Utópico. escrita por DihDePaula


Capítulo 13
Capítulo 12 - Um monstro maior do que parece.


Notas iniciais do capítulo

GENTE, desculpa o atraso. Tive uns problemas e me enrolei!!



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Nikollay estava sentado em sua cama em silêncio, ele encarava o lado que Amber costumava deitar com uma tristeza em seu olhar. A saudade o consumia mais e mais a cada dia, quando ele achava que estava diminuindo bastava olhar para as madeixas ruivas das gêmeas caçulas. Ou para os olhos verdes de Mark e ai a saudade voltava a atingi-lo como punhais se enterrado bem no meio de seu peito. Ele ainda tentava ser forte pelos filhos e por seu povo, mas a ausência dela o consumia a cada dia. Ele estava absorto em seus pensamentos e lembranças quando pequenas batidas contra o vidro e o gralhar ensurdecedor preencheram o ambiente. Ao erguer seus olhos negros na direção do barulho viu o corvo de Madame Seraphine batendo freneticamente contra a janela fechada. Nikollay franziu o cenho e tratou de se colocar de pé, caminhando com passos rápidos até o animal. Assim que o homem abriu a janela o animal voou direto para um poleiro que Nikollay havia colocado bem ao lado da escrivaninha. Rapidamente ele foi até o animal e retirou a carta que estava bem enrolada e amarrada aos pés da criatura.

Nikollay sentou na cadeira que ficava a frente da escrivaninha e começou a ler. Leu as reclamações de Luna sobre Pablo, pelo visto ele não estava sabendo obedecer as ordens dela e ficar em seu devido lugar, Nikollay temia que os sentimentos cegassem o jovem e era exatamente isso que estava acontecendo. Conforme continuou a ler seu semblante mudou para um misto de fúria e preocupação. Eleanor estava o tempo inteiro bem de baixo do nariz deles presa por aquele crápula e mais uma vez Travis sabia de tudo, claro que ele não deixou a chance de prejudicar os Deverpolt passar. Nikollay levantou tomado pela raiva e com a carta em suas mãos caminhou até onde ficava as cadeiras do líderes. Era quase uma sala do trono, mas Nikollay não gostava de chama-la daquela forma, ele não se sentia um rei. Mas ali ele recebia alguns convidados e recebia também os outros membros de seu clã para questionamentos e reclamações. Tinha duas cadeiras ali, uma que pertencia a ele e uma que um dia pertenceu a Amber. Com um suspiro o homem se sentou na de Amber e deslizou seus dedos pelo braço de madeira, tinham varias rosas entalhadas ali e ele sabia o quanto a esposa amava aquilo. Nikollay então voltou a ler a carta, prestou atenção no plano que Luna havia montado e sorriu com orgulho de sua filha. Tudo que ele precisaria fazer era esperar nos limites da floresta pela irmã e pela sobrinha. Quem diria que ele a essa altura de vida descobriria uma sobrinha?

— O senhor deseja alguma coisa? — Perguntou Ramona.

Ramona trabalhava na casa de Nikollay desde que Amber tinha aparecido na vida dele, elas tinham se tornado amigas e Ramona ajudava Amber, ela cuidava da casa enquanto Amber cuidava dos assuntos do clã junto com Nikollay e também ajudava com as crianças quando os dois estavam ocupados. Com um suspiro Nikollay assentiu e disse.

— Chame Cameron e depois pode ir dormir. — Disse Nikollay em um tom de voz cansado.

Ela assentiu e fez uma pequena reverencia ao sair, isso fez com que Nikollay revirasse os olhos. Ele não gostava daquilo, mas não adiantava ele falar porque no fim das contas todos faziam exatamente a mesma coisa, não importava o quanto ele contestasse. Ainda tinha mais algumas coisas escritas na carta, então o homem voltou seus olhos para lá e continuou a ler em absoluto silêncio. Luna estava falando sobre os dois mais novos da Travis, pelo que ela descrevia eles não eram pessoas ruins, nem concordavam com a atitude do pai e admiravam muito Elena, inclusive estavam criando um projeto social inspirado nela, além de tentarem retomar os projetos antigos de sua mãe. Nikollay ficou impressionado com aquilo, que filhos daquele crápula seriam capazes de ser assim. Luna somente narrou os fatos, mas conhecendo sua filha ela só podia estar fazendo aquilo porque queria poupa-los. O homem suspirou e ficou encarando a carta, muitos falavam que ela era exatamente igual a ele, Nikollay sempre achou que estavam falando besteira, mas nos últimos anos e principalmente depois da morte de Amber ele viu que todos estavam mais do que certo e isso causava uma certa aflição nele.

