O resgate do tigre escrita por Anaruaa


Capítulo 11
Reencontro 2 - POV Kishan




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Desde que Ren deixou a Índia para reencontrar Kelsey, eu passei a me sentir um estranho em casa.

Eu havia deixado a floresta e estava tentando me adaptar novamente ao mundo humano, mas percebi que, desde que voltei, eu nutria esperanças de um relacionamento com Kelsey.

Depois que ela foi embora, eu esperei o momento certo para ir atrás dela. Eu não sei se o momento passou ou se ele nunca aconteceu.

Às vezes Ren telefonava e eu o escutava dizer o quanto Kelsey e ele estão felizes e apaixonados. Eu estava com ciúmes e  resolvi ir embora. 

Percebi que não me adaptei à humanidade. Aquela casa enorme e sem ninguém me oprimia. Kadam passava a maior parte do tempo em seu escritório, trabalhando nas traduções da profecia. Nós ainda treinávamos, mas eu passava a maior parte do tempo sozinho. Nilima ainda não tinha voltado à Índia, estava viajando e cuidando dos nossos negócios. 

Eu sentia muito a falta de correr pela selva como tigre, de caçar. Estava acostumado com aquela liberdade. Eu estava prestes a dizer a Kadam que eu voltaria para a selva, quando ele veio até mim. Parecia apreensivo. 

— O que houve Kadam? Aconteceu alguma coisa com Kelsey?

— Ainda não Kishan, mas temo que possa acontecer. A identidade dela pode ter sido revelada. Há um risco de Lokesh localizá-la. Preciso q você vá aos Estados Unidos.

— Aos Estados unidos? Porque? Não seria melhor trazê-la de volta?

— Ren acha melhor não, por causa das aulas na faculdade. Eles vão terminar esse semestre e viram para casa em seguida. Enquanto isso, você vai para lá ajuda-lo a proteger a senhorita Kelsey.

Eu estava confuso em relação a meus sentimentos. Ao mesmo tempo em que estava feliz por poder rever Kelsey, me perturbava o fato de que ela e meu irmão eram um casal feliz e que eu iria testemunhar o relacionamento deles de perto. Mas se Kelsey estava em perigo, eu não poderia me negar a ajudar.

— Claro Kadam. Quando devo partir?

— Nilima vem pra casa em alguns dias. Eu prefiro que ela te acompanhe na viagem para que você não precise se esconder quando estiver na forma de tigre. Ela irá com você até os Estados Unidos e retornará em seguida. Prepare- se para a viagem.

Quando chegou o dia de partir, meu coração estava a mil. Eu estava ansioso para chegar. Já havia estudado a cidade pelo computador e estava familiarizado com tudo. Nilima me deu algumas instruções durante a viagem. Quando chegamos ao aeroporto, ela me levou até o carro que tinha providenciado para mim e me ensinou como usar o GPS. Nos despedimos e ela voltou para a aeronave.

Assim que me aproximei da casa, percebi que não havia ninguém. Entrei na casa de Ren e deixei minhas malas na sala. Encontrei um convite para um baile em cima da mesa. Tomei banho, troquei de roupa e saí. Digitei o endereço no GPS e fui até lá.

Eu queria muito ver Kelsey, então quando entrei no local onde o baile estava acontecendo, eu a procurei, avistando-a rapidamente.

Kelsey estava aninhada nos braços de Ren, dançando com ele uma música lenta. Meu coração começou a bater mais forte, emocionado. Eu comecei a caminhar até eles. Percebi que Ren me viu e ficou tenso, irritado.

Aproximei-me deles, tentando disfarçar minhas reais emoções. Kelsey ainda não tinha me visto, mas Ren me encarava firme e carrancudo. Dirigi-me a ele em tom de brincadeira:

— Ora... ora.. ora. Um dia da caça, outro do caçador. Creio que esta dança seja minha.

Meu irmão ficou ainda mais nervoso. Kelsey virou-se imediatamente para mim e sorrindo me abraçou.

— Kishan! Como estou feliz de ver você!

Eu retribui o abraço, quase não conseguindo conter minha emoção.

— Também estou feliz em vê-la, bilauta.

Por alguns segundos, eu me esqueci de que Ren estava ali e de que Kelsey era a namorada dele e me permiti desfrutar daquele abraço, sentindo o calor do corpo dela e apreciando seu cheiro adocicado. Então eu a soltei e me afastei um pouco para apreciá-la. Ela estava linda.

— Senti saudade. Como meu irmão idiota está tratando você? — Em um sussurro fingido, perguntei: — Você precisou usar o repelente de tigres?

Ela riu animada.

— Ren está me tratando muito bem, apesar de eu ter dado a ele um presente de dia dos namorados muito mixuruca.

