Culpa e Perdão: O pior de uma mente apaixonada escrita por NightlyPanda


Capítulo 11
Capítulo 11 - Caminhos e Mentes Perturbados




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— Há quanto tempo meu sobrinho. Como você está?

Ouvir aquela voz pelo telefone não me parecia real, já tinha tanto tempo que eu não tinha notícias dele. Meu tio, eu nem sequer me preocupava com a existência de qualquer familiar há tanto tempo, já não me parecia real a ideia de ter uma família. Esse era um termo para mim que já não tinha muito significado em minha vida.

— Eu... eu estou... bem.

— Eu sei que você deve estar um pouco confuso com essa ligação sem qualquer razão, acho até que você não esperava mais que eu te ligasse. Peço perdão por isso Hugo, mas ultimamente tanta coisa tem acontecido, os negócios vão a todo vapor e a saúde de sua tia não anda muito boa.

— Ela...

— Ela está bem, só não tem facilitado muito ultimamente, mas ela está se recuperando. Bom, eu não te liguei para falar da saúde desses dois velhos tios que você tem. Desde que você saiu do internato na Noruega e voltou para estudar Arquitetura, eu não o vejo. Já fazem quase quatro anos isso. Mas não me esqueci que seu aniversário é no próximo sábado e é por esse motivo que estou te ligando. Sua tia anda falando muito de você e nós dois sentimos um pouco sua falta, sei que não fomos os tios mais presentes do mundo, mas você sabe que optamos por respeitar suas escolhas e seu espaço pessoal, como quando você escolheu retornar para estudar e vender todo o inventário. Nós sabemos que você é reservado e introvertido. Igual a mim. Só que já faz um certo tempo, então sua tia e eu pensamos em lhe chamar para passar seu aniversário conosco, aqui na Suíça. Nós estamos em nosso chalé nos Alpes, sua tia ficou feliz com a ideia. Já comprei suas passagens, você passa a semana conosco. Eu sei que tem sua faculdade, mas uma semana não fará problema.

— Tio, eu...

— Você não precisa vir se não quiser, mas acho que seria bom Hugo. Você fica sozinho até demais, mesmo para você. E você é tão jovem. Eu acho que não posso o culpar, eu era exatamente igual. Acho que a idade anda me amolecendo um pouco hahaha. Mas de qualquer modo, vou mandar as passagens no seu e-mail. Se você decidir por vir, estaremos sempre de braços abertos para você. Agora, se você me desculpar, eu preciso ir buscar sua tia no médico. Esperamos você Hugo.

Eu não tinha entendido o que tinha acabado de acontecer. Uma ligação do outro lado do continente e de repente eu tinha uma família me procurando? Eu não sabia o que pensar daquilo. Meus tios... Já não os via a tanto tempo que nem conseguia imaginar a feição deles. E agora eu estava recebendo o convite para os visitar, sem mais nem menos. Uma ligação e todo um passado vem me procurar. Eu não tinha ideia do que estava acontecendo. Por que agora? Por que eu? Tinha tantas perguntas passando em minha cabeça e eu não sabia a resposta de nenhuma delas. Meu aniversário... Eu nem sequer lembrava que estava tão perto assim, não era como se fosse uma data que eu me importasse ou esperasse mais que qualquer outro dia. A única coisa que me importava do meu aniversário é que eu costumava ver como se faltasse um ano a menos de existência nessa perda de tempo que é a vida. Nem sei mais o que eu acho disso.

Não podia ficar ali pensando nesse tanto de coisa e não chegando a conclusão alguma, precisava fugir daquilo um pouco. Arrumei minhas coisas e saí para ir encontrar Ágatha na biblioteca. Por todo o caminho até lá, não conseguia deixar de pensar naquele homem me chamando de sobrinho e me convidando para uma viagem até a Suíça para rever toda uma família que eu sequer me preocupava em pensar na existência. Eu não conseguia entender o motivo para aquela ligação, não podia ser apenas por causa de uma data de aniversário, eles jamais se importaram com isso.

A biblioteca estava completamente vazia, mas meus tempestuosos pensamentos enchiam todo o ambiente. Não tinha ninguém na portaria, nem mesmo o segurança que costumava ficar sentado na entrada. Subi então para a sala dos funcionários. Enquanto subia as escadas, olhava aqueles salões cheios de estantes repletas de livros, sem ninguém entre elas ou sentado nas mesas ao centro. Olhava aquilo e me perdia na imagem dos tantos dias que já passei entre essas estantes, circundado por infinitas histórias, contos das mais diversas vidas entre esses livros, sem jamais lembrar da minha própria história, sem me preocupar que eu mesmo tinha uma. Pela secção de literatura medieval, foram tardes e tardes arrumando livros de bravos guerreiros, crônicas de reis e epopeias de amores que se lançaram em cruzadas por terras a serem desbravadas. E dentro dessas estórias, me deixava viver, sem me preocupar com a realidade da minha vida. Agora, ela batia à minha porta.

Dentro da sala dos funcionários, rodeava pelas fotos estampadas no mural, de todos da biblioteca nos eventos e reuniões. Três anos já passaram desde o meu primeiro dia aqui. De tudo, não podia reclamar, a biblioteca foi o mais perto de um ambiente familiar que eu tive depois que... bem, depois dos meus nove anos. Ali eu conheci a Ágatha, ela era uma pessoa extremamente singular nesse mundo. E apesar do jeito vitoriano, era ela a pessoa mais próxima de mim nessa cidade. Meu Deus, um telefonema do além e eu já estava parecendo um idiota se despedindo da vida, antes fosse.

— Se bem que morrer agora não seria uma boa pedida. Tem ele e...

— Você falando sozinho é novidade senhor Costello!

— Ágatha!! Me desculpe, eu... eu não vi você aí e... bom, é, estava só pensando um pouco alto demais.

— Uhm... Resolveu subir de volta do inferno e se mostrar aos mortais desde daqui? Como você estava ocupado demais para dar sinal de vida, eu nem lhe incomodei perguntado onde estava. Mas já ia te ligar, fiquei sabendo hoje de manhã do que aconteceu ontem, do desabamento e tudo mais. Estava em reunião fora da cidade com os sócios do grupo da biblioteca, completamente desantenada do que estava acontecendo aqui. Você não estava lá no prédio que desabou? Está tudo bem, né?

— Mais ou menos, e sim. Era para eu estar lá sim, mas mudaram o local de última hora, eu cheguei a ir lá, aí fiquei sabendo da alteração e fui pro novo local. Não me aconteceu nada, então posso dizer que estou bem sim, mas...

— Mas...

— Eu não sei, aconteceu algo hoje e eu não tô muito sintonizado.

— Bom, eu não sou do tipo que fica cutucando até você falar, então se quiser desembuchar, eu vou estar estirada aqui nesse sofá ouvindo, se não pegar no sono antes.

— Isso porque diz que trabalha até descamar...

— O que que você tá cochichando aí?

— Nada não...

Saí e fui até o banheiro, não sabia se queria contar para alguém sobre o que tinha acontecido hoje mais cedo. Mas ao mesmo tempo, não queria manter isso só comigo. Voltei para a sala dos funcionários, peguei uma cadeira e coloquei perto do sofá.

