O resgate do tigre escrita por Anaruaa


Capítulo 33
Confissões




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Acordei antes de Kelsey e sai da varanda para o meu quarto, onde troquei de roupa. Depois de comer, fui para o dojo para praticar um pouco.

Após algum tempo, Kelsey entrou e se sentou na escada me observando enquanto eu praticava alguns saltos. Dei um último salto, parando a poucos metros dela, que riu para mim.

— Sabe, se você e Ren fossem para as Olimpíadas poderiam ganhar várias medalhas de ouro. Em ginástica olímpica, atletismo, lutas, no que quisessem. Ambos receberiam milhões de dólares em patrocínio.

— Não preciso de milhões de dólares.

— Haveria um monte de garotas bonitas bajulando você.

Eu ri.

— Só preciso de uma garota bonita me bajulando e ela não está interessada. Então, o que está fazendo aqui embaixo? Quer se exercitar?

— Não. Queria saber se você quer ir nadar um pouco. O Sr. Kadam nos mandou relaxar hoje.

Respondi enquanto me enxugava com a toalha:

— Nadar, é? Talvez sirva para me esfriar um pouco. — eu lhe dirigi um olhar brincalhão — A não ser que você esteja planejando usar biquíni.

Ela riu com sarcasmo:

— Nem pensar. Não sou de usar biquíni.

Eu suspirei de forma teatral.

— Que pena. Muito bem, encontro você na piscina.

Fui ao meu quarto para me trocar e cheguei à piscina primeiro. Peguei uma rede de vôlei e a estava prendendo quando Kelsey chegou. Ela tirou o roupão e colocou na cadeira, depois ficou brincando com o pé na água. Fiquei olhando sua pele branca sob o decote de seu maiô vermelho e pensando em como seria agradável tocá-la. Peguei o filtro solar e me aproximei sem que ela percebesse. Coloquei um pouco nas mãos e espalhei em suas costas.

— Ai! O que você está fazendo?

— Fique parada. Você precisa de filtro solar. Sua pele é tão branca que vai ficar com queimaduras.

Espalhei o protetor por suas costas, pescoço e comecei em seus braços, mas Kelsey me deteve, dizendo que terminaria sozinha. Fiquei observando maravilhado enquanto ela espalhava o creme por suas belas pernas. Sorrindo, comentei para provocá-la:

— Leve o tempo que quiser.

Ela ficou vermelha e sorriu sem graça.

Eu a convidei para uma partida de vôlei, e quando nos preparávamos para jogar, percebi que ela não tinha passado o protetor no rosto, então me aproximei e coloquei uma quantidade grande do creme em seu nariz. Ela riu e começou a espalhá-lo, então eu me ofereci para fazer isso por ela.

Kelsey ergueu o rosto e colocou as mãos do lado do corpo, uma postura que me mostrava o quanto ela estava à vontade comigo. Comecei a espalhar o creme e ela fechou os olhos por um momento. Meu coração se acelerou e meu toque ficou mais suave, como uma carícia. Eu aproximei meu corpo do dela e olhei para os seus lábios. Kelsey então abriu os olhos, respirou fundo e correu, mergulhando na parte funda da piscina e me molhando. Eu ri e mergulhei atrás dela.

Kelsey gritou e começou a nadar, atravessando a piscina. Eu nadei no fundo, de forma que ela não me visse. Ela parou e eu segurei seu tornozelo puxando-a para baixo. Quando voltamos à superfície, nós ríamos relaxados. Continuamos brincando, lançando água um no outro, até que eu sai da água e fui buscar a bola.

Jogamos vôlei e Kelsey estava levando vantagem sobre mim.

— Onde aprendeu a jogar? Você é muito boa!

— Eu nunca tinha jogado na água, mas jogava razoavelmente bem na quadra do colégio. Quase entrei para a equipe da escola, só que isso foi no ano em que meus pais morreram. No ano seguinte eu não estava tão interessada assim em jogar, mas ainda é meu esporte favorito. Eu também era boa no basquete, porém não tinha altura suficiente para ser competitiva. Vocês praticavam esporte?

— Na verdade não tínhamos tempo para os esportes. Tínhamos competições de arco e flecha, lutas e alguns jogos como ludo, mas nenhum esporte em equipe.

— Ainda assim você pode ver que estou ganhando por muito pouco, embora você esteja na parte funda e nunca tenha jogado.

Eu segurei a bola e mergulhei, parando de frente para ela, do outro lado da rede e passei por baixo  parando a um metro de Kelsey. Nossas cabeças estavam niveladas. Olhei para ela com um sorriso e ela levantou os braços, pronta para começar outra guerra de água,. Mas meus planos eram outros.

