Culpa e Perdão: O pior de uma mente apaixonada escrita por NightlyPanda


Capítulo 4
Capítulo 4 - Caminhos e Mentes Encarados




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“Então eu tenho sorte. A noite da minha segunda não se enquadra no que se espera de comum. E eu sinto que você também não!”

Estava deitado olhando aquela mensagem com o celular esticado no ar, não consegui segurar o sorriso que queria escapar e, enquanto me perdia em uma mistura de tolice e vontade, o impacto foi bem no meu nariz.

“Como você é bobo Hugo!”, pensava comigo mesmo enquanto passava a mão pelo meu rosto atingido pela queda do celular. Era quarta a noite, e desde a madrugada de terça eu não tinha mandado nenhuma mensagem para ele, nem recebido uma também. Mas era amanhã, e os segundos passavam como se rissem do desespero que eu me envolvia. “Será que ele desistiu? Deve ter percebido a bobice que isso tudo era e o quão medíocre eu sou...”. Fui até o banheiro e me olhei no espelho, eu não confrontava ninguém, muito menos a mim próprio, mas não queria deixar toda aquela insegurança me sabotar. Encarei aquele reflexo profundamente. Pensei comigo mesmo “ele não pode me odiar ou achar que eu sou um tolo, ele nem me conhece ainda”. Eu tinha uma chance de causar uma boa primeira impressão, então devia me ater a isso. Respirei profundamente, fechei os olhos, soltei aquele ar e me retirei para dormir. Eu ia fazer de tudo para dar certo.

“E as notícias mais relevantes são: Mesmo com a oscilação da bolsa de valores do mercado da construção civil, o governo estadual publicou edital para a licitação da obra da hidrelétrica na região sul do estado. Avalistas consideram uma jogada do governador para conseguir uma economia na obra pela situação das construtoras. Até agora, apenas duas construtoras anunciaram interesse em concorrer do processo licitatório, sendo a ...”

Meus olhos abriram de uma única vez ao acordar. Não despertava tão impulsivamente assim com frequência, acho que toda essa ansiedade estava a tomar as funções do meu corpo.

Até a noite, meu dia não ia ser nada demais, mas precisava ter certeza de que tudo daria certo para meu encontro a noite. “Um encontro!”, pensei sorrindo comigo mesmo. Nunca tinha tido um com ninguém e, por mais que aqueles idiotas viviam a espalhar que eu era acompanhante de homens velhos para puro prazer e dinheiro, eu nem tinha dado meu primeiro beijo ainda. Eu sei que talvez ele nem quisesse sair comigo com algum interesse que fosse além de conhecer os leitores do seu doujinhsi, Só que eu não podia evitar de ter esses pensamentos e ideias pipocando na minha cabeça.

De banho tomado e pronto para ir para biblioteca trabalhar, eu nem iria passar no Café da esquina para tomar meu café da manhã, ia comer na lanchonete da biblioteca mesmo. Como ia passar o dia inteiro lá e depois tinha que ir para a aula, eu não ia ter tempo de voltar em casa para tomar um banho. Pensei em tomar banho no vestiário da faculdade, ele ficava sempre aberto, e toda quinta, até o intervalo, o time de handebol da faculdade treinava, era certeza que daria para tomar banho lá. Mas tinha também o banheiro dos funcionários da biblioteca, mais escondido, menos gente, mais limpo e mais prático. O que eu sabia era que eu não podia ir para o meu encontro sem tomar um banho e me arrumar, então tinha ajeitado a roupa que iria usar, o shampoo, sabonete, perfume, tudo que ia precisar, na mochila, era praticamente tudo que tinha dentro dela.

A manhã na biblioteca estava calma, passei arrumando toda a secção de literatura medieval nas estantes, era uma das minhas secções favoritas em todo o acervo. Lembro de que quando comecei a trabalhar na biblioteca, nem tinha uma secção própria para esses valorosos livros, até que eu comecei a passar por todas as secções de literatura e separar os que eram da Idade Média e, dois anos depois, estão todos aqui, ocupando nove corredores de estantes inteiros.

