Culpa e Perdão: O pior de uma mente apaixonada escrita por NightlyPanda


Capítulo 3
Capítulo 3 - Caminhos e Mentes Destinados




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“Você não teria coragem Nolan. Eu sou seu pai, lembra?”

— Pai? - O relógio em cima do criado despertava e tocava o alarme, acordei com o corpo suado, olhei para os cantos do quarto, só eu. Levantei e peguei meu robe, coloquei sobre mim e fui até o banheiro. Liguei a banheira e a deixei enchendo, no balcão da pia, abri a torneira e deixei a água escorrer por aquele vidro côncavo que formava o recipiente, enxaguei meu rosto e, sem saber se já tinha despertado, encarei aquela face molhada no espelho. Eu e todo aquele nada no ambiente, olhei pelo espelho, aquele enorme banheiro, as paredes brancas, as plantas que o decoravam, a banheira que enchia, eu. Desiludi-me daqueles pensamentos e entrei para meu banho.

Debaixo daquela água quente, os jatos de água e bolhas atingiam meu corpo por todos os lados. Afundei minha cabeça até o meu nariz embaixo d’água e fiquei olhando minhas mãos. As lembranças daquele sonho me atingiam mais que a de qualquer outra coisa. Relapsos escurecidos daquelas cenas me tomavam a imaginação assim que fechava os olhos.

“Ela era o quê, só mais uma em suas mãos? Você é um monstro.”

“Pelo visto você também!”

Balancei a cabeça querendo esquecer aquilo, tinha muita coisa a resolver no dia que corria enquanto eu estava igual um idiota me atendo a pensamentos inúteis. Levantei-me da banheira e me envolvi na toalha, depois de secar-me, fui até o closet. Tinha que passar no escritório assim que saísse de casa e, quando saísse de lá à noite, tinha um trabalho de campo para fazer. Optei pelo meu visual todo azul, aquele smoking em tom marinho era o meu favorito. Desci para a cozinha e preparei meu café, fiz minha refeição sentado na mesa da varanda e olhei toda a cidade. Como era calma a vista do horizonte por de cima, não parecia que havia todo aquele caos que tomava conta das ruas e esquinas no solo da cidade. Tudo resolvido, fui para o corredor pegar o elevador, enquanto descia aqueles dezenove andares, me sintonizava comigo mesmo. Era o décimo andar quando entrou uma mulher e uma criança, parecia ser sua filha. Fiquei olhando para aquela menina, conversava com sua mãe sobre os assuntos mais confidenciais que uma criança que devia ter seus cinco anos poderia falar à mãe, fitava o rosto de sua boneca enquanto os braços daquela mulher a envolvia no colo. Por um minuto me lembrei dela, já faziam tantos anos.

Na garagem do prédio me dirigi ao meu carro. Aquele Maserati vermelho era o mais próximo de um grande amor na minha vida. Entrar naquele carro e dirigir por aí era uma sensação de liberdade e poder que não se explicava em qualquer forma de vida existente. Não me importava nem um pouco que todos olhassem para mim ao passar pelas ruas da cidade dirigindo essa preciosidade, me impulsionava a desafiar ainda mais o asfalto e a mim mesmo.

Chegando na empresa, o segurança do estacionamento nem acionava o manobrista ao ver meu carro na entrada, sabia que ninguém além de mim dirigia aquele carro. No hall de entrada, caminhei em direção aos elevadores. Enquanto caminhava, uma voz me acompanhou a passos apertados pelo trajeto.

— Bom dia senhor Dawson! O senhor é aguardado na presidência para a reunião das nove. O portfólio e todo o material da reunião já se encontram no seu aguardo. Depois da reunião, os documentos que precisam ser assinados pelo senhor estão na sua sala, o senhor pode os deixar lá após assiná-los que eu peço para o secretário do departamento RH postar todos para os destinatários.

O elevador se abriu, entrei e me virei para a saída, olhei para a secretária que me acompanhou relatando os afazeres do dia, acenei com a cabeça para ela enquanto as portas do elevador se fechavam. Ao abrir das portas, Rowney, o secretário da minha sala, estava à minha espera já com toda a papelada da reunião e meu expresso matinal.

— Nolan, aqui está o portfólio e os dados dos clientes que estão na sala de reunião com o presidente. Ele está ansioso para te ver, já perguntou por você umas cem vezes desde que chegou de viagem na sexta de manhã. Eu mesmo fui buscá-lo no aeroporto, ele disse que fica aí até quarta, mas que antes de ir precisava de tratar de alguns assuntos do interesse da empresa com você. Acho que depois dessa reunião ele deve te segurar lá dentro para conversar sobre isso.

