O resgate do tigre escrita por Anaruaa


Capítulo 34
O resgate de Ren




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— Que novidades?

— Encontramos a tribo dos baigas e tem alguma coisa errada ali. A tribo está localizada numa área da selva distante de outras aldeias. Mais distante do que eles jamais estiveram nos últimos 100 anos. Mais distante, na verdade, do que a lei permite que eles cheguem. Mas o mais estranho é que as imagens de satélite mostram que existe tecnologia perto deles.

— Que tipo de tecnologia? Perguntei.

— Há alguns veículos grandes estacionados perto da aldeia e os baigas não usam carros. Uma estrutura de tamanho considerável foi construída próximo ao vilarejo também. É muito maior do que qualquer coisa que os baigas tenham tradicionalmente construído. Acredito que se trate de um complexo militar.

Ele empurrou o prato para o lado.

— Relatórios mostram que também há guardas armados vigiando a floresta. É como se estivessem defendendo a tribo de um ataque.

— Mas quem atacaria os baigas vindo da floresta? — perguntou Kelsey.

— Pois é. Quem? — replicou o Sr. Kadam. — Não há conflitos acontecendo entre os baigas e qualquer outro grupo. Eles não têm guerreiros e não possuem nada de valor aos olhos do mundo exterior. Não existe qualquer razão para que temam um ataque. A menos que esperem que ele venha na forma de... — ele olhou para mim— ... um tigre.

— Parece que você de fato encontrou alguma coisa — comentei.

— Mas por que os baigas? Por que não manter Ren na cidade ou num complexo militar convencional?

Kadam pegou alguns papéis.

— Acho que sei por quê. Telefonei para um amigo que é professor de história antiga na Universidade de Bangalore. Já tivemos grandes debates sobre os reinos da antiga Índia. Ele sempre fica fascinado pelos meus... insights. Estudou os baigas a fundo e partilhou alguns fatos interessantes comigo. Primeiro, eles têm muito medo de espíritos do mal e de feiticeiros. Creem que todos os eventos negativos, como doenças, uma colheita perdida, uma morte, sejam causados por espíritos malignos. Eles acreditam em magia e reverenciam seu gunia, ou curandeiro, acima de todas as coisas. Se Lokesh tiver demonstrado algum tipo de magia, é provável que façam qualquer coisa que ele pedir. Eles se consideram guardiões ou zeladores das florestas. É muito possível que Lokesh os tenha persuadido a se mudar, convencendo-os de que a floresta estava em perigo, e que tenha colocado os guardas ali para protegê-la. Outra coisa que ele mencionou e que achei muito interessante é que há rumores de que o gunia dos baigas seja capaz de controlar tigres.

— O quê? Como pode ser?

— Não tenho muita certeza, mas de alguma forma eles são capazes de proteger suas aldeias contra ataques de tigres. Talvez Lokesh tenha encontrado a verdade no mito.

— O senhor acha que eles estão usando algum tipo de magia para manter Ren lá?

— Não sei, mas certamente parece que vale a pena investigar, ou melhor, nos infiltrar.

— Então o que estamos esperando? Vamos lá!

— Preciso de algum tempo para elaborar um plano, Srta. Kelsey. Nosso objetivo é tirar todos de lá vivos. Falando nisso, creio que devo informar a vocês que meus informantes desapareceram. Os homens que mandei investigar o escritório na cobertura do edifício mais alto de Mumbai sumiram. Eles não entraram em contato comigo e temo o pior.

— O senhor acha que estão mortos?

— Eles não são do tipo que se deixa apanhar vivo — replicou ele, sombriamente. — Não vou permitir que outros homens morram por esta causa. A partir de agora estamos por nossa própria conta. — Ele me olhou sério — Estamos novamente em guerra com Lokesh.

Cerrei os punhos e respondi com firmeza:

— Desta vez não vamos fugir com o rabo entre as pernas.

— Isso é ótimo para vocês dois, mas eu não sou uma guerreira. Como podemos vencer, sendo só nos três contra todos os homens dele?

Coloquei minha mão sobre a dela:

— Você é uma guerreira tão boa quanto qualquer um com quem eu tenha lutado, Kells. Mais corajosa até do que muitos que conheci. Em outras situações em que estávamos em número muito menor o Sr. Kadam já elaborou estratégias que decidiram a batalha com facilidade.

