8 anos atrás

Risadas.

Elas estão em todo lugar a minha volta enquanto eu caminho até o banheiro da escola. Minhas mãos suam e eu finjo não me incomodar quando um garoto mais velho me empurra sem motivo. Quando entro no banheiro, viro de costas para o espelho e vejo um pedaço de papel colado nas minhas costas. Não preciso me esforçar em ler para saber que é algum xingamento.

Duas meninas entram juntas para lavar as mãos, rindo e brincando. De imediato, me tranco em uma das cabines para evita-las. Minhas bochechas coram de vergonha por ser tão covarde, por não conseguir ter nenhuma amiga. Quando o barulho das torneiras cessa, eu me esgueiro para fora, em direção à sala de aula.

— Ei, burrinha! – Um colega meu grita no corredor, rindo junto a outros. Penso em Caleb, meu vizinho prodígio, e tento seguir seu conselho de não me importar com o que dizem. Ontem, em um dos jantares em sua casa, ele me falou sobre vários gênios que não iam bem na escola. Minha mãe concordou, disse que eu não preciso ficar tão nervosa com as provas, mas seu olhar estava focado nos candelabros sobre a mesa de Daisy. Quando meu pai disse que não sabia mais o que fazer comigo, Caleb sugeriu que ele me levasse a um especialista e encontrou na internet o telefone de um neurologista famoso. Eu não sei o que um neurologista faz, mas tenho certeza que a sugestão de Caleb deixou papai muito nervoso.

Sento na última cadeira da sala e abaixo minha cabeça, sem querer chamar atenção. Meus olhos ardem de sono por ter estudado todas as noites essa semana.

— Deixem apenas lápis, borracha e caneta sobre as mesas de vocês, crianças. – A professora de português passa ao nosso lado, entregando as duas folhas de prova. Minhas mãos suam enquanto eu a espero, nervosa. – Boa sorte a todos.

— A Lucinda vai precisar. – Disse Lucas, um colega sentado à minha frente. Meus colegas, em especial os garotos, riem. Eles acham o máximo o fato de que por mais que não deem a mínima pra os estudos e conversem todas as aulas, suas notas são sempre maiores que as minhas.

— Nada de conversas paralelas. – A professora olha feio para os garotos risonhos e deixa a prova em cima da minha mesa. Respiro fundo, ansiosa e com medo. Minhas mãos suadas aproximam a folha de meus olhos, na tentativa de ler o que está na minha frente. Uma bolinha de papel atinge minha cabeça, mas eu ignoro, tentando ter foco.

Sei que a prova é de ciências, então pulo a primeira linha que normalmente indica isto.

Começo a ler a primeira questão, bem devagar, tentando fazer as letras pararem de saltar de um lado a outro na minha frente.

Quando enfim compreendo que se trata de uma questão a respeito das características principais dos répteis e anfíbios, solto um suspiro de alívio. Escrevo minha resposta com cuidado, na esperança de cometer menos erros ortográficos e evitar perder pontos por isto.

Ao colocar um ponto final na minha resposta da terceira questão, paro um pouco pra beber água da garrafinha da Hello Kitty em meu colo. Percebo que só tenho dois colegas na sala, todos os outros saíram para aproveitar o pátio. Minha professora, então, se levanta da cadeira na qual esteve sentada durante o exame.

— O tempo acabou. Deixem a prova sobre a minha mesa.

Minha garganta trava. Fiz apenas quatro questões de uma prova de dez.

Eu perdi. De novo.

Depois de tanto estudo, mais uma nota feia no boletim.

A professora toma a prova de minhas mãos, mas não nota meus olhos cheios de lágrimas.

Você nunca vai conseguir o que deseja.