O resgate do tigre escrita por Anaruaa


Capítulo 8
Volta as aulas




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Passei a noite sozinho em minha casa, como tigre branco. Eu estava decidido a não beijar Kelsey, mas meu corpo não estava concordando com isso, respondendo à mais simples lembrança do toque ou do cheiro dela.

Dormi com dificuldade e acordei cedo. Aquele seria o primeiro dia de aulas na faculdade. Fui à casa de Kelsey e toquei a campainha. Quando ela abriu a porta de casa para mim, eu imediatamente reparei que ela tinha se arrumado de maneira especial. Ela usava um cardigã azul-marinho uma saia estampada, um cinto fino e botas marrons de cano alto. O cabelo também estava diferente, liso e solto, e ela estava maquiada, com a boca em destaque por um batom cor de pêssego que combinava com o cheiro dela, e me fazia ter vontade de devorá-la. Eu a olhei de cima a baixo e comentei:

— Você está linda, Kells, mas não vai funcionar. Já entendi qual é a sua.

Eu a ajudei a vestir o casaco enquanto ela me respondia:

— Não sei do que você está falando. O que é que não vai funcionar?

— Você está tentando me fazer beijá-la.

Ela me olhou sorrindo e disse:

— Uma garota não deve entregar todos os seus segredos, não é?

Eu me inclinei para sussurrar em seu ouvido:

— Muito bem, Kells. Guarde seus segredos. Mas estou de olho em você, O que quer que esteja tentando fazer não vai funcionar. Eu ainda tenho algumas cartas na manga também.

Kelsey e eu não nos vimos até a hora de ir para a aula de Wushu. Ela entrou na frente e logo começou a se alongar, enquanto eu guardava minhas coisas para a aula, do outro lado da sala. Então vi um bilhete dobrado dentro da minha mochila e o puxei. Eu o abri e reconheci a letra de Kelsey.

As almas se encontram nos lábios dos enamorados.

Percy Bysshe Shelley

Olhei para ela, que me deu um sorriso sedutor, virando-se em seguida para cumprimentar Jennifer, que entrava na sala.

Passei toda a aula com dificuldades em me concentrar. Ela estava me enlouquecendo, mas eu não iria ceder.

Quando chegamos em casa, parei o carro na garagem e fui até o lado dela, abrindo a porta. Me inclinei e sussurrei ao pé de seu ouvido:

— Vou logo avisando, Kelsey. Sou um homem extremamente paciente. Fui treinado à exaustão a esperar o inimigo. Minha vida como tigre me ensinou que a persistência e a diligência sempre valem a pena. Considere-se advertida, priyatama. Eu estou numa caçada. Já farejei seu cheiro e nada vai me deter.

Em seguida, estendi a mão para ajudá-la a sair do carro e ela foi para a casa, trêmula, enquanto eu ria satisfeito.

Os dias se seguiram da mesma forma. Ela me deixava bilhetes sedutores e tentava me fazer beijá-la, mas eu resistia bravamente. Ela ainda se encontrava com Li, mas os encontros eram cada vez menos frequentes.

Uma noite eu estava em casa, triste por eles terem saído juntos, quando a ouvi chegar em casa. Ela entrou e parou na sala por um tempo. Depois, a ouvi se aproximar da porta de comunicação e achei que ela fosse entrar na minha casa. Mas ela não o fez. Deitei a cabeça nas patas, decepcionado. Na manhã seguinte encontrei um bilhete colado na porta de comunicação:

Certa vez ele sugou

Com um longo beijo, toda a minha alma através

Dos meus lábios, como a luz do sol bebe o orvalho.

Alfred Lord Tennyson

Naquela noite, encontrei outro bilhete na minha mochila,no início da aula de Wushu:

Dá-me um beijo e depois mais vinte.

Em seguida soma mais cem a esses vinte.

E mil a esses cem assim continua a me beijar.

Até esses mil a um milhão chegar.

Triplica esse milhão, e estando terminado.

Voltemos a nos beijar como havíamos começado.

Robert Herrick

Era um bilhete mais explícito, como se fosse uma súplica. A mulher que eu amava e desejava estava suplicando para que eu a beijasse. Já estávamos há três semanas naquele jogo, e eu considerei se já não estaria na hora de parar. Olhei para ela ardendo em desejo. Ela me olhou de volta com a mesma intensidade.

    Durante todo o treino eu não consegui me concentrar, nem parar de olhar para ela. Eu a queria em meus braços, e ela queria estar em meus braços, porque me devolvia os olhares quase suplicantes. Parecia que ambos estávamos sentindo aquelas centelhas elétricas que nos envolviam todas as vezes que nos tocávamos quando estávamos na Índia. Só que desta vez, as centelhas estavam entre nós, mesmo estando a metros de distância um do outro.

