Kadam não avisou à Kelsey da a minha chegada. Ele havia telefonado e soube que ela passaria a noite de natal na casa dos pais adotivos, e que, portanto, eu iria me encontrar com ela na manhã seguinte, na casa deles. Ele avisou à mãe de Kelsey que iria enviar-lhe uma surpresa na manhã de natal.

Eu estava muito apreensivo quando chegamos ao aeroporto. Eu havia passado as últimas horas como tigre e me transformei em homem ao descer do avião. Nilima me explicou como chegar até a casa onde eu viveria e seguiu viagem rumo ao Japão.

Eu peguei o carro — àquela altura eu já dirigia bem o suficiente para enfrentar o trânsito dos Estados Unidos — e segui meu destino.

Quando cheguei ao local, senti o cheiro inconfundível de Kelsey vindo da casa ao lado. Meu coração estava acelerado de felicidade e nervosismo. Estava ansioso para me encontrar com ela. Mas era noite de natal e a casa estava vazia.

Entrei na minha casa e fiquei impressionado com a competência de Nilima. A casa estava mobiliada com móveis em cores escuras. Meu bandolim estava descansando no sofá de couro. Na parte inferior da porta dos fundos havia sido adaptada uma portinhola grande, para que eu pudesse acessar a casa sob a forma de tigre.

Havia comida na geladeira mas a dispensa estava vazia. Nilima tinha me avisado que o rapaz no mercado entregaria minhas compras semanalmente. Eu comi e depois arrumei minhas coisas nos armários. Peguei o bandolim e comecei a tocar uma música, esperando que o tempo passasse mais rápido. Enfim, me transformei em tigre e dormi.

Na manhã seguinte, acordei bem cedo e me preparei para reencontrar Kelsey. Tomei o café da manhã, comendo o resto da comida e deixando a geladeira vazia, tomei banho, me vesti e entrei no carro. Depois de gravar no GPS o endereço da família de Kelsey, que Kadam havia me fornecido, segui para lá.

Quando cheguei ao endereço, meu coração estava muito acelerado. Minhas pernas estavam bambas quando desci do carro. Enquanto caminhava até a porta da casa, comecei a pensar qual seria minha reação se Kelsey me rejeitasse. Essa era uma possibilidade grande, já que por todos aqueles meses, ela sequer perguntou por mim. E agora ela estava saindo com outra pessoa. Poderia ter se apaixonado por esta pessoa.

Mas eu escolhi não me acovardar. Parei em frente à porta. Ouvi sons de crianças sorrindo dentro da casa. Eu estava muito tenso. Toquei a campainha. Então ouvi a voz dela:

— Está esperando alguém, Sarah?

— Deve ser um pacote do Sr. Kadam. Ele disse que você teria uma surpresa.

O tempo então pareceu ter se desacelerado. Eu a ouvi caminhando até a porta. Meu coração batia tão alto que eu podia escutá-lo. Então ouvi a maçaneta girando e parei de respirar.

A porta se abriu e eu a vi.

Olhos castanhos brilhantes me olhavam surpresos. Eu olhei cada detalhe do seu rosto. Sua pele clara, sua boca perfeita, seu lindo nariz, seus cabelos castanhos trançados. Eu ouvi seu coração batendo acelerado. Tão acelerado quanto o meu. Meu corpo relaxou e eu não pensei em mais nada.

Respirei fundo e sorri feliz por rever a mulher que eu amava. Estiquei o braço e toquei seu rosto, sentindo o calor da sua pele. Ela me olhava emocionada. Eu a puxei para um abraço, ainda temendo sua reação. Ela não me repeliu.

Então eu encostei minha testa na dela e a puxei para mais perto de mim. Eu a segurava nos meus braços sentindo o calor do seu corpo, acariciava seus cabelos e absorvia seu cheiro delicioso, que devolviam paz a todos os meus sentidos.

E como um suspiro de quem estava há muito sem respirar, eu disse a palavra que naquele momento me parecia a mais sagrada de todas. O nome dela:

— Kelsey.