Answer escrita por nathaliacam


Capítulo 7
Parte VII




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Parte VII

Bella estava de mau-humor. Sua expressão era tão, mas tão ruim, que Rosalie nem se atreveu a perguntar o que tinha acontecido. Pouco depois da meia noite anterior, Rosalie acreditou estar sonhando quando ouviu o barulho da porta batendo. Acreditava piamente que Bella não passaria a noite ali, visto a empolgação que ela tinha quando saiu de casa. Visto a empolgação que Edward demonstrava em relação a ela.

Algo grave tinha acontecido, com certeza.

"Bella?" perguntou Rose para a amiga quando a viu indo para a cozinha, direto para a cafeteira.

"Hm?" ela respondeu por cima do barulho da cafeteira.

Rosalie caminhou para perto.

"Tudo bem?"

Ela deu de ombros, ainda de costas. Tirou a xícara da cafeteira e tomou um gole do café expresso. Não estava a fim de conversar, mesmo que fosse com Rosalie. Não queria contar o que tinha acontecido, porque não queria se lembrar. Já não bastava a quantidade de horas que ficou se revirando na cama, remoendo a raiva e a pena que sentia de si mesma.

Bella não estava magoada. Longe disso, afinal, ela não era nenhuma mocinha indefesa e inexperiente que se apaixonava pelo cara que ficou por dois dias. Por mais que ela realmente tivesse se encantado por Edward e todo o charme que ele representava, Bella sabia muito bem que tinha que tomar cuidado consigo mesma e com seu coração. Sendo assim, não, ela não estava apaixonada, então se recusava a se definir como magoada.

O que ela estava, entretanto, era com raiva. Estava com muita, muita raiva e frustrada acima de tudo. Ela não sabia o que tinha acontecido para Edward entrar naquele carro com Tanya, mas não conseguia pensar em nada que o justificasse. Vai ver ele tinha se arrependido de terminar com ela, eles tiveram uma recaída ou coisa do tipo. Ele parecia realmente nervoso quando saiu do bar para levar Tanya à portaria, mas, como ela o conhecia por dez anos, devia saber estratégias que amoleciam seu coração e o convenciam a qualquer coisa.

Tanto faz, concluiu após horas não ia mesmo dar em nada.

No entanto, era frustrante, porque ela tinha feito expectativas para depois do show, pelo menos. Depois de tantos beijos trocados, e promessas de passar a noite juntos… ela jamais esperava que uma reviravolta daquelas fosse acontecer e obrigá-la a voltar para casa. E isso era o que a deixava com raiva: ter suas expectativas frustradas.

Tudo bem, era chato que Edward tivesse feito o que fez, mas ele não era o alvo de sua raiva. Edward tinha um passado com Tanya, um passado que Bella não conhecia. Seja lá o que for que ele sente por ela, era representativo de algum maneira. É claro que o fato de ele não ter cumprido a promessa que fez era irritante, mas Bella se permitiu se envolver em primeiro lugar. Mesmo sabendo que ele tinha acabado de sair de uma relação complicada de dez anos.

"Vai ficar," ela se virou suspirando e sentou-se à mesa da cozinha.

"Eu devo te perguntar o que aconteceu?" Rosalie mordendo o lábio inferior, sentando-se à mesa também.

"Depois eu te conto," ela tomou um gole do café, "Não quero ficar pensando nisso agora."

Rosalie assentiu, reconhecendo o gênio da amiga. Bella gostava de lidar com seus próprios problemas sozinha antes de confidenciá-los a outras pessoas. Por mais que Rose e ela fossem melhores amigas e que ela confiasse em Rose completamente, era melhor ter aprendido a lidar com o que sentia antes de contar a alguém.

"Podemos fazer uma programação de amigas," ela sorriu e estendeu a mão para afagar a de Bella, "Vamos aproveitar que Emmett está lá na casa da mãe louca dele e vamos ficar a tarde inteira aqui, só nós duas. Podemos fazer uma maratona de Senhor dos Anéis!"

Bella sentiu o peito aquecer. Rose sempre sabia o que fazer para alegrá-la. Além do mais, não pensar sobre seu problema fazia com que ele fosse embora mais depressa.

"Topo," assentiu, "Mas podemos maratonar Harry Potter? Eu prefiro."

"Podemos maratonar o que você quiser," deu de ombros, "Desde que você faça aquela pipoca doce de novo."

Bella revirou os olhos.

"Sempre."

[...]

Edward acordou com uma pancada meio surda na cabeça. Franziu o cenho, tirando a bochecha do travesseiro e coçando o olho direito. Sua cabeça estava uma bagunça e ele ainda estava tentando assimilar onde estava quando ouviu uma voz feminina irritada:

"Vamos pedir pizza para o almoço. Qual sabor você quer?"

Almoço? Ele passou a mão pelo rosto, sentindo os pelos de sua barba crescente arranharem a palma de sua mão. Ainda de olhos fechados, virou-se na cama e suspirou fundo.

"Qualquer um."

"Ótimo," ela revirou os olhos, "Acorda logo. Você tem que correr atrás de um prejuízo gigante."

A porta bateu, mas Edward mal prestou atenção, tentando entender a que Alice se referia. Que prejuízo? Ele tinha certeza que estava se esquecendo de algo importante, mas tinha também a sensação que não seria bom lembrar. Não era algo bom. Ele quase preferia ficar deitado, dormindo, para não pensar no que quer que tivesse acontecido.

Porém, ele queria se levantar para pelo menos mandar uma mensagem para Bella e agradecer a presença no show de ontem, porque…

Bella! Ah, droga!

Edward sentiu um peso no coração ao se lembrar de como tudo aconteceu na noite anterior. Bella com ele no show, na área reservada, os planos para que ela voltasse para casa com ele, depois Tanya aparecendo e fazendo escândalo, ele tendo que levá-la para fora, depois tendo que levá-la para casa, o desespero para voltar e buscar Bella logo, e descobrir que ela, na verdade, tinha ido embora com Alice e Jasper.

Ele levou as duas mãos ao rosto, gemendo de insatisfação, frustração e raiva. Ouvir de Jasper o lado de Bella da história tinha deixado Edward desesperado, porque ela tinha entendido tudo errado, afinal, não tinha entendido nada e tirou suas próprias conclusões. Ele quis pegar o carro e ir ao apartamento dela no mesmo momento, mas Jasper o impediu, dizendo que não adiantaria nada. Bella estava com muita raiva e o deixaria congelar na rua, se assim fosse necessário.