— Se há uma coisa que aprendi em meus muitos anos de vida, Srta. Kelsey, é que o planejamento cuidadoso pode quase sempre criar um resultado positivo.

— E não se esqueça de que temos muitas armas à nossa disposição.

— Assim como Lokesh.

Kadam, deu tapinhas na mão dela e disse:

— Nós temos mais.

Ele pegou uma foto de satélite e uma caneta vermelha e começou a circular itens de interesse. Então me entregou um pedaço de papel e uma caneta.

— Vamos começar?

Pegamos um mapa e começamos a estudar o local onde a tribo estava localizada, planejar estratégias, fazer suposições e planos de ataques. Usaríamos todas as armas que tínhamos à nossa disposição, incluindo o lenço, o fruto e Fanindra.

Eu gostava destes planos de guerra. Sempre fui um guerreiro e participei de inúmeras batalhas. Eu gostava de estar à frente delas, me sentia vivo. Eu nunca me importei de encarar o inimigo e matá-lo se fosse necessário. Kadam sempre foi um general eficiente, inteligente e Kelsey era uma guerreira corajosa e faria o necessário para libertar Ren. Eu estava certo de que, com muito treino e boa estratégia, nós três conseguiríamos alcançar nosso objetivo.

Depois de treinarmos e planejarmos a semana inteira, chegara a hora de colocarmos os planos em prática.   Nós iríamos de avião até o local do cativeiro e saltaríamos da aeronave, nos esconderíamos na selva, onde colocaríamos nossos disfarces e começaríamos nosso ataque.

Kelsey estava nervosa. Levantou-se em pleno voo e em um balanço do avião, caiu no meu colo, depois sentou-se ao meu lado, afivelando o cinto.

— Você está tentando se matar antes mesmo de salvar o seu amado?

— Não! Eu só queria ver quanto tempo vai levar até chegarmos ao nosso destino.

— Nós ainda temos mais ou menos dez minutos.

Eu acariciei suas costas para acalmá-la.

— Estou bem. Você não precisa fazer isso.

— Quero ajudar, Kells. Se você não pode pular, então fique no avião. Vamos te encontrar mais tarde.

— Não. Eu preciso estar lá. O plano não vai funcionar sem mim.

— Nós vamos adaptar.

— Vocês não poderiam.

Depois de um momento, eu disse:

— Há outra opção, você sabe.

— Que opção?

— Ir comigo. Em dupla. Como fizemos no treino.

— Não. Absolutamente não.

— Kelsey…

— Não! Você ficou… muito próximo quando pulamos juntos.

Ela ficou vermelha ao lembrar. Kelsey ficou desconcertada naquele treino. Ela claramente se sentia atraída por mim, e ao ter nossos corpos tão próximos e reagindo um ao outro, ela se sentiu culpada. Cruzei os braços e respondi com firmeza:

— Eu nunca me comportei de forma inadequada.

Ela me olhou firme e eu não consegui evitar um sorriso.

— Muito bem, admito que gostei de desfrutar a sensação de segurá-la em meus braços.

— Não se esqueça sobre beijar meu pescoço e ombro.

Eu sorri abertamente, em seguida, cocei o queixo.

— O que posso dizer? Seu pescoço nu era irresistível. Você está sendo excessivamente sensível bilauta. Você se sente culpada por reagir ao meu toque.

Ela virou o rosto, séria, sem me responder.

— Você vai pular comigo se eu prometer limitar nosso contato…?

— Não.

Eu suspirei.

— Kelsey, não deixe sua teimosia causar um acidente.

— O único acidente foi não deixá-lo seguir seu caminho.

Eu voltei a rir:

— Se eu tivesse seguido o meu caminho, nós nem estaríamos aqui agora.

Peguei a mão dela, beijei e a mantive entre as minhas. Inclinei-me para mais perto dela e falei baixinho:

— Se fosse seguir meu caminho, eu preferia levá-la para longe daqui para uma praia quente, onde poderíamos ficar na água e na areia. Nós deixaríamos os cuidados do mundo pendurados em nossos ombros como uma camisa velha e encontraríamos prazer na liberdade de estarmos juntos.

Kelsey pareceu considerar. Me olhou pensativa enquanto eu me aproximava de sua boca. Ela se inclinou um pouco em direção à minha. Achei que ela me beijaria. Mas ela se levantou e voltou para o banco de trás.