— Hugo... Hugo! – A única pessoa que conseguia respeitar a ordem de silêncio da biblioteca e mesmo assim ter um tom impositivo vinha em minha direção, não dava para segurar minha cara de que mais trabalho vinha a caminho. – Tem um homem nas ilhas de atendimento, ele falou que não tá conseguindo renovar o aluguel dos livros que pegou, pelo site da biblioteca, eu não entendo nada desse site, vai lá ajudar ele por favor.

— Sim senhora! Sua ordem é uma ordem mesmo, então nem adianta tentar vir com algum trocadilho.

— Anda rápido e sem fazer barulho. – Ágatha era mesmo um monstro da persuasão.

Fui até as ilhas e vi o homem de costas. “Que cachecol bonito ele tem”, pensei comigo mesmo.

— Bom dia! O senhor está tendo dificuldade de usar o portal eletrônico da biblioteca, é isso?

— Ah, oi! Isso, teria como... – Nem prestei muita atenção quando percebi que era aquele homem. Sem perceber que meus pensamentos não estavam tão mudos assim, falei o nome dele sem perceber. Ele me encarou surpreso e sorriu. – Isso, Nolan, hahahaha, não me lembro de ter tido meu nome, mas que bom que se lembrou de mim.

— Me perdoe... eu... é... – Eu era um estúpido. Não subi meu rosto de tão envergonhado que estava. Peguei o cartão da biblioteca na mão dele e comecei a mexer no computador. – Você está com os livros que quer renovar o aluguel aí? – Ainda sem conseguir olhar para o rosto dele, continuei fingindo que fazia algo de muito complexo no computador.

— Sim, sim. Eles estão aqui. São esses dois, eu não sei porque, mas não consegui renovar eles pelo site, mesmo depois de você ter atualizado meu acesso. Será que é porque eles são muito velhos?

Peguei os livros e comecei a olhar o status do aluguel no site. Quando apareceu o histórico de retiradas dele, olhei de volta para os livros e conferi novamente no computador. Os dois eram da secção de literatura medieval. Acho que minha expressão ficou mais amena e afetuosa, porque ele logo comentou.

— São ótimos livros, não são? É... – Ele olhou para mim por um momento. – Hugo, certo?

Eu olhei em seus olhos espantado. Como ele sabia meu nome? Até que percebi seu olhar para meu crachá e tudo, no caso dele, fez sentido.

— Bom, eu os renovei e você tem mais quatorze dias até ter que fazer a última renovação. Acho que o porquê você não conseguiu é que, apesar de ter atualizado seu acesso, eu esqueci de que seu cartão ainda é o modelo antigo. O novo mudou o registro, então o que está nesse cartão não é o seu registro atual na base de dados. Mas eu vou pedir um cartão novo para você, geralmente ele fica pronto em uns três dias, como hoje é quinta, lá pela terça da semana que vem ele deve estar pronto. Me desculpe não ter te avisado isso naquele dia.

— Que isso! Sem problema algum. Eu agradeço por ter renovado o aluguel dos meus livros. Quanto que é a taxa desse novo cartão?

— Ah, não se preocupe, esse fica por conta da biblioteca! Aproveite a leitura, realmente são dois livros ótimos. Se posso dar uma dica, esse segundo aqui, é de uma trilogia e o terceiro livro é o melhor deles, na minha opinião. Se animar ler os três, acho que você vai gostar.

Ele me olhou com um sorriso delicado, pegou os livros da minha mão e, ao sentir seus dedos, fiquei um pouco admirado do quão macios eram.

— Obrigado pelo conselho. – Disse ele piscando um dos olhos. – Já está na minha hora, meu dia hoje está corrido, mas até uma próxima, Hugo.

Fiquei olhando ele sair e acho que as pessoas que estavam passando por ali perceberam meu olhar admirado por aquele homem. Algo nele despertava uma emoção inominada em mim, nele ardia um charme tentador e envolvente, como se te tocasse em cada palavra que saía por sua boca e te confortasse em um aconchegante abraço, daqueles que te pegam desprevenidos, mas que você, por vontade própria ou porque sua própria vontade está domada, não consegue se libertar, na verdade, não quer.

