Utópico. escrita por DihDePaula


Capítulo 12
Capítulo 11 - Revelações.




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Luna já estava impaciente, eles passaram horas escondidos entre as moitas. Finalmente a movimentação na casa cessou, as luzes foram apagadas e o silêncio reinou naquela propriedade. Um suspiro de alivio escapou de seus lábios assim que ela começou a se esgueirar pelas sombras se aproximando da construção. Pablo vinha logo atrás dela em silêncio e alerta deixando seus sentidos aguçados, eles não poderiam ser vistos e muito menos ser pegos ou isso colocaria tudo em risco.

Qual é a janela? — Questionou Luna.

Pablo começou a andar na frente mostrando o caminhou, não demorou muito para eles estarem parados na lateral da casa. Pablo ergueu o indicador e apontou para uma pequena sacada, Luna assentiu entendo o que ele queria dizer. A morena respirou fundo e se agachou, ela se apoiava nas pernas e tencionava cada músculo de suas pernas. Depois de alguns segundos ela simplesmente pulou, ergueu as mãos e se agarrou a beira da sacada, sem muitos esforço ela ergueu o próprio corpo e pulou para dentro da sacada.

Pelo corpo deles ser diferente eles podiam fazer coisas daquele tipo, os músculos deles, principalmente os de Luna eram fortes. Quando humanos se agachavam para ter algum tipo de impulso para pular eles se levantavam alguns centímetros, já aquelas que descendiam dos lobos como a maioria dos Deverpolt, podiam pular a metros de distância.  O máximo que Luna já tinha conseguido era 10 metros, ela já havia visto Cameron pular 14 e Nikollay 18. Com bastante prática chegaria lá um dia.

Alguns segundos depois Pablo estava caindo ao seu lado de forma silenciosa, pararam para analisar a situação. Se concentraram para ouvir e sentir tudo ao redor deles e principalmente para descobrir se tinha alguém no escritório, estava vazio. Sem mais demora Luna empurrou a porta da sacada, claro que não estava trancada, na mente deles ninguém subiria por ali. Se não fosse como Luna ou Pablo seria simplesmente impossível. Quando Luna entrou naquela sala um cheiro de podre misturado a sangue invadiu suas narinas, isso vez com que a jovem fizesse uma careta e negasse com a cabeça.

— Pelo visto não limparam direito isso aqui. — Resmungou Pablo.

Provavelmente os corpos já estavam apodrecendo quando tiraram daqui. — Sussurrou Luna enquanto caminhava pela sala com cautela. — Onde é a passagem?

Pablo então se apressou indo para a direita e Luna o seguiu, quando chegaram próximo a uma das paredes ela pode perceber uma grande estante, estava bem escuro ali e toda a claridade vinha do lado de fora, provida somente pela lua. Luna tateou a lateral da estante e não demorou para achar o vão, ela ficou se perguntando se ela se moveria se eles puxassem um livro ou se o mecanismo era outra coisa, a jovem decidiu não perder tempo. Segurou a estante e começou a arrasta-la.

Vai fazer barulho! — Exclamou Pablo olhando para os lados assustado.

Mas não foi isso que aconteceu, eles escutaram um clique e um livro tinha tombado para frente. E no mesmo instante a estante correu sozinha, afastando uma parte da parede dando passagem. Era um corredor e alguns passos a frente tinha uma pequena luz, Luna se concentrou e percebeu que não havia ninguém ali, então provavelmente era uma algum tipo de luz artificial. Sem qualquer temor ela entrou pelo buraco atrás da estante e começou a caminhar pelo corredor silenciosamente, Pablo a seguiu sem demora, não demorou muito para a passagem se fechar e eles serem engolidos pela escuridão. Luna então sorriu e começou a revirar sua bolsa em busca de algo.

—  E ainda dizem que bolsas são inúteis. — Resmungou a jovem.

