Mina

Na manhã seguinte, eu acordei me sentindo mais calma. A claridade que vinha pela janela aberta machucou meus olhos, e eu senti pedaços de ervas sobre mim; Ana ou tia Cassandra podem ter jogado em mim, para garantir que tivesse uma boa noite de sono. Por um momento, fiquei confusa do por que estava com as roupas do dia anterior, e então me lembrei dos acontecimentos e subitamente me senti culpada.

Eu já estava um pouco acostumada a ser uma megera com pessoas que eu não conhecia bem, mas era a primeira vez que eu me sentia realmente mal por ter feito o sorriso de um garoto se apagar. Maldição, o que Seth Clearwater tinha para não sair da minha mente? Agora que eu parava para pensar, ele nem era tão bonito assim. 

Olhei a hora no relógio, dez da manhã; havia dormido muito. Eu precisava de um banho. 

Já vestida, tomei café da manhã sozinha, já que Cassandra não estava em nenhum lugar da casa e Anastácia estava em seu quarto.

Me apoiei timidamente no batente da porta e ela me viu pelo espelho. Vestia sua jaqueta marrom.

— Entra aí, Mina. – sorriu – Me conta o que aconteceu para eu encontrar você dormindo naquele estado.

Ah, então tinha sido Ana que jogara as ervas...

Suspirei, me jogando em sua cama, somente para acabar contando tudo – em detalhes – para minha prima. Ao menos ela não riu.

— Nossa, Miranda... – ela me encarou de olhos arregalados – Coitado do garoto! Aliás, como você conseguiu ser grossa com aquele rostinho? Ele é uma fofice!

Revirei os olhos.

— Eu não fui grossa! – retruquei, indignada – Só fui direta, ele estava me sufocando.

— Tudo bem. – Ana passou a escova no cabelo, conseguindo que os fios ruivos ficassem no lugar – Mas se você se sente culpada, deveria se desculpar.

Bufei.

— Talvez eu nunca mais veja aquele garoto na vida.

— Olha, - ela se sentou ao meu lado na cama – Eu estou indo para a praia em La Push, encontrar Jacob e alguns amigos dele... você poderia vir também.

— E a Cassandra? – indaguei.

— Ela está em Port Angeles fazendo algumas compras. – deu de ombros – Ela sabe que eu vou para La Push, se é isso que te preocupa.

— Eu vou com você, então. – me levantei.

*** 

O caminho de nossa casa até a Primeira Praia não era muito longo, e nós conseguimos perfeitamente fazê-lo a pé. O sol estava encoberto por algumas nuvens, mas hoje estava relativamente mais quente. A visão da praia foi o que momentaneamente tirou meu fôlego; as águas cinza escuro contrastavam perfeitamente com o céu e a areia. Eu não era uma pessoa de praia, preferia o campo, mas o cheiro de maresia me fez fechar os olhos e inspirar profundamente.

— Ana! Mina! – uma voz que reconheci como a de Jacob Black nos chamou de longe. Abri meus olhos e o vi ao longe, perto da água, junto com outros dois garotos.

— Jake! – Ana acenou e segurou meu pulso, me arrastando para onde eles estavam.

De fato, lá estavam Jacob, o garoto que reconheci como sendo Quil alguma-coisa, e... Seth Clearwater. 

Nos cumprimentamos, embora ele ainda tivesse o semblante meio cabisbaixo, o que fez com que o aperto em meu peito voltasse.

— Sabe, - Ana falou para todos, embora encarasse Jacob como se estivesse conversando com ele pelo olhar – Jake, Quil, vamos apostar uma corrida!

Uma corrida. Apostar uma corrida... Eu já tinha entendido o que ela estava tentando fazer, mas sua desculpa foi ridícula.

Quil também pareceu confuso.

— É uma boa ideia. – para minha surpresa, Jacob concordou.

— Vamos! – minha prima segurou o braço de ambos e os puxou, rindo. Ou melhor, eles deixaram que ela os puxasse.

Eu ainda não olhava para Seth ao meu lado. Sentia meus ombros tensos e manter minha respiração regular estava sendo uma luta difícil.

— Você está melhor? – foram as primeiras palavras dele para mim.

Apesar de eu ter sido uma completa megera insensível com ele ontem, quando nos encontramos novamente, ele me pergunta se eu estou bem.

O aperto em meu peito voltou.

Quando voltei a mim, estava abraçada a um corpo muito quente. Eu estava abraçando Seth Clearwater e ele estava me abraçando de volta. Eu mal abraçava Ana ou tia Cassandra, então por que havia tido esse impulso de abraça-lo? Um cara que eu conhecia só fazia um dia!

Mesmo assim, não quis solta-lo. Ele cheirava a almíscar e terra molhada pela chuva. Uma combinação estranha, mas agradável.

— Ei, o que foi? – ele murmurou em meu cabelo.

— Ah, Seth, me desculpe! – despejei – Eu não devia ter sido tão grossa com você ontem, quando você estava sendo tão gentil comigo.

— Está tudo bem, Miranda. – ele me afastou apenas o suficiente para que conseguisse me olhar nos olhos – Você é... perfeita. – ele me olhava com tanta adoração que eu me senti constrangida.

Fiquei parada em seus braços por um momento, apenas estudando seus olhos amendoados e carinhosos... os olhos do lobo que eu  encontrara duas vezes na floresta. Olhos acolhedores e preocupados. Racionais. Que me olhavam com a admiração de um cego que voltara a enxergar.

Suspirei levemente. Ele tinha se apaixonado por mim. Não me surpreendia, ele não era o primeiro a se enganar com minha aparência.

— Ah, Seth. – encostei a testa em seu ombro – Você conseguiria algo tão melhor que eu...

— Eu duvido. – ele murmurou.

E naquele momento, permiti me concentrar na sensação quente que se apoderara de meu coração quando ele disse aquilo.