Culpa e Perdão: O pior de uma mente apaixonada escrita por NightlyPanda


Capítulo 8
Capítulo 8 - Caminhos e Mentes Percebidos




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 Eu não tinha percebido ele se aproximando por trás. Vinha do fim da praça de alimentação trazendo os pedidos e parou logo atrás de mim. Vi que ele olhou o braço de Roger em meu ombro e o encarou seriamente. Eu ainda não tinha visto Nolan com uma expressão tão séria assim, ele estava com o olhar direcionado para Roger de uma forma bem intimidadora. Eu não sabia bem o que responder, olhei para ele e desviei meu olhar de volta ao chão. Roger continuou segurando meu ombro enquanto ele e Nolan ficaram se encarando.

— Foi bom ver você aqui Hugo. – Disse Roger dando uns tapinhas no meu ombro. – A gente se vê na faculdade. Boa noite.

Ele saiu sem nem olhar para Nolan. Eu olhei para ele saindo, de alguma forma aquele contato desencadeou um desespero em mim que eu não esperava.

— Vamos nos sentar Hugo? – A voz de Nolan veio macia e calma até meus ouvidos. Olhei para ele e lá estava aquela expressão de simpatia e calmaria que reconfortava todo meu ser.

— Você estuda com aquele homem? – Perguntou-me Nolan assim que sentamos na mesa para comermos. Eu ainda estava um pouco deslocado de ter encontrado com Roger, sem mesmo saber um porque claro.

— Ele é o coordenador da minha faculdade. Ele... – Eu estava preste a falar que ele tinha me dado carona no dia que apanhei, mas Nolan não sabia disso. Não queria que ele tivesse essa imagem de pessoa fraca e vulnerável de mim, que apanha na faculdade e sofre bullying ainda adulto. – Ele só me cumprimentou formalmente mesmo.

— Eu fiquei incomodado. Estava vindo e vi ele te parando, sua expressão mudou e parecia que você estava desconfortável com a presença dele. Por isso eu me aproximei daquele jeito, fiquei preocupado com você. – Essas palavras dele me tiraram completamente dos devaneios que eu estava após ver Roger. Preocupado comigo? Isso me fez demonstrar um involuntário sorriso na direção dele, não ouvia isso de ninguém, não havia ninguém realmente preocupado comigo. E ali estava ele dizendo que se preocupara com a minha pessoa.

Depois de terminado o lanche, voltamos para o subsolo até a pista de patinação. Não tinha mais uma fila enorme e o salão não estava tão cheio. Assim que pegamos os patins e calçamos, fomos até o salão. Eu andava parecendo um boneco de madeira, completamente rígido e morrendo de medo de cair e me espatifar no chão. Nolan entrou no salão e saiu patinando na minha frente. Acho que ele pensou que eu estava acompanhando ele, quando virou e me viu segurado na bancada do salão. Ele riu e veio patinando na minha direção, me dando sinal com as mãos para ir até ele. Eu tentei e fui andando socando pé por pé, sem rodar aquelas rodas sobre a madeira do chão por um segundo. Quando cheguei perto dele, escorreguei um pouco e desequilibrei patinando para frente e para trás, estava descontrolado e desesperado. Ele me puxou e me segurou em um abraço.

Nem olhei de tão envergonhado que estava, mas ele riu e me disse para lhe dar as duas mãos. Segurou-me e foi me puxando pelo salão, covardemente eu patinava meus primeiros metros naquele piso de madeira. Acho que segurei suas mãos tão forte que devo tê-las deixado marcadas. Pouco a pouco fui sentindo mais confiança em cima daqueles patins e me soltando mais a patinar com maior convicção.

— Viu só, patinando sem nenhum tombo. – Disse ele rindo.

— Olha, não canta vitória ainda. Cada segundo pode significar um tombo em cima dessas rodas.