Mas era só uma admiração esporádica, a final hoje todos meus ânimos estavam voltados para meu encontro. Por um momento tinha me deixado fugir desse pensamento e agora, o lembrando, voltava a ansiedade a pulsar viva por baixo de minha pele.

“Como será ele?”, pensava isso o dia todo. Por mais que minha imaginação rabiscasse algumas silhuetas no escuro da minha mente, eu preferia não me apegar a uma imagem de alguém definido, para que a emoção da descoberta fosse por inteira.

No almoço, fui com Ágatha até um restaurante próximo da biblioteca e lá ela ficou falando de algumas coisas triviais do dia a dia do trabalho.

— E ele é tão rude! Da próxima que ele jogar a caixa dos livros novos no chão daquele jeito eu vou pegar meu grampeador e grampear aqueles discos voadores que ele usa de orelha. Hugo? Hugo!

— Ãnh?

— Você não ouviu nada do que eu disse né? Eu aqui, extravasando o auge do meu descontentamento com aquele entregador malcriado e você perdido aí no seu mundo imaginário. Hoje o dia inteiro está sendo um ragnarök para ter um pouco da sua atenção.

— Me desculpe Ágatha, mas acho mesmo que o fim de tudo é hoje.

— Pelo menos você é bom de referências. Me diz então, porque seus deuses morrem hoje?

— Eu... – Suspirei desconcertado. Não porquê não queria contar a ela sobre meu encontro, mas meio que não queria contar mesmo. – Tem algo mexendo comigo ultimamente... alguém, como eu te disse. Acho que hoje eu vou conseguir algumas respostas. Mas eu não sei se quero ou se consigo falar mais que isso. Me desculpe.

— Ok, não é como se eu fosse o tipo de pessoa a ficar ter infernizando até me contar. Mas bem que eu achei estranho você levar aquele monte de roupa e até um shampoo na mochila para o trabalho hoje.  

— VOCÊ ABRIU MINHA MOCHILA? – Eu não tinha percebido que estava gritando até que o bebê que estava dormindo na mesa do lado acordou assustado chorando. A mãe dele me lançou um olhar mortal, como se eu tivesse aberto a caixa de Pandora e liberto todos os males na sua vida. Continuei minha indagação em sussurros mal audíveis ao ser humano. – Por quê você mexeu nas minhas coisas Ágatha?

— Alto lá, em minha defesa você não pendurou sua mochila na parede nem colocou ela no armário, simplesmente jogou ela em cima do sofá na sala dos funcionários de qualquer jeito. A moça da limpeza estava limpando a sala e perguntou onde podia colocar a mochila do conde aí que não tem braços para colocar no lugar, eu então peguei ela para por no armário, só que tava com o fecho meio aberto, no que eu peguei abriu tudo, para não cair suas coisas no chão, eu segurei, que se registre aqui um de nada, e então vi. Mas que desespero é esse, por algum acaso roubou de alguém é? Se for eu já vou na delegacia dar meu depoimento, ainda mais que tem minhas digitais lá agora.

— Eu não... Não queria que parecesse como se tivesse acusando, me desculpe. E desculpa por não ter guardado ela em um lugar apropriado. É só que eu vou ter que sair no intervalo da aula hoje e, como não vai dar para voltar para casa, vou ter que tomar banho no vestiário da faculdade e me trocar lá mesmo. Só isso.

— Por quê não toma banho no banheiro dos funcionários na biblioteca? Tem chuveiro lá, pode usar.

— Eu vou ver o que eu faço. Mas obrigado, de todo modo.

Dali voltamos para a biblioteca. O resto do expediente foi tranquilo e não apareceu mais ninguém emocionante. Resolvi por sair uns quinze minutos mais cedo da última aula antes do intervalo e tomar banho no vestiário da faculdade mesmo, assim eu ficaria mais seguro de estar limpo mais perto do horário.