— Eu sei exatamente sobre o que ele quer falar. Aqui, tome. – Passei uma pasta preta lacrada para ele e acenei com o rosto. – Você sabe o que fazer com isso.

Me dirigi até a sala de reuniões da presidência, respirei fundo e abri a porta. Lá já se encontravam todos que participariam da reunião. Virado para a vidraça, admirando a vista da cidade, estava ele. Henry Górki, presidente da HG+, empresa especializada no ramo administrativo e desenvolvimentista de novas empresas. Não era à toa que o logo da empresa era um polvo com os oito braços arqueados, em um degradê metálico de roxo psicodélico. O polvo é um animal que desova uma enorme quantidade de ovos, a analogia era essa, nós somos uma empresa que “cria” novas empresas, fornecendo toda assistência de gestão, marketing, publicidade, departamento jurídico e administração financeira, para depois revender essas empresas pelas bolsas de valores globo à fora. Mas também atuamos comprando empresas a beira da falência, reestruturamos e fazemos a mesma coisa, revendê-las. A reunião de hoje era acerca de um projeto que vínhamos desenvolvendo a um bom tempo, no setor da construção civil.  Os representantes presentes para a reunião de hoje eram, em sua maioria, de empresas estrangeiras, que queriam se firmar no mercado nacional.

— A mente por trás do sucesso! Meu bom garoto Nolan, que bom que chegou. Damas e cavalheiros presentes, creio que mais ninguém falta para que nossa reunião prossiga.

Górki era um homem carismático, completava seu mais de meio século de vida. De origens russas, era um homem alto, grande, de feições fortes, mas sempre com um sorriso interesseiro no rosto. A amargura de seus traços, todavia, não deixavam o tomar por engano do homem que era. Além de presidente da HG+, era o responsável por me inserir na alta sociedade econômica que faço parte hoje. Pode se dizer que ele era e é o detentor das oportunidades que me levaram a estar onde estou hoje.

Enquanto apresentava os dados e todas aquelas planilhas e gráficos para os representantes, percebi que Górki fixava seus olhos na porta da sala.

— Como os senhores podem ver, devido as recentes situações, três das cinco maiores construtoras civis do país passam por uma reestruturação interna, o que tem abalado bastante o valor de mercado de suas ações. A HG+ está empenhada em inserir, quem quer que no fim dê o maior lance sobre o projeto que estamos a concluir, como a nova líder do mercado de construção civil do país. A empresa que estamos desenvolvendo contará com capital de giro inicial na casa dos quatro bilhões de dólares, terá plena capacidade para, assim que revendida no mercado, fixar-se autônoma e independentemente como a empresa de grande porte que está sendo idealizada. Os gráficos apresentados no tópico seguinte, do portfólio que os senhores e senhoras tem em mãos, mostram que não apenas estamos fazendo pretensões, mas sim trabalhando com dados reais. – Nesse momento a porta da sala abre-se, ninguém desvia o olhar e a reunião segue normalmente. Enquanto apresento os dados levantados, Rowney entrega a pasta preta para Górki e se retira da sala. Sem desviar do assunto que tratava, acompanho os olhos de Górki ao analisarem aquele material. – Bom senhores e senhoras, este detalhamento de ações e gastos mostra que o dinheiro que as empresas, aqui representadas por vossas senhorias, está sendo aplicado e investido até o último centavo, e retornará três a cinco vezes mais para os cofres de vossas empresas.

A reunião seguiu e, após todo o protocolo das explanações, troca de telefonemas com sócios, celebração com o banquete final, Henry não escondia mais a ansiedade por termos uma conversa a sós.

— Foi um prazer reunir com os senhores essa noite. – Dizia enquanto guiava os três últimos homens no local até o elevador. De volta para a sala de reunião, Górki estava sentado em sua cadeira virado para as janelas. – O senhor queria conversar comigo?

Ele virou a cadeira e abriu a pasta na mesa.

— É exatamente para isto que eu lhe pago Nolan. Impecável. Três da Redmount, três da Hellingher e um da Vernach. E apesar da sua assinatura, ninguém chegou a suspeito algum. Não que eu cogitei a polícia investigando a fundo os dois motoristas, mas os cinco empresários e nenhum rastro. As vendas, apenas, e nada chega a você. Olhe essas fotos, esses corpos jogados ao chão, todos vendados, sem nem verem de onde o destino os encontrou. Você foi bem treinado meu filho, com o melhor que o dinheiro pode pagar, mas o êxito maior está dentro de você, essa é a sua natureza.