Pablo provavelmente encarava Luna confuso, mas tudo que a jovem fez foi puxar algo de dentro da bolsa e um click foi ouvido pelos dois. Então a luz de uma pequena lanterna iluminou o corredor que antes estava completamente escuro. Luna percebeu que o corredor dava em uma escadaria que descia em caracol, ao apontar a lanterna para o chão viu uma pequena trilha seca de gotículas vermelhas. A morena se abaixou perto de uma de esfregou seu dedo sobre a mesma, logo em seguida a ergueu até o nariz.

Sangue. —   Sussurrou Luna olhando para Pablo.

Em silêncio ela e Pablo começaram descendo bem devagar seguindo a trilha de sangue, após algum tempo ela viu um corredor de um lado e mais degraus do outro. A trilha de sangue continuava pela escadaria, mas eles precisavam saber o que tinha no outro corredor. Bem na entrada do corredor tinha uma pequena luz artificial presa a parede, mas ao encarar a escadaria ela estava completamente escura.

— Por onde vamos? — Perguntou Pablo.

— Você verifica o corredor e eu vou descer, provavelmente o corredor sai em alguma parte do primeiro andar. Descubra onde e venha me encontrar e não seja pego.  — Disse Luna com firmeza e logo depois começou a descer.

— Espera! Não acho boa ideia nos separarmos. Pode ser perigoso pra você. — Pablo segurou o braço de Luna a impedindo de continuar.

Luna parou e encarou a mão de Pablo e depois olhou para o rapaz, seus olhos se tornaram negros e sua expressão não era nada amistosa. Rapidamente Pablo soltou o braço dela  encarando a jovem assustado. A jovem deu uma risada sem humor e disse.

Esqueceu com quem está falando? Perigoso só se for para eles ou para você. Siga a ordem que lhe foi dada. — As palavras saíram com rispidez.

Luna não esperou por uma resposta de Pablo ela simplesmente continuou a descer pelas escadas em silêncio e com cautela. Pablo resmungou alguma coisa, mas sinceramente ela não se importava, eles tinham uma missão a cumprir e não ia ficar perdendo tempo com Pablo e seus sentimentos. Talvez ela fosse obrigada a ter uma pequena conversa com ele, para que ele se lembre quem ela é e que ela não pretende retribuir os sentimentos dele, Luna estava pensando em acabar com aquele caso que eles tinham. Pablo não sabia separar as coisas e isso já estava irritando Luna, não precisava de ninguém tentando lhe dizer o que fazer. Ela foi criada para tomar as próprias decisões, ela foi criada para analisar a situação e tomar decisões rápidas e com menos danos colaterais. Ele estava achando o que? Que todos aqueles anos com Nikollay lhe ensinando os deveres de um Alpha ela realmente não saberia o que fazer? Ele estava achando que tinha algum tipo de influencia sobre ela?

Esse pensamento fez com que Luna soltasse uma pequena risada, pelo visto ele era tão patético quanto Bernard, que achava que tinha Luna na palma de sua mão. Soltando um suspiro a jovem continuou descer as escadas em silêncio, seus sentidos ainda estavam aguçados. Não poderia correr o risco de ser surpreendida por alguém, podia ouvir um leve farfalhar de passos acima de onde estava, provavelmente era Pablo. Ela chegou ao último degrau e parou pressionando a lanterna contra seu corpo e ficou em silêncio para perceber se escutava algo, nada.

Ela podia sentir cheiros fortes vindo de algum lugar a sua frente, respirando fundo e  com cautela ela voltou a erguer a lanterna e direcionou a luz por todo aquele lugar. Dando dois passos para frente enquanto movia a luz percebeu que aquilo era uma espécie de quarto, isso fez com que Luna franzisse o cenho. Por que teria um quarto atrás de uma passagem secreta? Tinha uma pequena cama com lençóis sujos e velhos, um pequeno guarda roupa que provavelmente só caberia cerca de 4 ou 5 peças de roupa. Pode observar duas portas e resolveu descobrir o que tinha nelas, a porta mais próxima ficava a esquerda de Luna, sem perder muito tempo a morena caminhou até a mesma e encostou seu ouvido na porta, silêncio. Então com cuidado ela abriu lentamente a porta e direcionou a luz para um pequeno banheiro com um sanitário e um chuveiro, o cheiro que saia dali não era muito agradável. Então Luna tratou de fechar a porta e caminhar na direção da outra, quando estava prestes a abrir a porta escutou passos vindo da direção da escada. A jovem então apagou a lanterna e se escondeu em meios as sombras, provavelmente era Pablo, mas ela não podia arriscar caso não fosse.