Pelo pouco que ele conhecia da morena, sabia que Jasper tinha razão.

Contudo, era tão, tão frustrante… ele tinha tirado Tanya de sua vida, tomou uma decisão certeira sem hesitar. Não titubeou na noite passada, fez tudo o que acreditava ser certo. Mesmo assim, acabou perdendo a oportunidade de ficar com alguém tão especial feito Bella.

Aquilo deixava Edward profundamente chateado, porque ele sabia que ela não estava errada. Edward era quem tinha errado naquela história, porque não tinha nada que ter levado Tanya a lugar algum. Ela ia se virar, ele tinha que tê-la deixado lá fora, fazendo o escândalo que quisesse…

Entretanto, ele tinha medo do que ela era capaz de fazer, afinal, tinha ameaçado processar o bar e arranjar pessoas para inventar relatórios a respeito da fiscalização sanitária e sabe-se lá mais o que. Ele sabia que ela poderia cumprir todas aquelas ameaças sem a menor dificuldade. Fez o que era certo no momento, mas não pensou nas consequências que aquilo poderia ter. Cometeu um erro tentando evitar o outro. Ele não sabia o que era pior.

Jogou o travesseiro que Alice lançou em sua cabeça no chão, com raiva. Queria que Tanya sumisse, desaparecesse de sua vida para sempre. Ela já tinha feito estragos e atrasado sua vida o suficiente, e agora tinha afetado Bella com toda aquela situação.

Levantou-se da cama e vestiu a calça que usava na noite anterior de qualquer jeito. Procurou pelo celular e o encontrou sob o travesseiro no chão. Pensou em desobedecer o conselho de Jasper e mandar uma mensagem a Bella de qualquer jeito, mas o aparelho estava descarregado. Suspirando irritado, ele saiu do quarto sem se importar em vestir a camisa.

Alice estava no sofá com o laptop e Jasper zapeando os canais da TV. O clima ficou instantaneamente mais pesado quando Alice percebeu a presença de Edward, mas ele não se deixou intimidar. Sentou-se ao lado dela e jogou a cabeça para trás.

"Já se arrependeu?" ela provocou, enquanto digitava a resposta de um e-mail.

Mesmo que Jasper tivesse contado a ela tudo o que Edward narrou na noite passada, Alice ainda não tinha perdoado o erro de Edward. Bem, nem era seu papel perdoá-lo, uma vez que seu vacilo tinha sido com Bella, mas mesmo assim... ela sentia pela amiga que Bella virava, porque ela pode ver exatamente a mágoa sentida por ela.

"Sim," ele respondeu suspirando, "Você não imagina o quanto."

Alice assentiu, satisfeita.

"Jasper me disse o que aconteceu," ela enviou o e-mail que digitava e fechou o computador. Virou-se para Edward, "Tanya te chantageou."

Edward assentiu, sentindo-se um idiota.

"Mas, ela também deve estar arrependida agora," deu de ombros. "Ela não esperava que eu fosse fazer o que fiz."

Alice lembrou-se da parte contada por Jasper e arfou. Esquecendo-se completamente da irritação que deveria nutrir pelo amigo agora, chegou mais perto:

"Me conta detalhes! Você buzinou na porta da casa dela mesmo?!"

"Foi," ele riu baixo, negando com a cabeça. "E o pai dela chegou na hora. Ela não sabia onde enfiar a cara."

Alice gargalhou com vontade, jogando a cabeça para trás.

"Eu queria tanto ter visto essa cena," ela limpou as lágrimas no canto do olho direito. "Ai, ai. Deve ter sido fantástico."

"E Bella, Alice?" Edward tocou o joelho da amiga com a ponta dos dedos. "Eu preciso falar com ela."

Alice suspirou, lembrando-se da parte ruim novamente. Afastou-se e apoiou as costas no peito de Jasper, que acabara de se sentar ao seu lado.

"Não procure por ela."

Indignado, Edward aumentou o tom de voz:

"Alice!" repreendeu, "Eu preciso! Ela vai ficar achando coisas que não têm nada a ver! Eu preciso explicar o que aconteceu."

"Ela não vai te ouvir," avisou. "Você pode até tentar, mas, acredite em mim, ela não vai querer te escutar. Ela ficou muito nervosa ontem, Edward, de verdade. Viu Tanya entrando no seu carro, o que é que você esperava que acontecesse? Que ela fosse te receber calorosamente, cheia de boa vontade para escutar sua explicação?"

Exatamente!

"Não custa ela me escutar."

"Para ela, custa," Jasper interveio. "Ela tem a personalidade forte, Edward, deu para ver. Você vai ter que ter muita paciência."

Edward coçou a parte de trás da cabeça, frustrado. Bella era mesmo teimosa, ele sabia disso, mas não custava. Ele a escutaria, se fosse o contrário. Mesmo se estivesse muito bravo, sabia a importância de escutar o outro lado da história, por mais desconfiado que ele ficasse da veracidade daquela versão. Ela precisava saber e entender antes de julgar se ele fez certo ou não, e se ele merecia ser escutado ou não.

Entretanto, ele precisava tentar. Mesmo se recebesse uma resposta negativa, mesmo se Bella gritasse com ele ao telefone ou o ignorasse completamente, era sua obrigação fazer a tentativa de explicação. Se ela não quisesse escutar, era uma escolha dela, mas, caso escolhesse o silêncio por si só, Edward estaria assumindo uma culpa que não tinha.

"Você precisa resolver essa situação com a Tanya," Alice avisou, "Já passou do limite."

"Ela não vai fazer mais nada," Edward disse, despreocupado, "Ficou morrendo de vergonha das coisas que eu disse ao pai dela, provavelmente está me odiando agora. A Tanya é o menor dos meus problemas agora, Alice. O menor."

Ela suspirou pela boca. Não tinha tanta certeza assim se Edward estava certo, mas gostava do jeito que ele pensava. Tanya não tinha mais representação e importância na vida dele, aquilo estava explícito em sua fala. Se Tanya não era prioridade e ele se mostrava tão disposto a convencer Bella que o que ela viu não era o que ela pensava, então Alice era capaz de perdoar Edward por completo.

"A Bella não é só alguém com quem você estava ficando, não é?" Ela perguntou, reprimindo um sorriso.

Edward pensou por alguns segundos. Lembrou-se do sorriso de Bella, de como era fácil estar com ela, do quão disponível e empolgada ela era, de como ela o admirava como profissional. Pensou na forma como ela falava, no beijo que ela era capaz de dar, do cheiro de sua pele.