O jeito como ele me olhava, o toque macio de suas mãos me dando segurança para patinar. Eu não sabia definir ao certo, mas aquilo era bem provável de ser o início de uma paixão. E só de pensar em estar me apaixonando por alguém eu ficava com as pernas tremendo, o que não era uma boa pedida sobre patins. Mas a verdade é que eu estava me entregando àquelas emoções de uma forma bem mais intensa do que eu jamais pensei em viver em toda minha vida. De um jeito inexplicável, Nolan me dava vontade de manter respirando para me certificar que eu viveria para ver ele uma vez mais.

Ele foi desacelerando e aproximando seu corpo do meu, seus braços passaram por minha cintura e meu rosto se alinhou ao seu. Sentia apenas o ar que saía dos meus pulmões. Meus pés pareciam programados para continuarem a seguir os movimentos dele, não parecia nem que estava a patinar. Olhei em seus olhos e deixei que, ao fechá-los, pudesse enxergar pela sensação de seus lábios. Beijar aquele homem era uma sensação de catarse. Eu sentia como se o sangue que corria em mim fervesse e, a cada pulsar do meu coração, eu renascia de novo para apenas viver aquele momento. Estávamos patinando em círculos no meio do salão, até que paramos por completo bem ao centro e ficamos ali, ambos entregues apenas à eternidade daquele instante. Não éramos os únicos no salão, mas a presença dos demais não me importava em nada. Quando o beijava, apenas a sensação de estar com ele me importava, o resto do mundo parecia não existir. Ao abrir os olhos, o encontro em seu olhar me dava a certeza de que era verdadeiro o que eu sentia.

— Se você se dedicar a patinar tão bem quanto a beijar, você vai ocupar todos os pódios da patinação mundial. – Disse ele enquanto passava a mão pelo meu cabelo.

— Eu estou tendo um ótimo técnico para os dois.

Fomos até a saída do salão para tirarmos os patins. Saindo dali, em direção ao estacionamento, me permite andar abraçado a ele. Recíproco foi a permissão de me envolver em seus braços enquanto o abraçava.

— Você se importaria se eu o sequestrasse para o meu apartamento essa noite? – Me perguntou ele enquanto andávamos até o carro.

— Olha, eu tenho bastante coisa da faculdade para fazer em casa. – Ao dizer isso, a cara de clemente dele foi impagável. – Mas se for um sequestro, eu não vou poder fazer nada. Então... – Foi só dizer isso e quando dei por mim estava suspenso no ar sendo carregado em seus braços.

— Deixa eu então agir como um bom sequestrador. – Ele me levou no colo correndo até o carro. Um casal de velhinhos que também estava no estacionamento ficou nos encarando e talvez tenham realmente achado se tratar de um sequestro.

Chegando no apartamento dele, fui questionado se queria comer algo, mas estava realmente satisfeito para comer qualquer coisa. Ele me entregou o pijama que usei na última vez que tinha dormido aqui e fui até o banheiro me trocar. Olhando para aquele pijama, não conseguia não lembrar daquela noite.

— Você fica realmente adorável de pijama Hugo.

— Igualmente você. – Percebi que tinha dito isso automaticamente em resposta, mas olhei para ele e vi que ele estava só com a calça de pijama e sem camisa. – Eu... não quis... é que...

— Eu entendi que você tá elogiando o quão irresistível eu sou. Eu sei, é difícil ficar perto e não querer me assediar. – Disse ele rindo e se aproximando de mim. – Mas você – Disse ele cochichando ao meu ouvido. – pode me assediar à vontade.

 Eu não tive muito tempo de reação, sei que ele estava sobre mim e eu entregue a seus beijos novamente. Ele era como um encantador, com aquelas palavras macias, me atraindo para seus lábios.

— Hoje foi um dia cansativo para você né, tá com a maior cara de sono. Vamos dormir?

Deitamos na cama e ele apagou as luzes, nos cobriu, se virou para mim e ficou passando a mão sobre meu rosto.

— Te olhando, eu vejo que eu não mereço alguém tão angelical como você Hugo.

— Até parece, – Sussurrei em sua direção. - eu não tenho nada demais. Você que apareceu como um milagre na minha vida, o anjo que caiu do céu aqui é você.