— Luna ? — Sussurrou Pablo enquanto entrava no cômodo escuro.

Aqui, o que descobriu? — Questionou ela enquanto acendia a lanterna e se aproximava do rapaz.

Aquele corredor da no primeiro andar, tem dois buracos que da para observar a movimentação. Acho que fica perto da área dos empregados e a entrada é por um quadro. Abri o suficiente só para ver qual era o quadro para gravar a pintura caso um dia precisássemos entrar por ali. — Disse Pablo soltando um suspiro.

Luna assentiu e ficou pro alguns segundos refletindo tentando ainda entender algo sobre aqueles assassinatos e sobre aquele lugar estranho que eles estavam. Soltando um suspiro a jovem simplesmente se virou para a outra porta que ainda não tinha verificado. Ela entrou sem muita demora e deu alguns passos erguendo a lanterna, mais um corredor. Logo escutou a porta se fechar atrás de si e sentiu Pablo aproximar seu corpo do dela, aquilo fez com que ela revirasse os olhos.

Sabe é a primeira vez que ficamos a sós depois de um bom tempo. — Sussurra ele perto do ouvido de Luna com um tom de malicia.

Só pode ta de sacanagem comigo? Não estamos aqui a passeio e esse lugar é nojento, que tipo de mulher você acha que eu sou? — Respondeu ela aos sussurros, mas de forma bem alterada.

Calma, Lu. Foi só um comentário, o que eu posso fazer se você é irresistivel para mim! — Exclamou ele se aproximando ainda mais do corpo de Luna para sussurrar aquelas palavras em seu ouvido.

Juro pela Lua que se você não calar essa sua maldita boca eu vou arrancar os seus dentes na porrada. — Luna tinha parado e se virado para ele de forma brusca, ela girou a lanterna colocando a luz voltada para o seu rosto. Pablo viu que os olhos dela estavam negros e a expressão furiosa, ela não estava brincando.

 O moreno ao ver a expressão dela deu dois passos para trás visivelmente assustado, seus olhos estavam arregalados e seu extinto lhe dizia que ele realmente poderia estar em perigo. Luna via a expressão de medo no rosto de Pablo e ficou satisfeita, ela tinha que coloca-lo em seu devido lugar. Aquilo tudo já tinha ido longe de mais, ele estava confundido as coisas, achando que só porque eles eram amigos e que transavam as vezes ele teria algum tipo de poder sobre ela. Com certeza ele não poderia estar mais equivocado. Naquele momento Luna respirou fundo e se virou voltando a caminhar, mas parou logo depois.

Começou a ouvir som de correntes arrastando contra o chão, ela conhecia bem aquele som. As primeiras transformações eles sempre eram presos por ainda não ter auto controle, era algo ruim de certa forma, mas era pior ainda matar um inocente por causa do extinto animal tomar completamente a mente daqueles que eram filhos da lua. Ela engoliu a seco e ficou em silêncio, batidas de um coração forte chegaram ao seus ouvidos. Os cheiros começavam a invadir suas narinas e ela se concentrou tentando separa-los e identifica-los, cheiro de urina, sangue e cheiro de lobo. O cheiro dos filhos da lua tinha uma pequena diferença dos humanos e claro cada um tinha um cheiro único, mas alguns traços como o cheiro do sangue conter mais ferro e uma especie de hormônios diferenciados que somente quem tinha sangue de lobo correndo por suas veias tinha. E Luna podia claramente sentir esse cheiro, por alguns instantes ela só ficou ali parada tentando controlar sua respiração.

— Você também sentiu, não é? — Sussurrou Pablo, ainda alguns passos distante de Luna.

— Tem alguém ai? — Sussurrou uma voz rouca e feminina.

