Bulletproof Grower escrita por Jéssica Sanz


Capítulo 18
A carta


Notas iniciais do capítulo

Eu revisei esse capítulo agora e achei ele muito instigante. Então, espero que gostem!



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— Vamos começar com local e data.

— Beleza. Omelas… que dia é hoje?

— Nem me pergunte. Depois a gente acha. Agora, o vocativo.

— Sei. Vocativo. Tipo “Querida Florzinha”?

— Sim, mas isso seria muito óbvio. Que tal “Amada Florzinha”?

— Isso sim é muito óbvio — Junggie riu.

— Tá certo. Então… Meio-termo? Que tal… “Doce Florzinha”?

— Parece perfeito! — disse o menor, escrevendo aquilo, animado. — E agora?

— Que tal começar respondendo o bilhete? O que ela disse?

— Hum… Ela disse que eu deveria mandar uma carta, que poderíamos manter contato… E que poderíamos voltar a conversar sobre o que aconteceu nesses últimos anos.

— Então pode começar dizendo que você gostaria de continuar mantendo contato por cartas, o que acha?

— Acho bom. Tipo…

 

~

 

“Omelas, 16 de janeiro de 2050

Doce Florzinha

 

Fiquei feliz por receber seu bilhete, apesar de um pouco triste por não ter conseguido me despedir. Concordo com você sobre podermos voltar a conversar. Tanta coisa aconteceu nos últimos anos, tanto comigo como com você. Será ótimo poder contar-lhe todas as coisas que tenho descoberto sobre meus poderes.

Confesso que estou muito curioso para saber sobre o que você tem feito esse tempo todo. Pelo seu endereço, percebi que está na Grécia. Parece que tem bastante contato com os deuses gregos. Isso é bastante interessante!

Me conte mais sobre isso. Você está morando em uma casa fixa? Há quanto tempo? Sempre imaginei que você estivesse viajando por países diferentes. Não tenho ideia de como funcionam as coisas na Grécia, mas adoraria saber. Não deixe de mencionar também o que achou da festa, nem conversamos sobre isso. Espero que me conte em breve!

 

Com carinho,

Junggie”

 

— Isso não está muito seco?

— Seco? Nós não nos víamos há cinco anos. Não temos exatamente a mesma relação que naquela época.

— Mas se você a ama, deveria deixar isso um pouco mais óbvio.

— Calma, halabeoji. Se ela pediu essa carta, ela vai me responder. Espero que não faltem oportunidades para isso.

— É, é. Pensando bem… Melhor ir com calma. Aos poucos, você pode ir sutilmente deixando as coisas transparecerem. Já tenho até algumas ideias!

Junggie riu um pouco da animação do avô, enquanto dobrava o papel em formato de avião. Depois, escreveu os endereços e jogou o pó.

— Interessante, esse meio de comunicação. Não sei se o sistema de cartas coreano chega até a Grécia… Mas o grego, aparentemente, é global.

— Espero que seja mesmo. Se for, estou tendo sorte — Junggie olhou para o avô. — Vamos lançar?

— Opa, opa, cadê seu perfume?

— Perfume?

— Claro, as gatinhas adoram perfume nas cartas — disse Jungkook, fazendo o neto rir novamente.

— A eomeoni disse que o senhor era tímido.

— Por que você acha que eu sou bom em cartas? Olha, eu diria que só consegui desenrolar com sua avó porque estávamos à distância. Não sei onde iria enfiar a minha cara se tivesse que olhar nos olhos dela no começo. Pergunta pra ela como eu fiquei quando fui visitá-la no Japão! Aproveite bem essas cartas, Junggie. Uma oportunidade para pensar bem em tudo o que diz, dizer coisas incríveis sem ter que encarar ninguém.

 

~

 

Junggie e Jungkook foram ao observatório para lançar a carta para a Grécia. Depois disso, Junggie esperou mais ou menos quatro dias de pura aflição, perguntando-se quando iria receber uma resposta. Finalmente, um espectro apareceu dizendo que tinha encontrado um avião de papel com o nome dele na porta de casa. O pequeno quase rasgou o papel ao pegá-lo da mão do espectro, de tão feliz que estava. Abriu e logo sentiu aquele mesmo cheiro do cobertor dela. Leu.