— Ah, ele não merece mesmo nenhum presente. O que foi que ele deu a você?

Ela ergueu a mão, me mostrando o brinco que estava pendurado em sua orelha

— Estes. Mas são muito sofisticados para mim.

Eu toquei de leve na joia, sorrindo ao lembrar-me de minha mãe.

— Mamãe teria aprovado — disse baixinho.

— Estes brincos foram da sua mãe? — perguntou a Ren, que assentiu. — Ren, por que você não me disse?

— Não queria que se sentisse pressionada a usá-los caso não gostasse deles — respondeu ele — Estão um pouco fora de moda.

— Você devia ter me contado que eram da sua mãe. — Deslizou os braços por seu pescoço e o beijou. — Obrigada por me dar algo tão precioso para você.

Eu me senti deslocado. Era óbvio que os dois estavam em uma espécie de comemoração. Tentei disfarçar meu ciúme e mau estar, reclamando em tom de deboche:

— Argh, acho que o prefiro chorão e desesperado. Isso é tão meloso.

Ren grunhiu baixinho.

— Quem foi que o convidou?

— Você.

— Não para vir aqui. Como nos encontrou?

— Desembarcamos em Salem e encontrei o convite para o baile na casa. Pensei que, se havia uma festa, eu devia estar nela. Mas acho que todas as garotas bonitas já têm par. Talvez... eu possa pegar a sua emprestada.

Estendi a mão para Kelsey, na esperança de dançar com ela, mas já imaginando que isto irritaria meu irmão, que se colocou à frente dela.

— Por cima do meu cadáver!

Eu arregacei as mangas do suéter.

— Quando quiser, irmão. Vamos ver como se sai, Sr. Romântico.

Kelsey interrompeu a discussão, dirigindo-se a mim com sua voz delicada:

— Kishan, estamos bem no meio de um encontro e, embora eu esteja muito feliz em vê-lo, será que você se importaria de ir para casa agora? Como pode ver, é mais uma coisa para casais do que uma festa. Não vamos demorar e lá em casa tem ingredientes para preparar sanduíches e uma bandeja gigante de biscoitos. Você se importa? Por favor?

— Muito bem. Eu vou. Mas só porque você está pedindo.

— E você está pedindo outra coisa — retrucou Ren.

— Isso mesmo. Vamos ver se você pode levar essa coisa para mim mais tarde. Tchau, Kelsey — Respondi em tom de deboche, virando-me para ir embora.

Fui para a casa frustrado e enciumado. Eu não podia deixar transparecer meus sentimentos por Kelsey, ou Ren não me deixaria ficar perto dela. Eu também não podia interferir no relacionamento dos dois. Kelsey estava feliz e Ren a amava de verdade, ou não teria lhe dado os brincos de mamãe.

Fiquei pensando arrependido, que eu deveria ter ido atrás de Kelsey quando eu tive a chance.

Entrei na casa de Kelsey e comecei a comer. Eu não tinha reparado o quanto estava faminto. E os biscoitos de manteiga de amendoim estavam deliciosos. Acabei comendo todos.

Ouvi quando Ren e Kelsey chegaram. Eles pararam na entrada da garagem e eu consegui escutar o que falavam:

— Este não é exatamente o final que planejei para nosso encontro romântico — disse Ren.

— Ainda lhe resta uma hora. O que tinha em mente?

Ele riu.

— Na verdade eu estava planejando improvisar o restante, mas isso não vai acontecer com Kishan por aqui.

Senti uma pontada de ciúme, talvez de inveja. Mas varri esses sentimentos e reclamei baixo o suficiente para que apenas Ren ouvisse, sobre o quanto aquele relacionamento meloso deles era irritante. Meu objetivo era fazê-los perceber que eu os estava ouvindo.

Quando eles entraram na casa, reclamei novamente:

— É repugnante. Vocês não podiam ter terminado de se beijar no baile para que eu não precisasse ouvir isso?

Ren ajudou Kelsey a tirar o casaco e disse a ela que subiria assim que me acomodasse. Imaginei que os dois estivessem dormindo juntos, mas sabia que restava pouco tempo como homem para Ren naquele dia.

Kelsey subiu as escadas e Ren foi até a cozinha. Em seguida começou a me xingar me acusando de ter comido todos os seus biscoitos. Eu dei de ombros e virei-me para sair da casa. Ren foi atrás de mim e me disse para ficar em seu quarto, pois ele dormiria na casa de Kelsey.

Deitei-me na cama pensando em como seria difícil me acostumar àquela situação. Mas eu era um homem prático, não ficaria chorando pelos cantos por um amor que não me pertencia. Eu esqueceria este sentimento e tentaria manter uma boa relação com Ren, conformando-me em ter apenas a amizade de Kelsey.


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