— Então, tem muita coisa acontecendo ultimamente na minha vida e eu não te contei direito, mas você sabe que eu não sou muito do tipo que sabe falar dessas coisas, então eu não fico dando detalhes. Eu acho que você tá ciente que eu tô envolvido com alguém né? Até aí tudo tranquilo, em certo ponto. A questão é, tá tudo indo bacana, tão bacana que eu tinha esquecido mais ainda que eu sou alguém que tem o próprio passado. Hoje de manhã, eu recebi um telefonema que me deixou completamente atônito.

— Que telefonema?

— Eu nunca disse muita coisa da minha vida, não é mesmo. Mas eu tenho uma família. Você sabe que eu sou órfão, você até sabe como eu fiquei órfão. Então, um tio meu, que olhou tudo para mim depois que eu saí do país e fui estudar na Noruega, me ligou depois de uns quatro anos que não nos falamos diretamente. A nossa relação sempre foi objetiva, em relação as burocracias do inventário do meus pais e questões de finanças que ele olhou para mim, depois que voltei, nossos poucos contatos foram por mensagens ou e-mails. Mas aí, hoje, do nada, ele me liga, perguntando como que eu estou. Disse algo sobre minha tia não estar tão bem de saúde, e que eles queriam que eu fosse visitá-los e passar meu aniversário com eles na Suíça.

— Seu aniversário? Mas seu aniversário... espera aí, quando é mesmo seu aniversário? Eu sei que você é de virgem só.

— É sábado que vem, dia 14.

— Ah, me desculpa Hugo, sou péssima com datas.

— Não esquenta, isso não tem o menor problema, para mim meu aniversário não muda nada na minha vida, não tem o menor significado.  A coisa toda é que, ele comprou minhas passagens, para amanhã à noite! Até o próximo domingo! Só que eu não faço a mínima ideia se eu quero ou não ir, sequer se devo. E tudo isso me deixou pensando num monte de coisas, que já tinha sido enterradas a muito tempo.

— Por isso que eu falo, cremar é a solução, não tem cadáver algum que volte das chamas.

— Você sabe que eu tenho repulsa a isso. Mas seguindo, eu não sei o que fazer.

Assim que parei de falar, Ágatha voltou a fechar os olhos e a cobrir o rosto com uma almofada. Eu fiquei a encarando esperando que ela fosse dizer algo, nem uma sílaba sequer saiu da boca daquela mulher.

— Eu estava esperando que você pudesse falar algo, senão não tinha contado tudo isso.

— Ah, você não falou que queria minha opinião. Mas já que faz questão, eu só vou dizer uma coisa. Vá.

— Vá? Como assim você me vira e fala vá, só isso?

— Ué, você não queria uma opinião para ir ou não ir? Então. Sério Hugo, você voltou para aqui com dezoito anos, vai fazer vinte e dois e olha aí, não saiu dessa cidade para nada. E outra, algo me diz que você anda precisando de por a cabeça no lugar, parar por um tempo, meditar um pouco. E olha, sou eu que estou falando isso, logo eu, que acho que qualquer problema se resolve com uma boa taça de vinho e um bom Marlboro numa piteira.

— Realmente, a verdadeira dama Monroe ruiva, os anos de 1920 ainda vivem em você.

— Obrigada querido, o glamour se nasce, é um estilo de vida, não se conquista. Mas a questão não é essa. Eu realmente acho que você precisa sair daqui um pouco, respirar novos ares, buscar novas coisas. Além do mais, você sabe que não precisa se preocupar em ter que ficar por causa da biblioteca. Só vai, e aproveite esse tempo lá.

— É, eu tenho que pensar sobre isso.

— Pensar o quê? Hugo, só vai. Mas aí agora é com você. Já que você ocupou meu descanso dos justos com seu dilema, deixa eu levantar e voltar pro trabalho.

Passei o dia todo pensando no que Ágatha me disse. Não era como se eu tivesse plena certeza que ir faria alguma diferença como ela disse, mas, talvez, sair um pouco seria bom. Fiquei enfiado na secção de literatura medieval para ver se minha cabeça funcionava um pouco, longe de todo esse conflito que tomava minha mente em campo de batalha.

— Hey, Hugo, você quer uma carona para casa, já tô saindo.

Já estava no meu horário e eu nem me dera conta do dia passando, encarei Ágatha ao dizer aquilo, mas me lembrei que era sexta, eu só teria os dois primeiros horários na faculdade, então iria direto para lá.

— Eu te dou uma carona até a faculdade então.

— Mas não fica contramão para você?

— Hoje é sexta, meu querido. Não tem o menor motivo para eu me estressar em correr para casa. Vamos?

— Okay, vou só pegar minha mochila lá em cima e vamos.

Descendo aquelas escadas com minha mochila, percebi que eu realmente não tinha afastado meu pé para longe deste lugar por quatro anos. Quatro anos e eu tinha a mesma rotina. Olhando Ágatha na porta me esperando, voltou à minha mente tudo o que ela disse e eu senti como se algo começasse a ficar mais claro em mim.

— Pronto?

— Sim senhora!

O carro de Ágatha era um reflexo da personalidade de glamour vanguardista dela, um Ford Mustang conversível, azul marinho, no modelo de 1960. Ela andava nele sempre com o capô aberto, esvoaçando os cabelos pelas ruas. Enquanto estávamos a caminho da faculdade, o rádio ligado tocava algum clássico dos anos 50, o entardecer nos lançava aquela gélida brisa, seguíamos como se o silêncio fosse nosso canal de comunicação.

— Aqui estamos.

— Muito obrigado pela carona. A gente se vê.

Eu já ia saindo do carro quando ela me chamou.

— Hey, pensa bem, eu sei que você sabe o que é melhor para você, mas talvez dar uma chance pro improvável faz bem. Aproveita que tudo tá pronto, é só embarcar no avião e ir, você nem vai ter muito tempo de ficar aflito, afinal, já é para amanhã à noite mesmo. Pensa nisso.

Eu acenei com o rosto e segui para a escadaria da portaria da faculdade. Me esquivando daquela multidão entrando pelos portões, subi em direção à minha sala, sentei no meu lugar, a última cadeira no fundo da sala, na esquina das duas janelas. De lá, olhava pelo céu a cidade a escurecer, as pessoas que passavam na rua, vidas que seguiam seus rumos. Peguei meu celular e fui mexer em qualquer coisa na internet. Nem prestei atenção na movimentação das pessoas na sala, estava esperando a aula começar enquanto me distraía.

— Então hoje não vai ter nenhum programa para fazer, ou os velhos tarados que te pagam não estão mais interessados em você? – Alguém tinha batido a mão na minha mesa, de frente para mim. Edgar estava sentado na cadeira à minha frente, virado de frente para mim e com as mãos sobre a minha mesa. Continuei mexendo no celular como se nada estivesse acontecendo.

A única coisa que capturava minha atenção era o meu celular, entre Edgar e eu, um muro de silêncio seria intransponível por mim. Ele continuou a me insultar, apenas me mantive concentrado na tela à minha frente.

