Querida Hisana,
Faz alguns anos que não escrevo a você. Sinto lhe dizer, mas esta será a última vez. Portanto, não serei breve como nas vezes anteriores. Espero que tenha paciência.
Na primavera de seu décimo sétimo aniversário de morte, algo de muito importante aconteceu em minha vida. Eu me apaixonei novamente. Nunca pensei que algo assim aconteceria, não depois de perder você. Foi o mesmo quando nos apaixonamos, se lembra?
Você era agitada como o vento que balançava seus cabelos. Vinha me visitar todos os dias, mesmo quando era inapropriado. No dia em que me tornei líder de meu clã, você veio me ver. Os conselheiros disseram que eu mantinha o orgulho da família e que a levaria a glória, porém nada disso foi mais importante do que as suas palavras. “Eu confio em você, Byakuya. Você vai se sair bem”.
Nossos encontros no Jardim Secreto eram a melhor parte dos meus dias. Eu me sentia aliviado ao seu lado, longe dos compromissos. Foi em um deles que decidi que a apresentaria para minha família. Aquele foi um dia difícil, me lembro do quanto se sentiu mal pela forma que lhe trataram e por achar que estava me prejudicando. Hisana, você se lembra? Eu segurei sua mão na frente de todos, dizendo que seria minha futura esposa. Hoje quando penso nisso, concluo que não foi um pedido de casamento adequado.
Todas as lembranças e promessas que fiz continuaram comigo por toda minha vida. Não só isso como a dor e o arrependimento permanecem em meu coração. Você se sentia mal por ter abandonado Rukia, por achar que me atrapalhava. A doença se agravava, assim como sua tristeza. Mesmo fraca e cabisbaixa, você continuava a iluminar as minhas noites solitárias. Em uma delas, você me deu aquelas luvas.
Na primavera do quinto ano, você me deixou. Não acredito que suas últimas palavras foram tão tristes. Você se achava uma pessoa horrível por ter abandonado sua irmã. Se lamentou por eu ter cuidado de ti até o fim. Disse que sentia muito por não ter podido retribuir meu amor por você. Essas palavras ficaram comigo, e era doloroso pensar nelas. Passei a odiar a primavera e todas as flores do jardim.
Isso até que eu me apaixonasse novamente. As flores voltaram a me trazer alegria, e as cores voltaram a fazer sentido. Meus sentimentos dolorosos foram postos de lado. Esse novo amor me fez repensar diversas coisas, e suas últimas palavras foram uma delas. Sinto muito por não ter dito que você estava errada ao pensar aquelas coisas sobre si mesma. Todo o amor que eu dei à você foi veemente retribuído. Saiba disso, por favor.
Esse novo amor é diferente em tantos sentidos que sequer sei por onde começar. Talvez eu deva descrevê-lo para você. Ele é agitado, escandaloso e caloroso. Toda sua aura emana um calor, assim como sua cor predominante: vermelho. Ele veio do mesmo lugar que você e Rukia, portanto seu coração é puro. Ele valoriza as pequenas coisas e gestos, mesmo sendo um homem tão exagerado. Ele me mostrou coisas novas, assim como reviveu várias sensações antigas. Ele me deixa vulnerável, penetra minhas barreiras como ninguém nunca o fez. Me tira do sério, coloca expressões no meu rosto que sequer tenho coragem ou capacidade de mostrar a outro alguém. Ele me ama e me respeita. Sei disso, pois ele adora falar e demonstrar isso a cada minuto.