Bulletproof Grower escrita por Jéssica Sanz


Capítulo 16
Roseiras


Notas iniciais do capítulo

Será que as coisas vão finalmente melhorar para Min Seokjung?



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— Jeon Jungkook, avô, domina o ar. Min Sunghee, mãe, domina a luz. Min Yoongi, pai, domina o fogo. O mundo que o gerou foi criado artificialmente através da cópia de estrelas. O próprio menino é fascinado por astronomia.

— E tem estrelas na alma.

— É, estrelas na… Pera, quê?

— Ué, você não sabia?

— Não. Michung, de onde tirou isso?

— Eu sou uma empata, né, amor… Tem coisas que a gente sabe. Não que isso esteja diretamente ligado a emoção, na verdade. É mais coisa do departamento do Jimin Oppa, mas sim, ele viu isso desde o começo.

— E o desgraçado não me contou!

— Você não precisa saber! Ninguém precisa. Eu mesma só descobri porque isso afetou o Jimin diretamente, então…

— Sei. Bom, então é isso. Ele é um… Astrócino? Isso existe?

— Não. Essa não é a melhor palavra.

— É, soa meio…

— Não pela eufonia. Ele não é um dominador de astros, isso seria algo grande demais, até para um crescente filho de uma crescente. O que ele faz não é manipular diretamente os astros e estrelas, mas sim a forma como eles nos afetam. Principalmente a luz. É um poder parecido com o da mãe, só que mais específico, e com mais alcance.

— Hum… É, não vejo nenhuma utilidade.

— Como não? Os astros interferem diretamente no Destino. Se ele souber usar…

— Então devemos treiná-lo.

— Não tenho certeza.

—  Como não?

— Esse poder é muito amplo, por isso é muito difícil. Investigar, dominar e ensinar seria completamente exaustivo... Para nós e para ele. Talvez valesse à pena se estivéssmos em perigo, mas… Nosso Destino corre bem.

— Será? O céu estava preto ontem à noite. Isso significa que ele está sofrendo.

— Eu sei. Ninguém sabe disso melhor do que eu. Mas… Aprender a lidar com as emoções ainda é mais fácil que aprender a lidar com esse poder. Ele ainda é muito novo! Quando ele atingir a maturidade corporal completa, poderá decidir o que fazer. Se quiser realmente aprender, poderemos ajudá-lo, mas por enquanto… Ele precisa amadurecer de outra forma.

— Ele precisa de ajuda.

— Eu sei. E sei quem pode fazer isso.

— Você.

— Não. Outra pessoa.

 

~

 

A Casa do Juízo era cheia de lugares pequenos que só poderiam ser explorados por crianças do tamanho de Junggie. Estavam entre seus lugares favoritos, pois serviam de esconderijo. Lá estava ele, sentado quase no final de um dos túneis secretos, fazendo a luz de uma lanterna pôr-se sobre as páginas de um livro infantil.

— Lendo no escuro? — perguntou uma voz que surpreendeu Junggie. Não esperava nenhum adulto por ali, mas a surpresa havia sido boa.

— Ouvi dizer que ler no escuro não faz bem para os olhos — informou ele. — Mas aqui isso não importa muito.

— Posso ver o que está lendo?

— Claro.

A mulher abaixada na portinha se transformou em uma raposa e caminhou pelo túnel até chegar ao menino, recostando-se nele.

— Hum, isso é “A Pequena Vendedora de Fósforos”?

— Eu nem deveria estar lendo isso… — murmurou ele, parecendo cansado.

— Te lembra alguém?

— É — disse Junggie, escondendo o sorriso. Sua avó o conhecia tão bem!

— Bom… Você sente falta dela. Mas uma partida não é o fim do mundo, meu bem.

— Ah, não?

— Veja o exemplo do seu tio-avô. Ele ficou bastante triste quando fui para o Japão, mas veja só, já superou muito bem.

— Ele mudou de mundo, halmeoni. Isso é praticamente uma renovação de pensamentos.

— Sei…

— E ele ainda tem o Namjoon Ajussi. Eu nunca vou poder amar alguém enquanto não tiver quinze anos.

— Existem várias formas de amar.

— Não sei se quero amar outra pessoa.