"Não," negou com a cabeça. "Não é."

[...]

Emmett entrou no apartamento e viu tudo apagado. Por alguns segundos, pensou que sua namorada e a amiga estivessem fora. Poderiam ter ido almoçar em algum restaurante, mas não fazia sentido que tivessem fechado todas as janelas e as cortinas, para que parecesse noite às duas horas da tarde. Mas, tudo fez sentido quando ele começou a escutar palavras em latim sendo ditas, acompanhadas por sons de ação, objetos se quebrando. O chão de madeira se iluminava. Caminhou mais para dentro do apartamento e sorriu ao encarar a cena que o esperava na sala: Rosalie e Bella estavam deitadas no sofá sob grossas cobertas. Nem estava fazendo frio, mas o aquecimento do apartamento parecia estar ligado para resfriar o ambiente. Na TV, um bruxo de óculos redondos lançava feitiços junto a outros personagens, que tinham um pouco mais dificuldade em executá-los.

"Expelliarmus!" ele gritou próximo às duas, na esperança de assustá-las.

A única reação que conseguiu, porém, foi de Rosalie, que levantou as cobertas ao seu lado esquerdo, convidando-o a se juntar.

"Ei," ele sussurrou, beijando o rosto da noiva. "Mamãe mandou um beijo."

Rosalie revirou os olhos.

"Tá."

"Oi, Bella!" ele murmurou sorrindo. Agitou a mão direita em frente aos olhos de Bella, que agarrou sua mão e a tirou da frente. Franzindo o cenho, ele olhou para Rosalie. "O que ela tem?"

"Olha lá o Harry Potter, Emmett. Fica quietinho, fica."

Ele deu de ombros. Melhor ver o Harry Potter mesmo.

[...]

Edward: Bom dia, Bella. Ou boa tarde, não sei. Eu queria falar com você, será que podíamos nos ver? Um beijo…

Edward: Linda, eu realmente queria falar com você. Sei que você está chateada, mas me deixa explicar, por favor. Prometo que depois te deixo em paz, se você quiser.

Edward: Bella… por favor, linda.

Ele jogou o celular de lado e gemeu frustrado, cobrindo o rosto com as mãos. Bella era teimosa. Teimosa pra cacete. Não tinha santo que a faria falar com ele agora, Edward tinha certeza. Era a terceira mensagem que mandava num intervalo de três horas e, mesmo que o WhatsApp não indicasse que ela tinha lido, ele sabia que estava sendo ignorado. É claro que ela viu. Só não queria responder.

Durante as intermináveis horas, Edward pensou em diversas alternativas: ficar mandando mensagens sem parar, ligar pra ela, pedir para que Alice ligasse, implorar a intervenção de seus amigos. Pensou até em recorrer a Rosalie, ou em pegar o carro e dirigir até a casa de Bella para ficar sentado na soleira da porta até que ela se compadecesse e o deixasse entrar. E o que viesse a acontecer depois, ele se preocuparia depois.

Porque Edward nem queria ser perdoado. Só escutado. O que quer que Bella pensasse depois, era lucro. Pelo menos ela estaria pensando com o que realmente tinha acontecido, e não com o que ela achava que tinha acontecido.

No entanto, a vida era mesmo uma merda, porque Bella era uma mulher incrível. Linda, paciente, inteligente, despreocupada, livre e beijava bem pra caramba. Só que tinha o defeito grave de ser teimosa ao extremo. Tinha em sua cabeça uma ideia e não havia santo que a faria mudá-la.

E a vida era uma merda porque mandou Bella no timing errado. Não era para ela aparecer justamente quando Tanya entrava no carro com ele. Um minuto antes ou um minuto depois deixaria o resultado daquela equação completamente diferente. Deixaria a porcaria do destino deles completamente diferentes, porque ele acreditava numa real chance de que seu relacionamento com Bella pudesse ser um relacionamento de verdade, por mais cedo que fosse.

Tudo seria tão mais simples se ela simplesmente respondesse a uma mensagem que fosse!

Edward: Sei que você não quer falar comigo, e estou me sentindo mal em insistir. Mas, eu só quero que você me escute, linda. Só isso.

"Nada ainda?" Alice perguntou. Ele ainda estava na sala e se sentia melhor depois de ter comido três pedaços de pizza. O vazio que sentia estava só no coração, não mais no estômago.

Ele negou com a cabeça.

"Ela é tão teimosa…"

"É," Alice deu de ombros. "Mas ela está realmente chateada, não a culpe."

É claro que ele não a culpava. Não sabia como reagiria se fosse o contrário, mas, com toda certeza, a situação não o agradaria nem um pouco.

"Eu sei. Só estou frustrado."

"Bem," ela se levantou do sofá, "Não desista. Jasper e eu vamos começar a assistir um seriado novo. Quer vir?"

Minha vida já é novela o suficiente.

"Não, obrigado." Ele disse ao desbloquear novamente o celular. "Daqui a pouco eu vou pra casa."

Alice acariciou o cabelo do amigo por breves segundos antes de dirigir-se ao seu quarto. Era chato ver Edward daquele jeito, mas ela sabia que ele precisava aprender com os próprios erros. Por mais que ela não quisesse que ele perdesse Bella por considerá-la alguém que faria muito bem a ele, interferir não o ajudaria em nada. Ela precisava respeitar Bella e respeitar Edward. Era a vida deles, e ela tinha que dar um passo para trás.

[...]

"Chega!" Emmett declarou quando o filme terminou. Bella se moveu para colocar o próximo, mas ele tomou o controle de sua mão. "Não, chega desses feitiços e esse cara aí! Vamos ver outra coisa!"

"Você é o agregado do programa e está querendo dar ordens," Bella revirou os olhos. "Nunca te contaram que você é intrometido?"

Ele revirou os olhos.

"Não importa. Rose, vamos ver outra coisa, pelo amor de Deus!"

"O dia hoje é da Bella," a loira se levantou com a tigela de pipoca agora vazia nas mãos. Calçou os chinelos e os arrastou até a cozinha. Lá chegando, espreguiçou-se. Maratonar filmes era divertido, mas sempre a deixava com a sensação de preguiça em cada um de seus músculos.

"Por quê?" ele perguntou. Emmett moveu-se no sofá até apoiar a cabeça nas coxas de Bella. "Aconteceu alguma coisa, Bella? Precisamos quebrar a cara de alguém?"

Bella riu, pensando naquilo. De fato, Emmett era um tanto intimidador, e seria, no mínimo, engraçado pensar em Edward com medo de apanhar do noivo de sua melhor amiga. Entretanto, aquele tipo de conduta não tinha nada a ver com ela.

