Bulletproof Grower escrita por Jéssica Sanz


Capítulo 10
De volta ao passado


Notas iniciais do capítulo

Postando pelo celular porque meu pc bugou (um dos motivos para a demora)
Desculpem mesmo, tudo enrolado aqui...
Ah, eu amo esse capítulo.



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— Você precisa da minha ajuda — repetiu Florzinha, incrédula. Não porque era uma ideia ruim; apenas inesperada.

— Sim — confirmou Junggie, parecendo um pouco nervoso. — Você vai embora em algumas semanas, e eu estou dando o meu máximo para ficar preparado. Pra isso, preciso da sua ajuda.

— E como posso ajudar vossa alteza? — em outros tempos, esse tratamento poderia soar irônico e rude, mas não mais. Era uma gentil brincadeira respeitando o nome que Junggie ganhara de sua própria família; do pai que ela ainda considerava seu.

— Muito simples: passe um pouco de tempo comigo.

— Eu tenho passado muito tempo com você, mas não entendo como isso pode te ajudar a não sentir a minha falta ou algo assim…

— Se eu passar bastante tempo com você, não poderei me arrepender de não ter aproveitado esse tempo.

— Menino esperto — admitiu Florzinha. — Está poupando seu eu do futuro.

— É, tô — ele riu nervosamente. — Posso desfrutar da sua companhia agora, mas o tempo está passando e ele não vai voltar. Voltando à sua missão, é, temos passado bastante tempo juntos nos ensaios, nos treinos livres e até mesmo no pátio fazendo um monte de nada, mas… Não conta.

— Que horror — murmurou ela.

— Não leve a mal — ele gargalhou, se divertindo com a atuação dela. — São boas memórias, mas estou disposto a criar memórias ainda mais preciosas. E pra isso, tem que ser só eu e você, sem Jaehwa, sem Yonok e sem Namkyu.

— Não tem pena de excluir suas irmãs queridas, Min Seokjung?

— Elas não estão de malas arrumadas. Olha, se você ficar inventando esse monte de desculpas eu vou entender que está aceitando por pura educação — disse ele, dando de ombros e se afastando.

— Para com isso, bobinho — disse ela, puxando o braço dele, mas continuaram a andar. — Eu só tô brincando. Ficarei feliz em passar algum tempo só com você.

— Eu sei. Não é do seu feitio ser legal comigo por educação.

Florzinha deu de ombros.

— Não duvide da minha gentileza, moço. Eu não sou esse monstrinho que você pensa. Mas para onde estamos indo? Que lugar vossa alteza escolheu para ser o cenário de nossas memórias incríveis?

— Selecionei alguns cenários, mas nenhum é aqui em casa.

Então, Florzinha notou que estavam descendo a escada do hall da Casa Daegu.

— Ah, não?

Junggie não falou mais nada. Apenas foi caminhando e sendo acompanhado por ela até uma das entradas da Casa do Juízo, a que ficava mais perto de Daegu e era a entrada oficial de uma casa para a outra. Logo, ele sentiu alguma insegurança se instalando nela.

— Então vamos para a Casa do Juízo?

— Não precisa ter medo, Flor. Eu sei que você tem algumas memórias desagradáveis, mas não existe motivo para temer a minha casa atualmente.

— Realmente não, mas… — Florzinha não tinha argumentos, de fato. Era apenas uma sensação ruim que ela não desejava reavivar.

Junggie temia que isso pudesse acontecer, mas estava preparado. Parou de andar, justamente quando chegavam ao pé da escada, e olhou para ela.

— Olha pra mim. Eu não quero que se sinta mal. Eu quero que passe por cima desse sentimento. Lembra o que eu disse, vamos criar memórias incríveis aqui, memórias que vão desbancar completamente qualquer trauma que você tenha. Confia nisso?

— Confio em você.

Junggie sorriu, um pouco surpreso. Ele não tinha mais o direito de decepcionar.

— Então vem comigo.