 - Já trocou de celular é? Então parece que você não largou o serviço, no fim das contas, continua sendo a puta de qualquer tarado que te pague não é mesmo? –  Com o mesmo ritmo em minha respiração, não desviei o olhar do que estava fazendo. – A cadela anda chupando tanto que está muda é?

Ele então deu um tapa em meu celular forçando minha mão contra a mesa. Mantive o olhar na mesma direção que estava e continuei em silêncio. Ele disse um ou dois outros insultos, mas não, sequer, movi um centímetro no meu olhar. Senti então uma mão agarrando meus cabelos atrás da minha cabeça e me puxando com força.

— Não se esquece que se eu quiser eu te mato aqui dentro mesmo, seu merda. – Disse ele se aproximando do meu ouvido. Soltou-me empurrando minha cabeça com força em direção à mesa.

            - Vamos para o nosso lugar, essa bicha aí deve estar esperando resposta de algum desgraçado pra pagar ele mais tarde. – Foi se levantando e falando em direção a mais dois que estavam ali em pé.

            - Não precisa ficar com esse ciúme todo, da próxima vez é só falar que quer marcar um horário... – Respondi levantado meu rosto, mas sem olhar em sua direção.

Ele parou e se virou para mim, com uma cara de perplexado por eu o ter respondido.

— Haha, hahaha, hahahaha, você se acha o esperto né seu merda. – Só deu para sentir o contato do punho cerrado no meu olho esquerdo. Minha cabeça ficou um pouco sonsa, ricocheteou para trás e voltou. Quando me concentrei de volta, voltei a mexer no meu celular como se nada tivesse acontecido, nem sequer coloquei a mão no meu olho. Mas estava latejando bastante.

— HEY!!! – Aquele grito não era de Edgar, me assustei com a voz, parecia familiar. – Que que você pensa que está fazendo?

Uma sombra cobriu minha frente, tinha alguém parado de costas para mim, entre Edgar e eu. Era uma menina, mas eu não reconheci só pelas costas.

— Onde que você acha que tá hein seu otário? Por que você bateu nele?

— E quem é você? Outra puta que trabalha com ele? Sai do meu caminho e me deixa em paz, vai procurar uma r...

Foi tudo muito rápido, mas deu para ver o braço que se levantou e acertou um tapa em cheio bem na cara dele. Ela tinha batido nele, realmente batido. Um tapa, um de verdade, com todos os dedos, a palma da mão em cheio e tudo. Mas aqui não ia ficar bem.

— QUEM VOCÊ PENSA QUE É SUA VAGABUNDA! – A sala inteira já estava olhando, nem precisou desses gritos histéricos de Edgar para chamar a atenção de todos, na verdade, acho que no murro que ele me deu já estavam todos com os olhos direcionados para esse canto da sala. – EU VOU TE...

— Eu posso saber o que está acontecendo aqui? – Uma voz calma ecoou pela sala após um enorme barulho de livros batendo na mesa. O professor tinha chegado, e, ainda bem, interrompeu aquela confusão que estava prestes a piorar. – Você! – Disse ele apontando para a garota. – Me diga o que está acontecendo aqui.

— Esse otário acha que é um merdinha qualquer para sair agredindo os outros. Ele deu um murro na cara dele, – Apontando para mim, todos aqueles olhares começaram a me examinar. – e acha que pode encostar um dedo ne mim. Eu arregaço isso que você chama de saco para fora com a minha unha viu seu bosta! – Ele realmente ia para cima dele.

— Chega! – Disse o professor, apesar do tom aspiro e grave, não levantou a voz um minuto que fora. Olhando para mim, fez uma cara de cansado, provavelmente já sabia pelos corredores da minha fama de ser o “fracote que é saco de pancada” dos meninos da minha sala. – Vocês três, para a diretoria agora, comigo. – Disse ele para Edgar e seus amigos, ele me olhou com a mesma cara de ódio de sempre, mas dessa vez, o olhar pior foi em direção para a garota, ele amaldiçoou algumas palavras em tom de ameaça direcionadas a nós dois e saiu da sala batendo a porta. – E você, pegue ele e vá até a enfermaria.

A garota se virou para mim, foi então que eu a reconheci. Era aquela garota do banheiro feminino de quando eu me troquei lá. Lolla o nome dela. Me deu o braço para que eu levantasse e saiu da sala comigo. Nos corredores da faculdade, ela me encostou na parede e parou de frente para mim.

— Por que que ele te bateu?

Eu estava completamente coagido por ela me encostando na parede daquele jeito. Não sabia nem o que responder, antes mesmo que eu pudesse disser qualquer coisa, ela emendou sua fala.

— Eu ouvi as coisas que ele te chamou. Tem algo a ver com você usar o banheiro feminino, não tem? Você não precisa ficar com medo dele, nem precisa se preocupar com nada do que ele disser, porque não tem nada de errado com isso. Você é você e vive a sua vida do jeito que você quiser, ninguém tem nada a ver com isso. O que não pode é essa situação dele ficar te amedrontando e ameaçando, até mesmo te agredindo, continuar.

Ela ficou me olhando como se procurasse dentro do meu olhar alguma resposta.

— Você não precisa dizer nada sobre isso se não quiser, mas eu te disse e reforço, você pode contar comigo para o que precisar. Ah, e afinal de contas, eu só fui me dar conta que você era da minha sala hoje, hahaha. Qual é mesmo o seu nome?

— É Hugo...

— Vamos então Hugo, tenho que te levar para a enfermaria.

A enfermeira me olhou com a típica cara de “ah não, você de novo”. Me sentei sobre a maca que ficava lá enquanto ela passava alguma coisa na minha cara, me deu um comprimido para tomar e disse que ia ficar roxo, mas não ia inchar muito. No caminho de volta para a sala, cutuquei Lolla, que se virou toda sorridente para mim.

— Eu queria te perguntar algo...

— O que você quiser saber, Hugo.

— Hoje, lá na sala. Quando ele... bem... porquê você se intrometeu?

— Porque eu não acho isso certo. Não consigo admitir ninguém humilhando ninguém, ou se achando que é superior a alguém e que pode oprimir essa pessoa. Ele é um covarde, que se acha dono da vida dos outros, mas isso é prova de que ele é um inseguro com ele mesmo que precisa ficar se afirmando o valentão.

— Mas você não ficou com medo dele te bater?

— Medo? Eu? Hahahaha. – O riso dela começou destemido e foi caminhando para algo mais íntimo e entristecido. – Eu não tenho medo desse tipo de pessoa. Não é a primeira vez que eu enfrento um homem machista e opressor desses, não é a primeira vez também que um levanta a mão para mim... Bem, a questão é, eu não posso ficar com medo de um merda desses, senão ele vai achar que ele realmente é superior.

Ela desviou o olhar para o chão, seu longo cabelo encobria seu rosto. Nenhuma palavra mais fora dita por ela.

— Err... bem... Obrigado! De verdade, obrigado!

— Que isso! – Disse ela passando a mão em minha cabeça bagunçando meu cabelo.

— Eu posso te pedir um favor?

— Claro, Hugo. O que você precisar.

— Eu acho que não tô afim mais de ficar para essa aula hoje, você podia entrar na sala para mim e pegar minhas coisas?

