Culpa e Perdão: O pior de uma mente apaixonada escrita por NightlyPanda


Capítulo 6
Capítulo 6 - Caminhos e Mentes Maculados




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— Você me chamou, Nolan? – Disse ele escorado na entrada do quarto olhando para mim. Céus, como eu sentia uma enorme calmaria dentro de mim admirando aquele garoto parado na porta sorrindo.

— Te chamei para tomarmos café. O que você quer comer?

— Olha, depois daquele jantar maravilhoso de ontem... – Disse ele se aproximando de mim. – Eu vou ter que deixar o chef me surpreender de novo.

Ele vinha se aproximando devagar, balançando seu corpo pelo ar, desfilando em minha direção. Não resisti e fiz o primeiro ataque, o puxei pelo braço e o segurei contra meu corpo. Tinha acabado de sair do banho, estava enrolado na toalha, com a pele ainda molhada.

— Então eu te surpreendi é? – Repousei meu rosto em seu pescoço, sentir seu cheiro confortava minha alma e atiçava meus ânimos ainda mais. – Eu gosto da ideia de continuar sendo uma surpresa na sua vida. – Beijei suavemente seus lábios e fiz com que seus olhos repousassem nos meus. – Pode ir descendo que só vou colocar um roupão e já me dirijo a minha função de preparar o melhor café da manhã da sua vida.

Enquanto eu descia as escadas, fiquei questionando em minha mente a razão daquele dócil e delicado menino estar em minha vida. Talvez fosse isso, ser um ponto destoante da minha realidade, um farol que lançava uma luz na turbulência das tempestades pelas quais eu velejava. Na cozinha, ver aquele rosto simpático em toda sua timidez me deixava sorrindo sem qualquer razão.

— Vamos lá então!

Ele olhou para mim com um riso no rosto e uma expressão de conforto. Enquanto eu preparava o café da manhã, ele se apossou do celular e a seriedade logo tomou conta de sua cara.

— Algum problema, Hugo?

— Ãhn?  Ah, não. Eu só estou mandando algumas mensagens para a minha chefe. Eu não disse que não ia chegar no horário e ela tá querendo saber se estou vivo. Só estou avisando ela que eu vou ir só depois do horário de almoço.

— Não me diga que eu te coloquei em encrenca? Eu posso ir lá explicar para ela o porque você faltou hoje hahahah. – Ele me olhou desajeitado ao ouvir isso, e era impossível, aquela timidez, toda aquela cautela ao se mexer, ao falar, aquele garoto me impunha um desejo enorme pelo seu jeito de ser.

Vi que ele logo acabou de digitar e rapidamente guardou colocou o celular virado em cima da mesa. Era realmente uma vida peculiar a ser entendida.

— Aqui está! – Levei para a mesa a refeição que tinha preparado para que tomássemos nosso café. – Vamos ver se te agrado mais uma vez.

— Parece estar delicioso. O cheiro está ótimo!

Fiz questão de o servir. Enquanto comíamos e conversávamos, percebi como era o processo para que ele se sentisse confortável. Primeiro precisava dar a abertura necessário, e pouco a pouco, ele ia se deixando descuidar de toda precaução e controle, se soltava levemente, sorria mais espontaneamente e falava um pouco mais livre. Admirava o analisar. Não entendia bem os motivos por gostar tanto daquele garoto e isso me fazia gostar mais ainda. A dúvida que ele trazia em mim era a certeza mais humana que eu senti em um longo tempo.

— Eu acho que ainda não te perguntei isso, mas você disse que estuda arquitetura, só que trabalha na biblioteca. É da sua família a biblioteca?

— Não, não. A biblioteca é filantrópica, um grupo de professores e pesquisadores aposentados que são os donos. Eu trabalho lá puramente para ter o que fazer do meu dia. A minha família... bem, eles não têm nada a ver com a biblioteca, nem com nada na verdade. – Sua expressão ficou sombreada e turva, como se algo o desapontasse.

— O que os seus pais fazem então?

— Eu... eles... – Ele olhou para o lado e depois para o chão, ficou encarando seu reflexo no copo e permaneceu em silêncio.

— Hugo?

— Eu não tenho... “pais”.

Eu o encarei e me desculpei. Não queria ter provocado qualquer sentimento negativo ou trazer emoções que ele não quisesse viver naquele momento.