 

“Delfos, 18 de janeiro de 2050

Doce Príncipe Junggie

 

Eu sei que você gostaria que eu tivesse me despedido, mas… Por favor entenda. Eu sofri muito tendo que me despedir da primeira vez, então não quis passar por isso de novo. Mesmo visitando Omelas com uma frequência razoável de duas vezes por ano, sempre preferi me esconder a ter que repetir aquele momento doloroso. Mas não pense que não me importo com você. Fiz questão de deixar um beijo em sua testa (não conte a ninguém).

Vamos falar um pouco sobre o que fiz depois de sair de Omelas. Não, eu nunca planejei me tornar uma nômade, apesar da ideia ser interessante. Como te contei ontem, sempre fui ligada à arte, então já estava nos meus planos me estabilizar em um lugar onde pudesse deixar isso florescer. Encontrei morada aqui no Bosque do Sol. É aqui que o deus grego da música, Apolo, recebe qualquer um que tenha paixão pela música e pela dança e queira passar a eternidade dedicada a ela. Tenho uma pequena casa só para mim, e aqui também tem vários amigos da minha idade. Passamos o dia cantando poemas musicalizados, tocando liras, flautas e tambores. A natureza aqui é encantadora, com árvores grandes e flores lindas. Comemos frutas deliciosas. Musas, sátiros e ninfas também vivem aqui, o que é o máximo!

Apolo gosta muito de mim. Ele me lembra o Suga, de certa forma. Eu o conheci aí mesmo em Omelas, já que ele ama música e é um dos que frequentam os espetáculos da Casa Daegu. Assim, decidi vir com ele para Delfos. Eu, ele e outros daqui geralmente vamos a Omelas quando queremos ver alguma coisa de Daegu. Isso é muito interessante. Daegu é uma referência aqui.

A proximidade com Apolo também me fez conhecer a irmã dele, Ártemis, uma pessoa muito agradável. Contei a ela sobre seus poderes, e ela está bastante interessada. Afinal, ela é a deusa da Lua e das estrelas. Vocês iam se dar bem!

Sobre a festa, eu amei! É sempre bom voltar a Omelas, mas participar foi ainda mais divertido. Confesso: estava com saudades de você. Várias vezes senti vontade de falar com você quando fui a Daegu, mas tive medo de que esse reencontro pudesse nos machucar. Na festa, me senti mais à vontade. Já tínhamos passado tempo demais sem nos vermos, não é?

 

Com a bênção de Apolo,

Florzinha”

 

Junggie deu uns pulinhos enquanto lia, principalmente quando ela falava de alguma forma mais carinhosa, como as confissões do beijo na testa e do fato de sentir saudades dele. A carta datava de dois dias antes, então ele conseguiu notar que esse era o tempo de ida, bem como o tempo de volta da carta. Foi correndo para escrever uma resposta.



~

 

“Omelas, 20 de janeiro de 2050

Cara Flor,

 

De fato, cinco anos foi um período de tempo bastante longo. Gostaria muito de ter te visto mais vezes. De alguma forma, eu estava muito acostumado a ter você por perto, então senti muito a sua falta. Apeoji e eomeoni também. Fiquei muito sozinho nos primeiros dias, mas aos poucos fui me acostumando. Me aproximei deles dois e também da minha halmeoni, então acho que foi bom, de algum modo.

Eu gostaria de te ver novamente, mas não sei se quero esperar mais cinco anos. O que acha de vir ao próximo Daegu Dance?  Até porque você disse que também sentiu saudades, então talvez possa ser legal, não acha? Seria até bom conhecer esse tal de Apolo… Quero saber se ele está cuidando bem de você.

 

Saudades,

Junggie”

 

~

 

“Delfos, 23 de janeiro de 2050

Querido Junggie

 

É uma proposta interessante. Afinal, como disse, eu não consigo me desvencilhar completamente de Daegu. Sempre dou meus pulos, mas seria bom retornar a frequentar meu espetáculo favorito, do qual mantive distância por medo de ter que me despedir de você. Vou conversar com Apolo sobre a possibilidade de irmos. Ele deve amar a ideia e provavelmente vai incluir mais algumas pessoas. Mas tenho algumas condições!