Junggie segurou firme a mão de Florzinha e a conduziu para dentro da casa, com um pouco mais de entusiasmo. Felizmente, Min Seokjung tinha sido esperto: não só planejara o dia como estudara o que deveria e o que não deveria fazer. O perigo estava no hall principal, aquele da frente, onde chegavam as visitas. Lá era completamente proibido: cenário da lembrança mais assustadora de Florzinha. Halls, no geral, não eram pedidas muito inteligentes. Ele decidiu levá-la apenas aos melhores lugares da Casa, os mais aconchegantes.

— Estamos indo para o seu quarto? — perguntou ela, ao reconhecer o caminho.

— Sim — disse ele. — Tem algumas coisas que quero te mostrar.

Os dois chegaram logo e entraram no aposento iluminado. Estava um pouco diferente do que Florzinha lembrava de sua última visita. Um pouco menos infantil, com uma pequena cama em vez de um berço e alguns brinquedos a menos. Também tinha uma novidade que chamava muito a atenção dela, mas decidiu não comentar sobre o piano.

— Então, bem-vinda ao meu quarto de infância.

Ela sorriu olhando aquele lugar.

— Apeoji cuidou de cada detalhe para refazer o quarto de infância da eomeoni.

Junggie deu um suspiro de alívio, nem um pouco discreto. Flor riu.

— O que foi?

— Está tratando eles como seus pais novamente. Isso é muito bom.

— É mais ou menos como você: eu só terei esse tempo para chamá-los dessa forma, e vou aproveitar.

Junggie sentiu muita vontade de iniciar uma nova discussão com o tema “você tem mesmo que ir?”, mas decidiu não fazê-lo. Primeiro porque ele tinha prometido não impedi-la, segundo porque isso estragaria todo o clima alegre que o dia precisava ter.

— Que bom. É, o apeoji trabalhou muito bem, como sempre. Ele é muito dedicado em tudo o que faz, é uma das coisas que tento seguir. Me sinto feliz por crescer no mesmo quarto que a minha eomma.

— É um quarto de infância, então deve se mudar quando crescer, certo?

— Sim. Daqui a alguns anos. Acho que os brinquedos devem voltar para Daegu, onde tinham ficado desde que minha eomma cresceu.

— Acha que vai sentir falta dessas coisas?

Junggie hesitou. Era uma pergunta estranha para ouvir dela; sabia que ela tinha sentido falta do móbile. Aqueles objetos transitavam entre as casas.

— Acho que não. Gosto dos brinquedos, eram divertidos quando os ajussis e as ajummas vinham e brincavam comigo quando eu era menor. Brincar sozinho não é tão emocionante, sabe? E eu estou velho demais para que eles finjam ter a minha idade. Eu, na real, queria chamar as crianças de Daegu, mas não posso ficar trazendo muita gente para cá. Parece incrível ser filho de Suga e Sunny, mas não é legal ser a única criança da casa, sabe?

— Você deve ter esperado muito por seus cinco anos — concluiu ela.

— Muito. Eu sempre desejei ter a companhia de outras crianças. Visitava a Casa Daegu, mas não era livre para permanecer pelo tempo que quisesse.

— Nem para exercer as atividades.

— É. Na verdade, os professores nunca me faltaram, mas aprender sozinho é meio chato quando você sabe que há crianças aprendendo em equipe na casa ao lado.

— Eu sempre tive tudo o que você sempre quis — ela notou. — E eu sempre invejei você.

Junggie riu.

— Dizem que a grama do vizinho é sempre mais verde, não é? É muito fácil desejar o que você não tem, mas não dá para desejar algo que já é seu. É seu, tão fácil, tão na sua mão, não parece ter nada de especial.

— É… Acho que esses objetos são exceção. Originalmente da eomma, depois de Daegu, agora seus e depois serão de Daegu novamente. Esse móbile… Ele não deveria me chamar tanta atenção, é a sua história que está escrita nele.

Junggie olhou para os pingentes, sorrindo.

— Sim. Eu amo minha história. A história da minha família. Quer dizer, ela é trágica em alguns pontos, mas ainda é incrível. Eles são incríveis.

