Mina 

Sábado amanheceu nublado, assim como todos os dias anteriores, mas ao menos não estava chovendo, o que realmente poderia atrapalhar a fogueira que seria a noite. Do meu quarto, ouvia barulhos habituais vindo do andar de baixo, onde Cassandra guardava manualmente seu caldeirão dentro de um baú de madeira que ficaria no porão.

Estava tão ocupada separando a roupa que vestiria mais tarde, que mal notei quando Anastácia pôs a cabeça para dentro da porta e pigarreou.

— O que foi? – perguntei, sem me virar.

— Será que você pode vir um minutinho no meu quarto? – sua voz estava baixa, o que era incomum.

Larguei a roupa na cama e me virei. Ela estava normal, de jeans e camiseta, descalça e com cabelos bagunçados. Nada em seu rosto denunciava algo.

— O que foi? – repeti a pergunta.

— Vem logo! – revirou os olhos – E não fale alto, nem faça barulho.

Atravessei o corredor em silêncio, atrás dela, e quando entrei em seu quarto, sufoquei uma exclamação de surpresa.

Alice Cullen estava ali, sentada em sua cama, sorrindo para mim.

Alice Cullen.

Anastácia tinha permitido que uma vampira entrasse na nossa casa.

Cassandra iria nos matar.

Encarei minha prima com um olhar gélido e ela estendeu as mãos em sinal de rendição.

— Não me olhe assim. – pediu – Não sabia que ela viria aqui, quando vi, Alice já estava batendo no vidro da janela. Ela quer conversar conosco.

— É sobre minhas visões... – a vampirinha começou mas eu a cortei.

— Eu sei sobre suas visões. – falei – Anastácia me contou e também contou a você sobre as próprias visões. Vampiros recém-nascidos estão vindo para Forks...

— Mas quem está por trás deles é a vampira ruiva! – foi a vez de Anastácia me cortar – Acredito que ela busca vingança.

— O nome dela é Victória. – Alice Cullen assentiu, não mais sorrindo – Edward matou o companheiro dela, e ela quer se vingar matando a companheira dele.

— Deixe-me adivinhar – falei, apertando os olhos – Ela quer a humana que se senta com vocês, Isabella Swan?

— Sim. – ela tombou a cabeça para o lado – Como sabe?

— Ora, até mesmo um cego poderia ver que... – nesse momento, meus olhos encontraram com o dela e eu ofeguei.

Estava acontecendo novamente, algo que já não acontecia comigo a muito tempo.

Eu tive uma visão.

Vi uma mulher de rosto sereno, vestida com roupas típicas do início do século XX, olhar para uma garotinha que vestia uma grande capa de chuva, mesmo com o sol alto no céu.

“Mary Alice, o que você está fazendo?”, a mulher perguntou com gentileza.

A garotinha ergueu o rosto e eu a reconheci imediatamente. Tinha cabelos escuros e um sorriso alegre que eu conhecia, mas ali na visão ela tinha a pele morena, e não pálida.

“Vai chover, mamãe.”, ela respondera.

E então, um trovão soou ao longe, ao mesmo tempo em que eu agarrava minha cabeça e cambaleava para trás, saindo da visão.

— Mina! – a voz de Anastácia soava ao meu lado, mas ainda não abria os olhos.

— Eu estou bem. – ergui a cabeça e pressionei os lábios, evitando olhar para as duas pessoas no cômodo – Continuando, Alice, por que veio aqui? – a olhei cuidadosamente, e quando percebi que a visão não voltaria, intensifiquei meu olhar.

— Vim dizer que tive uma visão, envolvendo vocês duas. – Alice respondeu – Vocês irão nos contar o que são, em pouco tempo.

Isso me fez paralisar.

— Então, você ainda não sabe... o que... – olhei para Ana, que parecia confusa e me olhava de volta.

— Eu achei que ela tivesse adivinhado. – deu de ombros.

— Eu não pude ouvir o que vocês diziam na visão. – a Cullen continuou, parecendo um pouco frustrada – Era como se o universo não permitisse!

— E não permite. – falei, com um suspiro – Somente uma de nós pode revelar a você nosso segredo. Não uma visão.

— Se irão mesmo nos ajudar, preciso saber! – Alice se aproximou de mim em um piscar de olhos – Como vou saber se é confiável?

— Você já sabe que somos. – respondi, mas lancei meu olhar cortante a Anastácia, que se encolheu levemente – E esse Edward lê mentes...

— Ele não consegue ler a de vocês. – frisou.

— Apenas porque não permitimos. – Anastácia disse, se jogando na cama, me encarando com um olhar meio culpado e meio implorador.

Respirei profundamente, e fechei os olhos, clareando minha mente. Me permiti pensar por um momento.

Voltei a abrir os olhos e encarei os olhos dourados e brilhantes de Alice, que me encarava ansiosa.

— Nós iremos ajudar no que pudermos para impedir que esses recém criados matem qualquer pessoa inocente, incluindo sua família, Alice. – falei, suspirando – Quanto ao que nós somos... – lancei um olhar a Anastácia, e ela entendeu o que eu quis dizer. “Isso está nas suas mãos também.” – Anastácia, minha tia Cassandra e eu... Nós somos bruxas.

Alice Cullen não pareceu incrédula, apenas muito, muito surpresa. Nos encarava sem piscar, uma hora eu e outra Ana. Eu quase sorri com isso. Quase.

— Há mais coisas entre o céu e a terra, Alice, do que supõe tua vã filosofia. – minha prima disse, e Alice riu.

— Mas como...? Eu nem... – ela tentou dizer, mas a voz de tia Cassandra no andar de baixo nos fez lembrar que não estávamos sozinhas em casa.

— Meninas, o chá está pronto, desçam! – gritou, com sua voz melodiosa.

— Já vamos, mãe! – Ana gritou de volta, enquanto eu arrastava Alice até a janela aberta.

— Você precisa ir! – disse com urgência – E evite pensar sobre isso, ninguém pode saber ainda! Caso Edward descubra por acidente, certifique-se de que ele não conte a ninguém!

Ela se empoleirou na janela.

— Ok. – respondeu, animada – Mas vamos poder conversar mais?

Me contenho para não revirar os olhos.

— Talvez. – respondi – Você já sabe mais do que deveria. Agora vai!