Primeira, cuidado com suas escolhas na apresentação. Nada de me citar, nada de homenagens, nada de músicas que remetam ao passado… Em resumo, nada de sentimentalismo, porque se eu me emocionar não vai ser nada legal para nenhum de nós!

Segunda, se formos nos falar pessoalmente, que seja apenas antes do espetáculo, para que nossa última lembrança seja o próprio show. Seja cuidadoso com suas palavras, sem falar sobre passado, saudade ou algo assim. Isso deve evitar uma despedida dolorosa. Deixe os assuntos delicados para as cartas, ok?

Terceira, seja educado com Apolo! Ele está cuidando bem de mim, já que perguntou. Na verdade, eu sou boa em cuidar de mim mesma sozinha, ele é só uma ajudinha.

Por favor, não pense que estou sendo fria. Eu gosto muito de você, não quero que isso se perca. Infelizmente, quando nos separamos da primeira vez, foi um tanto amargo, e eu não gostaria que isso se repetisse. Vamos ser cautelosos para que possamos guardar apenas as boas memórias!

Então, se tudo der certo, te vejo em alguns meses? Talvez eu comece uma contagem regressiva…

 

Com carinho,

Florzinha”

 

~

 

~

 

~

 

“Delfos, 30 de janeiro de 2050

Doce Junggie,

 

Apolo acabou de confirmar que iremos ao Daegu Dance este ano! Além de nós dois, também vão três meninos, quatro meninas, três musas, duas ninfas e dois sátiros. Ah, quase esqueci: Ártemis também vai! Ela leu os estudos que você me mandou e achou bem pertinentes! Talvez a conversa de vocês seja interessante…

 

Graciosamente,

Florzinha.”

 

~

 

Junggie tratou de atender todas as exigências de Florzinha. Foi um pouco difícil não se deixar levar pelos sentimentos, mas cuidou para que nenhuma parte do espetáculo fizesse alguma referência a ela.

Não seria a primeira visita de Apolo a Omelas, mas graças à ponte feita por Junggie e Florzinha, os superiores representantes de Grécia e Coreia do Sul já sabiam da existência uns dos outros e estavam animados para uma conversa intercultural. O Juízo sabia que estava recebendo uma visita importante, então resolveram recebê-los bem e tratar de diplomacia.

Foi programado que a caravana de Apolo chegasse mais cedo no dia do espetáculo para conhecerem as casas e desenvolverem diálogos pertinentes. Suga e Sunghee tiveram que deixar as crianças e todos os preparativos para o grande dia nas mãos de Nana e mais alguns ajudantes, mas tentaram deixar o máximo de coisas prontas no dia anterior.

A carruagem Solar pousou no gramado de Omelas, em frente às portas de visitas, onde os Min esperavam para recebê-los. Florzinha não hesitou em saltar da carruagem e correr para abraçar Junggie.

— Aigoo, até parece que faz cinco anos que não me vê! — brincou ele, enquanto a abraçava. Ela ergueu o queixo para olhar para ele.

— Você não estava com saudade?

— Claro que sim — ele riu.

Depois disso, Florzinha foi abraçar Suga e Sunny, logo antes de, entusiasmada, apresentar a família ao deus grego do Sol, Apolo, que descia da carruagem, e sua irmã Ártemis, a deusa grega da Lua. Os acompanhantes desceram depois.

Os Min conduziram as visitas a uma das salas de reunião do Juízo, onde os outros juízes e juízas estavam esperando. Foram todos apresentados e sentaram-se para conversar. A conversa rendeu muito conhecimento: Assim como imaginavam, Apolo não era o grande superior da gestão segundista grega. Esse posto era de seu pai, Zeus, que costumava ficar no Olimpo com sua esposa Hera. Todos os deuses gregos da mitologia existiam e atuavam na Grécia Segundista, reunindo-se no Olimpo com alguma frequência. Alguns tinham seus lugares particulares para passar a maior parte do tempo, como Poseidon tinha seu palácio em uma ilha só de água (nem me pergunte) e o próprio Apolo vivia com suas companhias no Bosque do Sol. Já Ártemis era uma aventureira, e vivia por aí com suas Caçadoras. O que mais os deixou curioso foi Hades, que era justamente que exercia a mesma função que eles: julgamentos. Apolo achou curioso que os juízes também fizessem a gestão.

