O resgate do tigre escrita por Anaruaa


Capítulo 13
Regresso à Índia




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Eu tomei Kelsey dos braços de Ren, a joguei nos ombros e corri. Olhei para trás e vi os homens se aproximarem de meu irmão. Pensei em voltar para ajudá-lo, me arrependi de tê-lo deixado para trás. Mas eu tinha que proteger Kelsey. Eu sabia que era isso o que ele queria também.                                       

Consegui chegar à picape e coloquei Kelsey lá dentro. Dirigi rápido e consegui chegar ao avião. Nilima nos esperava.

Colocamos Kelsey dentro da aeronave e decolamos. Meu tempo como homem se extinguiu e eu assumi a forma de tigre. Eu estava exausto, me sentindo culpado por não ter percebido a armadilha de Lokesh, por ter deixado meu irmão ter sido capturado, por Kelsey ter sido atingida...

Kelsey acordou horas depois. Eu ainda estava sob a forma de tigre, deitado ao lado de sua cama. Ela estendeu a mão e tocou meu pêlo, confusa.

— Ren? Onde estou?

Nilima estava perto da cama foi em sua direção rapidamente.

— Kelsey? Como está se sentindo?

— Nilima? Ah, estamos no avião.

Nilima colocou um pano úmido na testa de Kelsey, enquanto eu as observava, sem me levantar.

— Escapamos. Estou tão feliz.

Kelsey acariciou minha cabeça, pensando que eu era o tigre branco. Nilima me olhou brevemente, assentiu e disse que iria buscar água, saindo em seguida.

— Tive tanto medo de você não conseguir. Acho que agora isso não tem importância. A sorte nos ajudou. Nunca mais vamos nos separar. Prefiro ser capturada com você do que sermos separados.

Kelsey se sentou enquanto Nilima lhe entregava um copo de água e a aspirina. Eu estava nervoso, temendo sua reação ao perceber que era eu e não Ren quem estava com ela no avião. Como eu queria ter sido capturado no lugar de Ren. Pelo menos Kelsey estaria feliz. 

— Obrigada. Já me sinto melhor. Pelo menos, todos conseguimos escapar. Isso é o que importa. Certo?

Então Kelsey me olhou pela primeira vez, e entrou em pânico.

— Kishan? — suplicou com a voz áspera. — Onde ele está? Diga-me que não o deixamos para trás! Ren? — gritou — Ren? Você está aqui? Ren? Ren?

Eu olhei para ela triste. Não havia nada que eu pudesse fazer para consolá-la. Eu poderia me tornar homem naquele momento, mas não tive coragem. Ela agarrou a mão de Nilima como quem se agarra a um último fio de esperança.

— Nilima, me fale! Ele está aqui?

Nilima sacudiu a cabeça, as lágrimas enchendo seus olhos. Kelsey também começou a chorar, desesperada.

— Não! Precisamos voltar! Peça que deem meia-volta. Não podemos simplesmente deixá-lo lá! Não podemos!

 Nilima não reagiu.

— Kishan! Isso não está certo! Ele não deixaria você. Eles vão torturá-lo. Vão matá-lo! Precisamos fazer alguma coisa! Não podemos deixar que isso aconteça!

Eu me transformei em homem, sentei ao seu lado e segurei sua mão.

— Kelsey, não havia escolha. Se tivéssemos ficado para trás, não conseguiríamos escapar.

Ela sacudia a cabeça, negando com firmeza:

— Não! Poderíamos ter esperado por ele.

— Não, não poderíamos. Eles me aplicaram tranquilizantes também. Fui atingido uma vez e mal consegui chegar ao avião, apesar da minha capacidade de recuperação. Acertaram-no pelo menos seis vezes. Fiquei impressionado que ele ainda conseguisse ficar de pé. Ren lutou bravamente e ganhou tempo para que pudéssemos escapar.

— Ele está...? — Solucei. — Eles o mataram?

— Acho que não. Eles não tinham outra arma além dos bastões com dispositivos de eletrochoque e dardos tranquilizantes. Aparentemente suas instruções eram para nos capturar vivos.

— Não podemos deixá-los fazer isso, Kishan. Precisamos ajudá-lo.

— Vamos fazer isso. O Sr. Kadam já está trabalhando em sua localização. Mas não vai ser fácil. Há séculos ele vem procurando Lokesh e o homem consegue se esconder muito bem. Só tem uma coisa em nosso favor. Ren não está com o amuleto, portanto Lokesh talvez esteja disposto a sugerir uma troca: o amuleto por Ren.

— Ótimo. Daremos a ele o amuleto se pudermos ter Ren de volta.