— O que aconteceu? — Cam entrou com o rosto confuso e preocupado.

— Você deveria estar descansando, Agatha! Tem pouco mais de um mês que você teve o bebê. — Reclamou Nikollay.

Agatha estava logo atrás dele envolta em um chalé preto e a mulher simplesmente revirou os olhos e ignorou o comentário do cunhado. Ambos estavam com uma expressão preocupada tomando conta de sua face, eles sabiam que Nikollay não os chamaria aquela hora a menos que fosse importante. Com um suspiro Nikollay ficou de pé e estendeu a carta para Cameron e logo ele começou a ler com Agatha bem ao seu lado. Assim como Amber e Nikollay dividiram tudo, aqueles dois também dividiam. Nikollay já havia se acostumado com a presença de Agatha em meio as reuniões e sempre respeitava muito a opinião dela, assim como ele respeitou a de Amber durante todos esses anos.

— Isso... Isso é verdade? — Questionou Cameron com uma expressão de horror em sua face.

— É a letra da Luna, ela nunca mentiria sobre algo assim. — Foi tudo que Nikollay disse.

A expressão de Cameron mudou, o ódio tomou conta de sua face e desde que eles eram crianças foram poucas as vezes que viu essa expressão na face dele. Nikollay o olhava apreensivo, assim como Agatha. A mulher deslizava sua mão sobre as costas do marido e suspirava para em seguida começar a falar algo baixo, provavelmente para acalma-lo. Era extremamente raro ver Cameron perder a calma, mas Nik o conhecia o suficiente para saber que isso aconteceria naquela noite.

— AQUELE FILHA DA PUTA. Eles estavam com elas o tempo inteiro. — Cameron começou a andar de um lado para o outro — O papai! O desgraçado sabia disso!

Ao ouvir aquelas palavras Nikollay ficou confuso e caminhou até Cameron e o segurou pelos ombros. O sacudiu por alguns segundos para faze-lo voltar a realidade. Nikollay o encarava serio e respirou fundo. Cameron o encarou de volta e aos poucos a respiração dele começou a se acalmar. O mais novo fechou os olhos e deixou um suspiro escapar de seus lábios e depois começou a dizer.

—  Explique.  — Ordenou Nikollay.

— Uma vez eu perguntei o papai o por que quando ele ficou sabendo do que Travis pretendia ele não fez algo. E ele me disse que Travis tinha algo que era muito precioso para ele e que ele não poderia arriscar. — Disse Cameron, agora a voz estava carregada de tristeza. — Eu estranhei, papai nunca foi muito de se apegar a coisas materiais. Mas agora faz sentido, provavelmente ele sabia de Eleanor e da filha dela! E por isso ficou quieto, para que não a matassem.

Naquele momento foi a vez de Nikollay xingar e perder a calma. Como ele havia ido tão longe? E tudo pelo que? Por poder? Por despeito por Amber tê-lo rejeitado? Nik estava cego pelo ódio e pela raiva, caminhou até a parede e caminhou de volta para onde os dois estavam. Ficou fazendo esse caminho por algum tempo, até que exclamou um palavrão e desferiu um soco contra a parede. Nikollay era um homem forte, principalmente por sua genética de lobo. Agora havia um buraco na parede com o formato de seu punho.

— QUE MERDA! POR QUE ELE NÃO DISSE NADA ANTES? A GENTE TINHA TIRADO ELA DE LÁ. — Esbravejou Nikollay, provavelmente acabariam acordando todos da casa. Mas ele não estava se importando com isso no momento.

— Provavelmente ele não sabia onde ela estava. E não quis arriscar a segurança dela. — Disse Agatha.

Era a primeira vez que sua cunhada se pronunciava e o que ela dizia fazia sentido. Conhecia seu pai o suficiente para saber que ele era cauteloso até demais Com um suspiro Nikollay se aproximou dos degraus que ficavam bem na frente das duas cadeiras e sentou-se ali no chão. Ficou em silêncio apoiando seus braços sobre os joelhos. Não demorou muito Cameron estava sentado ao seu lado com a mesma expressão de desolação que a dele.