— Eu posso bem dizer que sou um anjo caído, mas não em um bom sentido.

— Você é um bobo. – Aconcheguei-me para perto dele encostando meu rosto em seu pescoço.

Ficamos em silêncio por algum tempo. Eu estava quase adormecido já, estava bem cansado depois desse dia. Ele abraçava meu rosto e acariciava minha nuca. Sua respiração sobre mim acalmava o bater do meu coração e me fazia ficar mais terno, me guiava para adormecer. Estava a confundir já se dormia ou se ainda estava acordado, relutando em conseguir abrir os olhos.

— Eu te amo Hugo. – Eu ouvi aquilo e não tive a certeza se já estava dormindo, mas o toque apertado de seus braços em mim era real demais para que fosse um sonho. Eu fingi já estar dormindo, à final de contas, acho que foi pensando que eu estava dormindo que ele disse isso. Mesmo assim, não sabia reagir aquilo. Não esperava ouvir isso dele. Por mais que eu sentisse como se estivesse me apaixonando por ele, não conseguia imaginar que alguém realmente me amaria. Pela voz dele ao dizer aquilo, ele estava a poucos minutos de adormecer também, mas ouvir tal frase me privou do sono por mais algum tempo. É realmente mais profundo ouvir um “eu te amo” do que simplesmente ser beijado. Eu não sabia o efeito daquela frase em mim. Mantive meus olhos fechados, mas aquelas três palavras ecoavam por minha cabeça em um eco infinito. Apesar de tudo, eu me senti bem após ouvir isso. Passei meu braço sobre ele e o abracei. Senti os braços dele me abraçarem mais forte. Mas ele já estava dormindo. Resolvi deixar para me preocupar com meus sentimentos depois, estava muito cansado e precisava dormir.

O sol daquele domingo invadia o quarto e clareava todo o ambiente. Com a maior resistência, abri meus olhos e vi que estava jogado em cima do Nolan, abraçado por seus braços como uma criança que espanta seus pesadelos por segurar um ursinho de pelúcia contra seu corpo adormecido. Tentei me desvencilhar de seus braços sem o acordar para que pudesse ir até o banheiro. Confesso que demorei uns bons minutos para ter sucesso nessa missão.

Lavando meu rosto e o encarando no espelho, percebi que aquilo era mais real do que devia. O som daquelas três palavras ainda ecoava em minha mente. Mas parado ali naquele banheiro não era o lugar de ficar devaneando sobre essas coisas. Pensei em ser um pouco útil e preparar o café da manhã para ele, já que ele é extremamente atencioso comigo, retribuir um pouco não custaria nada.

Depois de uns vinte minutos parada no meio da cozinha analisando o que estaria dentro da minha capacidade de preparar, julguei que a cafeteira não deveria ser tão difícil assim de operar. Ledo engano. Retirei uma das prensas, mas mais parecia que eu estava tentando desmontar a cafeteira inteira. Pelo que parecia, devia colocar o café ali, prensá-lo e por na saída de água. Tinha então que achar o café.

— Para que tantos armários assim! – Já estava falando comigo mesmo na caçada pelo pó do café. Depois de abrir a milésima porta de um dos armários, achei um pote de vidro onde estava o que eu procurava. Café encontrado, colocado na prensa e de volta à cafeteira. Liguei ela e... enfim, um barulho enorme apitou dela e nada. Apertei o botão de novo e nada. Fiquei encarando aquela máquina para ver se ela me respondia o que eu tinha que fazer, e como se ela tivesse respondido me veio a mente que talvez estivesse sem água. Bingo! Retirei o depósito, esse até que foi fácil, enchi de água e o retornei para a cafeteira, liguei ela de novo, nenhum barulho. Alguns segundos e um vapor de água saiu de cima dela, devia estar esquentando, então deixei que ela operasse por conta própria. Enquanto isso, tinha que preparar algo para comer. Que aterrorizante era esse pensamento, eu cozinhando. Vi a torradeira, depois de uma nova caçada pelos armários encontrei os pães e coloquei dentro para torrá-los. Resolvi ousar um pouco mais e preparar alguns ovos na frigideira para não ser apenas pão torrado e café, o que para mim por sinal já era um enorme café da manhã, ainda mais pelo esforço que eu estava tendo. Ovos e manteiga encontrados na geladeira, frigideira sobre o fogão, era hora de por mão na massa. Tudo parecia fluir bem: a cafeteira passava o café, os pães estavam torrando sem nenhum cheiro de queimado, ovos na frigideira, com direito a um orégano por cima, eu estava desbravando aquela cozinha e dominando seus segredos.