"Aconteceu," ela deu de ombros. Sentia-se mais leve agora, depois de passar tanto tempo concentrada numa história que não era a sua própria. "Mas você não precisa quebrar a cara de ninguém."

Emmett ergueu as sobrancelhas. Não pensava que a resposta de Bella seria positiva. Apoiou-se no cotovelo para olhar para ela.

"O que aconteceu?"

Ela deu de ombros.

"Eu estava ficando com um cara, ele tinha acabado de sair de um relacionamento complicado de dez anos. A ex dele apareceu, ele se esqueceu que eu estava no mesmo lugar e foi embora com ela. Fim."

Os olhos de Emmett estavam arregalados. A naturalidade com que Bella falava tamanhos absurdos era bizarra.

"E você está falando que não tenho que bater em ninguém?! Quem é o cara?"

Bella abriu a boca para dizer que não importava. Ficar remoendo aquela história não iria resolvê-la de maneira nenhuma. Sem falar que, por mais cuidadoso e gentil que fosse, demonstrações tão explícitas de proteção a deixavam desconfortável, afinal, ela não era nenhuma mocinha indefesa, necessitada de um herói salvador.

Entretanto, Rosalie a atropelou:

"Edward. Edward Cullen, da Answer."

"O Edward?!" Emmett disse, visivelmente espantado. "Tá brincando! Desde quando vocês estavam se pegando? Por que você nunca disse? Caraca, o cara é super gente fina, ia ser maneiro se saíssemos em casais!"

"Que parte do 'ele foi um babaca' você não entendeu?" Rosalie disse. Empurrou as pernas do namorado para conseguir sentar-se no sofá. "Só estamos esperando ele aparecer aqui. Quero só ver o tamanho da cara de pau."

"Não julga, princesa," Emmett segurou o queixo de Rosalie. "Você não sabe o que rolou."

"E ele nem fez questão de explicar," retrucou mal-humorada, "Idiota. De novo, estou esperando ele aparecer aqui."

Bella revirou os olhos. Ela entendia a fúria de Rosalie, se Emmett fizesse algo do tipo, ela ficaria muito revoltada também. Mas, Bella não era do tipo que esperava que as pessoas a protegessem de algo, afinal, ela era adulta. Envolveu-se com Edward sozinha e, portanto, tinha que superar as consequências disso sozinha também.

"Ele não vem," ela disse para encerrar o assunto. "Não adianta esperar."

"Mas, ele tentou te explicar o que aconteceu?"

Bella deu de ombros, pensando nas mensagens que tinha ignorado durante o filme. Não adiantava que ele mandasse mil mensagens de texto a chamando de "linda", pedindo "por favor", implorando para deixá-lo se explicar. Ela não estava interessada, porque a frustração que sentia era enorme.

Podia até ser que nada tivesse acontecido entre os dois. Podia até ser que Tanya tivesse o irritado a ponto de esquecer-se do que acontecia dentro do bar, de quem o esperava lá dentro. Podia ser um monte de coisas. Coisas que o inocentavam, que diriam que ele realmente não teve uma recaída com a ex.

Agora, porém, Bella conseguia enxergar o tamanho da loucura que estava se metendo. Envolver-se com alguém que tinha acabado de sair de um relacionamento tão conturbado e tão longo não podia dar noutra coisa. E, como se não bastasse, a ex dele era louca, insana e escandalosa. Era tudo muito recente e os sentimentos que Bella estava deixando que se desenvolvessem dentro dela a respeito de Edward eram muito intensos para brincar dessa maneira.

Sendo assim, o melhor era se afastar. Foi bom ter vivido tudo aquilo com Edward, pois ele era um homem muito simpático, muito bonito e muito bom no quesito físico da coisa. Aquele era um conjunto de fatores que poderiam fazer qualquer pessoa se apaixonar, e, como ela ainda não tinha chegado naquele estágio, o melhor a fazer era se retirar da vida de Edward e retirá-lo de sua vida. À distância, ela conseguiria pensar com calma e separar o encantamento da realidade.

"Ele tentou se explicar? Como? Te ligou?" Rosalie ergueu as sobrancelhas, apoiando-se nos ombros de Emmett.

"Mandou umas mensagens," Bella deu de ombros. "Mas isso não importa. Não quero falar com ele, não quero saber o que aconteceu. Pode ser que ele tenha superado a ex dele, mas ela não o superou, claramente. Eu é que não quero ficar no meio do fogo cruzado."

Rosalie olhou calorosamente para a amiga. Bella era uma pessoa tão, tão sensata… tão madura… dava para ver nos olhos dela o quanto ela estava chateada, magoada e triste com o que tinha acontecido na noite anterior. Bella estava mesmo encantada por Edward e Rosalie chegou a ter certeza que os dois tinham algum futuro. Eles se davam bem, se completavam em diversos aspectos e se gostavam, pelo que Bella contava. Apesar da rapidez com que a ligação entre eles ocorreu, havia mais do que sexo envolvido naquela relação. Era afeto também. e era chato ver algo tão promissor terminando tão rápido e por fatores externos. Exigia muita determinação e maturidade dar fim a tantas expectativas. Muito afinco para resistir às investidas e às tentativas de pedidos de desculpas de Edward. A força de Bella era admirável.

"Você está certa." Ela apertou a mão da amiga. "Muito, muito certa."

"Sim, está." Emmett concordou. "Mas, ainda acho que você devia escutar o que o cara tem a dizer."

"Não vai fazer diferença," Bella argumentou.

"Mesmo assim." Ele insistiu. "Não faz mal escutar. Pensa nisso, Bella."

Bella considerou por alguns segundos. Talvez Emmett tivesse razão. Se fosse o contrário, ela provavelmente gostaria de ser ouvida. Entretanto, ficaria muito mais difícil pensar racionalmente escutando o que Edward tinha a dizer. Seria muito mais difícil dizer não e se afastar quando ele estivesse frente a frente com ela.

"Vou pensar," disse por fim, "Ah, vamos voltar a ver o filme? Ainda faltam seis!"

Emmett fez uma careta. A felicidade que sentiu ao ouvir que Bella pensaria a respeito de ouvir Edward passou no instante em que ela mencionou mais seis filmes de um carinha que soltava faíscas por um pedaço de madeira. Gemendo de desgosto, ele jogou a cabeça para trás.

"Você sabe estragar tudo!"

[...]