— Óbvio que posso. É, talvez seja melhor mesmo você ir para casa, fica perto de quem gosta de você, e não se importe com esses idiotas. E não se esquece que aqui dentro você tem a mim.

Ela foi e entrou na sala. Fiquei pensando no que ela disse, de que ficar perto de quem gosta de mim. Passado algum tempo, ela saiu com minha mochila e foi comigo até a portaria. Lá se despediu de mim e me deu um forte abraço, algo que parecia até a iniciação de uma sociedade secreta, mas ao mesmo tempo, um conforto em alguém até então desconhecido que queria me fazer sentir seguro. Fiquei meio sem reação, mas retribuí o abraço e me despedi. Fui até a estação do metrô e segui para casa. Já eram quase oito da noite quando cheguei no meu apartamento.

Estirado na cama, fiquei repassando o dia de hoje, tentando achar uma luz. Ir para a Suíça, amanhã à noite, assim, do nada, foi algo que me deixou um pouco sem norte, ainda mais contando que essa viagem era para rever uma família que se dizia minha, mas que eu sequer me lembrava da existência. Além disso, para o meu aniversário? Eu nem já sabia mais o que sentia mais em relação a essa data. Por um lado, não era como se algo me impedisse de ir, não tinha nada demais em apenas passar uma semana fora de casa, mas por outro, não era como se fosse a coisa mais confortável do mundo. Além do mais, que quando eu pensava em sair da cidade, me vinha à mente o rosto de Nolan. Eu já estava acostumado a vê-lo com certa frequência, a ideia de passar uma semana toda longe dele me dava um nó na garganta.

— Olha no que que eu tô pensando...

Peguei meu celular e fiquei segurando com as duas mãos em cima do meu rosto, com uma foto dele aberta na tela. Não parecia mesmo que aquele naquele momento era o eu de alguns meses atrás, mas ali eu estava, todo sem ar de pensar em sair e ficar longe dele por uma semana inteira. Eu não acreditava que estaria tão sentimental assim por alguém, mas já era impossível negar, eu sentia algo muito forte por ele, a presença dele conseguia alterar por completo o meu estado de espírito. O simples pensar em seu rosto mudava meu humor, não era algo que eu conseguia controlar mais. Passando os dedos pelo seu rosto naquela tela, me perdia no que estava pensando, esqueci completamente sobre meu tio, a viagem, meu aniversário. O celular vibrou e começou a tocar, eu não esperava aquilo, me assustei e o soltei, foi questão de segundos para que acertasse com tudo meu nariz.

Fui ver a chamada, não sei qual era a sintonia de nossas mentes, mas era Nolan que me ligava.

— Alô?

— Hugo? Boa noite! Eu tô passando aqui pelo bairro da sua faculdade, pensei se você ia querer que eu te espere para te levar para casa.

— Ah, é que eu já tô em casa.

— Ah bom. Bem... você quer que eu passe aí?

— Você deve estar cansado, não? Não precisa se preocupar com isso, eu não quero te incomodar.

— Não tem como você me incomodar Hugo. Mas eu só vou se você quiser que eu vá, se não tiver afim de eu te enchendo o saco aí, não tem problema algum. É só porque, eu tava pensando em você e queria te ver, haha.

— Nolan... – Eu juro que não queria parecer o seco e insensível, mas apesar de todos sentimentos imensuráveis que eu sentia por ele, demonstrar diretamente e de forma clara isso para ele era extremamente complicado para mim. – Se você quiser vim, eu só não quero te incomodar.

— Eu já te disse. Mas a questão não é essa, você quer que eu vá?

Não consegui responder de imediato, acho que por alguns breves segundos ele apenas ouviu minha respiração do outro lado da linha.

— Sim.

Antes da chamada cair, deu para ouvir a arrancada do carro. Eu não tinha a intenção de o fazer duvidar do que eu sentia por ele, mas isso tudo era bem complicado de conciliar com o eu que esteve presente em mim nesses últimos anos, com o eu que sempre foi introvertido e tímido para se expressar sentimentalmente. Não demorou quinze minutos, eu estava trocando de roupa e vestindo meu pijama quando o porteiro me ligou me avisando da chegada de Nolan e se era para deixá-lo subir. Informei que sim, vesti meu robe por cima do pijama e fui até a porta para recebê-lo e, assim que virei a maçaneta, lá estava ele parado no corredor de frente para mim. Olhei em seus olhos, ele deu um passo em minha direção, colocando a mão em meu queixo e o segurando, chegando mais perto da luz que vinha de dentro, foi aproximando seu rosto do meu. Ao passo que meu coração se acelerava, meus olhos iam se fechando, como por impulso de receber seus lábios juntos aos meus. Senti seu rosto se aproximando, quando parou de repente, bem perto do meu.

— Hugo?

Abri os olhos. Ele estava parado me encarando seriamente. Não sabia o que estava acontecendo, mas seu olhar me examinava como uma máquina de raio-x.

— O que aconteceu com seu olho esquerdo?

— Ãnh?

— Seu olho esquerdo. Ele está completamente roxo.

Eu de imediato coloquei a mão no meu rosto e passei por cima do meu olho machucado, foi quando lembrei do que tinha acontecido na faculdade hoje. Não podia contar para Nolan que eu tinha apanhado na sala, eu não queria passar essa imagem de um fraco e indefeso. Tentei pensar em qualquer coisa o mais rápido possível.

—Err... eu...

— Alguém te bateu?

—Não!! É só que... eu tava a caminho da sala, resolvi passar pela área externa e tinha um pessoal treinando vôlei, eu não vi na hora que o menino sacou, ele acertou a bola com muita força e ela veio em minha direção, aí acertou meu olho. – Eu disse tão rápido que nem sei se ele entendeu direito o que falei. Quando terminei de falar, respirei fundo e senti como se fosse desmaiar de nervosismo. – Foi... só... isso.

— Mas ele te acertou enquanto você andava? E como só isso Hugo, teu olho tá muito roxo, não tá doendo não?

— Eu acho que não era meu momento de sorte na hora hahahaha... – Eu não sei como eu não comecei a suar, estava completamente nervoso. Não é como se eu tivesse um mestrado em contar mentiras. – Tá só latejando um pouco. Mas eu passei na enfermaria da faculdade, por isso eu vim mais cedo.

Ele ficou me encarando, não sabia se tinha acreditado no que eu contei, eu mesmo não acreditei em nada do que disse.

— Eu vi uma farmácia nessa rua na hora que eu saí do carro, me espera aqui que eu vou lá comprar algo para lavar seu olho e umas gazes, e um analgésico também.

— Não precisa... Nolan, eu tô bem.

— Hey, eu não quero ver você machucado, deixa eu cuidar de você. – Ele passou a mão na minha cabeça e bagunçou meu cabelo, se virou e saiu pela porta aberta. Me sentei no sofá e fiquei o esperando, nem fechei a porta, fiquei olhando para o corredor escuro. Passado alguns minutos, as luzes se acenderam e ele apareceu no último degrau da escada, já virando em direção à porta, caminhando até dentro do meu apartamento. Ele fechou a porta e veio até mim, se sentou ao meu lado e pediu para que eu deitasse e encostasse minha cabeça em seu colo.

— Nolan... não precisa.

