Retratos de Arcadia escrita por KdSfield


Capítulo 3
Esta Velha Rotina


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoal!! Primeiramente gostaria de pedir desculpas pela demora, meu ritmo de escrita caiu um pouco nessas semanas, devido a muito stress e pouco tempo hehe. Mas segue aqui o terceiro capítulo. Ele é mais uma ponte para os próximos, então espero que gostem e que esperem o que está por vir!! Obrigado!!!



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A sala de Max não era das maiores, mas representava muito de sua personalidade. A mesa, apesar de parecer abarrotada de utensílios, carregava uma organização que fazia perfeito sentido para sua dona, com um computador, notebook, celular e diversos papeizinhos coloridos, portando os mais diversos recados e lembretes.

Na parede, inúmeros quadros com fotos tiradas pela própria Maxine. Todas elas carregadas de muito sentimento, uma característica cada vez mais latente de suas fotografias. Entre os retratos, um deles em especial chamava a atenção de todos os que entravam pela porta. Logo atrás da mesa, com todo o destaque que se poderia esperar, se mantinha resplandecente a fotografia que garantiu a moça a capa da revista "B&W", uma belíssima imagem de Chloe, andando em uma das ruas mais encantadoras de São Francisco.


Logo embaixo, sentada em sua cadeira e carregando algumas preocupações em suas costas, estava a dona da sala. Naquele momento, a mulher sentia quase como se não fosse conseguir dar conta de todos os pensamentos que preenchiam o seu corpo, como uma onda.

"Como eu queria saber se estamos tomando a decisão correta...", pensava a moça. "A Chlo tem sido tão compreensiva com toda essa questão de voltar para Arcadia, que eu não consigo nem saber o quanto isso pode estar incomodando ela de verdade.


Assim, perdida em seus pensamentos, e enquanto tentava descobrir um pouco mais sobre uma das casa disponíveis para locação em Arcadia Bay, Max foi interrompida por duas batidas rápidas na porta de seu escritório. 


— Pode entrar, Jonathan  - disse ela, já antecipando quem seria o visitante.


— Maxine Caufield - disse ele, fazendo sua tradicional reverência - A fotógrafa sensação da América. 


— Quem é essa? - respondeu a moça,  com um sorriso sem graça. 


— Que orgulho dessa minha sócia - Jonathan sentou-se na cadeira em frente a da mesa de Max, espalhando-se confortavelmente - Sempre tão modesta, e, ainda assim, voando tão longe - continuou ele, forçando um cômico tom de choro.


— Para com isso, seu palhaço - riu a moça - Não é como seu eu fosse sumir daqui, só vou mudar de ares por uns tempos.


— Seeeei, me engana que eu gosto. Sabe Max, isso daqui não vai ser a mesma coisa sem vo...Uou, quando você tirou essa foto?


 A moça tirou seus olhos do computador e prestou atenção no amigo, que segurava uma das fotografias recém reveladas por ela. 


— Essa ai é do Golden Gate Park. Eu e as meninas fomos lá no domingo a tarde - Max não pode evitar um sorriso ao lembrar da tarde em questão - Ai aproveitei para tirar umas fotos. Essa daí foi a que mais gostei também. 


— Isso daqui vai te garantir outra capa Max - Jonathan sempre ficava entusiasmado, e com razão,  com as fotografias da mulher - Já consigo ouvir as propostas chegando.


— Eu totalmente te imaginei agora com aqueles cifrões no lugar dos olhos, igual nos desenhos.


Maxine pegou então a fotografia das mãos do amigo e a observou com carinho. Ela mostrava um casal de idosos, sentados e de mãos dadas, observando o por do sol. A expressão de felicidade e amor nos olhos dos dois foi algo que chamou imediatamente a atenção da moça enquanto estava com sua câmera. 


— Eles foram uns amores - continuou a moça - até pediram uma cópia da foto quando ficasse pronta.


Jonathan continuava observando as mais recentes fotografias da mulher, sempre admirando o olhar único sobre o mundo que elas transmitiam.


— Mas e ai, já mandou a resposta para eles? - perguntou o rapaz, ainda com um punhado de fotografias na mão, exalando curiosidade.


— Ainda não - Maxine se ajeitou, de maneira levemente desconfortável,  em sua cadeira - ainda tenho minhas dúvidas,  sabe?


— Ah, para com isso Max. Essa é uma proposta boa demais para se recusar, e você sabe disso. Você tem noção de quantos grandes nomes da fotografia já deram aula lá?  Rosie Sullivan, Ronald C. Bernie, Mark Jefferson...


Ao ouvir o último nome a mulher se sentiu totalmente em alerta, como se cada fio de cabelo de seu corpo pressentisse e esperasse por algo horrível.  Apesar de tudo o que havia acontecido, e da decisão que ela, Chloe e David haviam tomado, aquele era um nome que nunca ia deixa-la em paz.  