— Não tem nenhum problema. – Suspirou profundamente e voltou a mexer na comida em seu prato. – Na verdade, isso nem me incomoda, é só que é um assunto que eu não menciono a muito tempo. Ninguém me pergunta e eu não sinto vontade alguma em ficar me atendo a esses pensamentos. Meus pais morreram em um acidente de helicóptero quando eu tinha nove anos. Na verdade, foi no dia do meu aniversário de nove anos. Eles estavam vindo de uma curta viagem de negócios que tinha vindo fazer. Eu lembro até hoje de ficar esperando eles na madrugada daquela quarta-feira no heliponto na cobertura do prédio. Minha mãe me disse que a primeira pessoa que eu ia ver assim que desse a meia noite do dia do meu aniversário seria ela, e que ela estava trazendo um presente que eu não podia nem imaginar. Eles eram arqueólogos, os dois. Nós morávamos em um apartamento no extremo norte da saída da cidade, o outro lado daqui, naquele bairro que é cortado por um rio enorme, parece que é uma ilha descolada da cidade, de tão grande que é aquele rio. Na época, ainda não tinham reformado a ponte sobre o rio. O prédio que morávamos ficava bem perto da margem do rio, dava para ver o resto da cidade inteira da cobertura. Eu me recordo de ver o helicóptero de longe, apontando na outra margem depois do rio. E quando ele estava passando em cima do rio... bom, eu não sei bem qual a reação que eu tive, mas só me recordo da minha vida alguns dias depois daquilo.

— Hugo... eu não quis te fazer falar sobre essas coisas, devem ser difíceis para você. Me perdoe se eu fui incômodo e indelicado.

Ele riu olhando para mim, um riso desesperançoso, sem qualquer brilho no olhar.

— Não é incômodo algum. Foi a um bom tempo atrás, eu não sinto realmente nada em relação a isso. – Ele disse isso com uma fraqueza assustadora, sua expressão não demonstrou qualquer forma de marca ou cicatriz que um trauma desses cria. Seja esse vazio o seu estigma, fosse esse o motivo de ele aparentar tão recatado a si mesmo.

— Eu não quero que você fale o que não sinta bem em falar. Eu realmente sinto muito.

— Eu te disse, não tem problema nenhum, eu realmente não sinto nada sobre isso. Depois da morte deles, eu fui estudar em um colégio interno fora do país, onde eu fiquei até completar o ensino médio. Quando eu acabei lá, eu fiz minha aplicação para a faculdade de arquitetura e eles me aceitaram. Aí eu voltei para cá. O inventário do patrimônio dos meus pais foi posto em ordem judicial para me ser entregue quando eu fizesse dezoito anos, até lá ficou em custódia. Um tio meu cuidou de tudo, de toda a burocracia do enterro, do inventário e da minha mudança, ele tinha ficado como meu tutor, mas eu sequer cheguei a morar com ele, inclusive foi ideia dele de me mandar para fora do país e, como ele vivia viajando para fora do país, ele tomou conta de achar um internato de “qualidade”. Ele disse que era melhor eu ficar longe disso tudo, acho que ele estava certo. Quando eu disse que voltaria, ele ficou surpreso, mas não se opôs. Se prestou a dar andamento em toda a papelada e na liberação do inventário. Eu disse para ele que queria vender tudo, mas ele me aconselhou a manter o apartamento para que eu tivesse um lugar para quando voltasse. Eu até que o dei razão, mas não quis ir morar lá, o apartamento está fechado até hoje, nunca voltei lá. Todo o resto foi vendido, os carros, a casa na praia, os ativos que meu pai tinha na bolsa de valores. Eu fui trabalhar na biblioteca não porque preciso do dinheiro, mas porque aquele lugar dilui o tédio que são meus dias e os faz passar mais depressa.

— Eu compreendo. – Fiquei surpreso com toda aquela história. Não era algo que eu pudesse presumir ou sequer ter cogitado ser o pano de fundo da vida dele. Eu não sabia bem o que falar, então apenas fiquei em silêncio.

— Desculpa, eu nem sei porque falei isso tudo.

— Não se desculpe, não tem problema nenhum em falar disso. – Me levantei e fui para trás do balcão, peguei um copo e o whisky. Bebi um pouco e olhei para a cidade pela janela. – Meus pais também estão mortos. Eles morreram em um assalto, alguns bandidos invadiram nossa casa e abriram fogo.  Eu cresci em um orfanato... É, haha, pode-se dizer que era mesmo um orfanato, a final de contas...

Voltei até ele e me agachei para olhar em seus olhos. Ele sentado ali, diante de mim, não queria ficar remoendo memórias desgastadas de um passado que nem parece fazer parte desse momento que criamos entre nós dois. Baguncei seu cabelo e segurei seu queixo, ele lançou seu olhar sobre mim profundamente e me retribuiu com um sorriso meigo e convidativo, aquele rosto que esculpia o remanso e a tranquilidade.

— Falando do presente agora, eu sei que você tem que ir pra biblioteca à tarde, mas vamos almoçar juntos, o que você me diz?

— Eu não quero te dar trabalho Nolan. E eu ainda tenho que passar em casa para trocar de roupa antes de ir trabalhar. Você já foi atencioso demais comigo, não quero abusar de você.

