Retratos de Arcadia escrita por KdSfield


Capítulo 2
Coração Rebelde


Notas iniciais do capítulo

Peço desculpas por qualquer erro de formatação. Meu computador deu uns problemas então estou postando de um tablet :x



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— Max, eu preciso saber da minha mãe...eu, eu não conseguiria suportar...

— Chloe, fica tranquila, por favor... - Maxine estava sentada no banco de passageiros da velha caminhonete, com as duas mãos em volta do corpo de sua amiga, que tremia significativamente - vamos voltar, sem problemas.

As garotas haviam seguido a rodovia por apenas meia hora, antes de Chloe parar o carro na beirada da estrada e começar a chorar. Toda aquela fortaleza de sentimentos que havia decidido deixar os restos de Arcadia Bay para trás havia agora implodido, mostrando toda a fragilidade por dentro da garota de cabelos azuis.

— Desculpa Max...eu só... - a garota então levou as duas mãos ao rosto e passou a chorar de maneira ainda mais intensa, intercalando com soluços que beiravam o desespero e deixando a amiga sem reação - eu só quero voltar e saber logo o que sobrou. Eu não posso deixar a minha mãe para trás Max, ainda mais sem saber se... 

— Chloe, você não tem que explicar nada. Só vamos esperar você se acalmar um pouco e já voltamos, ok?

— Ok - a garota de madeixas azuis colocou suas mãos por cima dos braços da amiga, 
como se não soubesse o que fazer com eles. Aquele toque, mesmo que involuntário e em uma situação tão complicada, fez a pele de Max reagir de maneira instintiva, enviando uma carga de adrenalina para todo o resto do corpo.

As duas ficaram daquela maneira por longos minutos, até que Chloe se acalmasse o suficiente para voltar a raciocinar e elaborar um plano, ou algo próximo disso.

— Então, é hora de voltar - a punk colocou suas mãos novamente no volante por alguns segundos, até lançar uma delas em direção ao aparelho de rádio do veículo - Acho melhor deixar isso ligado, vai que eles dão alguma notícia ou algo do tipo.

— Boa ideia - Max não conseguia parar de observar os olhos vermelhos da amiga, que acompanhavam uma expressão carregada de dúvidas e incertezas. A garota nunca imaginou que veria Chloe dessa maneira, e só conseguia pensar em uma coisa.

"Tudo isso é culpa minha" - Maxine se esforçava para não desmoronar, pois sabia que, naquele momento, deveria ser uma rocha para sua amiga - "Eu devia ter dado um jeito...eu..eu..."

— Pode ir parando por ai, sua hipster.

— Ãhn? - grunhiu a garota, ao ser retirada de seus pensamentos pela voz surpreendentemente forte de Chloe - O que eu fiz?

— Eu sei muito bem o que está se passando pela sua cabeça agora Max - disse a punk, lendo sua amiga com perfeição - Você não tem culpa de nada ouviu? Se alguém tem culpa de algo aqui sou eu.

— Chloe eu...

— E não precisa nem responder - acrescentou ela, forçando um sorriso - senão vamos ficar nessa discussão por um bom tempo, e você não quer me ver brava agora, Caufield.

Max percebeu que a amiga estava se esforçando para parecer o mais forte possível. Era como se cada uma estivesse dando o seu melhor, não para si, mas pelo bem estar da outra. 

— Droga - Chloe zanzava pelas estações de rádio a procura de alguma notícia, mas nada parecia indicar a destruição ocorrida na última noite. A estação local permanecia muda, enquanto a das cidades vizinhas alternavam entre os mais variados estilos musicais.

Aproximadamente vinte minutos depois, a caminhonete finalmente voltava a se aproximar do que costumava ser Arcadia Bay. No caminho, as garotas perderam a conta de quantas árvores derrubadas ou indícios de destruição tinham encontrado, deixando-as ainda mais preocupadas, mesmo que não demonstrassem.

— Chegando lá acho melhor irmos direto para o "Two Whales" - Max foi novamente tirada de seus devaneios pela amiga - Minha mãe estava lá, certo?

— Isso.

Apesar de ter contado alguns detalhes do ocorrido nas outras linhas do tempo, Maxine não havia falado sobre a explosão do restaurante.

