Bulletproof Grower escrita por Jéssica Sanz


Capítulo 3
Um mundo menos clichê


Notas iniciais do capítulo

Vamos ver como o Segundo Mundo reage a mais um crescente!



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Yoongi e Sunghee acordaram exatamente onde tinham dormido, abraçadinhos como sempre.

— Ah, foi legal — disse ele, abraçando-a mais forte, ainda com voz de sono. — Tava achando que essa viagem seria horrível, mas no geral eu gostei.

— Que bom. Odiaria que isso não tivesse acontecido.

Os dois levantaram e se arrumaram para reunir-se com o Juízo. Eles iriam querer saber como havia sido a experiência. Já entraram na sala contando a loucura que foi no começo e tudo o mais.

Jimin tentou disfarçar, e disfarçou até bem, a reação ao que acabava de ver. Yoongi chegou a suspeitar de algo, mas ficou quieto. Os Juízes fizeram quilos de perguntas e se divertiram com as histórias. No final de tudo, voltaram para as atividades normais, os julgamentos em turnos. Era turno de Sunghee, Taehyung e Jin. Os outros começaram a se dispersar, como se ainda fosse um plano perfeito para o Primeiro Mundo, Yoongi e Jimin foram ficando. Um porque tinha algo para falar, outro porque já suspeitava disso.

— Me encontra na sacada em dez minutos? — perguntou Jimin.

— Lá vem bomba.

Jimin conseguiu rir um pouco com a conclusão de Yoongi, o que de certa forma o aliviou. No entanto, o mais velho se recusou a dar mais sinais do que aquilo poderia significar. Simplesmente se levantou e saiu para algum lugar. Yoongi, que não tinha exatamente para onde ir, foi logo para a sacada.

Existiam incontáveis sacadas naquela casa, mas os dois tinham adotado uma para ser o cenário de suas rotineiras conversas. Ela ficava na parede oeste da casa, que dava para a Casa Daegu. A sacada ficava no quarto andar e era a mais central possível, de forma que eles podiam observar as crianças no pátio que ficava na frente da outra construção. Muito produtivo, já que a maior parte das conversas era sobre aquelas crianças. Yoongi ficou observando-as por um tempo e sorriu com suas brincadeiras.

Depois de algum tempo, Jimin finalmente apareceu e apoiou os cotovelos no guarda-corpo. Os dois observaram por mais algum tempinho, e Yoongi estava prestes a perguntar o que raios Jimin tinha para dizer, quando o hyung o entregou um charuto. Yoongi pegou o objeto e o observou como se nunca tivesse visto um, sem entender. Olhou para Jimin, que tinha outro charuto entre os dentes.

— Acende pra mim? — pediu ele, a voz saindo chiada.

Yoongi o encarou, sem responder.

— Pra que isso?

— Pra que os caras acendem charutos, Yoongi?

— Pra fumar, né… — brincou Yoongi, que sabia que Jimin iria querer dar-lhe um tapa por aquela resposta, então logo acrescentou. — Brincadeira. — Ele riu um pouco, enquanto sentia um leve alívio da parte do mais velho, que pegou o charuto da boca e brincou um pouco com ele, enquanto o primeiro encerrava sua risada tentando pensar em alguma coisa que Jimin pudesse estar tentando dizer. — Então alguém vai ser pai?

Jimin encarou Yoongi, daquele jeito que fazia quando o mesmo falava alguma bobagem.

— Eu esperava mais da sua habilidade de raciocínio, Yoon. Reflita suas ações, tipo, últimas vinte e quatro horas, e chegue a alguma conclusão realmente relevante.

Yoongi não era tão lerdo assim de costume, mas ele estava. Ficou pensando mais alguns segundos, girando o charuto nos dedos, até que ele percebeu. O momento foi notável: a postura tensionou, o queixo caiu, puxando o ar, o olhar tornou-se um pouco mais atento. Finalmente, ele olhou para Jimin, ainda sem acreditar.