— Olha só o que temos aqui... – Estava ele parado na porta da cozinha me olhando preparar aquele café da manhã.

— Há quanto tempo você tá aí?

— O suficiente para te admirar. – Respondeu com seu irresistível sorriso de canto. – Isso é para mim?

— Eu só queria retribuir a atenção que você... – Um leve cheiro de queimado invadiu o espaço. Olhei para os ovos na frigideira, foi uma ação atleta, mas salvos a tempo. – No caso, a atenção que você me rouba e faz quase estragar meu esforço.

— Não direi mais nada, hahahah. – Ele se sentou e eu fui arrumando tudo para o servir. Precisa de um prato, fiquei andando de um lado para o outro com a frigideira na mão, ele estava rindo, desviou o olhar quando eu o olhei, mas seus dedos apontavam para uma prateleira. Fui até ela e lá estava o prato que eu precisava. Peguei as torradas, coloquei-as no prato, pus os ovos por cima, peguei o café na cafeteira e levei tudo para a mesa. O servi e então me assentei de frente para ele.

— E você? Não vai comer?

— Eu já comi. – Respondi com um risinho sem vergonha que não convenceu nem por um segundo. – Tá bom. Olha só, deu um trabalhinho preparar só uma refeição, eu passo.

Ele mordeu a torrada e se levantou, eu o questionei e ele continuou mesmo assim.

—Nolan, não me faça sentir mais incompetente ainda. – Disse com uma voz de derrota bem peculiar a minha pessoa.

— Eu não vou, só vou pegar um cereal para você comer então.

— Está realmente delicioso o que você preparou. – Disse ele enquanto tomávamos o café.

— Não precisa forçar a barra também, eu queria preparar algo bacana, mas eu já disse, eu não sei cozinhar. Isso aí foi um milagre divino ter saído. Não vou negar que cogitei seriamente ligar na cafeteria do meu bairro e pedir para que entregassem um café da manhã aqui, mas lá é meio longe, você ia ter acordado e minha farsa estaria escancarada.

— Você é uma figura Hugo. – Disse piscando o olho esquerdo e me mandando um beijo.

— Bom – Continuou ele. – Eu sei que o senhor tem coisas da faculdade para fazer em casa, mas se eu puder manter esse sequestro por mais algum tempo, o que você gostaria de fazer?

— Hoje é domingo né? Nos domingos de manhã, eu gosto de ir ao parque perto da minha casa, geralmente eu só sento lá sozinho e fico vendo as pessoas que estão lá e admirando o universo. Mas é um bom lugar. E tem um carrinho de algodão doce que é o melhor do mundo, e a moça que faz é bem simpática, ela sempre põe uns granulados no meu sem eu pedir e... Hahaha, olha eu todo tolo parecendo uma criança.

— Eu confesso que eu podia ficar olhando você o dia inteiro, parecendo uma criança ou não, você é a forma mais linda desse universo. Eu achei uma ideia ótima ir ao parque, vamos nos trocar e ir para lá, depois a gente vê um lugar para almoçar e eu te liberto desse sequestro.

Minha cara de “por favor me sequestre de verdade” era muito aparente, distinguir ela de uma cara de dó qualquer que era a questão.

