“Eles ficam me observando o dia todo” sussurrou Lily para a mãe, com os olhos cheios de lágrimas. “Eles sabem o que eu penso, sabem o que eu sonho. Eles me perseguem.”

A mãe colocou o prato na frente da filha. “Coma. Você está magra demais.”

“Não posso comer, colocaram alguma coisa nessa comida, eu sinto o cheiro do veneno.”

“Garanto que não há nada aí, meu amor. Acabei de preparar, não saí de perto das panelas por um segundo.”

“Severus disse que viu quando colocaram.”

“Quem diabos é Severus?”

Lily não respondeu, empurrou o prato da mesa, jogando-o no chão. A mulher suspirou, tentando permanecer calma. Varreu tudo, limpou o chão e sentou-se na sala, deixando Lily na mesa. Precisava acalmar-se antes, não queria deixá-la estressada.

Porém Lily não precisava que a mãe a estressasse, as vozes já faziam isso por si só. Tudo estava uma bagunça dentro da sua mente, Lily sentia medo. Há dias que aquilo começara.

Tudo se iniciara quando Lily percebeu que haviam pessoas observando-a ao dormir, ao tomar banho. Marlene dizia que eram pessoas ruins que queriam seu mal. Depois, outras vozes – diferentes das que Lily estava acostumada – surgiram também. Eles a ameaçavam, a depravavam. Estavam por toda canto: no seu quarto, seu banheiro, sua mente. Lily não podia virar-se na cama, pois sentia dor, alguém a machucava.

James sentou-se ao seu lado, segurando a mão de Lily com calma.

“Você precisa comer, ninguém fez nada com sua comida, posso garantir.”

“Tem certeza?”

“Sim, absoluta.”

Lily pediu comida para a mãe, que o fez com prazer. E Lily comeu tudo enquanto James a observava. Confiava nele, fielmente.

“Onde você esteve?” perguntou Lily ao terminar de comer.

“Estive ocupado.”

Lily tomou a sua medicação e foi se deitar, James já tinha ido embora novamente. Ela não aguentava mais, por que ele ia embora? Ele prometera ficar.

Lily não via James há semanas. Sentia falta dele, sentia falta da voz dele. Marlene também sumira, Severus também. Todos tinham ido embora.

“Olhe como ela está dura, mãe.”

“Pare, Petúnia!”

Era correto dizer que Lily estava indo muito bem, depois de alguns dias, as vozes haviam sumido, se sentia quase bem. Infelizmente, ela não conseguia fazer muitas coisas, não saía de casa, sentia dores ao andar, não tinha vontade nem de levantar da cama, ao mesmo tempo em que se sentia inquieta. Após algumas semanas, Lily ganhara peso, sentia-se orgulhosa de si mesma, pois assim a mãe não ficava todo dia dizendo que ela deveria comer.

No dia anterior, Lily começara a pintar um quadro, mas não conseguira terminar, suas mãos estavam cansadas.

Ela queria poder ver James, mas ele não aparecia.

Ele prometera voltar, mas havia desaparecido.