— ... todos eles estiveram lá em algum momento, e hoje estão ai revolucionando o mundo da fotografia. Bem, menos o Jefferson, que Deus o tenha.


"Ou que o diabo o carregue"


— Enfim, porque eu estou sentindo que te perdi a umas quatro ou cinco frases atrás? 


A pergunta tirou Max do transe em que havia entrado, fazendo-a tirar uma resposta do nada para a pergunta do amigo.


— Porque você me perdeu mesmo - rebateu a moça,  com um sorriso forçado - Olha, eu sei de tudo isso, Jonie. Mas não se trata só de mim, essa decisão envolve muita coisa. 


— Bom, então trate de decidir logo, Max - disse Jonathan, se levantando e caminhando em direção a porta - Porque eu não vejo a hora de lotar essa galeria com a minha decoração. 


— HÁ,  EU SABIA!!!!

(...)

— Mamãe, eu "mim" sujei.


Chloe estava trabalhando em frente ao seu computador, acompanhada de Sophia que, na mesa ao lado, comia uma tigela cheia de cereais com leite. 
 
— Ih, vamos avaliar os danos - disse a mulher, enquanto desviava sua atenção, de um e-mail que redigia, para as roupas da pequena - Hmm, acho que não precisa trocar de roupa não. Ainda tem muito espaço ai para sujar, mocinha. 


— "Tábom" - soltou Sophia em um tom alegre, antes de voltar a atenção novamente para o seu cereal.


"Ok, hora de voltar aos negócios" pensou a mulher, enquanto retornava para os seus afazeres. Alguns anos após o incidente em Arcadia Bay, Chloe acabou por descobrir sua vocação para lidar com outras pessoas enquanto estudava para compensar o tempo perdido. A partir dai, foi praticamente instintivo para ela começar a trabalhar com redes sociais, prestando serviços e consultoria para as mais diversas empresas.


Ainda assim, foi muito difícil para a punk, após a adoção, decidir se voltaria ou não a trabalhar. Claro, a necessidade financeira fora sim um fator importante, mas ela e Max passaram a ser responsáveis por uma vida, e isso não podia ser ignorado. 


— Mamãããe - reclamou a pequena vida em questão, espalhando seus braços pela mesa - eu "tô intiada".


Ao ouvir a última frase, Chloe abriu um grande sorriso. Aos 5 anos Sophia estava cada vez mais tagarela, o que a deixava mais suscetível aos erros gramáticas e deixava suas mães cada vez mais apaixonadas por sua fofura.


— É entediada, bebê - disse a mulher, tentando esconder toda a diversão - e eu também estou. Olha, eu já "tô" quase terminando aqui, que tal sairmos para dar um passeio daqui a pouco, hein?

— Ebaaaaa - comemorou a filha, jogando suas mãos para cima - PIZZAAAAAAA!!! 

A criança então levantou-se e correu em direção ao seu quarto, indo se preparar para o que quer que viesse a frente neste dia.

"Vamos lá então" continuou Chloe, enquanto terminava de redigir um e-mail e pegava seu celular.

Chloe: Ei garota. Pizza hj. Eu, vc e a pioinha, bora?

Aguardando a resposta, a mulher começou a pensar na mudança de ares que sua família estava por passar. Apesar de ainda visitarem Arcadia Bay em alguns feriados e dias específicos, a pequena cidade permanecia como uma espécie de tabu em suas vidas. Enquanto estavam longe, era bem mais fácil ignorar todos os sentimentos que surgiram e ainda surgiam daquela agora longínqua semana."Será que eu estou certa em não impedir isso tudo?"

Max: Fechado!! Vc vai dar um banho nela?

Chloe: É o jeito, né :d Te pego as 18, gata?

Max: Eeeei, o que vc fez com a minha esposa que não usava emojis?

Chloe: Me livrei dela :x :x :x :x


Após a troca de mensagens, a mulher levantou-se, desligou o computador e deixou para trás o escritório improvisado que utilizava em casa. "Agora cadê minha bebêzinha?"

— Sophia! - chamou ela - Cadê você menina?

— Aquiiiiii!!!!


(...)


— "Babãe, be bassa o kpediup?"

— Olha essa boca cheia, menina.

Chloe, Max e Sophia já haviam devorado a primeira pizza e estavam, com muita coragem, tentando dar conta da segunda, quando a pequena fez todos gargalharem tentando se expressar com um pedaço de pizza em sua boca.

— Toma ai o "Kpediup", pioia - emendou a mulher de madeixas azuis, ainda sorrindo.

— "Brigada" - acrescentou alegremente a pequena, enquanto pegava a embalagem e despejava um pouco de seu conteúdo em seu prato.