"Eu impedi a explosão mas...isso foi em outra realidade...será que ela aconteceu aqui?"

— Um dólar pelos seus pensamentos? - Chloe parecia genuinamente curiosa, de uma maneira quase infantil.

"Um sorriso"

— Ah, nada demais - Max lutava para disfarçar o efeito que o sorriso da amiga lhe causava naquele momento - Eu estava...DAVID!!

— Eca!! 

— Não Chloe - A garota colocou suas mãos em volta da cabeça da amiga e a virou em direção a estrada - Olha.

Guiada pelas mãos de Max, a garota então percebeu o que devia ver. Bem a frente na estrada se encontrava uma espécie de cordão de isolamento improvisado, com grades e alguns destroços da cidade. Na frente, e sinalizando em direção a caminhonete, junto de alguns membros da força policial de Arcadia Bay, estava David.


(...)
 
— Bom dia, dor de minhocaaa!!
 
— É dorminhoca, serzinho.

Max acordou de sobressalto com os braços de Sophia em volta de seus ombros. A criança sustentava um sorriso puro e cheio de dentes, que só um domingo de ano novo poderia justificar. Chloe, por sua vez, observava toda a situação encostada na porta do quarto, ainda de pijamas.

— Eii - a mulher, apesar da felicidade de ser acordada naquela situação, estava confusa. Ter sonhado com aquele dia lhe trouxera incontáveis lembranças - Bom dia "pra" você também, minha minhoquinha - Max retribuiu o abraço da filha com um ainda mais apertado, afagando também seus cabelos - Que animação toda é essa, posso saber?

Ao ouvir o tom brincalhão de sua mãe, Sophia deu uma gostosa gargalhada, preenchendo todo o espaço do quarto - É dia "di" ir no parque, mãe.

Chloe, que até o momento estava apenas observando o resultado de seu plano para acordar a esposa, caminhou em direção a filha e a pegou no colo.

— Vamos Sophia, deixa essa preguiçosa ai enquanto vamos fazer alguma coisa gostosa para comer - disse a punk, se curvando em direção a esposa para dar um beijo de bom dia - Bom dia, Super Max.

— Bom dia, amor.

— Mamãe, eu quero panqueca.

(...)

Enquanto tomava um banho para acordar, Max não conseguia parar de pensar em seu sonho, não porque possuía algo de novo, mas pelo fato de que a muito tempo não sonhava com as experiências que viveu naquela época.

Deus (ou, nesse caso, Chloe) sabia o quão difícil foi para ela parar de sonhar com os incidentes de Arcadia Bay. Logo depois do ocorrido, era comum que Maxine acordasse desnorteada no meio da noite após algum pesadelo relacionado àquela semana. Foram necessários anos de tratamento para que a garota (hoje mulher) pudesse voltar a dormir de maneira mais tranquila.

"Mas a culpa está sempre aqui comigo" pensava ela, enquanto a água quente escorria por seu corpo. "Tanta destruição, tantas mortes, tanto..."

Não conseguindo lidar com os velhos pensamentos que voltavam a assombrar sua mente, Max sentou-se no chão do box, embaixo do jato do chuveiro, e cruzou suas mãos junto ao seu peito, uma velha tática para tentar aliviar a crise de ansiedade.

 "Para já com isso, Max. Imagina se a Chloe te vê desse jeito. Depois de vários meses sem uma crise, você tem uma recaída logo agora? Você tem que se contro...Você tem que assumir que a culpa é toda sua. Tudo o que aconteceu naquela cidade é culpa sua, e você sabe disso."

— NÃO - gritou a mulher, tapando a boca logo em seguida.

— "Tá" tudo bem ai, Amor? - a voz preocupada de Chloe soou pela porta como um alívio e, ao mesmo tempo, um sinal de alerta.

"Droga"

— Tudo tranquilo, Chlo - respondeu, com uma voz nitidamente trêmula e falha - Eu só..bati o dedinho no Box.

A porta do banheiro então se abriu e as longas madeixas de Chloe apareceram primeiro na linha de visão de Maxine, seguidas do rosto da moça, com uma expressão nitidamente preocupada.

— Aham, e eu nasci ontem, Caufield.

(...)

— Cade a Sophia? - apesar de estar visível e imensamente abalada, Max não conseguia deixar de pensar na filha.
 