— É sério? — murmurou ele, meio sem ar (coisa que ele não precisava).

Jimin se deixou rir daquela reação, o que foi uma confirmação para Yoongi, que voltou a encarar o jardim.

— Aigoo, hyung… Ela… Ela já sabe?

— Só você e eu — disse Jimin, com uma pontinha de superioridade. — Acende essa droga logo que eu quero fumar.

— Mas… Agora? Tipo… Não é quando o bebê nasce, sei lá?

— Bom, se você não quiser apoiar o Jin enquanto sua mulher estiver morrendo de dor, pode guardar o charuto pra ocasião. E depois vai ter todo o lance de cuidar do bebê, admirar sua fofura, essas coisas. De qualquer modo, eu vou estar ocupado daqui a nove meses, então, digamos, tô antecipando.

Do nada, o charuto de Jimin se acendeu, o que significava que Yoongi concordava. O mais velho riu.

— É, meu caro… Você já tem 350 filhos adotivos… — levou o charuto à boca. — Agora vai ter um de verdade. Trate de preparar um jeito bem especial para contar isso a ela.

 

~

 

Já tinham se passado uns três dias. Yoongi estava no pátio frontal da Casa Daegu, um grande círculo de pedra, cercado por colunas que erguiam um pergolado em cone. Era cheio de mesas e cadeiras como um acampamento, e estava sempre cheio de crianças comendo, brincando ou conversando.

Ele estava sentado em uma das mesas, observando o centro do pergolado, lá em cima, onde havia um móbile decorativo. Sobre a mesa havia uma caixa de papelão.

— Tá olhando o quê? — ele ouviu a voz de uma das crianças que acabava de chegar ao seu lado. Seus filhos costumavam ser muito curiosos, mas ele sabia reconhecer a voz de uma de suas crianças mais especiais. Ele apontou para o móbile, indicando a resposta. — Ah, sim. Ele é lindo. Também gosto de ficar olhando pra ele.

Florzinha se sentou ao lado do pai e ficou observando o móbile como se fosse um show de dança.

— Estou pensando em pegar de volta — confessou Yoongi, antes de olhar para ela. — Você se importa?

Florzinha torceu o nariz.

— Me importar? Não, pai, nem é meu. Quer dizer, gosto de ficar olhando, mas não acho que vá fazer falta, sabe?

Yoongi riu. Ela era muito engraçadinha.

— Então tá certo.

— Quer que eu pegue pra você?

— Ah, não, eu posso pegar.

— Aish, por que não me deixa te ajudar?

Yoongi ficou encarando-a, pensativo.

— Tá bom, vai. Acho que você voa melhor que eu.

Florzinha sorriu, feliz em poder ajudar. Abriu suas asas e voou agilmente para o topo do pergolado, pegando cuidadosamente o móbile. Ela era pequena, mas não tanto como antigamente. Quando voltou, Yoongi estava de pé, segurando a caixa, que parecia pesada.

— Bora?

— Pra onde?

— Me ajuda a levar isso lá pra Casa.

— Pera, pra Casa do Juízo? Mas eu não posso ir lá…

— Claro que pode! Não é pra ir toda hora, mas você tá me ajudando, né? Bom, se não quiser me ajudar, eu…

— Eu vou ajudar! — adiantou-se ela, meio na defensiva. — É só que… Deixa pra lá.

Yoongi riu mais uma vez enquanto eles caminhavam para a maior casa da ilha. Florzinha sentiu-se estranha ao entrar, como se a ausência do sol fosse algum inimigo tenebroso. No fundo, estava se perguntando o que tinha naquela caixa, por que seu pai queria o móbile, e por que ele parecia ainda mais bobo que de costume.

 

~

 

— Vamos dar uma volta?

Sunghee franziu o cenho, ainda caminhando para fora da sala. Tinha acabado de sair de um julgamento, e, inesperadamente, encontrava Yoongi esperando-a do lado de fora, ansioso como uma criança. Chegava a dar uns pulinhos, sem ligar para os outros juízes e espectros que se dispersavam.