— Por mim, pode abusar à vontade, do que você quiser. – Mesmo com ele desajeitado ouvindo isso, arrancar um sorriso dele valia à pena. – Eu posso te emprestar uma roupa, e se você não quiser, a gente passa na sua casa e de lá vamos almoçar. Depois eu te deixo na biblioteca. Vou considerar que você aceitou, tudo bem?

No elevador, enquanto descíamos para a garagem, ficamos trocando olhares em silêncio, nos comunicando pelo silêncio de nossos corpos. Fui andando até o carro e, quando ele entrou, lembrava apenas daquele ser quieto, encharcado pela chuva, desconcertado por ter exposto um fantástico plano para não matar aula. O contento que aquele garoto estava trazendo na minha vida em tão rápido contato era perigoso, mas um risco que eu ansiava a correr.

Ele me passou o endereço de seu apartamento e fomos naquela direção. Liguei o rádio e deixei tocar ao acaso. Pelo caminho ele ia admirando a paisagem enquanto, sem nem perceber, seus lábios se mexiam no ritmo da música que tocava e sua voz dava pequena entonação à letra.

— Eu não me importaria nem um pouco de ouvir você cantar Hugo, porque apenas pelos sussurros que está soltando dá para perceber que tem uma voz melodiosa para música.

Aquele rosto corado e a maçã do rosto que se contraía, mas dessa vez era algo diferente da timidez ordinária, tendia mais para um segredo, um sentimento enterrado.

— Eu gosto muito de música. – Disse ele olhando pela janela do carro. – Desde bem novo eu toco piano, foi sempre minha grande paixão. Mas eu não tenho coragem para colocar isso em um lugar que não seja puro passatempo.

— Pois devia, qualquer paixão pela arte não é efêmera.

— Eu só... – Não precisava que ele terminasse aquela frase, eu tinha entendido o que estava por detrás daquilo.

— Bom, se você não me enganou de novo – Olhei sorrindo para ele e pela primeira vez não foi um rosto de arrependimento que me recepcionou, mas um riso tranquilo de volta. – chegamos no endereço do seu apartamento. Eu espero você aqui embaixo, pode ficar à vontade para ir se trocar.

— Nolan, eu queria... Você quer subir?

— Você quer que eu suba?

— Sim.

Manobrei o carro para estacionar na rua paralela ao apartamento dele. O prédio era bem na esquina das duas ruas, ocupava metade do quarteirão, era um prédio antigo, mas extremamente belo. Ele desceu do carro e foi andando até a portaria do prédio, se identificou e ficou me esperando, subimos uma grande escadaria até o hall de entrada do prédio e lá ele cumprimentou dois rapazes que estavam atrás de um balcão, deviam ser responsáveis pela secretaria do prédio. Pegamos um elevador e subimos até o décimo quinto andar. Ele morava num belo flat. Mesmo se mantendo introvertido e retraído a si mesmo, o ambiente de seu flat era cheio de personalidade.

Ele disse que ia se trocar e para que eu ficasse confortável enquanto o esperava. Fui então andar pelo espaço do lugar. Na sala, um grande ambiente em conceito aberto com a cozinha e a copa. Olhando para a cozinha, dava para ver o porquê ele morava em um flat, parecia que raramente a usava. O fogão estava sem qualquer marca de uso, parecia que havia acabado de ser entregue pela fábrica. Na estante da sala, junto a alguns livros, flores e uns robôs de brinquedo que estavam de enfeite, tinha algumas fotos expostas. Em nenhuma delas, entretanto, consegui reconhecer alguém que se parecesse com ele. Na verdade, quase todas eram de lugares aleatórios, pessoas viradas de costa nas fotos. Mas tinha uma foto que parecia uma reunião de família. Tinha umas treze pessoas na foto.

— Eu sou esse aqui no meio do casal no canto direito da foto. – Disse ele que havia vindo por trás de mim e abraçando-me pelas costas.

— São os seus pais?

— Não, os meus tios. Essa é a irmã da minha mãe e o marido dela, meu tio que eu tinha te dito. Eu estava de férias na casa deles enquanto meus pais estavam numa viagem explorando um sítio arqueológico.

— Seu tio me parece alguém que eu conheço, mas não sei dizer quem.

Ele riu e me soltou, andou para o canto e se assentou em uma banqueta. Percebi então que estava de frente para ele sentado com as mãos sobre um piano fechado.

— Eu te pedi para subir porque queria te mostrar uma coisa. – Ele abriu a tampa do teclado e dedilhou rapidamente as teclas. Era um belo piano de cauda. Ele o olhava com uma terna admiração e então começou a tocar. Eu fiquei de pé deixando que apenas meus ouvidos se mantivessem vivos naquele momento. As teclas eram tocadas por seus dedos com tamanha simpatia e delicadeza, e mesmo assim o som que expandia por todo ambiente era altivo, imponente e soberano, ecoava por todos os cantos e retomava de volta àquela enigmática melodia. Jamais havia ouvido nada parecido, tinha certeza que era algo de sua autoria, o jeito como ele se entregava ao som que produzia denunciava a personalidade própria que aquela composição tinha.