— Deve ser por isso que admiro o móbile. Eu não tenho família, nem história.

— Ah, que isso, você deve ter alguma história.

— Bom, quer saber? Eu tenho uma história. Eu tive uma família.

— Aaah, sabia! Certamente você veio de algum lugar.

— Sim. Mas não era uma família muito boa. Parecida com a família do Tae-ajussi. Nós éramos muito, muito pobres. Minha eomma veio pro Segundo quando eu era bem pequena. Eu nunca descobri o motivo da morte dela, mas enfim — Flor deu de ombros. — Pra sustentar a família eu saía na rua pra vender fósforos. Isso não dava muito dinheiro, então eu tinha que me esforçar muito. Caso contrário, meu appa ficaria zangado comigo. Aconteceu na última noite do ano; as ruas estavam cheias, mas ninguém estava interessado em comprar fósforos, é claro. Eu não consegui vender nada, e não tive coragem de voltar para casa sem dinheiro, então fiquei na rua. Só que estava muito frio, eu não sabia quando tinha sido a última vez que eu tinha comido. Eu tentei me aquecer de alguma forma, cheguei a acender os fósforos que eu deveria ter vendido. Me trouxeram boas lembranças e ilusões, aquele fogo, aquela luz… Sabe, Min Yoongi pareceu bem legal tocando piano, mas era simplesmente incrível fazendo fogo sem precisar de fósforos!

— Você morreu de frio? — perguntou Junggie.

— De frio, de fome, de cansaço…

— Aigoo — murmurou Junggie, cruzando os braços com uma sensação ruim.

— Isso faz muito tempo, Junggie. Até parece que você não sabia que eu tô morta. Morrer é ruim, sabia não?

— Na verdade não. Eu e eomeoni nunca soubemos o que é nascer, o que é morrer.

— Têm sorte. Mas vamos parar com esses assuntos tristes. Você disse que queria ter brincado com alguma criança… Tem uma aqui — Florzinha pôs as mãos na cintura, para evidenciar o fato. Junggie riu.

— Tá, mas a maioria dos meus brinquedos são de criança pequenininha…

— E quem liga? Idade e tamanho são uma mentira no Segundo Mundo.

— Então tá — disse Junggie, sem fazer nenhuma questão do contrário. Olhou para as prateleiras. — O que vamos escolher?

— Olha, esses cubos são interessantes — disse ela, abrindo as asas para pegar o brinquedo no alto. Os olhos de Junggie brilharam.

Era uma sacola plástica transparente em formato de caixa. Ela levou pro chão e eles começaram a abrir, animados. De dentro, foram tirando várias peças coloridas com bolinhas no topo que podiam encaixar na parte debaixo de outra peça. Todas tinham a mesma altura, mas eram de tamanhos diferentes, abrindo um grande leque de opções para as construções.

— Vamos montar alguma coisa legal — disse Junggie, empolgado, enquanto examinava os blocos. — Isso não devia ser coisa de criança novinha, é muito divertido.

— É mais legal agora, porque temos noção do que podemos fazer. Vamos projetar a nossa montagem e fazer algo incrível.

— Isso! Podemos começar catalogando esses blocos. Talvez o número de alguma peça nos limite em alguma coisa.

— Não precisa, a embalagem informa quantas peças tem de cada.

— Ah, melhor ainda. Imagina contar esse monte? Deixa eu ver. Ah, aqui. Tem muita coisa!

Junggie leu as especificações de conteúdo. O brinquedo era de 1000 peças. Logo, eles começaram a planejar o que poderiam fazer com as peças que tinham. Foram conversando, desenvolvendo ideias e trabalhando juntos para erguer aquilo. Junggie começou a propor.

— O que vamos fazer? Alguma construção?

— Sem graça. Estamos na construção mais incrível do Segundo Mundo, nunca conseguiríamos superar. E todas as crianças que brincam disso fazem construções, temos que ser originais!

— Talvez você esteja certa, mas… Poderíamos fazer um lugar perfeito. Essa Casa pode ser imensa e cheia de cômodos, mas está longe do que você consideraria ideal pra você, certo?