Luna assentiu para a pergunta de Pablo, mas ao ouvir aquela voz congelou e os barulhos das correntes aumentaram, como se a mulher estivesse puxando as mesmas. Luna decidiu para de adiar o inevitável, aquela mulher estava presa ali e ela não podia simplesmente larga-la ali, ainda mais sabendo que ela era uma deles. Mas ela não podia arriscar sua identidade, então simplesmente puxou o capuz e cobriu seu rosto enquanto começava a andar na direção que provavelmente a mulher estava. Pablo a seguiu em silêncio. Um espaço mais amplo apareceu poucos metros a frente e Luna entrou primeiro com cautela, quando Pablo fez menção de entrar no ressinto ela ergueu a mão o impedindo.

Fique ai. — Ordenou ela.

A contra gosto ele assentiu e se manteve no corredor em silêncio enquanto ela se aproximava. Pode ver uma luz fraca vindo de uma cela no final daquela sala, haviam 4 celas e somente uma estava pouco iluminada e com alguém ali. Parou bem na frente da cela e engoliu a seco com a visão que teve. Uma jovem que deveria ser um pouco mais velha que Mark estava presa a longas correntes, grilhões estavam presos aos dois pulsos e as duas pernas e Luna sentiu o ódio subindo pelo seu corpo. Ela estava extremamente magra, suja e machucada Luna se aproximou um pouco mais da grande e a jovem se encolheu no canto da cela atrás de uma pequena cama, que não parecia ser nada confortável. Luna observou as marcas de garras na parede e não lhe restou nenhum tipo de duvida, ela era uma loba.

—  Pode me dizer seu nome? — Perguntou Luna em tom calmo enquanto se abaixada e deixava suas mãos pousarem  na grade.

A jovem a encarava em silêncio com desconfiança, afinal Luna ainda estava com seu rosto escondido sobre o capuz. Ela pode perceber os traços da jovem eram semelhantes as pessoas de seu clã e aquilo a arrepiou, será que ela havia sido capturada ou algo assim. Com um suspiro Luna encarou o chão pensando no que iria fazer e começou a falar novamente.

Eu quero te tirar daqui, te libertar. Mas para isso eu preciso saber se eu posso confiar em você. — disse Luna com uma voz firme, mas ao mesmo tempo gentil.

Não preciso da sua ajuda. Minha mãe disse que eles estão mortos e ela vai me tirar daqui. Ela só tem que descobrir como. — Respondeu a jovem quase em um rosnado, mas ainda sim rouco.

Luna pode perceber que ela estava com os lábios secos, provavelmente estava desidratada. A morena se levantou olhando ao redor e em uma das celas vazia podia ver uma cuia vazia, olhando ao redor viu uma pequena pia bem ao lado da entrada. Com passos rápidos ela pegou a cuia e caminhou até a pia, tentou lavar aquilo da melhor forma que pode e em seguida a encheu de água. Quando voltou para frente da cela esticou o braço e tentou entregar para a jovem que ainda a olhava desconfiada. Com um suspiro Luna botou a cuia no chão e puxou o capuz para trás.

Luna, não! — Exclamou Pablo e deu um passo na direção dela.

 Ela o encarou de forma fria e esticou a mão erguendo um único dedo fazendo sinal para que ele ficasse exatamente onde estava. Sobre o olhar gélido dela, ele somente se encolheu e voltou para o corredor em silêncio. com um suspiro ela se virou para a garota e deu um pequeno sorriso.

Me chamo Luna Deverpolt e assim como você quando a Lua Cheia reina sobre o céu durante a noite eu posso me transformar. — Ela viu os olhos da jovem se arregalarem e ela deu alguns passos para frente, o barulho das correntes arrastando no chão fazia o corpo de Luna se arrepiar e aquilo definitivamente não era bom.

Você é como eu e a minha mãe?! — Ao mesmo tempo que ela tentava exclamar, ela questionava. Sua face estava com uma mistura de surpresa e esperança.

Luna somente assentiu e a observou. Então a mãe dela também tinha os genes, mas o porque elas estavam aqui? Porque aquela jovem estava presa? Luna não conseguia entender eram muitas perguntas. A jovem se aproximou da grande da cela e Luna não se moveu, continuou a fita-la com uma expressão serena para tentar passar confiança. A jovem com um pouco mais de confiança em Luna tomou a cuia em suas mãos e sorveu toda a água que continha nela de forma desesperada.