— Deixa de ser teimoso Hugo, deita logo aqui. – Ele disse com um sorriso de quem quer ser obedecido, e aquele sorriso me obrigou mais que qualquer outra ordem que eu já tinha recebido na vida. Ele molhou uma gaze com a água boricada que comprou e começou a passar no meu olho e ao redor dele.

— Isso deve ter doído muito.

— É... eu acho que eu nem senti direito na hora, foi... no susto mesmo.

— Se eu tivesse lá eu te garanto que ia arremessar a bola de volta em quem te machucou, mas não ia só machucar o olho, ia atravessar esse idiota.

— Hahaha.... – Nunca ri de tão nervoso na vida.

— Pronto, agora só mais uma coisa e vai melhorar rapidão.

— O q... – Ele então beijou meu olho, quando subiu seus lábios parou seu rosto em cima do meu, a poucos centímetros de se encostarem. Aqueles olhos acinzentados sorrindo para mim, me encarando como se me tomassem em si. Ele segurava minha cabeça com suas mãos em seu colo, levantou a mão direita e a pôs sobre minha testa, a acariciando enquanto seu sorriso acariciava minha alma. Fechei os olhos e me senti completamente harmônico e calmo. Entre um respirar e outro, entretanto, o telefonema do meu tio me veio a mente. Levantei-me e me sentei virado de costas para o Nolan.

— Hugo? – Ele colocou sua mão que acariciava minha testa em meu ombro direito, acho que ele não entendeu muito bem aquela mudança de clima repentina.

— Nolan... – Me virei para ele, sem o encarar, fiquei com o rosto baixo enquanto falava. – Aconteceu algo hoje e eu preciso te contar.

— Tem a ver com esse roxo no seu olho? – É, esse homem tinha um senso para detectar as coisas inimaginável.

— Não, isso foi realmente um acidente. – Tomei um fôlego, o encarei e voltei a falar. – Hoje de manhã, quando eu cheguei em casa, eu recebi um telefonema que me deixou um pouco atrapalhado. Meu tio, aquele que eu te mostrei na foto, me ligou. Tem um bom tempo que nós não falamos diretamente, mas hoje, do nada, ele entrou em contato comigo. Me disse que a minha tia estava com a saúde um pouco debilitada, não sei ao certo ainda o que ela tem, e...

— E?

Olhei fundo nos seus olhos, não sei o porquê, mas senti como se não tivesse forças para falar aquilo para ele. Respirei fundo, umas três vezes e continuei.

— Ele me chamou para ir passar uma semana com eles.

— Mas você não tá afim disso?

— Não é essa a questão...

— Qual é então?

— Ele quer que eu vá para ficar com eles uma semana no chalé deles nos Alpes, na Suíça. Ele já comprou minhas passagens.

— Então você vai? Talvez seja bom viajar um pouco Hugo.

— Ele comprou minha passagem de ida para amanhã à noite.

— Amanhã? Mas porquê? Por causa da sua tia?

— Por causa... – Eu achei que não conseguiria terminar essa frase. – do meu aniversário.

O silêncio ficou tão imperativo naquela sala, que nossas respirações pareciam estarem gritando. Ele me encarou sério no fundo dos meus olhos. Eu o encarei por alguns segundos, mas desviei o olhar para baixo.

— Seu aniversário?

— Sim.

— Quando é seu aniversário Hugo?

— Dia 14.

— No próximo sábado?

— Sim.

— Eu não sabia da data do seu aniversário, não fazia ideia de que estava tão perto assim.

— Me desculpa não ter te contado, é que, para mim, meu aniversário nunca foi uma data comemorativa, na verdade, era uma data como qualquer outra qualquer. Eu não sou do tipo que comemora o aniversário, ou qualquer coisa, para mim, era só a marca de um ano a menos... Por isso eu não te disse, não queria também te incomodar com isso.

— Hugo, você tem que tirar isso da sua cabeça, essa ideia de que você me incomoda. Você não me incomoda em nada. Não tem que ficar se desculpando por nada, sério. Eu só fiquei surpreso que seu aniversário está tão perto assim.

— Sério, meu aniversário não significa nada na minha vida, nem na de ninguém para ser sincero. Mas aí que tá, meu tio me liga do nada e me chama para ficar com eles até o próximo domingo, nos Alpes, para comemorar meu aniversário, porque ele e minha tia estavam com saudades... Não me faz muito sentido.

— Você quer ir?

— Eu não sei.

— Hugo. – Ele pôs as mãos em meu rosto e o virou para ele. – Você quer ir nessa viagem?

— Eu realmente não sei Nolan. Talvez se fosse algum tempo atrás, eu diria que sim ou que não porque não ia fazer a menor diferença ir ou não, seria só o meu corpo em um lugar diferente, porque por dentro, não ia ter qualquer alteração. Mas agora... eu não sei porque, ao mesmo tempo que eu não entendo o motivo de meu tio querer que eu vá, dessa saudade repentina, algo em mim quer ir. Mas...

— Mas... Se algo em você quer ir, o que que tá te impedindo?

— Eu não quero ficar uma semana inteira longe de você.

— Hugo. – Ele acariciou meu rosto e me olhou com o olhar mais calmo e reconfortante do mundo, mas senti que, no fundo de seus olhos, ele estava surpreso. – Eu não quero sem um empecilho na sua vida.

— Você não é! Não é isso Nolan. Mas eu realmente sinto isso, eu sei que talvez eu não diga ou não demonstre tão claramente, mas você entrou na minha vida e me fez sentir feliz. Eu não queria ficar uma semana inteira longe de você.

— Mas você disse que tem algo em você querendo ir.

— E é por isso que eu tô surtando sem saber o que fazer...

— Vem cá. – Ele me puxou para seu colo e eu deitei de bruços sobre ele, com meu rosto virado para o seu coração, ele me abraçou por completo e ficou passando as mãos por minha cabeça e minhas costas. – Eu também não quero ficar tanto tempo assim longe de você. Mas olhe, talvez tenha uma razão pela qual seu tio queira que você vá para lá agora, e, por mais que eu prefiro que você fique seu aniversário comigo, talvez viajar um pouco o faça bem. Eu prometo que vou estar aqui para você quando chegar e a primeira pessoa que você vai ver vai ser...

— Não termina essa frase, por favor.

— Hugo, você está chorando?

— Não... desculpa. – O que foi que me deu? Eu não consegui controlar, algo despertou em mim ao ouvir aquilo, a imagem daquele dia, aquele vento que me batia naquela noite enquanto eu esperava lá em cima... as lágrimas desceram e eu comecei a passar minhas mãos em meus olhos sem parar para tentar as impedir de caírem.

Ele não disse mais nada, abraçou forte minha cabeça, que repousava chorando em seu peito, a levantou e passou suas mãos em meus olhos, limpou minhas lágrimas e me recebeu em seu rosto com um sorriso terno. Me beijou e eu senti que, naquele momento, era Nolan que batia meu coração. Eu voltei a deitar sobre seus ombros e ele colocou seus braço de novo envolta de mim como um laço, ficamos ali em silêncio e por ali mesmo adormecemos.