— Hum… Bem. Olha, se você a ama mesmo, saiba que nem tudo está acabado. Eu e seu avô começamos a namorar quando estávamos longe um do outro. Relacionamento à distância é complicado, tem que se dedicar muito pra manter. Mas estamos aqui até hoje!

— E como é isso de relacionamento à distância?

— Usávamos muito a internet, mas quase não existe aqui… Ah, você pode escrever cartas. Demoravam muito mais que internet, mas eram muito românticas, então sempre usávamos.

— Parece interessante. Como eu faria isso?

— Ora, pegue uma folha, escreva tudo o que quer dizer, assine e depois envelope e envie.

— E como eu envio?

— Ah, bom, você coloca seu nome e endereço no remetente e o nome e endereço dela no destinatário.

— Mas eu não sei o endereço dela, halmeoni! Ela não disse pra onde estava indo.

— Isso é um problema. Se quiser que a carta chegue, precisa descobrir. Que tal ver se a Eva pode ajudar?

— Boa ideia!

 

~

 

— Eva, — disse Hoseok — me mostre o paradeiro de Ah Peuro.

— Só um minuto… — eles aguardaram enquanto a Eva (coisa mais parecida com a internet que tinham) fazia sua busca. — Não é tudo o que se pode saber.

— Ah, só pode ser zoeira!

— Cadê o respeito, mocinho? Olha só, pra começar, o Primeiro Mundo é minha especialidade. A função do oráculo é fazer a conexão entre os mundos. Aqui eu tenho um determinado alcance, mais especificamente o território coreano, e eu não achei a menina em lugar nenhum.

— Quer dizer que ela saiu do país?

— Provavelmente.

— É a cara dela — confessou Junggie. — Ela é uma flor morta, quer voar pra longe… Não ia se contentar com mera Coreia do Sul. Deve ter ido pra algum lugar bem distante, diria que é até difícil que ela tenha se fixado em algum lugar.

— Se ela não se fixou, nem dá pra enviar cartas — concluiu Yumi, ainda em sua forma de raposa.

— Então… É isso. Eu vou ter que escolher entre esquecê-la completamente ou conviver com a dor da ausência.

— Não leve as coisas ao extremo, querido — disse Yumi. — Por que não um meio termo? Você não precisa esquecê-la completamente, só precisa guardar essas lembranças em uma caixa. Essa caixa pode até de lembrar que tudo isso está guardado, mas não vai te atrapalhar a seguir em frente.

— E como se segue em frente?

— Ora, você já começou, meu bem. Você mesmo disse que precisava ocupar a cabeça. Apenas continue fazendo isso. Que tal se nós… voltarmos a explorar? Como antigamente?

Junggie sorriu. Tinha feito umas poucas explorações nos últimos dias, e nem tinha se dado ao trabalho de procurar a avó. A companhia dela provavelmente seria ótima para distraí-lo.

 

~

 

Min Seokjung e Jeon Yumi passaram o resto do dia explorando a Casa do Juízo, como tinham feito em boa parte da infância de Junggie antes de ele entrar para Daegu. Foram a vários lugares pouco conhecidos ou acessados e brincaram juntos. No dia seguinte, passaram bastante tempo no observatório. Um dia depois, Yumi decidiu sugerir que eles fosse brincar na área externa, no jardim que Jin havia construído. Brincaram de se esconder durante muito tempo, até que, na correria, Junggie se deparou com as roseiras.

Logo, vários pensamentos começaram a se acumular em sua cabeça, e ele ficou parado, pensando naquilo. Poucos minutos depois, Yumi o encontrou ali e observou-o refletindo sobre aquelas flores.

— Está pensando sobre o livro? — adivinhou ela, depois de um tempo. Sim, Junggie estava pensando sobre O Pequeno Príncipe, o livro do personagem literário que melhor o representava. Ele não precisou confirmar com palavras. Apenas o jeito como passou o peso do corpo para a outra perna e deslizou sua cabeça pelo ar, pensativo, já era uma resposta. Junggie se lembrava de uma cena específica, que Yumi também conhecia. — Ele descobriu que aquela flor que ele achava ser especial e única… era só uma entre milhares que existiam no universo.