Da biblioteca à faculdade, o tempo passou como que empurrado. Eu tinha aula das dezenove até as vinte e uma, teria que sair da aula uns vinte minutos antes das vinte e uma, correr até o vestiário, tomar meu banho e me arrumar antes que os meninos do time de handebol fossem para lá, guardar minhas coisas no meu armário e discretamente sair da faculdade. Essa última parte era a mais tranquila, normalmente eu não era nada mais que uma sombra. O problema é que até dar o horário que eu tinha planejado em ir ao vestiário, parece que alguma força cósmica transcendente segurava o tempo para que os minutos não passassem de jeito algum. Quando mais chegava perto do horário, mais inquieto naquela sala eu ficava, e, pela primeira, vez algum professor percebeu minha presença na sala de aula.

— Você inquieto aí atrás, algum problema? – Percebi então que todo mundo estava olhando para mim, eu fiquei um pouco pasmo, não porque para aquele professor eu era um “você inquieto” sem nome, mas por todos aqueles olhares, me petrificaram um pouco.

— Não, eu só não estou me sentindo muito bem, eu posso ir até a secretaria professor?

Ele acenou e ficou me olhando juntar minhas coisas e sair da sala. Saí o mais rápido antes que ele perguntasse mais alguma coisa ou intervisse na minha fuga. Acho que o fato de eu ser sempre oculto na sala de aula o fez não fazer nada enquanto eu corria para o corredor.

Tinha saído uns cinco minutos mais cedo do que planejava, o que era até melhor. Corri até a quadra e fui para os vestiários. Peguei o corredor do masculino. Quando coloquei a mão na maçaneta, ela não abria.

“Não, não, não, não!”. O vestiário estava trancado. Eu fiquei pensando no que ia fazer quando ouvi umas vozes do outro corredor. Cheguei na entrada para ver e, karma ou não, o vestiário feminino estava aberto. Cogitei se realmente ia fazer aquilo, olhei no relógio. Exatamente vinte minutos para as vinte uma. Esperei um minuto e me certifiquei que ninguém estava no vestiário, bati na porta da entrada duas vezes, ninguém respondeu. Tomei coragem e entrei. Estava sozinho lá dentro. Na minha cabeça, tudo que passava era o quão ferrado eu estava se alguém me pegasse ali. Deixei minhas coisas no banquinho de madeira, peguei meu shampoo, sabonete e toalha, entrei para uma das duchas, fechei a porta e tomei meu banho. Ninguém tinha entrado até agora. Me esfreguei e enxaguei o mais rápido e vigoroso que consegui. Sai já me secando e me envolvi na toalha, passei o perfume por todo o corpo, comecei a me vestir. Cueca, meias, calça e...

— O que você está fazendo aqui, exatamente?

Eu olhei para a entrada, tinha uma moça me encarando ali. Eu fiquei completamente em choque e assustado, cobri meu corpo com a toalha, exatamente como uma garota quando tampa os seios ao se cobrir. Minha expressão foi para um rosto de susto e algo próximo ao espanto e início de choro por preocupação. Ela ficou me encarando e eu tentei me explicar.

— Eu... eu só... é que... – Eu nunca gaguejei tanto em minha vida, parecia que eu não sabia mais falar, minha voz tremia e eu comecei a soluçar.

— Você não se sente confortável no banheiro dos meninos, não é? – Isso era tudo o que eu não imaginei que ela falaria. – Pode acabar de se trocar aqui, fica tranquilo! Não precisa ter medo, eu só me assustei com um menino descamisado se trocando no vestiário feminino. Eu vou ficar ali fora para não deixar ninguém entrar, pode se trocar em paz. Eu sei que a direção é conservadora e não entende essa questão dos banheiros para pessoas que não se sentem confortáveis ao usar o socialmente imposto, e aqui não tem vestiário social. Eu acho isso ridículo, mas fazer o que.

Eu fiquei perplexo com o que tinha acabado de acontecer. Em hipótese alguma esse era o fim que eu esperaria para aquela situação. Mas fiquei extremamente feliz por não ter sido linchado para fora dali e acabar parando na direção. Terminei de me arrumar, vesti minha camisa jeans e casaco por cima, penteei meus cabelos, e me observei no espelho. Até que pela pressa e pelo susto do que tinha acabado de acontecer, eu estava adequado. Saindo do vestiário, tinha me esquecido que ela ficou de me esperar lá fora, só me dei conta quando senti uma mão segurando a minha.