Quando acordei, ainda estava deitado sobre ele. Olhei em seu rosto, ainda estava adormecido. Seus braços a me envolver haviam me mantido aquecido durante toda à noite. Continuei deitado, mas retomei meus pensamentos ao meu dilema. Ainda não tinha certeza sobre o que faria, já era manhã de sábado e a viagem estava agendada para de noite, se eu fosse, não tinha muito tempo para ficar pensando. Fechei meus olhos e respirei profundamente, tentei encontrar, em uma espécie de exercício de meditação, alguma resposta. Enquanto deixava fluir tudo em mim, sentia o calor do corpo de Nolan, seu coração bater ditava o ritmo de meu respirar. Me atentei então a isso, fiquei concentrado em ouvir os batimentos dele e me aos poucos fui me deixando conectar meus pensamentos com as memórias que tinha junto dele. Todos aqueles momentos juntos, nesse pouco tempo que o conheci, vivi emoções que em anos jamais havia vivido.

— Hugo... – Uma voz adormecida chamava meu nome. Ainda com os olhos fechados, ele apertava suas mãos a me envolver e acariciava meu cabelo. Subi meu rosto para ao lado do dele e fiquei o olhando acordar. Ele se virou para mim e abriu os olhos, sorrindo, me desejou bom dia e ficou me envolvendo naquele olhar.

— Nolan, eu estava pensando... acho que eu vou nessa viagem hoje.

Ele continuou em silêncio, me encarando. Subiu uma mão até meu rosto e a posicionou sobre minha face. A deixou ali e balançou a cabeça acenando positivamente.

— Eu te levo até o aeroporto.

— Obrigado.

O de nada veio como um beijo na minha testa. Ele me perguntou o que eu ia fazer agora pela manhã, eu precisava arrumar minha mala, então ia tomar um banho e ver o que eu ia levar para a viagem.

— Então enquanto você toma seu banho, eu vou arrumar alguma coisa para a gente comer de café da manhã. Depois te ajudo a arrumar sua mala.

Levantei-me e fui para o banheiro. Evitei ficar pensando em qualquer coisa, deixei a água que descia do chuveiro lavar minha alma. Já havia feito minha escolha, e, por mais que eu era do tipo que passava qualquer possibilidade sobre mil prismas diferentes em minha mente, estava um pouco desgastado para isso. Quando saí do banho e fui para a cozinha, vi que, surpreendentemente, ele tinha conseguido preparar um café da manhã completo com absolutamente nada de útil que eu tinha nos armários. Tomamos o café, sem qualquer tentativa de entrar em assunto algum. No quarto, coloquei minha mala em cima da cama, abri as portas do meu guarda-roupas e fui retirando o que iria levar. Ele se assentou na cama e ficou me vendo, pegava as roupas que eu tirava e me ajudava a dobrá-las e as pôr na mala.

— Pelo visto você é do tipo que vai preparado para enfrentar de uma chuva de outono ao chegar do apocalipse hahaha.

— Eu não gosto de viajar desprevenido. – Era uma mania impossível de me livrar dela, para qualquer coisa que eu ia fazer, inclusive arrumar minha mochila para a faculdade, eu levava tudo que julgasse necessário para as mais diversas e (im)prováveis situações.

— É só uma semana mesmo essa viagem?

— Deixa de ser implicante Nolan. – Disse sorrindo enquanto jogava um casaco nele. – Eu tô indo para os Alpes, vai estar nevando lá.

— Okay, okay. Não tá mais aqui quem falou hahahaha.

— Hugo?

— Uhm...

— Esse seu tio, eu lembro de você me dizendo que ele que cuidou de tudo depois... depois que você ficou órfão, mas como é a relação de vocês? Porque pelo que me parece, vocês não são tão próximos assim.

— Não somos. Ele era bem próximo dos meus pais. Eu lembro bastante dele lá em casa quando eu era criança, e de ir para a casa dele nas férias. Quando meus pais eram vivos, ele não morava na Suíça. Na verdade, ele não morava em nenhum lugar permanentemente. Mas ele tinha uma casa no campo mais ao norte daqui. Naquela foto que eu te mostrei, era nessa casa. Estávamos eu, ele e a minha tia, esse garoto do meu lado era filho deles, eles só tiveram ele, eu não sei direito como, mas ele morreu há alguns anos atrás, meus avós maternos, eles ainda eram vivos nessa época, mas eu não sei direito da morte de nenhum deles, tanto desse meu primo, quanto dos meus avós, eu estava no internato, quando me informaram, nos dois casos, não fez muita diferença na minha vida, então foi apenas uma informação a mais. As outras pessoas são amigos dos meus tios que estavam lá nesse dia. Essa foto foi tirada um dia antes do acidente... eu estava passando esse tempo que meus pais estavam viajando na casa de campo dos meus tios. Meus avós estavam lá, eu não era tão próximo assim deles, mas eu lembro de ficar o dia inteiro pescando com meu avô e meu primo num lago que tinha perto da casa. Na tarde do dia seguinte, meu tio me trouxe de volta para ficar esperando meus pais chegarem de viagem. Chegamos tão tarde na cidade, que eu estava morrendo de medo deles já terem chegado. Era uma quarta à noite, quase meia noite. Eu entrei no prédio e nem esperei pelo meu tio, fui correndo até o meu quarto, peguei meu panda de pelúcia, era quase um amuleto que eu tinha, eu estava sempre andando com ele por aí. Lembro que eu esqueci ele no meu quarto e não o levei para a casa do meu tio, passei tão triste os dias que estava lá sem ele, hahaha. Depois de o ter pego, fui correndo para o heliponto na cobertura do prédio e fiquei esperando por eles. Quando cheguei lá, vi o helicóptero de longe, eu estava abraçado com meu panda, foi quando... bem, eu lembro do meu tio chegando e me pegando no colo. Depois disso, eu lembro de acordar alguns dias depois sem muitas recordações dos dias anteriores.

— Hugo...

— Hahaha, não tem nada demais. É só uma memória, não me machuca em nada. – Continuei pegando as roupas no guarda-roupas e as dobrando para colocar na mala. Nolan ficou me encarando, mas sem falar nada. De certo modo, acho que ele ficava preocupado que eu ficasse emocional com isso, não o culpo, ainda mais depois do que fiz na noite de ontem. Mas aquilo foi inesperado até para mim, eu só não consegui controlar, não tinha a menor intenção de deixar aquilo repetir de novo. Olhei no meu celular as horas, já estava quase perto das cinco da tarde, precisa agilizar e terminar de arrumar a mala.

— Hey, Hugo, o horário na Suíça é de uma hora para mais né?

— Acho que sim Nolan, porquê?

— Para saber quando vai ser meia noite do dia 14 lá e te mandar mensagem. – Aquele olhar era a expressão mais adorável do mundo, parecia um bebê sorridente, mas sem perder o charme de adulto que ele tinha. Não respondi dizendo nada, apenas sorri e arremessei outra blusa no rosto dele.

— Mas agora sério, o que você quer de aniversário Hugo?

— Ãnh? Até parece Nolan, eu não quero nada, sério. Eu não me importo nem um pouco com meu aniversário, já te disse.

— Não tem dessa não Hugo, eu quero te dar um presente.