— Mas o mundo funciona bem, cada um em sua ilha, fazendo o que deseja pela eternidade... A única coisa a ser gerida é a passagem — contestou Jin. Para ele, fazia sentido serem os gestores.

— O que Zeus faz no Olimpo, afinal? — perguntou Namjoon.

— Digamos… Nada — informou Ártemis. — É como o senhor falou: o serviço em si é de Hades. Zeus apenas… Se anuncia como senhor da Grécia. Antigamente ele agia no Primeiro Mundo, ou resolvendo as tretas divinas, mas hoje em dia está tudo bem, como disseram. Cada um tem seu canto e ninguém mais perturba o Primeiro Mundo.

— Até porque todos esses problemas tinham relação com o Primeiro Mundo, ou com os deuses brigando. Como cada um tem seu lugar e está feliz com isso, não tem mais nada para ser resolvido.

— Zeus deve estar bastante feliz — comentou Jungkook.

— Um líder, tem o poder da eletricidade… cara legal — brincou Namjoon.

— O senhor se daria bem com ele — concordou Apolo. — É bastante normal haverem equivalências em gestões politeístas. O senhor Suga se daria bem com Héstia, por exemplo.

— Taehyung seria Poseidon — adivinhou Namjoon, se divertindo com aquilo. — Jungkook, sei lá, Éolo?

— Sim — confirmou Ártemis. — Senhores do vento.

— A senhora Yumi me lembra de mim mesma — disse Ártemis. — Tenho certa afinidade com os animais. A maioria dos deuses pode mudar de forma, embora essa característica também seja do Netuno, o deus da água na mitologia romana. Já a senhora Géssyca me lembra Dionísio, o deus do vinho. Ele também tem uma coisa com morangos.

— E quanto ao Jin? — perguntou Yumi.

— Ele pode ser comparado a Deméter ou Perséfone. Eu diria mais Perséfone, ela realmente é mais relacionada a flores.

— Não sei se Michung e Jimin teriam alguém específico — disse Namjoon. — São poderes sensitivos.

— Ah, pouca gente conhece Alateia, a deusa da verdade — informou Florzinha. — É uma deusa menor, mas eu lembrei do Jimin Ajussi quando a conheci, então nunca esqueci. Seria um equivalente, mas não são exatamente a mesma coisa. Já a Michung Ajumma tem um poder realmente único.

— E o Hobi? — questionou Michung.

— Ora, não vê? — perguntou Apolo. — Sou eu.

— O senhor? — perguntou Hoseok. — Mas é o deus do Sol. Achei que fosse equivalente ao Junggie.

— Sou o deus de muitas coisas. Se me considerar apenas deus do Sol, posso ser comparado ao Seokjung, assim como Ártemis. Se me colocar como deus da música, provavelmente posso ser comparado ao senhor Suga. Posso ainda ser considerado deus da razão, o que até cabe bem com o senhor Namjoon, apesar de eu vê-lo como um perfeito equivalente de Atena, a deusa da sabedoria. Mas, além disso tudo, sou patrono do Oráculo de Delfos. O senhor é responsável pelo oráculo Eva, não é?

— Sim. É, é verdade.

— Ele tem mais algumas habilidades — acrescentou Jimin. — Pode ser considerado um dominador de sonho.

— Posso?

— Claro que pode — Jimin disse como se fosse tolice pensar o contrário.

— Nesse sentido, se aproximaria de Morfeu.

— E a Sunny? — perguntou Yoongi. — Luz também tem a ver com você.

— Luz, luz da verdade, luz da razão — concordou Apolo. — Sim. Mas minerais são algo bastante específico também. Soube alguma coisa sobre Plutão, a versão romana de Hades, ter sua relação com as pedras preciosas.

— Sim, é verdade — confirmou Junggie. — Já li sobre isso.

O papo rendeu muito mais, até que a hora da concentração começou a se aproximar. A família Min e os mestres foram se preparar para o show, enquanto o restante do Juízo foi com as visitas em busca de um excelente lugar em alguma das plateias do Multipalco 360º. Junggie e Florzinha não voltaram a se ver depois dessa separação, então não se despediram, cumprindo o trato.


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Notas finais do capítulo

Única coisa triste, né...
Mas o futuro nos aguarda.



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