Me aproximei dela rapidamente e agarrei sua cintura, puxando para mim:

— O que posso fazer? Sou muito competitivo.

Então eu a beijei.

Encostei meus lábios molhados nos dela e os deixei ali, parados por um momento, esperando que ela me repelisse. Mas ela não me repeliu. Então, eu apertei sua cintura, trazendo-a para mais perto de mim e deslizei minhas mãos por suas costas, acariciando-a. Senti sua pele se arrepiar sob meu toque. Inclinei a cabeça e movi meus lábios, que se aqueceram junto ao dela.

Ela me empurrava devagar, mas seus lábios se abriram levemente. Senti o calor da sua boca e toquei sua língua devagar com a minha, sentindo seu gosto maravilhoso. Ela respondeu e parou de me empurrar, colocando as mãos espalmadas sobre o meu peito e deslizando-as até meus braços, que ela apertou com força.

Apertei ainda mais a sua cintura com uma das mãos, enquanto deslizava a outra até sua nuca, para apoiar sua cabeça, enquanto nosso beijo se aprofundava. Nosso beijo, porque ela respondia com entusiasmo. Eu a beijava sem medo, sem problemas de consciência. Depositei desejo, carinho e posse naquele beijo.

Mas então, Kelsey interrompeu o beijo, afastando-se de mim. Eu ainda a tinha em meus braços, mas ela evitava me olhar. Toquei seu queixo erguendo seu rosto e fiquei observando, enquanto seus olhos se enchiam de lágrimas. Uma lágrima rolou pelo rosto dela e caiu na minha mão. Sorri decepcionado:

— Não foi exatamente a reação que eu esperava.

Ela não respondeu. Eu a soltei e ela se afastou nadando, indo se sentar em um degrau da piscina. Eu fiquei esperando que ela começasse a falar.

— Nunca afirmei ser uma especialista em beijos, se é a isso que se refere.

— Não estou falando do beijo.

— Está falando do que, então?

Eu não lhe respondi. Ela sabia do que eu estava falando. Kelsey começou a brincar com a mão na água, e me perguntou, depois de algum tempo:

— Alguma vez eu lhe dei razão para esperar mais?

Suspirei frustrado, afastando o cabelo do meu rosto:

— Não, mas...

— Mas o quê?

Eu poderia ter dito tanta coisa: Mas eu te quero. Mas eu sei que você será minha e não estou mais aguentando esperar. Mas eu não acho justo estar perto de você e não poder tocá-la. Mas eu não resisto à sua boca deliciosa. Mas eu te amo. 

Eu estava triste e frustrado. Kelsey levantou o rosto e me olhou. Então eu lhe disse:

— Mas... não consigo deixar de pensar que talvez Ren tenha sido levado por uma razão. Que talvez seu destino sempre tenha sido ficar comigo.

— A única razão de Ren ter sido levado foi haver se sacrificado para salvar nossas vidas. É assim que você o retribui?

Eu nadei até a borda da piscina e apoiei minhas costas na parede fria:

— Você acha que eu não me importo? Acha que eu não sinto nada por meu irmão? Pois eu sinto. Apesar de tudo o que aconteceu, preferia que eu tivesse sido levado. Você teria Ren. Ren teria você. E eu receberia o que mereço.

—Kishan!

— Estou falando sério. Você acha que se passa um dia sequer sem que eu me odeie pelo que fiz? Pelo que sinto? Você acha que eu queria me apaixonar por você? Eu me mantive longe de você! Dei a ele a chance de ficar com você! Mas tem outra parte de mim que pergunta: e se? E se não fosse para você ficar com Ren? E se você fosse a resposta às minhas preces, e não às dele!

— Kishan, eu...

— E antes que diga qualquer coisa, quero avisar que não desejo sua compaixão. É melhor você não dizer nada do que tentar me dizer que não gostou ou que só sente amizade por mim.

— Não era isso que eu ia dizer.

— Ótimo. Então você admite que gostou? Que existe química entre nós? Que você se sente atraída por mim?

— Você precisa que eu admita isso?

Eu cruzei os braços, levemente satisfeito.

— Sim. Acho que preciso.

Ela ergueu os braços, nervosa:

— Está bem! Admito. Eu gostei. Temos química. Sim, eu me sinto atraída por você. Foi bom. Na verdade, foi tão bom que me fez esquecer completamente de Ren por cerca de cinco segundos. Está feliz agora?

— Estou.

— Mas eu não.