— Quer mais? — Perguntou Luna assim que a jovem terminou de beber.

Assim que a menina assentiu Luna se levantou para pegar mais água, Pablo a encarava do corredor em silêncio. Ela voltou para perto da cela com a cuia cheia e se sentou no chão bem na frente da menina, que também estava sentada. Luna somente observou enquanto a garota matava sua sede e ficava em silêncio. Quando ela colocou a cuia para o lado e suspirou Luna voltou a falar.

Pode me dizer quem são eles ou algo sobre sua mãe? — Perguntou Luna com o cenho franzido.

Por alguns segundos a jovem ponderou pensando se deveria dizer algo ou não. Luna pacientemente ficou em silêncio dando tempo que ela pensasse, provavelmente se passaram cerca de uns 10 minutos antes da jovem resolver que deveria falar algo.

Eles, é o meu pai e o meu irmão. Ele me prendeu aqui embaixo desde que nasci, ninguém podia saber de mim. Só eles sabiam, minha mãe e agora vocês. — Ela fez uma pequena pausa e suspiro. — Sempre imaginei como eram as coisas la fora, nunca sai daqui, as vezes eu ficava no outro quarto quando eu era boazinha e ele só me prendia na cela quando a lua estava chegando. Mas eu tentei fugir e foi assim que meu irmão me descobriu, eles me prenderam na cela desde então. Já tem duas luas, eu acho. Minha mãe podia ter ido embora, eu falei para ela ir. Mas ela disse que nunca ia me deixar, meu irmão queria que meu pai me matasse e minha mãe ouviu ele falando  isso, então ela matou eles.

Agora as coisas estavam começando a fazer sentido e Luna não tirava a razão daquela mulher. Se soubesse disso antes ela com toda certeza a ajudaria a fazer aquilo, mas ela tinha que tirar aquela menina dali. Ela escutou barulhos vindo do corredor e se levantou rapidamente, primeiro ela levou a mão aos lábios e fez sinal para que a menina ficasse em silêncio. A jovem assentiu e Luna soube que poderia confiar nela, logo em seguida fez sinal para Pablo se aproximar e apagou a lanterna. Luna respirou fundo e começou a controlar sua respiração e se escondeu na cela que ficava de frente para a da menina entre as sombras, estava escuro demais para alguém conseguir vê-los, mas por precaução puxou o capuz cobrindo seu rosto novamente. Logo uma silhueta feminina surgiu se prendendo as grandes na frente da jovem, um sorriso se alastrou pelo lábio da menina e Luna soube que aquela era a mãe dela.

— Eu ainda não achei as chaves, mas eu vou te tirar daqui eu prometo! Aguente só mais um pouco meu anjo, logo estaremos com nosso povo. — Luna podia ouvir os sussurros em da mulher e percebeu que a mesma estava chorando.

Pela primeira vez a mulher pareceu notar algo estranho, ela olhou para a cuia e se esticou para pega-la. Franziu o cenho e rapidamente ficou de pé olhando ao redor, seus olhos encararam Luna e Pablo, naquele momento o corpo da mulher ficou tenso enquanto encarava os dois. Ela também tinha os genes, então Luna sabia que ela conseguia senti-los. Com passos calmos Luna começou a sair da cela, mas Pablo segurou seu braço.

— Você está começando a me irritar, se você encostar em mim mais uma vez. Eu não respondo por mim. — Rosnou ela enquanto puxava o braço com força e se afastava.

A mulher se posicionou de forma defensiva na grade parando bem em frente a filha, uma loba protegendo seu filhote. Isso fez Luna sorrir, então lentamente ela retirou o capuz ficando a uma distancia segura, mas perto o suficiente para a luz ilumina-la. O rosto da mulher começou a relaxar, um misto de surpresa e esperança tomou conta da face dela.

Você é filha de Nikollay. — Sussurrou a mulher.