As duas mulheres estavam no quarto, com a porta encostada, sentadas ombro a ombro. 
 
— Eu deixei ela lá na sala, assistindo alguns desenhos - Chloe não conseguia esconder a preocupação.  Ter visto a esposa novamente naquele estado, depois de um tempo considerável,  havia acendido um sinal de alerta - Você está bem, Max?

— Estou melhor agora Chlo. Com você aqui do meu lado é impossível eu não ficar bem.
 
— Seeei - rebateu Chloe - Não é me elogiando que você vai escapar dessa, ouviu? 
 
— Valeu a tentativa - disse Max, esboçando um sorriso fraquejante em direção a esposa.
 
— Sério, desde quando você voltou a ter os ataques, amor?
 
— Esse foi o primeiro desde...desde aquela vez na ponte - Maxine se contraiu instintivamente ao lembrar do dia citado, na Golden Gate Bridge. Aquela fora a única vez que Sophia havia presenciado uma das crises de ansiedade da mãe - Eu sonhei com o dia após a tempestade Chlo, acho que foi isso que causou tudo.
 
Chloe então levantou-se da cama e se abaixou, ficando apoiada em um dos joelhos, de frente para Max, com as mãos entrelaçadas.
 
— Maximo - disse a moça,  lembrando de um dos antigos apelidos que costumava usar com a esposa - Isso não foi coincidência, né? Quer dizer - Chloe tomava todo o cuidado do mundo para não soar rude, tendo em vista o estado de sua companheira - Não faz nem uma semana que você recebeu o convite.

A mulher então estremeceu. A fotografia sempre fora, depois da moça de madeixas azuis, é claro, a sua grande paixão. Max sempre sonhou em trabalhar e viver disso e, após a abertura da galeria, ela se sentiu a pessoa mais completa do mundo. Entretanto, toda essa situação havia sido abalada quando Maxine recebeu uma carta vinda diretamente de outra vida, de Arcadia Bay. E, ainda, com o selo da Blackwell Academy.

— Com certeza não é coincidência - Chloe apertava com ainda mais força as mãos da esposa - Olha, você sabe que eu estou e vou estar sempre aqui com você,  independente de tudo. E é por isso que eu vou te apoiar independente da decisão que você tomar.
 
— Mas não é tão simples assim, Chlo - refletiu Max, enquanto milhares de preocupações passavam por sua cabeça - Se um sonho qualquer já me deixou desse jeito, imagina viver lá,  passando por aquele monumento todos os dias - continuou ela, como se tentasse convencer mais a si mesma do que a esposa -Sem falar que não podemos nos mudar assim, do nada. E a galeria? E a Sophia, como vai ser para ela?
 
— Wow, calma ai caubói - Chloe voltou a se levantar e sentou-se novamente ao lado da esposa, abraçando-a - Ok, minhas pernas já não aguentam mais esse tipo de esforço.
 
— Haha, falou agora a Sra. Price, minha rabugenta favorita.
 
— Isso não é rabugice, Caufield. É a idade.
 
As moças trocaram então um longo sorriso, pois sabiam que esta se tratava de uma das piadas internas favoritas do casal.
 
— Enfim, voltando à sua metralhadora de perguntas. Sobre a galeria você sabe muito bem que o Jonathan da conta de tudo. Sem falar que você nunca vai parar de tirar fotos, só vai mudar os ares. 
 
— O Jonathan vai é entupir aquela galeria com coisas de hipster, isso sim.
 
— É possível - Chloe voltou a sorrir enquanto pensava na possibilidade - É BEM possível.  Mas, pensando pelo lado bom, você não estaria aqui para ver mesmo.
 
— Justo - riu-se a moça.
 
— Agora, sobre as suas crises, eu não sei o que dizer Max - Continuou a garota de madeixas azuis - Eu não tenho o direito de opinar aqui, mas eu me lembro de quando o seu psicólogo falou que devíamos passar um tempo em Arcadia Bay, como uma forma de encarar a situação de frente.
 
Maxine não gostava de lembrar do seu psicólogo,  pois já fazia algumas semanas que evitava de marcar uma consulta, sempre inventando uma nova desculpa para Chloe e para si mesma.