Ele então tocou a última tecla e esperou que o som findasse no universo que ele havia criado com aquelas teclas. Sua respiração então tomou conta do silêncio que impetrava. Como em um gesto de reverência, ele lentamente retirou as mãos do teclado e fechou a tampa. Sem se virar, permaneceu quieto assentado.

— Foi apenas algumas teclas de última hora, mas senti que precisava tocar algo para você Nolan.

Eu estava ainda embriagado pelo que havia acabado de ouvir, aquele arranjo de notas, toda aquela melodia era angelical. Eu dei alguns passos em sua direção, mas não consegui ir até o fim.

— Isso foi a coisa mais magnífica que eu já presenciei Hugo. Você é fantástico.

Ele se levantou e veio até mim. Seus braços se envolveram e eu senti que aquele abraço foi a conclusão perfeita da experiência que acabara de viver. Com seu rosto sobre meu peito, como seu ouvisse o bater do meu coração, ele tinha-me como seu irremediavelmente.

— Vamos indo almoçar?

Olhei para ele, segurei seu queixo e beijei sua testa. Peguei em seu braço e nos dirigi até a porta do flat.

Fomos a um restaurante que ficava perto da biblioteca. O almoço foi um momento de descontração e alegria que há muito não vivia. Conversamos como bons amigos, que se conheciam a eras e dividiam entre si uma intimidade e confiança imensurável. Risos incontroláveis foram dados, ele tinha um humor peculiar que me fascinava inexoravelmente. Um show de frases sem qualquer pretexto, tolas piadas, olhares que se chamavam ao encontro, uma alegria mor que nos tomou conta de qualquer seriedade e preocupação.

Ao fim do almoço, o deixei na frente da biblioteca. Ele me olhou serenamente e agradeceu pelo almoço.

— Não há nada para se agradecer, você me propiciou um dos melhores momentos da minha vida. Espero muito que possamos repetir isso.

— Eu também. – Fui pego de surpresa com aquele beijo que me foi dado, quando me dei conta, ele já estava a abrir a porta do carro e a sair para a biblioteca.

“Hugo, Hugo, o que você está fazendo comigo”, pensei em alto tom. Fiquei olhando ele se distanciar até entrar dentro do prédio da biblioteca. Fiquei por alguns minutos parado olhando para a direção que ele foi, só retornando a mim quando meu telefone tocou.

 - Nolan, temos um serviço para você que precisa ser realizado hoje.

Aquela voz grave ecoando em meu ouvido me retirou completamente da atmosfera que eu estava até aquele momento.

— Sim chefe, já estou a caminho do escritório.

Acelerei o carro e dirigi até o escritório. Na velocidade que eu estava, se algum velocímetro estivesse no caminho iria explodir ao aferir a velocidade que o carro estava. Estacionei o carro e peguei minha maleta no porta-malas, subi no elevador direto para minha sala, nem parei na secretaria. Quando o elevador se abriu, Rowney já estava a minha espera, veio a meu encontro enquanto eu andava em direção à minha sala.

— Nolan, eu acho que ele já te contactou, mas só por garantia, a questão é a seguinte, desde que você fez a sondagem segunda, e agora com o edital da licitação aberto, ele quer dar uma acelerada nas coisas. Eu deixei um relatório mais detalhado da situação na sua mesa. Precisa ser hoje Nolan.

Parei de frente para a porta da minha sala, a abri, virei-me de volta para Rowney e acenei com a cabeça.

— Será. – Disse enquanto fechava a porta. Fui até a minha mesa e peguei o relatório, dei uma passada de olhos sobre ele. Deixei minha maleta no armário atrás da mesa e sai da sala.

Voltei para o estacionamento e numa arrancada só, acelerei para fora dali. Segui em direção a parte baixa da cidade, na saída oeste, um subúrbio de imigrantes era minha primeira parada. Segui até um galpão antigo e estacionei meu carro nos fundos. Segui a pé, calmamente, até o portão. Tinha um velho sentado fumando um cachimbo, passei por ele e acenei com o rosto. Quando já tinha passado, arremessei para trás as chaves do carro e continuei andando enquanto disse.

— Um só arranhão e já pode escolher o caixão.

Ele deu uma risada de canto e como uma chaminé, soltou uma enorme quantidade de fumaça pela boca, bateu com o cachimbo no banco que estava sentado, o colocou na orelha e foi até o carro. Enquanto eu entrava no galpão, ouvi a arrancada do carro.

