ficou impressionada por eu saber dançar o ritmo sedutor.

Quando a dança terminou, Kelsey estava com as pernas bambas e eu tive que segurá-la para ela não cair. Sorri satisfeito e acariciei seu pescoço com o meu nariz. 

— Eu achava que esse tipo de dança só existisse nos filmes. Onde você aprendeu a dançar assim?

— Minha mãe me ensinou várias danças tradicionais e, desde então, aprendi muitos movimentos por meio da observação. O Sr. Kadam falou com Nilima e ela se tornou minha parceira de treino.

Kelsey franziu a testa.

— Não me agrada nem um pouco a ideia de você e Nilima dançando. Se quiser praticar, é só me ensinar.

— Nilima é como uma irmã para mim.

— Mesmo assim.

— Está bem. Prometo nunca mais dançar com outra mulher. — Eu sorri — Mas ainda gosto quando você fica ciumenta.

Começou a tocar uma música lenta. Nós nos abraçamos e começamos a seguir o ritmo. Kelsey encostou a cabeça no meu ombro. Estávamos relaxados, desfrutando daquele momento, quando senti um cheiro familiar invadindo o lugar.

Eu o avistei na entrada e meu corpo ficou tenso: Kishan. Ele se aproximou de nós e disse, em um tom cínico:

— Ora... ora.. ora. Um dia da caça, outro do caçador. Creio que esta dança seja minha.

Kelsey virou-se imediatamente ao reconhece a voz de meu irmão.

— Kishan! Como estou feliz de ver você!

E o abraçou com entusiasmo.

Kishan retribuiu o abraço, encostando o rosto no dela. Eu tive a impressão de que sua voz soava aliviado quando ele lhe respondeu:

— Também estou feliz em vê-la, bilauta.


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