Eu fiquei satisfeito pela reação dela. Em breve, Kelsey não conseguiria mais esconder seus sentimentos. Sorri para ela, que me olhou com raiva e prendeu o paraquedas em suas costas.

Kadam apareceu e disse que estávamos prontos. A parte de trás do avião se abriu e ele pulou para fora.

Kelsey o observou, mas permaneceu parada no mesmo lugar. Eu estava atrás dela e avisei que era sua vez.

Ela mordeu os lábios e me olhou, quase chorando. Eu segurei seu rosto e beijei dos dois lados.

— Eu estarei esperando, se você mudar de ideia.

Ela pulou.

Nos encontramos na mata, perto de uma grande árvore, passamos o lenço um para o outro e nos transformamos. Kadam assumiu a forma do tigre negro e partiu. Eu me disfarcei de Kelsey e saí em direção à entrada do complexo, aguardando o sinal de Kadam: um rugido de tigre. Kelsey deveria destruir os geradores com seus raios, apagando as luzes e depois desabilitar as duas torres de vigilância. Em seguida, ela entraria no complexo disfarçada do criado baiga e procuraria por Ren, para libertá-lo, enquanto eu iria distrair Lokesh.

Assim que ouvi o rugido do tigre, adentrei no complexo. Tive que eliminar alguns guardas e fiz isso facilmente usando o chakram até que finalmente cheguei ao escritório de Lokesh. Ele reconheceu Kelsey imediatamente, e começou a me provocar, tentando me convencer a entregar o amuleto. Eu sabia que precisava ganhar tempo para que a verdadeira Kelsey encontrasse Ren e passei a desafiá-lo.

— Posso dilacerar você com uma simples palavra, mas gosto de ver as pessoas sofrerem. E ter você aqui é um presente especial que venho esperando por muito, muito tempo. Não posso imaginar o que estava tentando fazer. Você não tem a menor chance de vencer. Mas devo dizer que estou impressionado com a maneira como enfrentou meus guardas especiais. Eles eram altamente treinados.

— Não o bastante.

— É — Lokesh riu. — Talvez eu pudesse convencer você a trabalhar para mim. Você tem muitos talentos e eu sou um homem que recompensa bem aqueles que me servem. Naturalmente, também devo avisar que aplico punições mortais àqueles que me desafiam.

— Não estou procurando emprego neste momento e alguma coisa me diz que o nível de satisfação entre seus empregados é muito baixo.

Eu corri em sua direção e lhe dei um chute no queixo, girando no ar. Ele limpou o sangue no canto da boca e riu:

— Isso tudo está muito divertido — continuou ele — mas já chega dessa brincadeira. Você tem um amuleto e eu tenho o poder dos outros três. Me dê o seu e depois pode pegar o tigre e ir embora. Não que eu vá deixar vocês irem longe, porém vou lhes dar uma chance assim mesmo. Isso vai tornar a caçada muito mais divertida.

— Acho que vou embora com o tigre e o amuleto. E, aproveitando, acho que vou matá-lo e pegar o seu também.

Lokesh deu uma risada ensandecida.

— Você vai me dar o que eu quero. Na verdade, logo vai se arrepender de ter desdenhado de minha oferta generosa. Em questão de instantes você vai me oferecer tudo o que eu quiser só para cessar a dor.

— Se você quer tanto assim o amuleto, então por que não vem aqui pegá-lo? Vamos ver se luta tão bem quanto faz ameaças. Ou será que agora deixa a luta para outras pessoas... seu velho?

Quando eu ia atacá-lo novamente, Lokesh usou magia, colocando uma barreira invisível entre nós. Em seguida, vários objetos começaram a rodopiar na sala e me atingir. Um tesoura aberta atingiu minha testa, abrindo um talho que logo começou a cicatrizar. Lokesh viu a ferida se fechar e fitou o amuleto com cobiça.

— Me dê o amuleto! É meu destino unir todas as partes!

— Por que você não tenta tirá-lo do meu cadáver?

Lokesh riu, um som terrível de puro deleite.

— Como quiser.