Aquele galpão era um lugar velho cheio de tranqueiras e sucatas, completamente imundo e escuro, qualquer um que não conhecesse bem lá dentro tombaria no primeiro rato que passasse. Virando o portão, no fim do canto esquerdo, uma velha escada em espiral era para onde eu me dirigia. No segundo andar, uma pequena salinha de um antigo escritório. Aquele galpão velho era uma antiga fábrica de sapatos. Destranquei a porta da sala e fui até a mesa no centro, uma abertura falsa embaixo dela liberava um compartimento. Ali estava o que eu precisava: uma PSS e uma SR-1, as duas pistolas mais necessárias para esse tipo de missão. Ambas russas, a primeira com uma capacidade incrível de anular praticamente todo o som e a segunda é uma das mais potentes em quesito perfuração. Górki me deu as duas assim que saímos da Rússia para minha primeira missão, ambas têm história comigo. Abri um armário no canto e peguei a munição, o colete e a roupa que eu ia precisar. A sala tinha um banheiro, fui lá me trocar e arrumar as armas.

Quando já estava pronto, desci para o térreo e fui até no começo do galpão. Tirei a capa que a cobria e ali estava, minha MTT Turbine Streetfighter vermelha, aquela preciosidade podia chegar em 400km/h com seus 420cv de potência, a turbina é a mesma encontrada em helicópteros e não é brincadeira a performance dessa belezinha de moto. Montei nela, coloquei meu capacete, apertei o controle para abrir o portão da frente do galpão e saí, a sensação de ir mais rápido que qualquer outra coisa na rua era libertadora.

De acordo com o relatório que Rowney havia feito, o local que eu deveria estar era no velho posto de gasolina na saída sul da cidade. Eu tinha que andar uns quarenta quilômetros até chegar lá, mas para isso ia ter que pegar a rodovia principal. O tempo estava fechando, já era pôr-do-sol e o clima ficou bastante ameno.

“Você é igual a mim no fim das contas”, aquele pensamento me veio à mente e me tirou completamente a concentração e a noção de onde estava, sem pensar, joguei a moto na contramão. Vinham alguns carros e com as buzinas a disparar, retomei o controle e consegui passar desviando por eles e retornar para a via.

Aquela imagem, minha mente se vidrava naquela sala ensanguentada, a cadeira virada para mim, os vidros com sangue respingado pelo furo... o corpo caído no chão...

Eu balancei a cabeça, tentei me desvencilhar daqueles pensamentos, mas as cenas daquele dia estavam a me acorrentar sem que eu conseguisse me livrar. Os olhos abertos a me encarar...

E de um segundo para o outro, a imagem daquele garoto molhado sentado no banco do carro ao meu lado, me olhando com aquela feição delicada, aqueles traços macios, o olhar leve a me encarar. A imagem de Hugo me tomou por completo e eu não pude resistir.

— Não é hora de se distrair com nenhum desses pensamentos Nolan. – Disse para mim mesmo e fiz minha voz ecoar por dentro do capacete em meus ouvidos.

Voltara a concentração puramente a minha respiração. Segui atento pela via, faltava pouco para chegar até o posto. A rodovia que passava era rodeado por um bosque que fechava completamente sobre as vias. Chegando ao posto, parei a moto de frente para a estação de abastecimento e, sem tirar o capacete, observei o movimento. Não tinha ninguém ali, apenas os atendentes dentro da lanchonete no fundo. Desci da moto e fui pegar a mangueira de combustível para abastecer. Enquanto abastecia, um carro sedan preto parou no estacionamento do posto, desceram três pessoas e foram até a lanchonete. Eram três homens, mas ninguém que eu devesse saber em específico. Logo em seguida, outro carro chegou e dele desceram a secretário do governo, Suzanna, e seus dois seguranças. No estacionamento do outro lado, descem mais dois homens e todos vão para dentro da lanchonete do posto.

Acabei de encher o tanque da moto e fui estacioná-la, fui até o estacionamento do lado do carro que chegara por último e a deixei lá. Fui andando em direção ao posto, olhei no relógio, peguei meu fone no bolso e pluguei no celular, coloquei nos ouvidos e pus o player de música para tocar, segui andando. Três homens saíram de dentro da lanchonete e foram andando em direção aos fundos do posto. Fui pelo outro lado do posto até o fundo e vi que estavam entrando no banheiro. Entrei também. Passando pelo corredor da entrada do banheiro, percebi a situação. Dois estavam usando os mictórios e um em um sanitário de portas. Entrei no sanitário ao lado, fechei a porta, peguei um chiclete no bolso da calça, desembalei e o coloquei na boca. Abri o zíper da calça e me ajeitei para urinar. Ouvi o barulho do homem acabando de urinar na cabine ao meu lado. Como minha mão direita estava ocupada, peguei minha SR-1 com a mão esquerda na minha cintura, virei meu braço para a direita, o alinhei encostado ao meu corpo, na altura do diafragma, e, assim que a descarga foi pressionada ao lado, disparei. A SR-1 não era tão silenciosa como a PSS, mas o barulho da descarga foi um bom camuflante. Guardei a pistola de volta na cintura, ajeitei a PSS para ficar mais fácil na hora de retirá-la, ajeitei minha calça, fechei o zíper e dei a descarga.