— Obrigado, senhor presidente.

— Ah meu rapaz, sem formalidades entre nós dois. Você é o diretor geral dessa empresa, você é meu agente particular de, digamos, negócios estratégicos, mas antes de tudo, você é da família. Não são todos que tem esse tratamento, a maioria são peões, mas você, eu não te tirei daquele lugar atoa, não foi mesmo? Mas me diga, como vão os preparativos para nosso próprio movimento?

— Eu andei investigando bem a rotina da nova direção da Vernach. O novo diretor, o senhor deve conhecer, era o segundo sócio de prestígio, Augusto Fernando. Ele não parece ceder em continuar com os planos de Heitor de pegar o projeto da hidrelétrica que o governo estadual vai propor. Apesar da crise e das dívidas, que a queda das ações da empresa causou após a morte de Heitor. Augusto vai ter uma reunião com os executivos do governo, parece que alguns representantes do alto escalão vão estar também. Eu já tenho algumas escutas programadas, os celulares de dois garçons que vão servir na reunião já foram grampeados para servirem de escuta, eles vão estar sempre ao lado da mesa. Depois dessa reunião, eu vou ter meu plano de ação com meus alvos. O senhor pode ficar tranquilo em voltar na quarta, tudo vai estar pronto.

— Bom, muito bom meu filho. – Ele se levantou da cadeira e, de pé de costas para mim, olhou para o celular e depois admirou a vista. – Eu vou voltar hoje à noite ainda. Alguns problemas de menor importância estão precisando da minha atenção. Não creio que vai ter problema algum para você lidar com isso sozinho, à final de contas, trabalha sozinho, não é mesmo. – Ele então se virou, andou até mim e com as mãos sobre meus ombros completou. – Eu espero pela finalização desse estágio do projeto com o sucesso de sempre. O seu pagamento da outra encomenda já está na sua conta, o dessa semana, eu mando depositarem assim que tiver as fotos das entregas em minhas mãos.

Saindo da sala, Górki seguiu para o heliponto no terraço do prédio. Eu então olhei no relógio, faltavam vinte minutos para as vinte horas. Fui até a minha sala, lá vi aqueles documentos em cima da mesa, tinha esquecido que precisava assiná-los. Passei rapidamente os olhos sobre eles e os assinei. Passei pelo setor de RH e deixei todos lá para agilizar a vida do secretário, já que eu tinha atrasado. Desci de elevador até o hall e de lá segui para o estacionamento. No carro, tirei o blazer e o ajeitei sobre o banco do carona, coloquei meus óculos e em uma arrancada só, me dirigi para onde deveria estar. A reunião entre a direção da Vernach e os membros do governo do estado seria num restaurante francês na parte alta da cidade, eles deveriam chegar lá por volta das vinte e uma, então eu precisa estar com tudo pronto antes das vinte e quarenta. Chegando na rua do restaurante, passei reto pelo local. Contei ao menos dois carros oficiais nos cruzamentos que ligavam a rua principal, cerca de seis seguranças fariam a vigia do local. Prática de governo, tratar todas as reuniões com o mais alto gasto, incluindo restaurantes finos, seguranças do lado de fora, com certeza teriam mais dois ou três seguranças dentro quando os executivos do governo chegassem. Na rua atrás do restaurante tinha um pequeno estabelecimento, um restaurante chinês barato, parei o carro na esquina atrás dele e me arrumei lá dentro, levei o computador e fui para uma mesa nos fundos. Pedi uma porção de frango caramelizado e rolinhos primavera, abri o computador e coloquei os fones, sintonizei o meu celular com o celular de um dos garçons que já estava grampeado e o do outro usei de amplificador do sinal do Wi-Fi do restaurante que seria a reunião. Mandei um sinal no celular que estava amplificando e quando recebi o sinal de volta, sabia que eles estavam em posição. Consegui abrir o sistema interno de câmeras de lá no computador, com ajuda do Wi-Fi que chegava até aqui. Vinte e uma em ponto e eles começaram a chegar. Pelas câmeras consegui ver a entrada do restaurante.