Max observava a cena se esforçando para não sorrir demais e parecer muito abobalhada. Eram muitos os momentos em que a mulher se pegava admirando o quão sortuda era por ter aquelas pessoas ao seu lado e, em quase todos eles, Chloe se aproveitava e fazia alguma piada da situação.

— Não olhe agora Sophia, mas a sua mãe está olhando para nós com cara de boba de novo.

"Bingo"

— Não é cara de boba - disse Max, tentando se defender enquanto limpava a boca da filha com um guardanapo - É cara de...ok, é de boba mesmo. Maaas, é de boba apaixonada, tá legal?

Após mais uma rodada de risadas, Chloe, que estava sentada de frente para as outras duas, lançou um olhar arteiro para sua esposa, disparando:

— Mas hein - iniciou, chamando a atenção de Max, mas não de Sophia, que se concentrava demais em tentar espetar um pepperoni fujão com o seu garfo - e a grande decisão?  Já está sacramentada mesmo?

Max não pode deixar de sorrir frente a clara excitação da esposa. Era visível que Chloe fazia de tudo para deixa-la o mais confortável possível coma situação, e Maxine apreciava imensamente tal gesto.
 
— Sim - respondeu, tentando diminuir o receio - Sabe, eu estou com muito medo de tudo isso, mas não consigo deixar de pensar que estamos fazendo a escolha certa - continuou ela, esboçando um sorriso preocupado - Sem falar que vai ser o melhor para a So, que vai poder ficar mais com a...

— "Que qui" tem eu? - perguntou a garotinha, desistindo de caçar todos os pepperonis perdidos, e interrompendo sua mãe.

— Como você sabe que "So" é você? - perguntou Chloe, bem humorada - Pode ser um monte de gente, sabia?

Sophia deu, alegremente, de ombros e voltou a se concentrar novamente em sua pizza, dessa vez dividindo a atenção com a televisão acima da mesa. 

— Enfim - continuou Max, após a interrupção - eu acho que vai ser bom para todas nós. Na verdade - a mulher abaixou o tom, quase como se contasse um segredo saído do fundo de suas preocupações - eu espero que seja bom para nós. Eu acho que eu não ia aguentar a culpa se, sei lá, eu surtasse em Arcadia Bay.

— MAXINE - retrucou Chloe, em alto e bom som, atraindo novamente o olhar curioso da filha - Independente do que acontecer lá, nós três vamos estar sempre juntas, grudadas ouviu? E não vamos deixar nada de ruim acontecer com as outras. Então, pode ir parando de se sentir culpada por antecedência ai. 

"Déjà vu"

— Desculpa Chloe. Você sabe, preocupação é meio que o meu sobrenome.

— Não mãe, seu "sobrinomi" é Caufield. Igual o meu.


(...)


— É oficial, eu já não estou mais dando conta disso - disse Chloe, logo após colocar, com toda a delicadeza do mundo, a filha adormecida na cama. Sophia tinha capotado logo após saírem da pizzaria, obrigando a mãe a carregá-la para cima.

— Ela vai dormir sem ir escovar os dentes. Isso nos torna péssimas mães? - perguntou Max, encontrando a esposa na porta do quarto.

— Acho que sim - respondeu a mulher de madeixas azuis, em tom de brincadeira - Quer dizer, ela tá dormindo de uma maneira tão bonitinha. Eu não tenho coragem de acordar esse serzinho.

— Ah não?  - Maxine entrou no quarto e andou em direção a cama da filha - Mas nós temos que fazer isso, pela nossas mães, que sempre fizeram questão de nos acordar para fazer a higiene bucal - acrescentou, em tom exageradamente formal.

— Ah entendi - Chloe rebateu, como se tivesse feito uma grande descoberta - Todas essas obrigações que as mães passam para as filhas são como um ciclo de vingança.

— Exatamente - se divertia Max - Sabe, você para e pensa: "Minha mãe fez isso comigo, então vou fazer com a minha filha também".

— Nossa, que mundo maluco esse em que vivemos - terminou a punk, enquanto seu celular começava a vibrar no bolso da calça - Ah, falando em mães, eu acabei de atrair a minha. Acho que ela pressentiu que estávamos falando nisso.

— Ah, fala para a Joyce que estamos morrendo de saudades dela.

— Pode deixar.

Chloe então saiu do quarto, com o celular em mãos. No corredor, enquanto olhava para a foto do contato da mãe, sorridente e com Sophia no colo, a moça não pode deixar de reparar na cicatriz que jazia na parte direita do rosto de Joyce. Um lembrete eterno daquela semana, e das decisões que elas tinham tomado.

— Oi mãe.


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Notas finais do capítulo

É isso ai gente, espero que tenham gostado. Espero que eu consiga postar o próximo capitulo o quanto antes mas, se demorar um pouco, por favor não desistam de mim o/ Obrigado!!!! :D



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