Ele bateu as mãos e as esfregou uma na outra. O chão começou a tremer. Eu caí e vários objetos caíram sobre mim. Algo atingiu um objeto de vidro, que se quebrou. Os cacos começaram a rodopiar e vários me atingiram. Vi meu sangue rodopiar no redemoinho enquanto Lokesh ria de prazer.

Enquanto isso, ouvia as pessoas gritando lá fora. Deduzi que eram os aldeões e que as coisas estavam correndo de acordo com o planejado. Então, ouve um pancada e o prédio se sacudiu. Era Kadam com a gada. Ele havia conseguido dominar os soldados e trouxera o povo baiga para o nosso lado.

Uma flecha atingiu o braço de Lokesh: Kelsey estava ali. O redemoinho parou e os objetos caíram. Um armário caiu no meu pé, causando-me muita dor. Lokesh se virou e olhou para o criado baiga, que presumi ser Kelsey disfarçada. A eletricidade disparava de seus dedos . Kelsey ficou paralisada.

— Você!

Lokesh gritava ameaças na língua dos baigas e caminhou em direção a Kelsey. Arrancou a flecha de seu ombro e lançou-a magicamente em Kelsey, que ergueu a mão, recolhendo a flecha, que pousou lentamente em sua palma. Frustrado, Lokesh bateu as mãos e esfregou-as malevolamente para fazer oscilar a caixa sobre a qual Kelsey estava. Ela caiu.

Agarrei o chakram e joguei nas lâmpadas, deixando a sala escura. Em seguida lancei-a contra Lokesh, que usava mágica para criar vento, o que me impedia de acertá-lo. Agarrei o chakram e aproveitando a distração de Lokesh, que procurava por Kelsey, lancei-me sobre ele.

Nós dois começamos a lutar. Lokesh gritou, chamando seus soldados; sua voz era alta e parecia ser carregada pelo vento para o acampamento lá fora. Mas ninguém veio. Estavam todos presos. Lokesh murmurou algumas palavras até que um colchão de ar surgiu como uma bolha entre nós dois, afastando-me para que ele pudesse se levantar.

Kelsey se levantou e ergueu o braço, mas nada aconteceu. Lokesh olhou em sua direção e riu, em seguida começou a murmurar algo. Então eu agarrei seu braço, e em um giro rápido, coloquei o chakram em seu pescoço. Eu pretendi matá-lo, mas Lokesh ameaçou  Kelsey:

— Você quer que ele morra? Posso matá-lo num instante. Posso congelar o sangue dele para que o coração pare de bater.

Eu estava com tanto ódio que só queria me vingar daquele demônio. Por ter me enganado, por ter matado Yesubai, por ter nos amaldiçoado e destruído minha família. Apertei o chakram e vi um fio de sangue escorrendo. Então olhei para Kelsey e me contive.

Lokesh deu uma risada áspera, respirando pesadamente em seu esforço. Um baque profundo sacudiu as paredes enquanto Kadam e os aldeões continuavam a bater no edifício, tentando derrubá-lo. Lokesh tornou a ameaçar:

— Se não me soltar, eu vou matá-lo. Decida agora!

Eu o soltei. Lokesh riu e murmurou aquelas palavras, então eu também não conseguia me mover. Ele se ajeitou e cerimoniosamente espanou o pó das lapelas do paletó. Pressionou um lenço branco limpo na garganta, que sangrava. Então riu. Aproximou-se e deu tapinhas no meu rosto:

— Aí está. É sempre melhor cooperar, não é? Está vendo quanto é inútil você me enfrentar? Talvez eu tenha subestimado você um pouco. Certamente você acaba de me proporcionar a melhor luta que tive em séculos. Vou aguardar ansioso o desafio de dobrar seu espírito.

Ele tirou uma faca antiga  do bolso interno do paletó e a agitou quase amorosamente diante do meu rosto. Aproximou-se e correu-lhe o lado cego por minha bochecha.

— Esta lâmina é a mesma que usei há muitos anos em seu príncipe. Está vendo como a mantive em excelentes condições durante todos esses anos? Você poderia me chamar de velho tolo e sentimental. Eu esperava secretamente vir a usá-la outra vez e terminar o que comecei muitos anos atrás. Não é bem apropriado que eu a use em você também? Talvez tenha sido poupada exatamente para esse propósito.