Primeiro chegaram os membros da direção da Vernach, Augusto e outros dois. Logo em seguida, mais dois carros, deles saíram os membros do governo, eram três homens e uma mulher. Pelo rosto, sabia que ela era a secretária de desenvolvimento energético, Suzanna Monte Cruz. Assim que eles entraram, mudei para a visão das câmeras internas. Configurei a frequência dos celulares para ter a melhor sintonização do sinal e poder ouvir o mais claro possível. Após uma ladainha de cumprimentos e elogios à atuação de ambas as partes e, assim que chegaram os primeiros pratos, eles começaram a falar de assuntos que me interessavam.

“Bom, secretária Suzanna, como todos sabem graças a especulação midiática dos últimos dias, a Vernach anda com alguns problemas financeiros. Nossas negociações, que caminhavam certeiras para a entrega do projeto licitatório da hidrelétrica ao sul do estado em nossas mãos, não se encontram mais tão tranquilas assim. Se entrarmos para a disputa licitatória, pela ação da lei de transparência dos valores e lances, não conseguiríamos sair vencedores nessa disputa.”

“O governador sabe bem que a situação da Vernach anda precária, Augusto. Mas, como ele tinha prometido a Heitor, a obra será sua. Depois da morte de Heitor, confesso, as ações que tomaríamos ficaram muito mais complexas e foi necessário repensar toda nossa atuação. Cogitamos até postergar o lançamento do edital da licitação, mas como ano que vem já são as eleições estaduais, o governador precisa, digamos, desse incentivo. Então o que o governo propõe é o seguinte: a Vernach se inscreve no edital da licitação da hidrelétrica do polo sul do estado, e na obrigação da obra vamos fraccionar o projeto em três partes. Vocês dão o lance para a parte mais reduzida da obra, que terá valor menor, e assim, dentro das normas e da legalidade do edital, vão ficar com essa parte. Depois, de iniciada a obra, o governo vai rescindir o contrato das duas outras partes, vamos alegar algum fator do empreendimento que impossibilite o andamento das mesmas. Ao fim do ano, expandimos a intenção da parte que restou, a de vocês, e como já vamos ter a Vernach como construtora de “menor custo”, conseguimos manter vocês no plano original inteiro.  Depois disso, vocês andam com as obras em força total até o meio do ano. Lá, rediscutiremos o valor alegando perda pela inflação. Como vai estar em época de campanha eleitoral, a justiça vai interditar qualquer negociação desse porte, mas, como o governador é o favorito à reeleição, é quase certo uma continuação de sua gestão, então, após os resultados, elevaremos o valor da obra e assim, garantiremos vocês, com os lucros, e nós, com a eleição e o “caixa”.”

Então era essa a ideia por trás do discurso oficial de “manter a política administrativa de Heitor” que Augusto declarou. Eu precisava saber agora as datas que eles executariam os planos para então colocar minha tática em ação.

Enquanto eles conversavam sobre o edital da licitação, olhando pelas imagens das câmeras no computador, o chef do restaurante saiu da cozinha e se dirigiu até a mesa deles para perguntar o que achavam dos pratos. Eu só queria que aquilo acabasse rápido para que eu concluísse o trabalho e pudesse voltar para casa. Eles ficaram jogando elogios fora com o chef e, pelo visto, eu não teria muito mais informações naquela noite. Achei que só com aquelas escutas no restaurante eu estaria resolvido, mas pelo visto eu teria que colocar em prática a segunda parte do plano. Guardei tudo, paguei pelo que consumi e agradeci ao rapaz que ficava no caixa pela comida. Fui no carro, peguei um casaco de lá no porta-malas e coloquei minhas lentes cinzas nos olhos, coloquei uma boina na cabeça, peguei os adesivos para mudar as duas primeiras letras e os três últimos números das placas do carro, dirigi até a esquina, duas ruas ao lado do restaurante onde estava acontecendo a reunião. Virei o carro para a rua em sentido ao restaurante e fiquei esperando eles saírem.

Quando vi os seguranças do governo saírem e ficarem escorados na esquina do restaurante, liguei o carro e o deixei pronto para arrancar. Assim que Augusto saiu, o manobrista foi buscar o seu carro. Ia esperar até ele colocar o carro na entrada para que Augusto estivesse no meio da rua, mas nem foi preciso, ele já me adiantou esperando no meio da rua. Acelerei o carro até ele e, ao me aproximar, freei bruscamente.

— Augusto! – Gritaram inúmeras vozes.

—Meu Deus! – Sai do carro com a maior expressão de desespero, me ajoelhei ao lado dele na rua, não o tinha acertado, foi próximo o suficiente para que ele se assustasse e caísse no chão. – Senhor! O senhor está bem? Me desculpe, eu não sei o que deu em mim, o sinal abriu e eu estava olhando para ele, pelo horário achei que a rua estivesse vazia. O senhor está bem, machucou algo?