Com o silêncio de sua esposa, Chloe se viu obrigada a continuar. Ela sabia que Max tinha ficado tentada, para dizer o mínimo, com a proposta que havia chegado e, além disso, ela sentia, no fundo de seu coração, que a companheira precisava disso como uma forma de enfrentar e superar seus medos.

— Sem falar que eu tenho certeza que a Sophia não ia ligar de mudar para Arcadia Bay, a Kate mima aquela menina mais do que nós duas juntas.

— Chloe - Max juntou sua cabeça com a da esposa, as testas se tocando levemente - o que seria de mim sem você?

— HÁ, você não pode sair por ai roubando as minhas falas, Caufield.

Com as cabeças se tocando, bastou um leve movimento para que toda a conversa acabasse em um caloroso beijo, inundando o peito de ambas as mulheres com o calor dos sentimentos que nutriam uma pela outra. Parecia que minutos tinham se passado, e o beijo ainda perdurava, até que ambas ouviram três batidinhas na porta, seguidas da voz de uma criança.

— Eeeei, cadê minha panqueca?

(...)

Chloe seguia, de mãos dadas com a esposa, por um dos mais belos caminhos de pedra do Golden Gate Park. Um pouco a frente, ainda sob a visão preocupada de suas mães, estava Sophia, brincando e gesticulando em cada canteiro de flores ou com cada inseto que decidia cruzar caminho com os Price-Caufield naquela ensolarada, porém fria, manhã de ano novo.

— Olhaaa, uma joaninha - a criança correu em direção à sua família, com o dedinho indicador levantado - Ahh, cadê ela? - No meio do caminho a pequena então parou e deu meia volta, correndo e gritando - Joaninha, voltaaa.

— Chlo, já volto - Max então tirou sua câmera da bolsa e, com um brilho no olhar, reiterou - o trabalho me chama.
 
Antes de seguir atrás da filha e da foto ideal, Max ganhou um beijo e um olhar apaixonado de sua esposa.
 
— Trabalho, né? - gritou Chloe, enquanto sua companheira se afastava e sorria radiante em resposta.
 
"Droga" pensava a moça. "Como você faz isso, Maxine?".
 
Chloe então sentou-se em um dos bancos do parque, enquanto observava Max e Sophia procurando por momentos dignos de serem eternizados nas fotos da mulher. 
 
Depois de vencer inúmeros concursos e ser capa de uma das mais conceituadas revistas fotográficas da América,  o céu era o limite para Maxine, e sua esposa sabia muito bem disso. A galeria havia sido apenas mais um passo em direção a uma carreira extremamente bem sucedida, como bem indicava o convite para lecionar na Blackwell Academy.
 
"São aquelas sardas, eu tenho certeza" refletia Chloe, enquanto mantinha, a distância, o olhar apaixonado em direção a esposa. Max não havia mudado muito nos últimos anos. A expressão curiosa, bem como as sardas, haviam permanecido no rosto da mulher. O cabelo, hoje mais longo que antes, estava preso em um rabo de cavalo, o que, segundo a mulher de madeixas azuis, valorizava ainda mais o rosto da moça.

Neste momento, como em todos os outros desde o dia em que haviam se reencontrado a quase dez anos atrás, Chloe tinha a certeza de que seria capaz de tudo por aquela mulher. Não era apenas gratidão e, muito menos, atração física. Era amor. Era a necessidade de ter a presença dela, completando-a. Sem Max, a punk sabia que não podia existir, não verdadeiramente. 

"Eu vou cuidar de tudo Max. Eu vou te proteger, sempre"

— Eeeei!! Sra. Price!! - Maxine e Sophia acenavam e gritavam em direção à mulher - Vem cá tirar umas fotos!!

— Vem Mamãe!!

Com um sorriso no rosto, Chloe levantou-se e rumou em direção as pessoas que mais amava no mundo, em direção à sua fortaleza.


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Notas finais do capítulo

Olá a todos novamente!! Muito obrigado a todos que leram e/ou comentaram o primeiro capítulo :D. Então, estou com receio de este capítulo ter ficado um pouco confuso, por isso me digam o que acharam, pls :p Ah, e vou tentar terminar o terceiro capítulo o mais rápido possível. OBRIGADOO!! Espero que gostem!!



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