— Você já é. – Disse baixinho na esperança que ele não ouvisse. Sorri quando tudo ficou em silêncio, estava de costas para ele, mexendo nas minhas roupas dentro do guarda-roupas. Ficou extremamente quieto, foi quando senti seus braços passarem por entre minha cintura me puxando para trás. Cai em cima dele na cama, assustei um pouco, não estava preparado para aquilo.

— Eu não sou surdo viu! – Disse ele sorrindo me abraçando deitado na cama em cima dele. – Mas por essa lógica, você é o presente mais valioso que existe, eu sei que eu sou um puta presentão, mas preciso de algo para te dar no seu aniversário. Além de mim mesmo, claro. – Ele disse essa última frase cochichando no meu ouvido, todos meus nervos entraram em pânico de uma só vez, meus poros todos se arrepiaram. O efeito daquele homem sobre mim, a facilidade com a qual ele me seduzia e encantava, tudo isso era extremamente imensurável.

Fiquei deitado com ele ali por mais alguns minutos, até que meu celular despertou. Já eram cinco da tarde, eu ainda precisava tomar meu banho, encontrar meu passaporte perdido pela casa e ir para o aeroporto, do outro lado da cidade. Meu voo estava marcado para às nove da noite, eu tinha que chegar lá meia hora antes para o embarque. Precisava terminar de me arrumar rápido para não me atrasar. Me levantei, coloquei as últimas roupas que faltavam na mala, a fechei e fui tomar meu banho.

— Está tudo pronto? – Me indagou Nolan quando eu estava terminando de me trocar.

— Eu só tenho que achar meus documentos e tô pronto.

— Ótimo, eu vou descendo com suas malas e colocando elas no carro. Te encontro lá embaixo então.

— Uhum.

Saí fechando os botões da minha blusa, meu cabelo ainda estava molhado, andei de um lugar para outro do apartamento procurando meus documentos. Os achei em cima da estante da sala. Peguei meu celular, conferi se estava tudo fechado e desligado e saí. Tranquei a porta e fui encontrar Nolan na rua. Ele estava a me esperar escorado no carro. Me despedi do porteiro do meu prédio e avisei que ficaria fora por uma semana. Ele me desejou boa viagem e eu fui correndo para o carro.

— Pronto?

— Sim senhor! Vamos?

Ele abriu a porta para eu entrar, me esperou assentar no banco e a fechou. Entrou no carro e deu a partida.

— Que horas é o sem embarque Hugo?

— É as oito e meia, mas o voo sai as nove da noite.

— São dez para as sete, vamos chegar tranquilos.

No caminho, fui organizando algumas coisas no meu celular. O rádio tocava algo indie, extremamente melodiosos e agradável de se ouvir. Uma parte de mim estava extremamente ansiosa, tinha tanto tempo que eu não saía de casa, não estava sabendo lidar direito com esse nervosismo.

— Que que você está inquieto aí?

— Eu? Hahaha, não... – Essas últimas vinte e quatro horas foram definidas por risos de nervoso ao responder Nolan. – É só que eu tô um pouco ansioso, não sei porque.

— Você tem medo de viajar de avião?

— Não! Não é isso, eu acho que é porque tem muito tempo que eu não saio de casa, não sei como vai ser.

— Hugo, você não tem que preocupar em prever tudo que vai acontecer. Preocupa só em aproveitar bem essa semana que você vai ter.

— É, você tá certo. Vou tentar.

Acabamos pegando um trânsito horrível até o aeroporto. Chegamos bem em cima da hora, fiz o check-in e despachei minha bagagem, ia só com uma mochila comigo dentro do avião. Eles já foram falando para eu acelerar para a secção de embarque internacional, porque estava atrasado. Nolan foi comigo até lá, mas chegando, uma segurança disse que só eu podia seguir dali.

— Olha, você não se preocupe com cada segundo que passar enquanto tiver lá tá. Aproveita esse tempo, vai ser bom, você vai ver.

— Pode deixar. – Olhei para ele e depois para dentro da sala de embarque, um leve aperto no meu coração começou a me incomodar. Voltei meu olhar de volta para Nolan, eu queria o abraçar, mas minha insegurança não me deixava tomar qualquer atitude, eu estava congelando ali. Fiquei sem saber o que fazer, até que achei que seria mais sensato apenas me despedir e entrar rápido para a sala de embarque. – Então eu...

Apesar de eu não saber o que fazer, ele já parecia estar só esperando minha guarda abaixar. Foi a primeira vez que nos beijamos em público. Eu talvez morreria de nervosismo se tivesse previsto aquilo, mas naquele momento, eu apenas me deixei ser conduzido pelos lábios dele.

— Faça uma boa viagem Hugo. – Disse ele apoiando seu rosto sobre o meu e ainda encostando em meus lábios. – Eu vou parar por aqui, mas quando você voltar, eu vou continuar.

Ouvir ele sussurrando isso para mim, com aquela voz conquistadora e dominante, enfraqueceu todas minhas estruturas. Ele então se afastou e eu me virei para a sala de embarque, dei uns três passos até ela, cerrei forte meus punhos, me virei e corri de volta a ele.

— Obrigado, Nolan. – O abracei forte e retornei para a entrada da sala de embarque.

Já dentro do avião, depois de passar por todo o protocolo de embarque, inclinei-me na poltrona e fiquei esperando que decolasse. A viagem até Genebra seria rápida, algo em torno de uma hora e meia, para menos. Lá, alguém ia estar me esperando para me levar até o chalé dos meus tios nos Alpes, isso seria cansativo, umas três horas de estrada pela frente. Só de pensar nisso eu já ia ficando cansado. Ia chegar no meio da madrugada lá.

— Você nem saiu do aeroporto ainda Hugo, deixa de ser maníaco.

— Senhor? – A aeromoça que passava ouviu e achou que eu estava falando com ela, quando na verdade era só eu falando comigo mesmo. Ultimamente, esse andava sendo um ato bem comum que eu estava adotando. Disse para ela que não era nada e que estava tudo certo, ela saiu com o sorriso mecânico e assustadoramente abrasivo que todos atendentes aéreos tinham, mas eu sabia que na cabeça dela, ela devia estar pensando que mais um estranho ia viajar, e rezando para que eu não fosse do tipo que dava trabalho.

O avião decolou e em pouco tempo já estávamos nos ares passando por aquele pequeno estreito em direção ao continente. Mal deu tempo de me confundir com meus pensamentos e já estávamos desembarcando. No aeroporto de Genebra, um senhorzinho de terno preto, devia ter perto de seus setenta pra oitenta anos, de baixa estatura, cabelos brancos e sem barba alguma no rosto, segurava uma placa com meu nome. Fui até ele e me apresentei, ele me disse que meu tio o mandara para me buscar e me levar até os Alpes. O que mais me impressionou naquele senhor, foi a destreza e velocidade que ele dirigia, uma vez que fizemos aquele percurso em duas horas e meia. Quando estávamos subindo a estrada para o chalé, recebi uma mensagem de meu tio perguntado se estava chegando, que eles estavam a minha espera. O respondi e, menos de quinze minutos depois, ali estávamos.