Me dirigi ao lavabo e fui ensaboar minhas mãos, os outros dois homens fizeram o mesmo. Tive toda a cautela em certificar que as higienizara direito, aqueles banheiros de posto de estrada eram nojentos. Eles ficaram de conversa e gritaram o nome do outro.

— Hahaha, não responde, deve estar concentrado cagando. – Disse um deles.

Fui até a parede na dianteira do banheiro, desenrolei duas folhas de papel para secar minhas mãos. Percebi que o silêncio do homem no banheiro começou a os incomodar. Eles bateram forte na porta da cabine.

— Hey! Túlio, responde caramba! – Esbravejou um deles enquanto esmurrava a porta da cabine. – Ou, isso... isso aqui no chão é... isso é sangue? – Ele não hesitou em arrombar a porta com um chute, mas junto com a porta que se arredou, o corpo caído foi empurrado pelo chute contra a parede.

— Hey, Mikkey, o Túlio está... – Eu estava sem muita paciência para ficar naquele banheiro, acho que fui um pouco rude de não deixar ele nem terminar a frase. Dois estavam caídos, esse último foi bem certeiro no canto da cabeça, mesmo ele sendo mais baixo. O terceiro homem me olhou atormentado, sem bem entender o que estava acontecendo. Ele colocou a mão na cintura para sacar sua arma, mas não foi rápido o suficiente. Recoloquei a PSS de volta no cinto, tirei duas luvas nitrílicas pretas descartáveis do bolso e as coloquei, fui até os corpos, vendei os olhos dos três com uma venda vermelha, peguei as carteiras para identifica-los e vi que os três portavam cartão de segurança, todos da Vernach.

Saí do banheiro, retirei meu fone e o guardei, e fui até a lanchonete. A secretária estava sentada numa mesa no canto com os quatro homens. Não tinha nenhum sinal de Augusto, como eu imaginava, ele mandou apenas assessores. Fui até o balcão e pedi um café. Enquanto esperava, meu celular vibrou, tinha uma nova mensagem.

Ele já está a caminho daí.

A garçonete passou por mim e pedi a ela uma garrafa de água. Ela me trouxe junto com o café. Retirei um pequeno canivete que ficava junto no molho de chave da moto e fiz um pequeno furo no fundo da garrafa, sem que ninguém visse. O tampei com o dedo e me levantei, fui andando até a mesa paralela a que estavam os homens e a secretária Suzanna. Enquanto ia até lá, soltei o dedo do fundo da garrafa e deixei que fosse molhando o chão. O piso era vermelho e a iluminação do lugar era péssima, então não tinha ficado visível o chão molhado. Sentei na mesa, tampei o fundo da garrafa e tomei o resto da água nela. Fiquei tomando meu café e vi que a garçonete vinha com um pedido para a mesa de Suzanna, sem ver o chão molhado ela escorregou e arremessou tudo ao ar, foi uma decolada de refrigerante e hambúrguer pelo lugar. O acerto foi em cheio em dois dos homens que estavam com Suzanna. Eles levantaram da mesa em um instante e todos viraram sua atenção para ajudar a garçonete. Além da moça no caixa, ela era a única funcionária que estava na lanchonete. Suzanna foi ajudar a garçonete junto da caixista. Os homens que foram acertados saíram da lanchonete, provavelmente para se limparem do lado de fora. Os observei sair e vi que ficaram parados do lado de fora, sem sinal de que iriam até o banheiro.  A caixista entrou com a garçonete para dentro da cozinha, e todos ficaram olhando. Eu tinha observado Suzanna tomar um suco que estava na mesa quando entrei e antes que virassem, virei um frasco com um sonífero no suco.

Quando todos voltaram a seus lugares, olhei para fora e vi que os homens não estavam mais lá, pensei que deveriam ter ido ao banheiro para limparem-se. Logo, meu tempo de agir, até que eles vissem os corpos no chão e voltassem para alertar Suzanna e os demais, estava cronometrado. Assim que se assentou, Suzanna começou a falar com os dois senhores que ficaram com ela na lanchonete.

— Bom, senhores, depois desse susto acho melhor acelerarmos nossas negociações para nãos nos demorarmos muito nesse lugar. – Disse enquanto dava goles no suco. – Já que Augusto mandou os senhores o representarem, o termo... – Ela começara a oscilar. – Me desculpem, eu estou... um pouco... um pouco son.... sonsa...