Li deve ter notado essa ligação entre Kelsey e eu, pois, no meio da aula, interrompeu o treino em duplas anunciando que iríamos treinar movimentos para derrubar o oponente. Ele parecia irritado e me chamou para demonstrar os golpes, enquanto os outros alunos deveriam se sentar junto à parede.

Nós começamos a andar em círculos, nos encarando. Li estava visivelmente irritado e começou atacando com um soco circular que o fez se aproximar de mim, mas eu o bloqueei com facilidade, para seu espanto. Li mudou o peso do corpo para uma perna, e tentou me dar uma rasteira por trás dos joelhos e em seguida um soco contra o peito. Eu apenas me desloquei para a direita, espalmei para bloquear o soco, fazendo-o errar os dois golpes. Assim seguimos lutando por uns 15 minutos.

Todos os golpes de Li eram em vão, mesmo os mais elaborados. Li era um bom lutador, mas eu pratiquei diariamente por muitos anos e treinei com os melhores mestres em lutas e armas do mundo inteiro quando era príncipe, além de ter lutado várias batalhas naquela época. Além disso, Kishan, Kadam e eu lutávamos por horas quando estávamos na Índia. Meu treinamento era árduo e minha prática intensa. Li não era páreo para mim. Mesmo percebendo isso, Li não desistia.

— Você quer mesmo continuar com isso? — perguntei. — Já provou que é um bom lutador.

— Não estou tentando provar nada. — Ele sorriu. — Só queria impedir que você continuasse devorando minha garota com os olhos.

Ele terminou a frase e tentou me atacar com socos, mas eu agarrei-lhe os pulsos e os girei para fora. Li então tentou me acertar um chute, mas eu agarrei seu calcanhar. Eu não queria machucá-lo e tentava não atacá-lo, mas seu atrevimento ao declarar Kelsey como sendo sua garota, havia me irritado um pouco.

— Ela ainda não decidiu de quem ela é. Mas, se fosse para apostar, não consideraria suas chances muito boas.

Eu o empurrei, jogando-o de cabeça para baixo. Ouvi Kelsey arquejando e me virei para olhá-la.

Li aproveitou para tentar me acertar enquanto eu estava distraído, agarrou meus braços por trás e forçou-os para cima, mas eu joguei rapidamente meus pés na parede e girei no ar, invertendo as posições. Quando arfou de dor, eu o soltei. Ele rodou e tentou me dar uma rasteira mas eu saltei sobre suas pernas e girei e imobilizando-o. Irritado, ele limpou a boca e disse:

— Deixe que eu me preocupe com as minhas chances— me acertando um chute no peito que me lançou longe — Pelo menos eu não desisti dela nem deixei que partisse.

 Nós continuamos lutando e nos provocando, enquanto Kelsey assistia a tudo, nervosa.

— Não. Mas é o que você vai fazer. Ela é minha.

Após algum tempo, Li terminou a luta e dispensou a turma. Kelsey tentou se aproximar dele, mas ele a dispensou com um gesto de mão. Nós deixamos a academia constrangidos e não falamos sobre o assunto.

Na semana seguinte, reparei que Kelsey e Li não saíram juntos, mas não mencionei esse fato. Nós continuávamos indo às aulas de Wushu. Li e eu nos respeitávamos. Ele tratou a mim e a Kelsey de forma absolutamente profissional durante toda a semana.

Na sexta feira, Li pediu para que Kelsey ficasse depois da aula, me avisando que a levaria para casa. Assenti e fui embora.

Eu estava na minha forma felina quando ouvi o carro parar. Ouvi a porta do veículo se abrir e a voz de Li:

— Diga a ele, Kelsey.

Depois, ouvi o carro partindo e os passos dela em direção à minha casa. Então ela parou diante da minha porta e ficou ali por algum tempo.

Me transformei em homem e abri a porta, parando à sua frente. Eu estava ansioso pelo que ela iria me dizer. Eu imaginava o que era e estava infeliz, pensando que ela tinha tomado sua decisão.

Ela não me disse nada. 

Eu olhei para ela e suspirei infeliz:

— Me dizer o quê, Kells?

— Você ouviu, né?

— Ouvi.

Eu estava tenso, com medo do que ela tinha para me dizer. Passei a mão pelos meus cabelos e perguntei angustiado:

— O que você quer me dizer?

— Quero lhe contar que já fiz minha escolha.

— Foi o que imaginei.

Ela se aproximou de mim e colocou os braços ao redor do meu pescoço, ficando nas pontas dos pés. Eu suspirei e a levantei, deixando-a flutuando em meus braços. Então ela aproximou os lábios da minha orelha e sussurrou:

— Eu escolho você.