— Hum — murmurou ela, escondendo o sorriso. Ele era muito malandrinho. — Um lugar que seja bom pra você e pra mim. É possível?

— Certamente. O que você consideraria um lugar ideal?

— Isso é um desafio. Olha, Junggie, recentemente eu percebi que não pertenço a lugar nenhum, e que isso não é ruim. O Segundo Mundo é imenso, com várias ilhas, e cada um acha seu pedacinho de terra voadora pra passar a eternidade. As pessoas se acomodam. Imagina quantas ilhas incríveis estamos perdendo!

— Hum… Você não gosta mesmo de se fixar, né?

— Não!

— Engraçado, porque todo mundo te chama de Florzinha. Flores não têm pernas nem asas, elas têm raízes.

— Mas eu sou uma flor morta! Eu era realmente fincada naquela cidadezinha, naquela realidade miserável da qual não podia fugir, mas… Quando uma flor morre, as pétalas se soltam, elas voam no vento e vão com ele por onde ele as levar. Ser uma flor é muito triste e solitário, mas eu vejo, Junggie, o quanto eu posso ir longe agora que sou livre.

— Entendi — disse Junggie, pensativo. De repente, um estalo. — Bom, então devemos fazer um meio de transporte.

— Ah, boa ideia. Teria que ser um avião, no caso?

— Não pense pequeno. Pode ser o que você quiser.

— Mas as ilhas são separadas por ar, seu maluco…

— Você gosta mesmo de voar, hein? Nunca me interessei por avião, eu tenho asas, qual é a graça? Halmeoni diz que o avião é muito rápido, então você não vai aproveitar o voo.

— A não ser que vá para muito longe.

Junggie deu de ombros. Ele não queria que ela fosse para longe.

— Mesmo assim é melhor ir devagar. Voar devagar, é uma coisa que nunca fazemos. Até porque, se você não pertence a lugar nenhum, qual é a pressa de chegar a algum lugar?

— É… Você tem razão! Então, o que pode ser devagar? Um balão, talvez?

— Sim, sim — disse Junggie, começando a desenhar no caderno que havia separado para projetar. — Um balão de ar quente. Vamos fazer o melhor balão de ar quente de todos os tempos, um balão imenso e ideal para pertencer a lugar nenhum, e vai se chamar Estrela do Destino.

— Por quê?

— Porque as estrelas flutuam. E ele não tem destino. Tá, é só um nome legal que eu li num livro.

— Que falta de originalidade — riu ela. — Mas eu gostei, gostei do nome.

— Então vamo lá.

Os dois projetaram e construíram um grande balão com peças da mesma cor, ou seja, era todo colorido e listrado.

— Ficou incrível! — impressionou-se ele. — Nossa Estrela do Destino está pronta e é maravilhosa.

— Sim. O que vamos fazer agora?

— Quer brincar com ele? Uma aventura aeronáutica!

— Na verdade, queria brincar com um certo brinquedo no qual estou de olho há muito tempo.

Junggie seguiu o olhar de Florzinha. Instantaneamente, compreendeu e começou a caminhar até o pequeno piano de cauda.

— Ah, claro. Meu appa encomendou quando eu era bem menor. Ele já tinha notado que meu interesse pelo piano não era tanto, mas estava com alguma esperança.

— Nunca tocou ele?

— Eu fiz algumas tentativas, toquei algumas notinhas, até aprendi alguns acordes com ele, mas… Deixei de lado logo. Não é muito a minha praia.

Junggie passou a mão pela superfície já empoeirada pelo tempo sem uso, antes de levantar a aba. Com um gesto imponente, ele indicou o banco para Florzinha. Ela riu.

— Eu toco piano todos os dias, simplesmente não vai ter graça se você não tocar comigo, mocinho.

— Ah, não seja por isso — disse ele, se sentando na esquerda. — Será uma honra tentar mais uma vez com uma professora do meu tamanho.


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Notas finais do capítulo

OLHA SÓ ESSE COLLAB



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