— Secretária Suzanna, a senhora está bem? – Perguntou um dos homens segundos antes dela bater com o rosto na mesa. Estava desmaiada. Tomei a deixa e vi que eles começaram a balançá-la e a chamar por seu nome. Levantei-me e fui até eles.

— O que aconteceu com a senhorita aqui?

— Eu não sei. – Respondeu um deles. – Ela desmaiou do nada. E você, quem é?

— Eu sou médico. Deixe-me ver o estado dela, talvez sua pressão tenha caído com o susto de agora, por favor ligue para uma ambulância enquanto eu afiro os batimentos dela. – O homem pegou seu celular e ligou. Eu então peguei o pulso de Suzanna e fiz uma expressão de quem se concentrava. O homem estava sério ao telefone, pela sua expressão expor aquele encontro ao público seria desgastante para a imagem deles. Assim que ele disse alô, o disparo da PSS atravessou sua garganta. O homem ao lado dele não conseguiu nem entender a situação antes de morrer também. Peguei outras duas vendas que estavam comigo e os vendei. Deixei uma esticada ao lado do rosto de Suzanna. A garçonete e a caixista não tinham noção de nada que ocorria no salão da lanchonete e nem apareceram. Deviam estar ocupadas limpando a pobre moça.

Peguei o celular da secretária e vi que ele tinha senha de bloqueio. Fui então para o ícone de chamada que ficava exposto na tela de bloqueio e fiz uma chamada de emergência. Esperei com o celular no ouvido olhando pelo vidro para ver os dois seguranças que vinham aparecerem pela janela. Quando a atendente da polícia deu o recado da chamada de emergência eu entonei meu tom para uma voz desesperada e disse.

— Socorro! Socorro! Aqui é o segurança da Secretária de desenvolvimento energético do governo do Estado, estávamos parados para abastecer e fazer um lanche no velho posto da saída sul da cidade quando... um homem de terno desceu de um carro... ele entrou abrindo fogo contra todos... já matou dois homens... – Os homens apareceram pelo vidro, correndo pelo susto de terem visto os corpos no banheiro, quando me viram em pé com a arma na mão, não temeram em abri fogo, o vidro da lanchonete estilhaçou por completo, bem em cima da secretária desmaiada. Me agachei e coloquei o telefone no viva voz e o arremessei pelo chão.

Me escorei atrás de uma das mesas e fui agachado passando por detrás dos bancos. Um dos tiros passou pelo estofado da cadeira bem na minha frente. Rolei pelo chão e atirei no primeiro. Sai correndo agachado e atirei em uma das janelas, ela estourou e eu pulei para o pátio do posto. O homem ficou na minha frente apontando a arma para mim e eu apontando para ele.

— JOGA A ARMA NO CHÃO! – Gritou ele.

— Ok, calma. – Levantei a mão.

— JOGA A ARMA!

Me agachei lentamente pondo a arma no chão.

— ENCOSTA NA PAREDE!

Me virei em sentido da parede. Como é péssimo o treinamento dos seguranças de hoje.

— Previsível. – Sussurrei. Peguei a SR-1 no cinto e disparei sem nem me virar. Ele caiu no chão assim que o tiro atravessou sua testa. Apressei-me para vendar ele e o outro que estava no pátio. Peguei a arma deles e voltei para dentro da lanchonete. Nem sinal da garçonete e da caixista. Retirei o cartucho da arma, peguei meu canivete, arranquei a etiqueta que ficava dentro da arma, coloquei o cartucho de volta, deixei a arma do lado do rosto de Suzanna, em cima da venda que tinha colocado na mesa. Derramei o suco que restava no copo no chão em cima do sangue que escorria dos homens da Vernach.

Saí da lanchonete e fui até o estacionamento. Montei na minha moto e preparei-me para sair dali. Quando estava dirigindo para a pista, olhei para trás e vi dentro da cabine do caixa do posto um homem sentado. Parei a moto ligada e fui até lá, não podia deixar nenhuma evidência, ao me aproximar, entretanto, vi que era um rapaz, estava com uns fones enormes no ouvido e vendo um clipe de um grupo de garotas no computador, pela coreografia, performance, figurino e as artistas, era alguma girlband coreana. Sorri e voltei para minha moto. Saí daquele lugar e uns cem metros à frente, cruzei com um carro indo em direção ao posto. “Chegou no horário”, pensei comigo mesmo. Uns cinco minutos, duas viaturas policiais passaram por mim. Se o meu plano fosse até o fim como o planejado, e iria, tudo ocorreria bem.