— Sim, mas…

— Você sabe que ela é especial. De fato. Ela não é como todas as outras. Mas… se você se ater a esse pensamento que acabamos de relembrar… Talvez possa tornar isso melhor pra você. Você não precisa amar todas as rosas do mesmo jeito que amava aquela que era especial, mas permita-se amá-las. Não deve ignorá-las.

— A senhora disse que existem muitas formas de amar.

— Claro. Amo você como meu neto — a raposa recostou nele, deixando seu pelo ser afagado por sua mão. — Não da mesma maneira que amo sua mãe, que amo como uma filha. Muito menos da mesma maneira que amo seu avô, como um marido. Seu tio-avô como um irmão. Tudo isso é amor. Formas diferentes de… querer estar próximo de alguém e se importar com esse alguém. Você não ama Flor como uma irmã… Mas não significa que não possa amar as outras crianças de Daegu como irmãos.

— Acha… Acha que devo voltar para Daegu?

— Talvez seja bom para você. O que tenho certeza é que seu pai ficará muito feliz. O tempo está passando, Junggie. Quando você crescer, talvez se arrependa de não ter aproveitado esse tempo como criança de Daegu.

 

~

 

Quando Junggie abriu a porta, estavam caminhando pelo espaço. Ele entrou silenciosamente, sentou-se no banco para tirar os sapatos e deixou-os ali antes de começar a caminhar.

— Olhem nos olhos — acrescentou Suga, que era quem estava dando a aula no momento.

Assim, Junggie fez. Começou a encarar cada uma de suas irmãs enquanto caminhava pela sala, ocupando os espaços vazios.

— Lentamente nós vamos parar e olhar para as pessoas ao nosso redor. Sem dar nenhum sinal, vamos encontrar o olhar de alguém e escolher uma dupla. Quando você se conectar com uma dupla, caminhe até ela.

Assim funcionou a dinâmica. A aula era da turma das meninas, o que fazia dos Min os únicos meninos da sala. As garotas começaram a olhar atentamente. Os olhos de Junggie pararam em Jaehwa, e eles ficaram se encarando até que sentiram que deveriam caminhar.

Havia uma conexão, como deveria haver entre qualquer dupla naquela dinâmica. Mas não era a mesma que existia entre ele e Florzinha. Ele sabia disso, mas não se incomodou. Não reclamou da ausência do que faltava, apenas aproveitou a presença do que havia.

— Agora escolham um lugar na sala. Vamos fazer alongamento em dupla.

A maioria das duplas permaneceu no lugar. Só as que estavam muito emboladas se deslocaram para aproveitar o espaço. Suga foi conduzindo o alongamento, onde havia sempre uma pessoa alongando e outra ajudando a forçar.

Junggie estava ajudando Jaehwa a alongar. Esperou Suga ir para o outro lado da sala para quebrar as regras sem que ele soubesse. Não deveriam falar nada, mas ele precisava falar com Jaehwa, então sussurrou.

— Olha, me desculpa pela frieza.

A menina franziu o cenho, deixando sua careta de dor um pouco mais evidente.

— Tudo bem, é pra doer mesmo…

— O quê? Ah, alongamento. Não, eu tô falando sobre a noite no terraço.

— Eu também. Tem que ser frio. Tem que doer. Ou então… A gente não evolui.

— Pode trocar — disse Suga, do outro lado da sala. Jaehwa passou a alongar Junggie.

— Então, acha que evoluiu? — perguntou Junggie, antes de fazer uma careta com o alongamento.

— Você estava certo. Vai fazer seis anos logo. Você não tem motivo para me amar.

— Tenho sim. Você é minha irmã. É assim que eu te amo.

— Já está de excelente tamanho! — brincou ela.

— Ei, vocês dois, parem de conversar — repreendeu Suga, caminhando de volta. — Foco na respiração. — Suga ajudou Jaehwa a forçar um pouco mais.

— Ai — reclamou Junggie.

— Bem-vindo de volta — murmurou Suga, antes de dar dois tapinhas no ombro e continuar caminhando pela sala, escondendo um sorriso.


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Notas finais do capítulo

Alongamentos alegres #sóquenão
A boa notícia é que Junggie está começando a ficar melhor resolvido com seu coraçãozinho. Bom, né?



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