Edward precisava esfriar a cabeça. Já não aguentava mais ficar remoendo a noite anterior em pensamentos e também não dava para ficar no apartamento de Alice e Jasper por mais tempo. Não bastasse seu próprio remorso, Alice não media esforços para lembrá-lo do quão idiota ele era.

Sendo assim, voltou ao seu próprio apartamento para tomar um longo banho, trocar de roupas e tirar um cochilo. Na noite passada ele mal havia conseguido dormir, pegando no sono quando já passava das seis da manhã. Ser acordado com um travesseiro jogado no rosto também não ajudava em nada.

Não tinha vontade de entrar em bar algum, porque o lembraria do que aconteceu ontem. Não tinha vontade de ir a parques, de ir ao cinema ou o que quer que fosse. Ele só precisava sentar-se sozinho e pensar.

E foi o que fez. Pegou as cadeiras dobráveis, herança da época em que ele frequentava raves e abriu uma delas na varanda de seu apartamento. Tirou do bolso o maço de cigarro, que há muito não tinha sido usado. Acendeu o objeto e o levou aos lábios.

Era estranho sentir a nicotina entrando em seus pulmões novamente. Edward já tinha fumado muito durante os primeiros anos de sua segunda década de vida, mas veio diminuindo o ritmo nos últimos anos até praticamente parar. Só fumava quando Tanya estava junto, porque era um vício que ela mantinha escondido da família e que herdara com ele. Era praticamente uma tradição que os dois fumassem juntos depois de transar às escondidas. Uma coisa proibida atrás da outra. Costumava ser o ápice do tesão.

Agora, o cigarro tinha para Edward a função que tinha para quase todos os fumantes do mundo: acalmá-lo. A sensação de calmaria ainda era trazida pela fumaça, mesmo que não na intensidade de antes. O gosto do cigarro era mesmo esquisito, e ele já sentia sua boca salivar para expulsar aquele amargor, como nos primeiros maços que ele tragou em sua vida.

Suspirando fundo, ele jogou a fumaça para fora do corpo, pensando em como o dia de hoje estava sendo uma verdadeira merda. E pensar que ele fantasiou e ansiou por esse dia por quase toda a semana, ansioso por saber como seria um encontro com Bella num show. Tudo estava indo tão bem…

Ele passou uma mão no rosto, frustrado. Parecia que tomar as rédeas de sua vida, no que dizia respeito a Tanya, não tinha trazido tantas coisas boas assim. Quer dizer, ele fez o que podia para livrar-se dela. Tentou de verdade, foi firme em sua decisão, não titubeou. E, mesmo assim, ela o atrapalhou. Uma raiva enorme crescia dentro dele, apenas de pensar o quanto Tanya representava de atraso.

Se ao menos Bella o escutasse! Mais frustrante do que a aparição e as ameaças de sua ex, era o fato de que Bella não o escutava. Ela não o deixava explicar! Como é que ela tirava conclusões tão precipitadas? Qual era o motivo daquilo? Ela devia ter confiado mais nele, porque, caramba, se ele realmente tivesse a intenção de sair com Tanya, a última coisa que ele faria era deixar o celular dele com Bella dentro do bar. Era ridículo!

Tragou profundamente mais uma vez, apertando os olhos até quase se fecharem, sentindo o vento bagunçar seus cabelos. Ah, Bella… quanta teimosia! Depois de expirar a fumaça, ele deixou o cigarro pendurado nos lábios enquanto pegava o celular. Bella não havia respondido ainda, o que o deixava mais frustrado. Ele tragou o cigarro mais uma vez e o prendeu entre os dedos antes de começar a digitar uma nova mensagem:

Edward: Linda, não vou desistir. Por favor, eu só quero que você me escute. Tire suas próprias conclusões do que eu te contar, e eu juro que dou um jeito de fazer Tanya confessar e confirmar tudo o que eu te disser. Só, por favor, vamos conversar.

Era tempo perdido, porque ela não responderia novamente. Mesmo assim, ele disse a verdade quando afirmou que não desistiria. Poderia demorar, mas ele daria um jeito de convencê-la a escutá-lo. Nem que, para isso, tivesse que recorrer a aparecer no apartamento que Bella dividia com Rosalie de surpresa e sentar-se no capacho à porta do local, esperando até que ela deixasse de teimosia e o escutasse.

Toda essa persistência era estranha para ele. Noutros tempos, era provável que ele simplesmente deixasse pra lá, porque ele nem conhecia Bella tão bem assim, e os dois não tinham absolutamente nada. Estavam num segundo encontro apenas, e não deviam nenhuma satisfação ao outro.

Contudo, o orgulho dele não o deixaria desistir tão fácil. Bella o julgava de uma maneira que não tinha nada a ver com a realidade, e aquilo o frustrava profundamente. Era injusto.

Por isso, ele se manteria ali, insistindo, até que ela cedesse e o ouvisse.

Ele tragou mais uma vez o cigarro, terminando-o. Esqueceu-se de pegar o cinzeiro, então apagou a bituca no chão mesmo, pronto para voltar para dentro.

E então seu celular vibrou. O coração dele dava marteladas no peito, mesmo sem saber de quem era a mensagem que acabara de chegar. Ele errou o pin duas vezes, mas, ao finalmente conseguir desbloquear o aparelho, suspirou de alívio ao ver o nome de Bella:

Bella Swan: Certo. Saio às cinco amanhã.

Sorrindo, ele respondeu:

Edward: Estarei lá.

[...]

"Bella!", Rosalie disse entusiasmada ao chegar à mesa da amiga. Estranhou, porém, quando a viu ainda com o computador ligado, anotando algo em sua agenda. O cabelo de Bella estava preso no alto da cabeça. "Ué, você não vem?"

A morena ergueu a cabeça. Estranhou o questionamento da amiga, isso estava em sua expressão. Rosalie estranhou ainda mais.

A postura de Bella tinha mudado de ontem para hoje, o que a fez admirá-la ainda mais. Era evidente que ela tinha ficado muitíssimo chateada com o ocorrido do último sábado, mas não se permitiu de maneira nenhuma ficar mais do que frustrada. E mais, frustrada com Edward, e sim com ela mesma.

Bella era uma mulher forte, Rosalie sempre soube. Era decidida, independente desde a época da faculdade. Cuidava de si, jamais deixou-se abater e comprometer outras facetas de sua vida por conta de algo que a incomodava em sua vida pessoal. Jamais culpou outros por ressentimentos que eram dela. Ela nunca tinha dito, mas, pelo que Rose conhecia da amiga, estava claro que Bella frustrou-se consigo mesma por se deixar envolver do que com o que Edward tinha feito.