Como? — Luna parou por um segundo fitando a mulher completamente confusa e disse. — Como pode afirmar isso?

Você é a cara dele. — A mulher soltou uma pequena risada e suspirou aliviada. — Me chamo Eleanor, Eleanor Deverpolt.

Naquele momento o cérebro de Luna começou a trabalhar de forma rápida, ela conhecia esse nome. Já tinha ouvido ele algumas vezes pronunciado por seu pai, tio e avô. A jovem trancou seu maxilar e ficou em silêncio tentando lembrar.

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10 anos atrás.

Luna estava sentada com Bruce perto de Amber e Nikollay, Bruce estava brincando com um cavalo de madeira e a menina estava deitada no chão com a barriga para baixo lendo um livro distraída enquanto os adultos conversavam. Cameron e Alphonse entraram na sala de leitura e se sentaram próximos aos outros dois adultos. Escutou seu avô dar um suspiro triste e ergueu os pequenos olhos azuis confusa, mas ficou em silêncio.

— O que foi papai? — Questionou Nikollay.

Já reparou que Elena está cada dia mais parecida com Eleanor? — Disse Alphonse com uma expressão triste em seu rosto.

Cameron e Nikollay se entreolharam e soltaram um pequeno suspiro enquanto assentiam com a cabeça, ficaram alguns segundos encarando seus copos em silêncio. Amber estava com uma expressão confusa e curiosa em sua face, assim como Luna. Por ela ser criança parecia que ninguém havia percebido que prestava atenção naquela conversa, seu avô estava triste e seu pai e seu tio também estavam. A pequena queria entender o por que?

Quem é Eleanor? — Perguntou sua mãe vencida pela curiosidade.

Os três se entre olharam pensando se deveriam falar algo ou não. Mas Amber lançou um olhar para Nikollay e isso fez o homem suspirar. Ele sabia que não adiantaria tentar deixar para lá, porque Amber não era o tipo de mulher que simplesmente ignorava as coisas. Nikollay respirou fundo e se virou para a esposa lhe dando um pequeno sorriso triste.

Eleanor fugiu com um cara um ano antes da gente se conhecer, eu ainda estava fora estudando. E ninguém nunca mais ouviu falar dela. Ela é minha irmã mais nova, ela deveria ter uns 17 anos na época. Queria ao menos saber se ela está viva. — A última frase saiu como um resmungo e todo ficaram em silêncio.

Virou um tabu falar dela, mamãe surtava e ficava irritada e depois choravam. Então nós simplesmente deixamos isso para lá, sabe. Para não sofrermos mais. — Falou Cameron ao notar a expressão de desagrado de Amber.

Luna percebeu que todos haviam ficado triste com aquele assunto e suspirou, ao olhar Bruce ele continuava distraído como se não tivesse escutado nada. Então a pequeno somente voltou a ler seu livro e deixou os adultos e suas conversas para lá.

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Puta que pariu. — Sussurrou Luna ao se lembrar daquele dia.

A expressão da jovem mudou completamente em um misto de reconhecimento e surpresa. A mulher soltou uma pequena risada e sua postura relaxou, ela sabia que Luna não era um perigo, assim como Luna também sabia que aquela mulher não era perigosa e que ela tinha que tirar as duas dali o mais rápido possível.

Luna, que merda que tá acontecendo? — Resmungo Pablo parando ao lado dela e olhando para Eleonor desconfiado. Ela quase tinha esquecido que ele estava ali.

Ela é minha tia. — Foi tudo que Luna disse após soltar um suspiro. Ela virou para Pablo e disse. — Nós vamos tirar as duas daqui, hoje.

Mas você não pode sair do nível um, é muito arriscado se alguém te ver. Hoje eu não sei se conseguimos. — Retrucou ele, Pablo soltou um suspiro cansado.

Luna começou a caminhar de um lado para o outro, ela sempre fazia aquilo quando estava pensando. Sua mente trabalhava o mais rápido possível, ela sabia que era impossível tira-las dali hoje.

— Okay, você vive pela casa certo? O que você é supostamente aqui dentro? — Questionou Luna enquanto encarava a mulher.