— Que que houve, Min Yoongi?

— Como assim “que que houve”? Não posso chamar minha esposa para dar uma volta?

— Você tá com uma cara de que aprontou...

— É, eu aprontei, e quero te levar pra ver o que eu aprontei.

— Falando assim até me dá medo.

— Aish, para de negocinho, vambora.

Com um sorriso bem aberto a la Hoseok, ele segurou a mão de Sunghee e a conduziu pela casa, enquanto ela, desconfiadíssima, tentava entender o que aquele maluquinho estava tramando. Finalmente, pararam em um corredor iluminado apenas pelas lamparinas na parede, o que o deixava meio amarelo. Estavam de frente para uma porta dupla.

— É aqui! — disse ele, encostando na porta, satisfeito.

— Aqui? Mas esse é o…

— Eu sei — ele liberou a porta. — Só entra.

Ainda levemente hesitante, mas não tanto quando antes, Sunghee entrou no seu antigo quarto de infância. A última lembrança que tinha dele era totalmente vazio, depois de levar as últimas coisas embora. Bom, como aquele quarto de criança estava inutilizado havia muito tempo, decidiram levar aquelas coisas para um lugar onde elas pudessem ser úteis. Obviamente, esse lugar era a Casa Daegu, o lugar mais “infantil” que eles conheciam. Os móveis, as decorações, os brinquedos, até as roupinhas foram levadas e distribuídas em setores diferentes da imensa instituição. Uma das partes mais especiais, o móbile, com um pingente que representava cada membro importante daquela família, tinha sido pendurado no pátio. A única sobra havia sido a parede pintada com os desenhos de seu pai e seu irmão, e era assim que ela achava que o quarto estava.

No entanto, o que ela encontrou foi seu quarto de infância do mesmo jeito que era quando ela era pequena: o berço branco e colorido, bem no meio, com aquele lençol de nuvens; as paredes com aqueles quadrinhos lindos, dividindo espaço com as prateleiras brancas lotadas de brinquedos, no mesmo lugar onde sempre ficavam; até mesmo as bonecas que Taehyung fazia estavam na mesma ordem. A cômoda estava na mesma parede e com uma das gavetas abertas, que revelava aquelas roupinhas antigas dela, dobradinhas e arrumadas. No cantinho, o tapete colorido de E.V.A., cada peça de quebra-cabeça com uma letra, número ou desenho. Até mesmo as poltronas onde os adultos se sentavam quando estavam por ali pareciam milimetricamente posicionadas. E, claro, no alto, como sempre, aquele móbile que sintetizava tanta história.

Sunghee ficou olhando aquele pedaço de infância, aquela partícula de memória, que conseguia aglomerar não apenas suas próprias lembranças, mas tudo o que sua infância havia sido. Todas as brincadeiras e correrias pela casa, a diversão no jardim ou na cozinha, ela conseguia ver tudo ali, e passou muito tempo admirando o que sua própria mente projetava naquele espaço. Pareceu a eternidade, mas foram apenas alguns minutos olhando aquilo e tentando resistir às lágrimas que aquele sentimento provocava.

Por fim, ela se virou para ele, que também acumulava água nos olhos. E, como era muito mais esperta do que ele, ela soube.

— Nós vamos ter um bebê?

Yoongi assentiu e riu, fazendo as lágrimas caírem. Estava ainda mais emocionado, se é que era possível. Ele queria dizer mais alguma coisa, mas não conseguiu, nem precisou. Estava tudo ali. Então ela correu e o abraçou, não o mais forte que podia porque ela o esmagaria, mas o suficiente. O suficiente para mostrar o quanto ela estava feliz. Ele correspondeu, para mostrar o mesmo. E eles estavam felizes porque um pedacinho do seu único e fantástico dia no mundo que sempre fora proibido para ela tinha ficado com eles, e seria para sempre.