No elevador para a garagem, o silêncio entre nós ainda era presente, mas dessa vez, porque nossas bocas se ocupavam em demasiado para poderem falar. O elevador abriu no quarto andar e umas senhoras entraram, eu fiquei todo sem graça, mas Nolan pareceu não se importar nem um pouco. Elas saíram no térreo e foi bem claro o horror delas a nos ver beijando um ao outro, os comentários delas não eram nem um pouco discretos. Enquanto andávamos até o carro, na garagem, Nolan me questionou se eu já tinha tirado minha carteira.

— Não sei nem como liga um carro, nunca me interessei muito, tirar a carteira de habilitação está longe de ser uma prioridade minha.

— Que pena! Queria ver você dirigindo.

— Ahahahah, você é bem iludido de achar que eu ia dirigir seu carro né. Não obrigado, prefiro não destruir o grande amor da sua vida.

— Eu jamais deixaria você se machucar Hugo.

— Eu... é que... bom, eu estava me referindo ao carro, não a... mim.

Ele veio até mim, abriu a porta do carro, me esperou entrar, deu uma piscada e fechou a porta, foi até o lado do motorista e entrou.

No caminho até o parque, fomos conversando, deixando o rádio tocar, falando trivialidades e, quando conveniente, deixando o silêncio falar por nós enquanto ele acariciava minha mão com a sua.

— Já estamos no seu bairro, você vai ter que me guiar até o parque.

— Ok, seguindo essa rua, você vira à direita no terceiro quarteirão, segue reto e no fim da rua, o parque é virando à esquerda. 

Esse parque era uma constância na minha vida nesses últimos anos, todo domingo depois de tomar meu café da manhã no Café da esquina, vinha ficar aqui, deixando que o tempo passasse. Sempre as mesmas pessoas estavam no parque, o mesmo casal fazendo jogging, a mesma mãe e filha comprando balão e brincando, os mesmos velhinhos jogando xadrez e alimentando os peixes no lago ou as pombas pelo parque. Era um lugar harmonioso.

— É um parque realmente bonito. Vamos dar uma volta por ele?

— Sim. – Balancei com a cabeça saindo do carro.

Fomos andando pelo parque, ele passou o braço direito por mim e seguimos andando, em silêncio, olhando as pessoas ao redor e a natureza que nos circundava. Caminhamos por um bom tempo. A mulher do algodão doce apareceu com seu carrinho no horizonte, acho que ele viu meus olhos brilhando quando eu a vi, me soltei de seus braços e fui correndo até ela, gritei que já voltava enquanto ia até ela. Ela se lembrou de mim, sorriu e perguntou se eu ia querer um algodão doce.

— Dois, por favor.

— Dois? – Disse ela espantada. Compreendo, eu fui na frente do Nolan, sozinho, ela deve ter achado que eram os dois para mim. Ela o viu se aproximando atrás de mim, soltou um sutil “ah” e não indagou mais nada.

— Aqui os dois. – Como sempre, cheios de granulado em cima. Essa mulher era um anjo na terra.

— Obrigado. – Paguei-a e entreguei um para Nolan. Ele ficou sorrindo me olhando. Fomo até um banquinho na beira do lago que ficava no meio do lago.

— Esse é o melhor algodão doce do mundo! – Não tinha como não elogiar, era uma obra de arte, eu precisava exaltá-lo.

— Ele é muito bonito, nem parece de verdade. – Respondeu Nolan.

— Espere até você morder, ele vai derretendo na boca e o granulado dá um toque mágico. E ela só põe esse granulado para mim e para uma menina que vem com a mãe todo domingo no parque comprar um balão para brincar. Ali, aquelas duas. – Disse apontando para uma mãe carregando uma menina que segurava um balão de hélio no formato de um leão.

— Eu estou adorando esse Hugo sabia.

— Eu também, ele e tão macio, tão saboroso e... Calma... O quê?