O homem no carro era Lars Dorsey, CEO da ACS. “Lars recebe uma mensagem do Rowney no celular, como se fosse um emissário da secretária Suzanna pedindo para o encontrar no posto. Ele chega no posto e estaciona seu carro na frente da lanchonete, se depara com os dois homens mortos do lado de fora, entra assustado na lanchonete, o chão cheio de cacos de vidro e comida, passos à frente, sangue pelo chão, ele vê um home caído do banco ao chão e um outro escorado no vidro, todo respingado de sangue. Vê então uma mulher com o rosto na mesa. Ele se depara com uma arma sobre a venda, pega a arma e a venda, vira o rosto da mulher e vê que é Suzanna, a secretária de desenvolvimento energético do estado. A caixista chega com a garçonete e vendo todo o cenário, grita e se segura assustada na garçonete. O homem se espanta com o grito e vira de relance para as duas, com a arma apontada. A polícia chega nesse exato momento e grita”

— Mãos ao alto! – Eu não me contive a dizer eu mesmo após pensar todo esse enredo na minha cabeça.

Segui pilotando até um bairro nobre da cidade. O bairro ficava disposto sobre uma colina, fui até uma das últimas mansões no topo do bairro. Toquei à campainha e o portão abriu. Montei na moto e entrei pela garagem. Larguei a moto lá e ali estava meu precioso carro. O velho veio fumando seu cachimbo e me entregou as chaves.

— Você está com o sorriso de quem teve sucesso menino.

— E quando eu não tive? – Disse entrando no carro. Acelerei para fora dali e fui para meu apartamento. Peguei o caminho pelo centro da cidade, vi algumas vans de emissoras de televisão saindo em alta velocidade no sentido da saída sul da cidade.

“A uma hora dessas eles já devem estar a caminho da delegacia.”

Não tinha reparado na rua que estava passando e só notei quando achei familiar aquela esquina, mais à frente vi o prédio da faculdade de arquitetura, olhei para cima pela janela do carro e o vi pela janela do terceiro andar, sentado olhando para o nada. Hugo, Hugo... só a imagem dele já era o suficiente para me alegrar. Ele não olhou para a rua e era até bom não ter me visto, eu estava um pouco sujo e suado, tinha que ir para casa tomar um banho.

Chegando no meu apartamento, fui direto para o banheiro. Liguei a banheira e fiquei esperando encher. Tirei minha roupa, coloquei meu celular ao lado da banheira, levei aquela roupa até a lavanderia, joguei na máquina, fui até a cozinha, descartei as luvas fora no triturador e subi de volta para o banheiro. Entrei na banheira e fiquei no conforto daquele banho quente.

Minha memória fazia questão de revirar o cenário daquele banheiro na noite anterior quando eu dei o primeiro beijo naquele menino angelical.

— Eu não sei se você me odiará se souber dessa minha vida, Hugo. Mas sinto que eu não consigo mais parar esse sentimento que tenho por você. – Disse afundando meu rosto na água.

Saí do banho e me enrolei na toalha, fui até o quarto me trocar. Liguei a televisão enquanto me trocava e estava passando o noticiário. A reportagem passava e fui até o banheiro pegar o celular. Vi que tinha uma mensagem, fui desbloqueando o celular andando para o quarto. Parei para ver a reportagem. Eles não perderam tempo em dar os fatos à sociedade.

— Um terrível atentado agitou este velho posto na saída sul da cidade. Aparentemente a secretária de desenvolvimento energético do estado, Suzanna Monte Cruz, trinta e sete anos, era o alvo do que se cogita ser o suspeito, o CEO Lars Dorsey da empresa ACS, uma das cinco gigantes do ramo da construção civil do país. Aparentemente ele abriu fogo contra Suzanna e seus seguranças e assessores. Não se sabe ao certo a identidade das vítimas do ataque de Lars, mas uma garçonete e uma caixista da lanchonete do posto também estavam presentes, mas não presenciaram toda a cena. Elas relataram que quando voltaram da cozinha para o salão da lanchonete, Lars estava segurando uma arma e com a mão segurando o rosto de Suzanna. Também foi dito que ele segurava uma venda vermelha e, ao que tudo indica, o assassino de aluguel responsável pelo homicídio dos sete diretores e gerentes assassinados nos últimos meses. Mais conhecido como o assassino carmesim, pelo tom de vermelho das vendas que ele coloca no rosto de suas vítimas, Lars Dorsey seguiu com a polícia para a delegacia onde ficará até que se tenham mais fatos.

Ri satisfeito ao ouvir essa notícia. Voltei minha atenção para o celular e fui ver a mensagem.

“Eu estou em uma aula que está sugando o resto das minhas forças vitais, o normal de sempre, mas lembrar de você agora me motiva a sobreviver hahahaha. Obrigado por hoje”

Hugo, essa mensagem restaurava minhas energias mais que qualquer outra coisa. Meu sorriso agora era de puro contento, só de pensar em tê-lo novamente em meus braços... Uma nova mensagem chegou e eu a abri sem querer por cima da mensagem que estava lendo.

“Assim como esperado de você meu filho, nunca falha. O dinheiro de hoje vai ser gratificante, logo estará em sua conta. HG.”


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