— Estou vendo. Então tudo o que tive foram cinco segundos?

— Para ser honesta, provavelmente está mais para 30.

Eu sorri levemente.

— Kishan, eu...

— Você se lembra de quando escapamos da casa das sereias em Shangri-lá? — Perguntei, interrompendo-a.

— Lembro.

— E de que você disse que conseguiu escapar porque pensou em Ren?

Ela balançou a cabeça, assentindo

— Bem, eu consegui escapar porque pensei em você. Você ocupou meus pensamentos e o feitiço das sereias desapareceu. Não acha que isso significa alguma coisa? Não poderia significar que talvez nós estejamos destinados a ficar juntos? A verdade, Kells, é que venho pensando em você há muito tempo. Desde que nos conhecemos não consigo tirá-la da cabeça.

Uma lágrima rolou pelo rosto dela, que falou baixinho:

— Sinto muito por tudo que aconteceu. Sinto muito por tudo que você passou. E sinto ainda mais por qualquer sofrimento que eu esteja lhe causando. Não sei o que dizer, Kishan. Você é um cara maravilhoso. Maravilhoso demais. Se a situação fosse outra, eu provavelmente ainda estaria ali beijando você.

Ela colocou as mãos sobre o rosto e eu nadei até ela. Parando à sua frente, estendi a mão:

— Então venha aqui e me beije.

Ela balançou a cabeça, negativamente.

— Eu não...Eu não posso.—Suspirou. — Olhe, tudo o que sei é que eu amo Ren. E ficar com você, por mais tentador que seja, não é algo que eu possa fazer. Não posso dar as costas para ele. Por favor, não me peça isso.

Kelsey saiu da piscina e se enrolou em uma toalha. Eu também saí e peguei outra toalha. Depois, me aproximei e virei Kelsey para olhá-la nos olhos.

— Você precisa saber que isso não é uma competição com ele. Não há segundas intenções. Não é uma simples atração — Toquei seu rosto com os polegares e o segurei com ambas as mãos. — Eu amo você, Kelsey.

Dei um passo a frente, pronto para beijá-la, mas ela colocou a mão no meu peito, quase desesperada.

— Se você me ama mesmo, não me beije de novo.

Ela me olhou, esperando minha resposta. Eu estava aflito, desesperado. Eu precisava de Kelsey e a queria mais do que tudo. Mas eu precisava ser paciente. Se era aquilo o que ela queria, eu não voltaria a beijá-la.

— Não vou prometer que nunca mais a beijarei, mas prometo não beijá-la a menos que tenha certeza de que não há mais nada entre você e Ren.

Kelsey ia dizer algo, mas eu continuei:

— Não sou o tipo de homem que reprime os sentimentos, Kells. Não fico sentado no quarto me consumindo de tristeza, escrevendo poemas de amor. Não sou um sonhador. Sou um lutador. Sou um homem de ação e vou precisar de todo o meu autocontrole para não lutar por isso. Quando é preciso fazer alguma coisa, eu faço. Quando sinto alguma coisa, eu tomo uma atitude. Não vejo nenhum motivo para que Ren mereça ter a garota dos seus sonhos e eu não. Não me parece justo isso acontecer comigo duas vezes.

Kelsey tocou meu braço.

— Você tem razão. Não é justo. Não é justo que você tenha tido que ficar comigo noite e dia nas últimas semanas. Não é justo pedir que deixe de lado seus sentimentos. Não é justo pedir que seja meu amigo. Mas o fato é que preciso de você. Preciso de sua ajuda. Preciso de seu apoio. E, principalmente, preciso de sua amizade. Eu não teria sobrevivido um só dia em Shangri-lá sem você. Tampouco creio que eu possa resgatar Ren sem você. Não é justo lhe pedir isto, mas estou pedindo. Por favor, preciso que você me esqueça.

Virei o rosto para o lado, pensativo e frustrado. Então voltei a olhá-la nos olhos e toquei seu cabelo molhado:

— Está certo. Eu vou recuar, mas não estou fazendo isso por ele e certamente não por mim. Estou fazendo por você. Lembre-se disso.

Caminhei até o meu quarto sem olhar para trás.

Desci para o jantar e encontrei Kadam, que me disse ter novidades sobre o paradeiro de Ren. Kelsey não demorou a descer, e parecia alegre.

— O peixe parece delicioso, Sr. Kadam. Obrigada.

Ele fez um gesto com a mão, dispensando o agradecimento, inclinou-se para frente e disse:

— Que bom que chegou, Srta. Kelsey. Tenho novidades.


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