Depois da maratona Harry Potter do domingo, Bella era praticamente outra pessoa. Passou algum tempo no celular, trocou algumas mensagens, mas ela não disse com quem e Rosalie também não perguntou. Ao fim, porém, ela estava mais leve. Foi deitar-se mais cedo, mas acordou muito mais disposta e até riu e fez piadas depois do café da manhã. Se Rose não soubesse dos acontecidos do fim de semana, acreditaria que a seriedade que Bella apresentava se devia apenas ao fato de ser segunda-feira.

Era admirável.

"Para onde?" ela perguntou.

"Para casa. Emmett está fazendo comida japonesa caseira, esqueceu?"

Bella arfou. Sim, tinha se esquecido completamente. Entretanto, não podiam culpá-la, porque Emmett dissera aquilo no meio do quarto ou quinto filme que viam, e meio que fazendo uma piada aleatória. Ela nem sabia que Emmett falava sério.

"Hm…" ela fez uma careta pesarosa. "Desculpa, Rose. Não vai dar. Marquei uma coisa para depois do trabalho."

Uma coisa. Rosalie franziu o cenho.

"Que coisa?"

Bella deu de ombros, mas não respondeu.

Deve ter algo a ver com Edward.

"Certo. Guardamos um pouco para você então." Rosalie finalmente disse, arrumando a bolsa no ombro. "Quer carona?"

"Não," Bella negou com a cabeça e sorriu levemente. "Obrigada, Rose."

Droga… eu realmente queria saber onde ela vai.

"Tudo bem," sorriu. "Te vejo mais tarde?" Por favor!

O sorriso de Bella aumentou.

"Até mais tarde."

Tomara que Edward tenha uma excelente explicação, Rosalie pensou enquanto encostava o dedo indicador no relógio de ponto. Eu gostava dos dois juntos.

[...]

Quando Edward viu Bella saindo do prédio em que trabalhava, sentiu o estômago pesar. Há três dias viu aquela cena e sentiu-se ansioso, mas a situação era incomparavelmente melhor. E ele a levava para casa, onde os dois teriam um primeiro encontro. Ele pensava se conseguiria beijá-la ao fim da noite, se teriam a química que ele sentia com ela pelas mensagens de texto.

Hoje, suas perspectivas eram muito mais baixas. Ele só esperava poder convencê-la de que ele não era um canalha. Mais do que isso, parecia realmente difícil.

Ela entrou no carro e sentou-se no banco do carona sem uma palavra. Edward estava preparado para ver uma expressão agressiva ou triste no rosto dela, mas o que estava ali era leve.

"Oi," ele arriscou dizer.

"Olá," ela sorriu levemente.

O coração de Edward deu um pulo no peito. Ele se permitiu ter esperança pela primeira vez naqueles dias. Talvez ela conseguisse entender. Talvez nem tudo estivesse perdido.

"Tem algum lugar para o qual você prefira ir?" ele perguntou.

Bella apenas deu de ombros.

"Qualquer lugar público."

Meu apartamento está fora de questão então.

"Certo," ele sorriu sem se deixar abalar. "O que você preferir."

Bella suspirou fundo e assentiu.

Ia ser mais difícil do que ela achava.

[...]

"Obrigado por ter vindo, Bella. Sério. Você não imagina o quanto isso significa para mim."

Bella ergueu o olhar do cardápio em suas mãos. Tinham escolhido uma sorveteria, por mais que os ares de outono estivessem começando. Sorveterias eram lugares neutros, de climas leves. Sendo assim, os impediria de quaisquer gritarias ou coisas do tipo.

Não que algum deles planejasse alguma gritaria. Mas nunca dava para saber.

A expressão de Edward era realmente agradecida, Bella avaliou. Ela ainda não sabia se aceitar o convite para uma conversa tinha sido uma decisão sábia, mas também não queria conviver com as dúvidas que a assolavam desde o incidente do último sábado.

Ele merecia uma chance de explicar, porque merecia o benefício da dúvida. Por mais que ela estivesse convencida de que ele se deixou levar pelo drama ou o que mais que Tanya tivesse feito, ele merecia ser escutado. Isso não queria dizer, entretanto, que ele seria perdoado pelo que quer que fosse.

"Tudo bem," ela deu de ombros, sorrindo levemente, "Já sabe o que vai comer?"

Edward se surpreendeu. Esperava que ela fosse iniciar o assunto de imediato, acusá-lo de algo, ficar nervosa ou algo do tipo. Mas, Bella parecia calma. Quase impassível. Ele não soube dizer se aquilo era bom ou ruim.

Passou os olhos pelo cardápio em suas mãos pela primeira vez. Leu o primeiro nome que apareceu.

"Hm… um milkshake, eu acho."

"Eu também," ela fechou o objeto azul claro que tinha nas mãos e estendeu o braço.

O intervalo de tempo em que a garçonete veio à mesa e retornou com os pedidos, foi repleto de silêncio. Bella olhava para qualquer lugar que não fosse a figura de Edward, e ele não desviava os olhos dela.

Chegava a ser incômodo.

Após tomarem o primeiro gole do líquido espesso gelado, Edward limpou a garganta.

"Bom," ele respirou fundo. "Viemos para conversar."

"Sim," ela assentiu. Tomou outro gole do milkshake e encostou-se à cadeira novamente. "Você disse que queria ser ouvido. Estou aqui."

Sim, ele queria ser ouvido. Mas, esperava uma reação completamente diferente da que Bella apresentava agora. Ele esperava que ela estivesse… com ciúmes. Ou que demonstrasse estar com ciúmes. Esperava ouvi-la falando de Tanya sem usar o nome, e, em vez disso, usar quaisquer sinônimos de "vagabunda" possíveis. Esperava que Bella fosse xingá-lo, exigir uma explicação plausível, demonstrar raiva, mágoa ou qualquer coisa do tipo. Esperava até que ela fosse recusar o pedido de sair para conversarem, e ele se veria impelido a aparecer à sua porta, fazendo serenata e gritando declarações de paixão.

Entretanto, ela estava aqui. Calma, serena. Disposta a ouvir.

Era tão bom, que dava para desconfiar.

"Eu…" ele começou. Olhou para o copo em suas mãos, depois voltou a fitar Bella. "eu preciso te pedir desculpas, em primeiro lugar. Eu sei que eu errei. Ter te deixado ali, saído sem avisar… foi um erro meu. Me desculpa."