— Pai? Está tudo bem? — Perguntou Mark.

Ao olhar para a porta que dava para o corredor que ficavam os quartos, viu que os seus filhos estavam parados ali. Encarando com um misto de preocupação e sono estampado em suas faces. Olhar para quase todos os seus filhos ali preocupado com ele, o fez dar um pequeno sorriso. Pelo menos Amber havia dado a ele uma linda família e muito amor, amor que ele levaria consigo até o seu tumulo. Nikollay maneou a cabeça negativamente e soltou um suspiro.

— Recebemos uma carta de sua irmã. — Disse ele desanimado.

— Ela está bem? — Exclamou Bruce com a expressão de pavor em sua face.

Nikollay as vezes esquecia o quanto os dois eram apegados e talvez os gritos e as expressões deles passassem uma impressão errada para os filhos. O homem se pois de pé e caminhou até eles enquanto assentia. Viu Bruce e os outros respirarem aliviados, sabia que todos estavam com medo de que algo acontecesse com Luna, afinal se ela fosse descoberta as coisas não acabaria bem para ela.

— Sim ela está bem sim, com muita saudade de todos e doida para voltar logo para casa. Mas ela nos passou algumas informações que nos pegaram de surpresa. Mas amanhã eu conto tudo para vocês, me deem um beijo e voltem para cama. — Disse Nikollay

As primeiras a correrem para Nik foi Cat e So soltando pequenas risadas, ele se abaixou e envolveu as pequenas em seus braços em um forte abraço. Em seguida desferiu um pequeno beijo no topo da cabeça de cada uma. Em seguida elas deram as mãos e foram saltitado pelo corredor. Em seguida Brooke e Tommy se aproximaram e ele pode ficar de pé para abraça-los, fez os mesmos gestos de afeto e eles sumiram na direção que as gêmeas haviam ido. Quando foi a vez de Bruce, Nikollay o abraçou mais forte e se demorou um pouco mais no abraço, sabia que ele estava se sentindo só e estava sentindo demais a ausência de Luna, mas do que qualquer um. Pousou suas mãos sobre os ombros dele e o encarou com uma expressão mais suave.

— Ela está bem. Ela é forte, bem mais forte do que eu até, não se preocupe. — Disse Nik dando um pequeno sorriso depois.

Bruce somente assentiu e soltou um suspiro, Nikollay depositou um beijo no topo de sua cabeça e ele se afastou com calma e um pouco de tristeza. O Homem deslizou as mãos pelos cabelos negros e bufou. Estava difícil continuar criando eles sem a ajudar de Amber, ela era melhor em acama-los. Ele se aproximou dos dois mais velhos e os abraçou, também desferiu um pequeno beijo na testa de cada um. Mas em vez de deixa-los ir pelos corredores, ainda os envolvendo começou a leva-los  na direção que estava Cameron e Agatha.

— Deixem eles verem a carta. — Disse Nikolllay depois de solta-los.

Cameron entregou a carta e Elena e Mark começaram a ler e ficaram confusos com aquilo tudo . Começaram a fazer várias perguntas sobre a tia que nunca haviam ouvido falar e Nikollay e Cameron começaram a explicar tudo. 

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Luna estava exausta depois daquela noite. Quase não havia dormido e seu sono foi perturbado por alguns pesadelos, aquilo tornou tudo ainda pior. Estava basicamente se arrastando pelos corredores, tentou esconder as olheiras com maquiagem com a ajuda de Abigail, mas não deu muito certo no final das costas. Quando Luna entrou na sala de jantar todos já estavam sentados e em silêncio. Ela percebeu que tinha algo errado, porque Luce e Sebastian estavam sérios e a expressão de Sebastian era de pura raiva, ela nunca tinha visto ele daquela forma. Caminhou até sua costumeira cadeira entre ele e a Amélia, lançou um pequeno sorriso para todos e disse.

— Bonjour! — Não foi tão animada como queria, pois estava exausta.