Ele fez uma pausa breve antes de continuar:

— Bem, por onde devo começar? Uma bela cicatriz deixaria seu rosto um pouco menos atraente, não é? Naturalmente, terei que tirar o amuleto primeiro. Eu vi como ele consegue te curar. Esperei tanto tempo por essa parte. Você não faz ideia de quanto ansiei por sentir o poder que ela possui. É triste saber que você não estará por aqui para apreciar o que fará por mim.

Ele ficou brevemente amuado.

— É uma pena que eu não tenha tempo para uma cirurgiazinha experimental. Eu adoraria lhe dar umas lições de disciplina. A única coisa que iria me proporcionar mais prazer que correr minha faca na sua pele seria desfigurar você diante do seu príncipe. Ainda assim, ele irá apreciar a minha obra.

Lokesh agarrou meu queixo e eu não podia fazer nada. Ele segurou a faca com a outra mão e quando estava prestes a cortar meu rosto, algo começou a cair do céu, como uma chuva. Aqueles objetos caíram sobre mim e me machucaram. Temi que Kelsey também fosse atingida.

Lokesh foi atingido com força suficiente para perder o equilíbrio e cair. Ele disparou vários palavrões em hindi enquanto tentava se recuperar e descobrir de onde vinha aquela tempestade. Então deu-se conta de que a faca havia desaparecido e começou a vasculhar em meio às balas para encontrá-la .

O edifício se sacudiu mais uma vez e uma parte da parede desmoronou perto de nós. Lokesh conseguiu se levantar com dificuldade depois de encontrar a faca. Ele agarrou o amuleto em torno do meu pescoço e o puxou até a corrente se partir, depois se debruçou sobre mim e encostou a faca no meu rosto:

— Vamos nos encontrar de novo — ele sorria — em breve.

Ele deslizou a faca pelo meu rosto até a garganta, abrindo um corte superficial, depois apertou um botão na parede. Um painel se abriu e ele desapareceu.

Alguns aldeões acompanharam Kadam até o escritório e correram para nos ajudar a levantar. Demorou alguns minutos até que o feitiço usado em nós se desfizesse e pudéssemos nos mexer novamente. Eu me recuperei logo e fui ajudar Kelsey, que ainda estava tendo dificuldades para se mover. Eu a apoiei para que ela pudesse andar, já que ela tinha torcido o tornozelo.

A cobra Fanindra ganhou vida e cresceu, deslizou para o chão e abriu caminho entre caixas de armas e sacolas de suprimentos. De repente se deteve e experimentou o ar com a língua, perto de uma área que parecia um beco sem saída. Suavemente, ela deslizou sob algumas caixas. 

Eu fui até o local e descobri que eram uma arrumação falsa. Fui retirando as caixas do caminho. Atrás, havia uma porta trancada. Tivemos tempo apenas de ver a cauda dourada de Fanindra desaparecendo por baixo. Kelsey empregou seu poder de raio e explodiu a fechadura.

A porta se abriu e minhas narinas se dilataram. Havia um cheiro horrível de sangue, suor e detritos. No meio desses odores, senti o cheiro de Ren.

Instrumentos cirúrgicos modernos espalhavam-se sobre bandejas, ao passo que itens mais antigos empilhavam-se nos cantos e pendiam de ganchos. Aquela era a câmara de tortura de Lokesh.

Kelsey caminhou e estava horrorizada, tocando em alguns daqueles instrumentos. Várias facas, de diferentes comprimentos e larguras, pendiam enfileiradas.

Vimos madeira, parafusos, pregos, alicates, picadores de gelo, tiras de couro, uma focinheira de ferro, uma furadeira moderna, colares com pregos, um torno que poderia ser usado para esmagar qualquer membro que fosse ali colocado e até mesmo um maçarico. Imaginei a dor e o sofrimento que Lokesh infligiu a meu irmão e me compadeci. Fui até Kelsey e toquei seu braço com delicadeza:

— Não olhe para isso, Kelsey. Olhe apenas para mim ou mantenha os olhos voltados para o chão. Você não precisa fazer isso. Seria melhor esperar lá fora.

— Não. Tenho que estar aqui, por ele. Preciso fazer isso.

— Então fique ao meu lado.

A jaula de Ren ficava no canto mais distante. Consegui vê-lo lá dentro. 

Kelsey se abaixou e recolheu Fanindra, que se tornou uma cobra novamente.

Voltamos a caminhar, para libertar Ren.


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