— Vamos nos preocupar com isso quando chegar a hora, Kelsey. Neste momento, você precisa descansar. Estaremos na Índia daqui a algumas horas.

— Fiquei desacordada tanto tempo assim?

— Você foi atingida duas vezes e ficou apagada por cerca de 15 horas.

— Eles o seguiram até o avião?

— Tentaram, mas o avião estava pronto para decolar. Jason provavelmente salvou nossas vidas.

Kelsey ficou pensativa. Eu sabia que ela estava pensando em Ren, em como fora capturado e no que ele poderia estar sofrendo naquele momento, eu mesmo não conseguia pensar em outra coisa. Eu a abracei tentando confortá-la.

— Sinto muito, Kelsey. Queria que houvesse sido eu, não Ren. Queria ter tido força para tirar vocês dois de lá.

Suas lágrimas molhavam minha camisa.

— Não foi culpa sua. Se você não estivesse lá, nós dois teríamos sido capturados.

Ela virou a cabeça, fungando e eu me abaixei para olhar nos olhos dela, dizendo com muita sinceridade:

— Eu lhe prometo, Kelsey, que vou fazer tudo que estiver a meu alcance para salvá-lo. Ele ainda está vivo. Posso sentir isso. Vamos encontrar uma saída e derrotar Lokesh.

Kelsey apertou minha mão e disse que ficaria bem. Levantei-me para pedir a Nilima que preparasse algo para ela comer.

Eu me transformei em tigre e fiquei observando Kelsey durante o jantar. Ela estava triste e pensativa, e eu não sabia como consolá-la. Ela percebeu minha preocupação e se inclinou para acariciar o pelo da minha cabeça. Fechei os olhos prometendo a mim mesmo que cuidaria dela até o retorno de Ren.

XXX

Kadam nos esperava no aeroporto particular. Kelsey caminhou emocionada em sua direção e eles se abraçaram.

— Srta. Kelsey, senti saudade — disse ele, enquanto abraçava-a.

— Também senti saudade do senhor.

— Venha. Vamos para casa. Temos muito para conversar.

Quando chegamos em casa, deixei Kelsey e Kadam sozinhos para conversarem. Levei a bolsa de Kelsey e deixei no quarto dela. Depois fui para o meu quarto e me transformei.

Ultimamente, eu vinha me sentindo melhor na pele do tigre. Ele era instintivo, selvagem, um sobrevivente. Já o homem, racional, estava sendo torturado pela culpa e pelo desejo. 

A verdade é que eu estava apaixonado por Kelsey e sonhei em tê-la por um bom tempo. Quando fui aos Estados Unidos e a vi feliz com meu irmão, desisti desta ideia, mas não deixei de amá-la. E agora que Ren foi levado, não conseguia deixar de pensar que esta poderia ser a minha chance de ficar com ela. Eu me recriminava por este pensamento, mas ele não me deixava, e por isto era difícil encarar quem quer que fosse com a minha face humana.

Bem mais tarde, Kadam me procurou e disse que Kelsey estava decidida a treinar artes marciais e a praticar seu recém descoberto poder de lançar raios. Eu havia conversado com Kadam ao telefone, quando contei da perseguição e captura de Ren e mencionei como Kelsey o havia protegido lançando raios da palma de sua mão contra os agressores.

Eu me transformei em homem, troquei de roupas e desci para o tatame, onde fiquei esperando por ela. Nós treinamos muito naquele dia e combinamos treinar mais no dia seguinte. Kelsey subiu para o quarto e mais tarde eu fui procurá-la.

— Posso entrar, Kelsey? Sou eu, Kishan.

— Claro.

Coloquei a cabeça pela porta e expliquei:

— Eu só queria dizer boa-noite.

— Tudo bem. Boa noite.

Reparei que na cama de Kelsey havia um tigre branco de pelúcia. Me aproximei sentindo um pouco de ciúme e curiosidade. Dei um piparote no nariz do tigre de brinquedo.

— Ei! Deixe o bicho em paz.

— Eu me pergunto o que ele achou disso.

— Se quer mesmo saber, ficou lisonjeado.

Eu sorri pensando que também ficaria.

— Vamos encontrá-lo, Kells. Eu prometo.

Ela balançou a cabeça concordando.

— Bem, boa noite, bilauta.

Ela se apoiou no cotovelo e me perguntou:

— O que significa isso, Kishan? Você nunca me disse.

— Significa “gatinha” Achei que, se somos os gatos, você tem que ser a gatinha.

— Ah. Mas não diga mais isso perto de Ren. Ele fica com raiva.

Eu sorri.

— Por que você acha que eu digo? Até amanhã.


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