Ouviu eles resmungarem de volta o cumprimento e estranhou aquilo. Começou a comer e partilhou do silencio, ela não estava entendendo nada. Geralmente estavam sempre conversando ou brigando, mas não naquele dia. Estavam em silêncio, Luce irritada e Sebastian com raiva. Amélia que sempre estava sorrindo e puxando assunto estava com a cabeça baixa em silêncio, não tinha encarado Luna nem mesmo quando a jovem entrou no recinto.

— Amélia eu estava pensando, se você poderia me ajudar em uma coisa? — Luna disse aquilo e começou a pensar em algo.

— Em que você quer ajuda querida? — Amélia disse e a olhou distraída, mas depois virou o rosto rapidamente.

Mas não foi rápida o suficiente para que Luna não visse a mancha roxa ao redor dos olhos, o lábio cortado. A expressão de Luna foi de completo horror, encarou Travis que continuava a comer como se nada tivesse acontecido, Albert parecia desconfortável e Bernard estava com uma expressão triste. Agora ela entendia a raiva de Luce e Sebastian, agora ela também estava com raiva. Sua vontade era de enfiar aquela louça goela abaixo de Travis, sua vontade era se transformar ali mesmo e dilacerar o pescoço de Travis. Seu pai havia repetido para seus irmãos ao longo dos anos que eles nunca deveriam levantar a mão para uma mulher, que eles nunca deveriam nem considerar isso uma possibilidade e para as meninas ele sempre dizia para nunca permitirem que um homem fizesse aquilo conosco. Para se isso acontecesse era só degolar o pescoço dele na primeira oportunidade ou chama-lo caso não quisesse sangue em suas mãos. Como Luna não ligava para o sangue e suas mãos já estavam sujas, ela não se importaria em matar gente daquele tipo. Ela teve ainda mais desprezo por Travis naquele momento. Sentiu uma mão pousar sobre a sua e viu que era a de Amélia, ela lhe deu um sorriso fraco. Naquele momento ela percebeu que estava com os punhos cerrados e provavelmente uma expressão de fúria e todos a encaravam.

— Deve estar pensando o que foi isso né? Eu sou tão desastrada acabei caindo e me machucando. — Disse a mulher do forma sem graça.

— Caiu sobre um objeto muito curioso pelo visto, ele tem o formato de um punho por acaso? — As palavras saíram entre os dentes e ríspidas, ela estava cagando sobre as consequência que isso lhe traria.

— Se ela disse que caiu, ela caiu. — Disse Travis encarando Luna com um olhar ameaçador.

A morena engoliu a seco e se levantou, jogou o guardanapo sobre o prato e começou a caminhar na direção da saída quando escutou um pigarro. E em seguida a voz de Travis ressoou pelo cômodo.

— Não comeu nada, onde vai? — Travis disse com rispidez, mas Luna não se importou. A jovem se virou e o encarou irritada.

— Perdi a fome, acidentes desse tipo me dão náuseas. — Ela falou de forma debochada, principalmente na parte do acidente.

Ela tinha que sair dali rápido ou poderia perder o controle e se isso acontecesse por um segundo se quer, tudo estaria perdido. Ela não esperou uma resposta, atravessou as portas e começou a andar rápido para longe dali. Podia sentir a raiva tomando conta de seu corpo, seus olhos ardiam e aquilo não era bom. Depois de um tempo ela se apoiou em uma das paredes e levou a mão aos olhos e tapou os mesmos. Sabia que eles haviam mudado, ela sentia quando isso acontecia e não podia deixar ninguém vê-la.

— Srta. Luna está tudo bem? — Era a voz de Abigail.

— Está sim, pode deixar. Só entrou algo em meus olhos. — Disse Luna deslizando dois dedos sobre as pálpebras fechadas.

— Deixa eu ver. — Disse Abigail tocando o braço de Luna.

— Não... Você não pode. — Luna engoliu a seco, nunca tinha falado daquela forma com Abigail.

— Luna, eu te conheço já faz mais de um mês, estamos convivendo e até ouso dizer que agimos como amigas. Vai me dizer o que está acontecendo com você ou não? — Disse Abigail de forma autoritária.

Luna suspirou e negou com a cabeça, não podia correr o risco de alguém ver seus olhos, ainda não tinha voltado ao normal. Ela não sabia se poderia confiar em Abigail aquele ponto, seu coração dizia que ela podia. Mas Luna morria de medo disso.