— Pode ficar tranquilo, eu não vou contar para ninguém. Eu compreendo que não deve ser fácil para você. – Ela então me abraçou e pôs as mãos sobre minhas bochechas. Eu realmente estava muito confuso e sem saber o que fazer. – Meu nome é Lolla, pode saber que você tem uma amiga aqui na faculdade. Até mais.

Eu nem consegui dizer uma palavra. Ela saiu bem como chegou, sem anunciar, da forma menos esperada e mais inexplicável possível. Bom, eu fiquei um pouco em choque, confesso, mas não tinha tempo para aquilo. Já tinha passado quinze minutos depois das vinte e uma, ele ia me encontrar no fim da rua da faculdade as vinte uma e trinta, eu tinha que me apressar. Fui até o corredor que ficava meu armário, no quinto andar do prédio. Não podia sair correndo para não ficar suado, mas andei o mais rápido que conseguia em passos normais. Aproveitei-me das pessoas passando pelo primeiro andar e do fato de que estava sem mochila, sai pela portaria com o celular no ouvido, fingindo que falava com alguém, para que ninguém me perguntasse nada. Tinha conseguido. Na escadaria que dava para rua, vi que tinha uma notificação.

“Estou saindo de casa agora. Em uns sete minutos chego aí!”

“Tranquilo. Eu vou te esperar na esquina da rua, já já eu desço.”, respondi para ele respirando profundamente quando me dei conta de que aquilo era real e estava acontecendo. Eu tinha que chegar ao fim da rua, e era no sentido oposto ao metrô, então, aproximadamente, tinha uns setecentos metros até lá. Fui andando calmamente, tinha um tempo razoável para ficar na esquina parecendo que eu tinha estado ali esperando.

“Quando ele quiser me trazer de volta eu vou ter que descer aqui na rua da faculdade, vou ter que pegar um táxi até em casa.” Estava chegando na esquina, uns oitenta metros para chegar, quando senti um frio me atingir nas costas da minha mão esquerda. Olhei para cima e uma gota me acertou bem no meio da testa. Foi questão de segundos até o céu ser rasgado e aquele dilúvio começar a cair. Eu não conseguia acreditar naquilo. Corri para a esquina, mas não tinha onde me esconder da chuva. Olhei para trás e vi que, do outro lado da rua, tinha um banco aberto. Corri para atravessar a rua, sem olhar para nenhum dos lados, atravessei e, no meio da faixa, só consegui ter tempo de fechar os olhos e ouvir a freada.

Quando abri os olhos, vi um vulto dentro do carro me olhando assustado. Arredei para o lado e continuei a atravessar. O carro seguiu até mais a frente e parou na esquina. Fiquei olhando ele e não me parecia ser possível a hipótese. Então ele começou a digitar algo em seu celular e ficou olhando para baixo. Eu olhei na tela do meu e tinha uma notificação.

“Estou aqui em baixo. Acho que você não desceu ainda por causa da chuva, quer esperar para um pouco?”

Aquilo era coincidência demais para ser errado.

“Eu já estou aqui embaixo, na verdade acho que estou olhando para o seu carro agora.”

Fiquei encarando e percebi que ele olhou para trás. Balancei o celular com um sorriso torto para ele. Vi então que as luzes do carro se ascenderam, ele fez a conversão ali mesmo e veio em minha direção. Eu estava debaixo do assoalho do banco, naquele susto nem tinha entrado dentro da agência. Ele parou o carro na minha frente, saiu encoberto por um blazer, me envolveu e conduziu até a porta do passageiro. Confesso que até entrar naquele carro não tinha me dado conta de que eu estava encharcado. Na correria do que aconteceu eu nem reparei no rosto dele. Enquanto ele entrava no carro, entretanto, um cheiro peculiar me tomou o olfato. Eu tentei lembrar de onde conhecia aquele perfume e recordei no momento exato que ele foi falando comigo e se virou.

— Como isso aconteceu que eu quase te atropelei? Me desculpe, eu estava tão distraído em chegar rápido e...

Nós dois nos olhamos e ficamos encarando um ao outro. Ele riu e passou a mão pelo meu rosto molhado.

— Eu sabia que você já estava na minha vida, Hugo.


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