Eram duas e quinze da manhã. Estava um clima congelante no alto daquela montanha. Só olhava para aquele senhor, mas ele sequer tremia. Me ajudou a tirar as malas do carro e foi andando com elas até o chalé. Fiquei sem graça por ele estar carregando uma de minhas malas, na verdade, estava preocupado daquele senhor der algum problema na coluna por conta daquilo, mas ele me surpreendeu em ser extremamente forte e hábil para carregar a bagagem. No segundo andar do chalé, duas janelas estavam com as luzes acessas. Um vulto passou rapidamente por entre elas, olhou até nós e sumiu. Foi então que as luzes do chalé começaram a se acender até chegar na porta de entrada. Aquela porta entalhada, enorme, se abriu, e uma sombra enorme se projetou da luz de dentro para a neve que se estendia naquela noite.

— Hugo!

Olhei para a entrada da casa, vi que alguém ali se materializou. Respondi um pouco tremendo pelo frio que sentia ali de fora.

— Tio Górki.

Aquele homem enorme atravessa a porta em minha direção. Tinha tanto tempo que eu não o via, mas ele não estava tão diferente assim. Continuava com o mesmo rosto turvo de sempre, mesmo que tentando sorrir, ainda era friamente intimidador. O rosto liso, sem barba alguma, com as dobras da idade e o olhar soberano que julga sem direcionar diretamente a você, o cabelo acinzentado penteado para trás, continuava tudo a mesma coisa. Estava mais gordo, ou era só a aura tenebrosa que o envolvia que dava essa impressão de que ele estava expandindo. Meu tio Górki era russo, apesar do primeiro nome germânico, Henry, vindo do pai dele. Uma vez, no internato na Noruega, estudava em minha sala um menino de São Petersburgo, e ele tinha me dito algo sobre Górki significar “o mais amargurado” ou simplesmente “amargo”. O que fazia todo o sentido para a personalidade do meu tio, e como ele a exteriorizava.

— A quanto tempo meu sobrinho! – Disse ele apertando minhas mãos e dando uns leves tapas em meu ombro. Tomou a mala de minha mão e foi me colocando para dentro do chalé. – Venha, vamos entrando, você deve estar congelando aqui fora, sua tia preparou um chá com bolo para você.

Fomos entrando, ele pegou as malas que o senhor trazia do carro e as acomodou na sala. O senhor se despediu de nós, saiu e foi embora. Eu fiquei observando o interior daquele lugar. Era extremamente confortável a arquitetura do chalé, o interior também era planejado em um conceito moderno de utilização da madeira e metal. O chalé tinha as paredes elevadas, acho que tinha apenas dois andares, mas as paredes, se observadas de fora, pareciam ser do dobro de andares. Alguns animais empalhados ornamentavam as paredes da sala, cervos e renas vigiavam do alto a atmosfera do local. De frente para a enorme lareira e entre aqueles três sofás que se viravam para ela, um tapete de urso polar se estendia no chão de madeira. Olhar aquele rosto virado em sentido oposto à lareira, com os olhos vidrados e os dentes expostos, me embrulhou um pouco o estômago. Entre os sofás e onde eu estava, tinha uns dois degraus que circundavam a área da sala que ficavam os sofás e a lareira, era rebaixada em formato quadrangular ao fim do ambiente. O fundo do espaço era todo de vidro, dando diretamente para o vale que abria atrás do chalé, como fora construindo na parte alta da montanha, o primeiro andar do chalé já dava em uma varanda elevada em relação ao vale que descia.

— Vamos até a cozinha Hugo, sua tia nos espera. – Ele foi andando na minha frente, perguntando sobre como tinha sido minha viagem até chegar ali. Eu era um pouco monossilábico nessas situações, então apenas respondia diretamente às perguntas feitas sem me alongar muito, se possível dizendo o menor número necessário de palavras.

Chegamos até a cozinha e uma mulher estava parada perto da mesa, posicionando o chaleiro, se eu não soubesse que era minha tia que estaria lá, não a teria reconhecido de imediato. Ela estava completamente mudada, a expressão e os traços ainda eram os mesmos, mas ela estava bem mais magra, parecia ter murchado, seus olhos estavam tão profundos em seu rosto. Quando ela me viu, veio em minha direção me abraçar. Estava tão sorridente, o mesmo sorriso calmo e terno que eu recordava. Quando ela se aproximou, percebi ainda mais as alterações em seu corpo, ela estava completamente pálida, tinha um lenço envolvendo a cabeça. Sua pele estava quase translúcida de tão clara, craquelada como se rachaduras a tivessem aberto o rosto. Apesar de ser irmã da minha mãe, elas não eram muito parecidas, mas o olhar afetuoso era o mesmo.

— Ah quanto tempo meu pequeno! – Eu era um pouco maior do que ela, mas deixei ela me abraçar e falar o que quisesse. – Você deve estar faminto, eu fiz alguns blinis, tem chá e bolo. Sente-se, vamos tomar um lanche. Henry, pegue o mel para mim.

Tinha tanto tempo que eu não comia essas panquecas russas, lembrava delas na casa de campo deles quando eu era criança, adorava comer elas com mel e geleia. Enquanto comíamos, eles me perguntaram algumas trivialidades da minha vida, se estava tudo bem na faculdade, como estava na biblioteca, coisas banais. Tentei ser sociável e desarmar um pouco o escudo da introversão e antissocialidade, tentava lembrar que, apesar de não serem pessoas íntimas da minha vida, não era como se fossem estranhos totais.

Depois de comer, já eram quase três da manhã, estava morrendo de sono, pedi licença para eles e perguntei onde eu podia colocar minhas malas e em qual quarto dormiria. Meu tio foi comigo até o segundo andar da casa e me mostrou o quarto que tinha preparado para mim.

— Você pode ficar nesse quarto, sua tia o deixou pronto para lhe receber. Descanse bem, durma à vontade, quando acordar amanhã, temos muito a conversar. Essa será uma semana de muitos acontecimentos, vai aproveitar bem. Agora, boa noite sobrinho, durma bem. Qualquer coisa, estamos no quarto lá embaixo.

— Boa noite tio.

O quarto que eu dormiria era um quarto enorme, tinha uma claraboia gigante de vidro no teto, dava para ver o céu estrelado todinho. Tinha uma mesa de centro e uma escrivaninha num canto do quarto, alguns puffs no chão, uma estante com livros e a parede estava decorada com pinturas aleatórias. Uma portinha de vidro entalhada junto à madeira dava para uma varanda. Cheguei só na porta para ver, estava tão frio que não me atreveria a chegar na varanda agora, mas lá, um telescópio posicionado para o céu estava montado, fiquei imensamente tentado a ir ver o céu através dele, mas ia deixar para quando acordasse. A cama era de casal, ficava em um canto do quarto, encaixada dentro da parede em uma abertura que a envolvia, como se fosse planejada para ser colocada ali. Peguei meu pijama em minha mala e minha nécessaire, fui até o banheiro que ficava no quarto, escovei meus dentes e me troquei. Deitado, fiquei olhando para o céu pela claraboia, olhando as estrelas e lembrando do rosto de Nolan. Estiquei meu braço direito para cima como se fosse tocar as estrelas na imensidão. Adormeci, logo depois, com a imagem dele em minha imaginação.


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