— Você não pode ver ou saber o que está acontecendo. Porque se você contar para alguém, pessoas vão morrer. — Foi tudo que Luna pode dizer.

— Eu juro que não importa o que seja, não vou dizer a ninguém. — Disse Abigail pousando sua mão sobre o ombro de Luna.

Seus pais sempre lhe disseram para seguir seu instinto e seu coração, naquele momento ambos estavam tranquilos com relação a Abigail. Mas ela tinha medo de colocar tudo a perder, caso deixasse alguém saber daquilo. Mas ela estava enlouquecendo sem poder ser ela mesma. Na verdade na maioria das vezes que era ela mesma era com Abigail e algumas vezes com Sebastian. A morena respirou fundo e abriu seus olhos, encarou Abigail que estava com uma das mãos pousada sobre o quadril. Ao encarar Luna seu semblante mudou para um misto de surpresa e um pouco de medo. Mas ela não se afastou, só ficou encarando Luna e depois de um tempo disse.

— Você é um deles, não é? — Abigail perguntou.

— Sim e o que você vai fazer? — Perguntou Luna ainda com medo.

A loira abriu um sorriso e abraçou Luna forte, isso fez a morena franzir o cenho confusa com aquilo tudo. Abigail segurou os ombros de Luna quando se afastou e encarou seus olhos que provavelmente estava dourados ainda.

— Vou te tirar daqui antes que alguém veja. Minha família era amiga da sua, não cresci odiando vocês. Ao contrario, vamos. E feche os olhos. — Ordenou ela.

Abigail tomou Luna pelos braços e começou a guia-la pelos corredores. Luna ainda estava receosa, mas ela sabia que Abigail não a entregaria. Viu isso nos olhos da jovem assim que ela percebeu quem Luna realmente era. Não demorou muito para entrarem em um cômodo e Luna sentir o cheiro familiar de suas coisas.

— Pode abrir os olhos. — Disse Abigail animada enquanto trancava a porta. — Eu tenho tantas perguntas!

— Não sei se vou poder responder todas, pelo menos não agora. — Disse Luna enquanto virava para ela. — Merda eu tenho que me acalmar, não posso deixar isso acontecer de novo.

— Mas por que seus olhos estão assim? — Perguntou Abigail curiosa.

— De todos eu sou a melhor em controlar meu temperamento e meus poderes sabe. Mas as vezes acontece de eu perder o controle e a primeira coisa que muda são os meus olhos. Eu consigo impedir a transformação do corpo por um todo, mas quando eu perco controle os olhos mudam e não tem nada que eu consiga fazer a não ser me acalmar. — Disse Luna enquanto se sentava na cama.

Luna deu um tapinha no colchão ao seu lado e não demorou para Abigail se aproximar dela com um sorriso e se sentar bem ao seu lado. O medo já havia sumido de sua face, agora Luna só via empolgação e aquilo fazia com que ela tivesse bastante vontade de rir.

— E o que te deixou assim? E os lobos não se transformam só na lua cheia? — Perguntou ela parecendo confusa.

— A maioria sim, mas eu sou diferente. Me transformo quando eu quiser. — Explicou Luna e em seguida soltou um suspiro. — Travis bateu em Amélia.

A expressão de Abigail se tornou triste e ela ficou encarando o chão por alguns segundos. Foi ai que Luna percebeu que não era a primeira vez, provavelmente aquilo era corriqueiro e ninguém fazia nada.

— Não foi a primeira vez não é? — Ela perguntou e Abigail assentiu confirmando.— E por que ninguém faz nada?

O tom dela tinha se elevado um pouco, não gostava daquele tipo de coisa. Como ninguém fazia nada, nem os filhos deles? Ela não conseguia se conformar com aquilo, era medonho demais.

— Sr. Sebastian e a Srta. Luce tentaram algumas vezes, mas... — Abigail engoliu a seco e não concluiu a frase.

— Mas o que? — Perguntou Luna preocupada.

— Chame eles para um banho na piscina, que a Srta. vai entender. — Disse em um pequeno sussurro desanimado.