Bella assentiu, mas não disse mais nada. Edward aguardou alguns segundos e, não obtendo resposta, continuou:

"Eu já tinha te falado de minha relação com Tanya. Ela foi uma pessoa muito importante na minha vida, no meu passado, mas eu reitero o que disse antes, Bella: acabou. Acabou na semana passada, e não há a menor possibilidade de voltarmos. Eu sei que… sei que aquele escândalo que ela fez foi agressivo. Eu sinto muito por você ter presenciado aquilo tudo. Mais do que ninguém, você não merecia ter visto aquela confusão, porque você chegou à minha vida num período muito melhor dela. Num período em que eu finalmente me vi livre de tudo o que me prendia no passado. E… eu não quero que esse passado estrague o meu futuro… e você representa o meu futuro." Ele procurou os olhos dela, que o fitavam atentamente. "Me perdoa."

Bella mais uma vez não disse nada. Passou a língua pelos lábios e cruzou os braços sobre a mesa.

"Por que ela foi ao The Truth? O que ela queria?"

Ele se movimentou na cadeira, grato por algo ter vindo dela. Então, procurou pela mão dela, desfazendo a posição em que os braços dela estavam, e entrelaçou os dedos dela com os seus.

"Não vou mentir; Tanya e eu já brigamos muito. Já chegamos a terminar algumas vezes, durante as brigas. Normalmente era ela quem terminava, e ela quem vinha atrás de mim novamente. E eu sempre voltava. Acho que ela pensou isso aconteceria novamente. Quando ela notou que eu tinha tirado o nome dela da lista de convidados do show e da área restrita, se desesperou, eu acho. E fez todo aquele escândalo."

Bella comparou as palavras dele com a expressão. Seus olhos eram sinceros, e ele parecia grato por finalmente explicar. Mas, de tudo aquilo Bella já desconfiava, não eram novidades. Ela encarou os dedos dele nos seus. O dedão de Edward fazia carinho na mão dela.

"E o que aconteceu depois?"

Edward não hesitou.

"Ela disse que acusaria o segurança de assédio. Disse que arrumaria um jeito com alguém da fiscalização sanitária para fechar a The Truth e Aro me pediu para acatar o pedido dela e levá-la à saída. Tivemos uma discussão na portaria, e, juro, Bella, eu já estava entrando. Mas ela começou a dizer que o motorista dela estava de folga e…"

"Motorista?" Bella perguntou, irônica. "Ela tem um motorista?"

Edward assentiu.

"Sim, ela tem. Ela não dirige, anda com o motorista para cima e para baixo. Eu disse a ela para pegar um Uber, porque táxis não são muito frequentes no local onde fica a The Truth, mas o celular dela estava descarregado. Eu pensei em pedir para ela, mas meu celular estava com você."

Bella levantou uma sobrancelha. Era a primeira alteração na expressão dela durante toda a conversa. O estômago dele esfriou. Bella sabia ser intimidadora quando queria.

"O que te impediu de ir até mim buscá-lo? Você poderia aproveitar e me avisar onde estava indo."

"Ela disse que voltaria a fazer escândalos. Disse que envolveria minha companhia da noite, e Bella, o que eu menos queria era que Tanya tivesse algum contato com você. Como eu disse, ela é meu passado, e eu não quero nenhuma influência do meu passado no meu futuro."

Ele tem bons argumentos, ela pensou.

"Havia seguranças na porta. Eles poderiam segurá-la lá ou algo assim." Ela deu de ombros. "Mas, Edward, a questão aqui já deixou de ser por que você não me avisou, por que você entrou no carro com ela ou coisa do tipo. Não é esse o foco da nossa discussão."

Ele negou com a cabeça.

"Não é mesmo, mas eu reafirmo Bella: eu não tive nada com a Tanya naquela noite. Nada. Juro pelo que você quiser. Faço ela vir aqui te falar, se for preciso. Não aconteceu absolutamente nada. Deixei-a na casa dela, ainda joguei umas verdades na cara do pai dela e acho que ela nunca mais vai querer olhar na minha cara. Mas, foi só isso. Não tivemos nenhuma recaída, eu prometo."

"Falou o que com o pai dela?" a voz dela era divertida. Edward sentiu o coração ficar mais leve.

"Ela se recusou a sair do carro. Fiquei nervoso e comecei a buzinar lá na porta. Por muita sorte, o pai dela chegou de carro logo depois, e quis saber o que estava acontecendo, então eu disse exatamente o que ela fez."

Bella riu baixo. Edward, ainda segurando a mão dela, apertou seus dedos.

"Eu prometo, Bella. Nada além disso aconteceu. Até o pai dela pode afirmar isso."

Bella suspirou fundo. Sim, a história era convincente. Ela não duvidava da palavra dele, parecia realmente o que tinha acontecido naquela noite. Entretanto, evidenciava o que ela já pensava anteriormente.

"Eu acredito em você," afirmou. O coração de Edward bateu disparado no peito. Ele levou a mão dela aos lábios, beijando-a de olhos fechados. "Sinto muito que tudo aquilo tenha acontecido."

"Eu também," sua voz evidenciava seu alívio. "Eu também, Bella. Me desculpa. Eu odeio que aquilo tenha acontecido, de verdade."

"Eu sei," assentiu. "Eu também."

"Obrigado, Bella," ele sorriu, "Obrigado por ser tão compreensiva. Você é, de longe, a mulher mais linda e mais madura que eu já conheci. Muito obrigado."

O coração dela doeu pelo que ela sabia que viria a seguir. Edward não fazia ideia, pois tinha entendido errado quando ela falou a respeito do foco daquela conversa. O principal assunto a ser tratado não era o que tinha acontecido, a briga, ela ter visto Tanya entrando no carro dele ou se eles foram ou não ter uma recaída em moteis de beira de estrada. Ia muito além daquilo.

"Edward?" ela chamou. Ele abriu os olhos e sorriu. O coração dela doeu mais um pouco.

Considerou, naquele momento, em ignorar tudo o que tinha pensado nos últimos dias. Considerou chutar o balde e dizer sim. Considerou chamá-lo para sua casa, ou ir para a dele, e beijá-lo até seus lábios doerem. Fazer sexo barulhento ou calmo, retomar de onde eles tinham parado.

Mas seria apenas adiar o inadiável.

"Hm?" ele disse, ainda sorrindo.

"Eu acredito em você," ela repetiu. Fechou os olhos e, suspirando, disse: "Mas isso não é suficiente."

O sorriso dele sumiu. Seu coração voltou a acelerar, e sua garganta ficou novamente seca.