— Bem, você tem razão, você é bem macio, e seu beijo, nada no mundo tem o mesmo sabor. Mas eu realmente me refiro a você, eu sei que a gente está se conhecendo a pouco tempo, mas desde a primeira mensagem pela plataforma dos doujinshis até agora, você tem se mostrado uma pessoa incrível Hugo. No começo, pelas mensagens e na primeira vez que nos encontramos, foi bem perceptível que você é bem tímido e introvertido, tem seu próprio universo, e isso é lindo. Mas eu ando percebendo, eu sou bem atencioso, tem alguns momentos onde você deixa se soltar de qualquer amarra e age com uma espontaneidade fantasticamente bela, você deixa sua alma a mostra, e ela é linda Hugo. Só de pensar em ver mais dela e conhece-la melhor, em te conhecer melhor, eu fico em êxtase.

— Eu... eu não sei o que te falar Nolan. – Eu realmente não sabia, ouvir aquilo, tão francamente, tão calmamente, era desnorteador. Eu jamais tinha me mostrado para outra pessoa, não tinha tido um vínculo tão forte com alguém como o vínculo que eu estava formando com ele, e tão rápido assim. Ele realmente parecia ter olhos que podiam te desvendar a alma ao te lançar aquele olhar reconfortante. – Eu não sei nem como te falar isso Nolan... eu...

— Só fale Hugo, deixe que seus pensamentos fluam direto na sua voz.

Eu olhei para ele, dessa vez foi eu quem acariciou seu rosto com as mãos para dizer algo.

— Desde que eu te conheci, algo em mim tem se revelado, algo que eu nem sei bem o que é, mas é um sentimento que eu quero viver, um sentimento que eu quero explorar. Você desperta isso em mim, uma sensação de que eu posso enfrentar todo o desconhecimento, sair da minha reclusão e do meu casulo e desbravar todos esses sentimentos com você. E eu tô realmente só falando sem pensar, porque se eu parar para me ouvir e pensar no que tô dizendo vai parecer a maior idiotice do mundo. Mas é verdade, você veio na minha vida do nada e redimensionou todas minhas emoções, me fez repensar no porque da minha vida, até antes de você, eu não me importava, só vivia um dia após o outro e o que me acalmava era que um dia a mais era igual a um dia a menos, e isso me deixava passar pelos dias sem me importar com mais nada. Mas depois de você, depois de você eu sinto que eu me importo. Eu sinto que cada minuto com você vale mais que todo o tempo que eu vivi antes, e pensar que cada dia que passa é um dia a menos com você chega a me incomodar como eu jamais pensei ser possível. E eu não sei, mas cada vez que você me abraça, cada vez que eu sinto seus lábios juntos do meu, algo floresce em mim e eu fico feliz sem porquê, e depois de pensar em quando eu estive em teus braços, eu quero estar nele de volta e sentir essa felicidade mais uma vez. – Eu disse isso tão rápido e fechei meus olhos tão forte que quando terminei estava bufando e meu coração acelerava muito.

Ele pegou minhas mãos e as tirou de seu rosto. Eu fiquei paralisado, “eu devo ter o assustado, é claro, esse tanto de coisa só mostra desespero, ele não deve pensar o mesmo, nem perto disso” e esse pensamento começou a doer em minha cabeça.

Foi então que eu percebi que ele as segurou forte contra seu peito e lançou seu olhar enigmaticamente confortável sobre mim.

— Eu não consigo responder isso em palavras Hugo. – Ele se aproximou de mim, foi encaixando seu rosto sobre o meu, sua respiração sobre mim era como um véu que me envolvia e harmonizava meus sentidos, ele primeiro beijou levemente meus lábios e foi me beijando, como se fosse domando toda aceleração que meu espírito estava. E ali eu estava, entregue aquele homem em inteiro, através daquele beijo, como se nossas almas se conectassem através de nossos lábios.

— É como eu consigo te responder agora. – Sussurrou ele com o rosto ainda sobre o meu.

— Fez mais sentido que mil palavras para mim.

Uma brisa fria daquela amena manhã nos cortou e fez com que aquelas emoções fossem mais sentidas ainda dentro de mim. Meu coração, sem qualquer razão aparente, com o medo de algum presságio ou contratempo do destino, fincara arduamente em meu peito.

— Eu só tenho medo que essa maré de bons momentos esteja para recuar.


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