— Eu... eu estou bem. Nem vi direito o que aconteceu. Não me acertou, foi só o susto.

— Você está louco? – Gritos se dirigiram em minha direção. - Como dirige nessa velocidade em uma área dessas? Augusto, você está bem? Eu vou chamar a polícia! – A secretária do governo estava possessa, me olhou como se fosse me prender ali mesmo. Mas, por algum motivo, ela não revelou que era do governo, o que normalmente, para ostentar poder e dominação, todos eles fazem.

— Por favor, eu arco com qualquer prejuízo que causei ao senhor, mas não precisa chamar a polícia. Aqui, me dê o seu celular, eu vou o passar o meu, qualquer coisa que eu lhe causei de prejuízo eu me responsabilizo. – Demonstrei certo desespero, para ver se ele dava mais atenção ao que eu falava, já que estava meio desnorteado pelo susto. – Me dê o seu celular, vou salvar o meu número e o senhor pode entrar em contato comigo.

Ele não estava muito ciente da realidade, estava com as pernas tremendo pelo susto. Me entregou o celular sem muito entender o porquê eu o tinha pedido. Salvei o número no celular e liguei, entrei no meu carro, peguei um celular no porta-luvas e mostrei que estava chamando e atendi à ligação. Me certifiquei que ele estava de pé e, novamente, pedi desculpas a todos. Entrei no meu carro e segui caminho. Tenho certeza de ter ouvido Suzanna dizer que “por ela chamaríamos a polícia”, enquanto eu entrava no meu carro.

Tinha conseguido, à final. O número que eu liguei não era o meu. Bom, era, mas não o do meu celular, mas sim de um aparelho clone, a função dele era estabelecer contato direto no chip do celular que ligasse para ele, atendendo a ligação, como o fiz, o outro aparelho estava grampeado. Sempre que o aparelho grampeado recebesse ou fizesse uma ligação ou recebesse ou mandasse uma mensagem, arquivo, imagem, dados, o meu clone teria acesso. Só tinha que ficar atento quando a secretária Suzanna fizesse contato com Augusto.

Chegando em casa, fui tomar uma ducha e me arrumei para dormir. Antes de deitar, fui até a cozinha, abri uma garrafa de vinho e enchi uma taça, subi para o meu quarto. Vi então que tinha deixado uma luz no fim do corredor acessa, era do meu atelier. Eu gostava de chamar aquela sala assim, aquele era o lugar onde eu desenhava de vez em quando, mas principalmente onde meus doujinshis ganhavam vida. O computador estava ligado, coloquei minha taça sobre a escrivaninha e resolvi continuar a desenhar aquele capítulo, não tinha o terminado para domingo, ontem no caso, então resolvi continuá-lo naquele momento. Me perdi pelas horas enquanto desenhava no computador aquelas páginas do doujinshi, acabei terminando aquele capítulo e, apesar de não ser domingo, não queria esperar até o próximo para postar, então fiz o upload dele naquela madrugada de terça mesmo. Fechei os aplicativos e a plataforma que postava o doujinshi, desliguei o computador, olhei para a taça que já estava vazia e resolvi deixá-la ali mesmo, caminhei até o quarto. Retirei meu robe e deitei na cama. Meu celular, que estava na mesa de canto, sinalizou uma nova notificação.

“Feliz que você postou o capítulo ^_~ Fiquei esperando o domingo todo por ele, estou adorando acompanhar esse doujinshi!”

Acho que podia o chamar de admirador secreto. O dia tinha sido tão exaustivo que eu nem lembrava o quanto eu estava me entregando emocionalmente aquelas conversas que mantinha com ele. Lembrei do nosso encontro na quinta, ansiava por isso. Era estranho e perigoso eu me deixar sentir tudo isso, mas não queria evitar esses sentimentos.

“Mal consigo esperar por essa quinta. Saber que por trás dessas mensagens inspiradoras tem um rosto me motiva a contar os segundos para te ver”

E era a mais pura verdade. Eu ansiava por ver o rosto responsável por inquietar toda estrutura amórfica dos meus dias. Aquela quinta parecia anos a partir dessa madrugada, e, ao mesmo tempo, como se assim que eu piscasse os olhos, estaria ali.

“Não crie tantas expectativas... eu sou bem mais comum que uma entediante noite de segunda”

“Então eu tenho sorte. A noite da minha segunda não se enquadra no que se espera de comum. E eu sinto que você também não!”


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