Provavelmente a loira não falaria mais nada, pelo visto ela não conseguia. Então algo ruim tinha acontecido e por medo ninguém fazia nada. Mas Luna, ela não tinha medo de Travis, era ele que deveria temê-la. Luna suspirou e caminhou até o seu armário pegou a roupa de banho e um vestido simples verde para jogar por cima. A queimação já havia sumido, mas para confirmar ela encarou seu reflexo no espelho que ficava preso a porta do guarda roupa na parte de dentro. Estavam azuis novamente.

— Avise a eles dois que estarei esperando eles na piscina e para eles colocarem trajes adequados para isso. Peça para alguém levar alguma coisa pra eu comer, por favor.  Porque eu to morrendo de fome. Só que eu não consegui ficar naquele lugar. — Disse Luna.

Ela caminhou até Abigail e a abraçou, soltou um pequeno suspiro quando e afastou e ficou encarando a loira. Que ainda a fitava animada.

— Confiei você um segredo importante. Se você contar a alguém eu serei morta ou seja, estou te confiando a minha vida. E pelo amor da Lua, para de me chamar de Srta. é você e Luna. Ainda mais depois de hoje. — Luna a fitou com um pequeno sorriso em seus lábios.

— Pode deixar Luna! Não vou decepcionar você, obrigada por confiar em mim! — Disse ela de forma animada dando outro abraço na morena.

Luna soltou uma pequena risada e assentiu, não demorou para Abigail sair dali a deixando sozinha. Então Luna começou a se despir para colocar a roupa de banho e o vestido verde, assim que fez aquilo trocou as sandálias de salto por simples chinelos. Sem demorar mais a morena saiu de seu quarto e foi na direção do andar de baixo, mas usou a escada da parte de trás, não queria correr o risco de encontrar pessoas indesejáveis e naquele dia a lista estava maior. Não demorou muito para chegar na área onde ficava a piscina, o sol estava brilhando de forma radiante e quente bem acima de suas cabeças.

— Quando Abigail disse que você estava chamando a gente pra isso quase não acreditei! — Disse Luce enquanto se aproximava de Luna.

Luce estava com um biquíni branco e com uma saia da mesma cor cobrindo a parte de baixo do biquíni. Mas a parte de cima só estava envolta no biquíni mesmo. Ela deu um pequeno beijo estalado no rosto de Luna e riu. Logo atrás dela estava Sebastian, ele estava somente com uma bermuda preta e uma toalha sobre seus ombros. Luna arfou e o olhou de cima abaixo, foi obrigada a conter um suspiro naquele momento. Ele estava com o peitoral totalmente nu e exposto, ela tinha que admitir que era um belo de um peitoral definido e bastante convidativo. Luna estava com uma súbita vontade de toca-lo, mas se conteve.

— Está um calor infernal, no final das contas foi uma boa ideia. — Disse Sebastian com um sorriso nos lábios enquanto se juntava a elas.

Ele se aproximou e depositou um pequeno beijo no topo da cabeça de Luna de forma terna. Aquilo fez as bochechas da jovem corarem, ela acabou ficando sem reação diante daquele ato de Sebastian. Já Luce estava rindo feito uma hiena bem ao lado deles. Ambos encararam ela tentando manter uma expressão séria.

— Se pequem logo, pelo amor de Deus! — Exclamou Luce.

Aquilo fez com que Luna ficasse ainda mais vermelha e que tivesse vontade de se enfiar em um buraco. Luce começou a caminhar até a beira da piscina, ela puxou a saia e deixou a mesma sobre uma das espreguiçadeiras, ficou de costas para eles e se esticou enquanto ficou observando a piscina. Sebastian deixou a toalha sobre uma espreguiçadeira e caminhou na direção de Luce com cuidado, logo depois ele a empurrou na piscina e começou a rir enquanto ela o xingava.

Luna estaria rindo também se não estivesse com tanta raiva, agora ela entendia o que Abigail queria dizer. As costas de Luce e Sebastian tinham extensivas cicatrizes brancas se espalhando por toda aquela região, Luce tinha um pouco menos. Mas as de Sebastian eram mais grossas, em maiores quantidades e maiores no tamanho, tinha algumas até sobre os ombros dele. Luna ficou olhando aquilo horrorizada, mas foi obrigada a manter a calma para que seus olhos não mudasse novamente. Se ela perdesse o controle não sabia do que seria capaz.

Luna acabou de descobrir que o Travis era um monstro bem pior do que eles pensavam.


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Notas finais do capítulo

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