Eu fiquei surpreso e afastei a cabeça para olhar em seu rosto.

— Então... Li.

— Está fora da jogada.

Eu Sorri, cheio de felicidade.

— Então nós...

— Podemos ficar juntos.

Ela me puxou e me deu um beijo suave nos lábios. Eu olhei novamente para ela, que sorria, com os olhos brilhando. Então eu a beijei.

Havia mais de um mês que eu esperava por aquele beijo. Ela havia me provocado com bilhetes, com palavras, com seu cheiro maravilhoso e com aquela boca deliciosa e eu havia resistido bravamente. Agora eu estava reivindicando meu prêmio.

E não foi um beijo suave, paciente. Nada disso. Foi um beijo ávido, quente, ardente. Um beijo cheio de desejo, cheio de promessas. Eu a beijava de forma possessiva, tomando-a para mim. E ela retribuía da mesma forma, pois agora ela sabia que eu era dela.

Eu ergui a cabeça e murmurei em seus lábio:

— Até que enfim.

Eu a levei para a casa, fechando a porta com o pé, sem separar nossos lábios. Me sentei na poltrona e puxei a colcha, cobrindo-a com ela.

Eu a enchi de beijos. Seus lábios eram o centro do meu universo. Ela estava entregue eu estava completo.

Um ronco profundo ecoou do meu peito.

— Você está rosnando para mim?

Eu ri e segurei a fita que prendia sua trança, soltando seus cabelos. Depois mordi sua orelha e sussurrei:

— Você vem me deixando louco há três semanas. Tem sorte de eu apenas rosnar — eu disse enquanto beijava seu pescoço.

— E isso significa que você virá aqui com mais frequência?

— Cada minuto do dia— respondi com os lábios colados em sua pele.

— Ah. Então... você não estava apenas me evitando?

Coloquei o dedo sob seu queixo, virando seu rosto para mim.

— Eu nunca iria evitá-la de propósito, Kells.

— Mas fez isso.

— Porque foi lamentavelmente necessário. Eu não queria pressioná-la, então me mantive afastado, mas estava sempre por perto. Podia ouvi-la.

Afundei meu rosto em seu cabelo e suspirei, sentindo o seu cheiro.

— E sentir seu cheiro de pêssego e creme, o que me deixava maluco. Só que eu não me permitia vê-la, a menos que você concordasse com um encontro. Quando você começou a me provocar, pensei que fosse enlouquecer.

— Ahá! Então você ficou tentado.

— Esse é o pior tipo de pralobhana, de tentação. Eu a teria dominado por um momento, mas então acabaria por perdê-la. Evitar você era tudo que eu podia fazer para não agarrá-la e sequestrá-la.

Kelsey sorriu e começou a me beijar desinibida. Me beijou as bochechas, a testa, a ponta do nariz e os lábios. Ela estava livre e acariciava meu rosto enquanto nos olhávamos. Eu sorri para ela, que deslizou a mão por meus cabelos, suspirou e disse:

— Eu amo você, Ren. Sempre amei.

A primeira vez em que ela disse que me amava, ela me deixou logo em seguida, levando meu coração consigo. Agora eu tinha meu coração de volta, e não havia maior felicidade do que essa. Eu a apertei em meus braços e sussurrei seu nome.

— Amo você, minha kamana. Se soubesse que você seria o prêmio que eu conquistaria depois de séculos de cativeiro, teria suportado tudo agradecido.

— O que quer dizer kamana?

— “O lindo desejo a que eu aspiro acima de todos os outros.”

— Humm. Ren? Disse, enquanto pressionava os lábios em meu pescoço.

— Sim? — enrosquei os dedos nos cabelos dela

— Desculpe por ter sido tão idiota. Foi tudo culpa minha. Desperdicei tanto tempo. Você me perdoa?

Olhei para ela e respondi sério:

— Não há nada para perdoar. Pressionei você cedo demais. Não a cortejei. Não disse as coisas certas.

— Não. Nada disso. Você disse todas as coisas certas. Acho só que não estava preparada para ouvi-las ou acreditar nelas.

— Eu devia saber que não deveria apressá-la. Não fui paciente e um tigre sem paciência fica sem jantar.

Eu disse a ela que tinha me apaixonado por ela ainda no circo e contei sobre quando achei que ela tinha ido embora e como fiquei aflito durante o espetáculo, até vê-la na plateia.

— Bem, estou aqui agora e não vou deixá-lo, Tigre.

Eu a abracei com força e respondi:

— Não, não vai. Não vou deixá-la sair de perto de mim outra vez. Agora, sobre todos aqueles poemas que você me deu... acho que alguns merecem ser estudados em profundidade.

— Concordo plenamente.

Nós voltamos a nos beijar e ficamos agarradinhos até meu tempo se esgotar.


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