 

~

 

Quando a bomba foi jogada ali no meio da mesa da sala de jantar, houve uma onda de reações. Todos os juízes pareceram muito surpresos, alguns espantados, outros felizes. Alguns murmuraram coisas como

— Quê?

— É sério?

— Comassim vei?

— Que viagem é essa, mano?

enquanto outros apenas ficavam de queixo caído ou com outras expressões de choque, no geral voltadas para uma pequena alegria que começava a se instalar.

— Isso tava no script? — perguntou Géssyca, tentando não rir.

— Não! — garantiu Hoseok, levemente alarmado com a possibilidade de ser culpado pelo incidente.

— E se estivesse não haveria problema algum — acrescentou Namjoon. — É uma notícia maravilhosa, gente! Cês tem problema?

— Eu também acho maravilhosa, Nam, só queria deixar claro mesmo que os responsáveis por essa maravilha são os próprios — concluiu Hoseok.

— Que beleza! — disse Jin, com a alegria muito bem contida. Por dentro estava saltando, mas por fora parecia apenas uma boa pessoa. — Teremos mais jantares especiais, mais festas, mais quinze anos de pura alegria infantil.

— Antes disso, mais nove meses de espera, não se esqueça, oppa — lembrou Yumi. — Queria lembrar que o senhor, mocinho, vai ser essencial depois dessa espera.

— Eu sei disso, e pra mim é uma honra! — garantiu Jin.

— Quando vamos saber se é menino ou menina? — apressou-se Michung.

— Então… — explicou Yoongi. — O Jimin tinha me dito que ele já sabe e pode falar se quisermos. Aí eu decidi conversar com a Sunny e perguntar se ela prefere saber agora ou o quê.

— E nós decidimos que esse negócio de esperar é coisa de primeirista. A gente quer saber logo, oppa!

Jimin riu.

— Tá bem… É um menino!

Houve mais uma onda de comemoração com a nova notícia.

— Ah, eu já quero brincar com essa criança! — protestou Taehyung.

— E o nome? — perguntou Namjoon.

— Nós pensamos bastante sobre isso também. — confessou Yoongi. — Queríamos algo bastante significativo. Pensamos em homenagear alguém, só que acabamos ficando na dúvida entre várias pessoas, porque tem muita gente especial para ser homenageada. Para não gerar tretas nem nada, optamos pelo “parentesco mais forte”, ou seja, dois caras realmente muito tops das galáxias.

— O Yoon Oppa também me contou sobre meu possível nome masculino, que achei não apenas um nome bonito, mas bastante significativo por unir os nomes de geração de dois caras muito importantes para mim, que são meu pai e meu tio. Enfim, já que essa homenagem não rolou na minha vez, vai rolar agora. Vai ser Seokjung.

Os juízes fizeram um pequeno alvoroço em direção aos dois. Namjoon sempre com sua demonstração de carinho daquele jeito fofo, enquanto os outros gritavam e aplaudiam. Foi mais ou menos nessa hora que começaram a notar que Jungkook estava quieto desde o começo, encarando o casal com uma expressão que ninguém sabia identificar. Mais especificamente, olhava para Yoongi com os olhos semicerrados e apoiava a mão no queixo, os dedos cobrindo a boca parcialmente.

— Credo, apeoji, que cara é essa? Não tá feliz em saber que vai ter um neto? — ela ria de nervoso. Não acreditava muito na possibilidade, mas também não a descartava.

— Tô — apressou-se em dizer, suavizando a expressão e voltando à postura. Ele parecia estar realmente satisfeito com a notícia, deu até uma risadinha do fato de estarem achando o contrário. — É só que… — Ele voltou a fixar seu olhar em Yoongi, dessa vez com um sorriso travesso e um olhar ligeiramente ameaçador. — Agora você vai entender o que é ser eu.


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Notas finais do capítulo

JUNGKOOK = MELHOR SOGRO



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