"Como assim?"

"Olha," ela se posicionou melhor na cadeira e pegou as duas mãos dele nas suas. Encarou-o nos olhos e, ainda sentindo o peito arder, reuniu todas as forças racionais que tinha em si e o encarou com sinceridade. "Eu sei que você não quer mais nada com a Tanya. Sei que não queria ter me deixado naquele bar, sei que não queria que ela tivesse aparecido. Mas ela apareceu, Edward. E isso evidencia o que eu temia: ela ainda tem representatividade na sua vida."

"Não!" ele interrompeu. "Não tem, eu disse que-"

"Edward, me deixe terminar, por favor." Ele se aquietou e ela retomou a fala. "Talvez não seja por sua vontade. Eu acredito nisso. Mas, vocês estiveram juntos num relacionamento não-saudável por dez anos. Dez anos não são dez dias, Edward. É muito tempo. Há muito dela na sua vida, vocês só terminaram há uma semana."

"Mas, eu venho querendo terminar há muito mais tempo!" Teimou. "Bella, por favor…"

"Me afastar de você vai ser horrível." Afirmou. "Eu realmente gosto de você, Edward. Gosto tanto, que preciso fazer isso. Não quero me envolver com você para me machucar depois, Edward."

"Eu não vou te machucar." Afirmou. "Eu prometo."

"Pode nem ser intencionalmente. Olha só o que aconteceu sábado… fugiu do seu controle, entende? Tudo bem, era nosso segundo encontro, e não me magoou, mas poderia ter acontecido se estivéssemos juntos há mais tempo. Eu tenho que ser responsável, Edward. Me envolver com você não seria só para ficar ou algo do tipo. Eu preciso me preservar."

Ele não tinha palavras. Sabia que ela estava coberta de razão e a admirava profundamente pela coragem. Ele não teria feito o mesmo.

"Eu gosto mesmo de você," esclareceu. "Ficar com você é completamente diferente de tudo o que eu já fiz. Eu quero te dar o diferente de mim, Bella. O que eu nunca dei a ninguém, porque você me dá o que eu nunca tive com ninguém. E saber que vou perder isso por causa de um erro do passado é…"

"Seu passado é seu." Ela afirmou, apertando os dedos dele. "Te fez chegar até aqui. Talvez você tenha errado, mas eu não estou dizendo isso tudo para te julgar. Nada disso. Só estou dizendo que eu sinto muito mesmo. Queria fazer dar certo. Caramba, Edward, você é alguém que eu admiro há sei lá quantos anos. Um cara muito, muito especial. Se eu fosse um pouquinho mais… solta… mergulharia de cabeça. Mas, eu sou uma adulta. Preciso agir como uma adulta. Por mais que me doa muito."

A garganta de Edward ficou apertada. A situação era horrível, porque ambos queriam, mas algo maior os impedia. Bella estava certa.

Suspirando fundo, ele beijou a mão dela novamente.

"Vou respeitar a sua decisão." Afirmou. "Mas não vou desistir de você."

Ela sorriu.

"Eu não esperava menos."

[...]

Edward sentou-se na cadeira dobrável novamente. A varanda tinha passado a ser o local preferido de seu apartamento, agora não apenas pela vista, mas pelas lembranças que o lugar oferecia.

A conversa que teve com Bella no dia anterior ainda estava fresca em sua cabeça. As palavras que ela usou, o tom de voz, suas justificativas. Ele quis teimar, é claro que quis. Quis bater o pé e dizer que ela não sabia do que estava falando. Bella tomou uma decisão pelos dois, e aquilo o incomodou um pouco.

Contudo, ele não tinha argumentos, porque tudo o que ela disse eram fatos. Era verdade que Tanya ainda era muito presente em sua vida, tanto é que fez o que fez. E não adiantava dizer que, a partir daquele dia, tudo seria diferente, porque ele realmente não tinha controle do que poderia acontecer. Hoje, Tanya poderia estar em casa; amanhã, poderia aparecer e fazer novos escândalos e o que mais passasse por sua cabeça.

E sim, era muito recente.

Tão recente, que ele não conseguia compreender muito bem o motivo de ter dito a Bella que não desistiria tão fácil assim. Aquelas palavras tinham saído com naturalidade por serem verdadeiras. Entretanto, era difícil entender racionalmente o motivo, afinal, Bella e ele se conheciam há pouco mais de uma semana.

Ele se encostou à cadeira e suspirou fundo. Olhou para a cidade que se movimentava ao longe na vista. Dava para ver os carros daqui de cima, e quem estava no carro não tinha ideia que ele os observava. Era estranho pensar nisso.

Rindo baixo consigo mesmo, ele pegou o celular do bolso da calça de moletom que vestia. A câmera não conseguiu captar com perfeição os traços do fim de tarde, mas era o suficiente. Sua ideia inicial era fazer um stories, mas a imagem era bonita o suficiente para ser um novo post. Ele preparou a foto com poucos filtros e ficou pensando na legenda por alguns segundos.

Franziu o cenho.

E então um verso solto veio a sua mente. Mordeu o lábio inferior e digitou as palavras rapidamente.

Com o post já publicado, ele continuou pensando no verso. E então nas palavras de Bella. Olhou para o lado, quase conseguindo enxergá-la aqui, como na lembrança da última sexta. Os ventos bagunçando seus cabelos, a risada alta, a concentração para entender os desenhos de sua tatuagem. Os beijos molhados.

Edward se levantou da cadeira e pegou o celular. Fechou a porta de vidro que dava acesso à varanda e pegou o violão.

[...]

ecullen_answer: The medicine for your problems is here, on my balcony.

As músicas originais da Answer correspondem às seguintes músicas do Dias de Truta:

Crying Soul: Na porta de um Bar

Butterflies: Babalu

Young Heart: Amor a Mil

Rascality: Patifaria

Blonde Field: Nos Campos Morena

Better Than You: Mereço um Alguém

It'll be better: O Último Presente

Light: Acorde o Sol

Presumptuous Guy: Sangue

Freedom: Sossegado

Piece of My Heart: Sincero Abraço

Smile: Caçarola

Colors: Rafaela

Not Your Business: Música do Sapo

For Her: Puro Amor por Ela

Flower: Flor Amarela

Prize of The Underground é também uma inspiração no projeto paralelo do guitarrista e do baterista do Dias de Truta, chamado Chapéu e Cabelo.

 


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Notas finais do capítulo

Não economize, me deixe saber do que você gostou e do que você amou neste capítulo e nas decisões de Bella e Edward.



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