Empregada, fui obrigada a viver aqui durante anos. Quando eu era mais nova fui burra de acreditar que ele largaria a mulher para ficar comigo, me convenceu a me esconder aqui e não procurar minha família até que pudéssemos nos casar. — A mulher solta uma pequena risada amarga. — E quando ele descobriu que eu estava grávida me trancou aqui. Travis sabia de tudo e o chantageou, foi assim que ele conseguiu o voto de James e mais alguns membros do conselho. Alguns anos depois que os Deverpolt foram expulsos ele me deixou sair e disse que eu iria trabalhar disfarçada e que era a única forma deu ficar perto da Cristal.

Um tristeza profunda e arrependimento, era isso que Luna enxergava nos olhos daquela mulher. Ela largou tudo por amor e olha onde veio parar? Em um calabouço imundo tendo que conviver com a sujeira e a miséria. Luna ergueu os dedos até as têmporas e começou a massagear a mesma, estava começando a ter dor de cabeça de tanta informação. E ao mesmo tempo ela pensava em como tira-las dali.

—  Bom hoje é realmente impossível tirar vocês da cidade. Vamos soltar ela e ela continua escondida aqui por enquanto e você mantêm a farsa de empregada. — Luna respirou fundo e retirou a capa preta. Estava começando a derreter ali, ela levou a mão aos cabelos negros e fez um pequeno coque. — Vou falar com meu pai hoje e ver com ele a melhor forma de tirar vocês duas daqui. Pablo virá buscar vocês, eu não posso correr o risco de me descobrirem.

Ela se aproximou das grades e deslizou as mãos pelas mesmas analisando, deu alguns puxões sem usar muita força e percebeu que aquilo não era tão seguro quanto pensavam. Prender uma loba subnutrida era fácil, mas três com boa saúde? Ainda mais um deles sendo Luna, não seria tão difícil arrancar aquilo.

— Por que você está aqui? — Eleanor questiona enquanto encara Luna.

Aqui nessa casa porque queríamos saber quem matou aqueles dois. Agora sabemos e vimos que foi merecido. E na cidade é uma longa historia que acho melhor o meu pai te contar quando estiver a salvo. — Disse Luna encerrando a questão. — Me ajudem aqui.

Falou Luna com firmeza enquanto envolvia suas mãos naquelas grandes e a segurava , não demorou muito Pablo estava de um lado e Eleanor do outro. Respirando fundo ela começou a contar até três. Ao chegar no três eles usaram toda a sua força para puxar aquelas grades da porta da cela. Os músculos deles tencionaram com a força que eles faziam, veias saltavam dos pescoços daquelas pessoas enquanto eles puxavam ao mesmo tempo. Depois de alguns segundos sons de metais sendo arrancados foram escutados e juntos eles jogaram a porta para o lado fazendo um estrondo.

Não se preocupe, estamos abaixo da casa demais para qualquer um ouvir. — Disse Eleanor enquanto entrava correndo na cela.

A mulher se jogou ao lado da filha e abraçou com força. A jovem deitou sua cabeça no ombro de sua mãe e fechou os olhos por alguns segundos, aquela cena mexeu com Luna. Era impossível não lembrar de Amber, como ela sentia falta de sua mãe. Soltando um suspiro Luna entrou na cela e se agachou do lado da prima.

— Você segura de um lado e eu do outro e puxamos no três, okay? — Disse Luna a Eleanor.

Quando a mulher olhou para as mãos de Luna viu que a jovem segurava uma parte dos grilhões, as duas conseguiriam quebrar aquilo sem ajuda de Pablo sem muita dificuldade. Houve a primeira contagem e o primeiro grilhão foi quebrado e jogado no chão, em seguida fizeram o mesmo com todos os outros. Quando a jovem ficou livre ela se pois de pé um pouco vacilante e caminhou para fora da sala com um pouco de desespero. Eleanor a amparou durante todo o caminho, já que as pernas da jovem estavam bambas. Luna pegou sua capa no chão e em silêncio voltaram pelo corredor até o quarto imundo que ficava perto das escadas. Elas acomodaram Cristal na cama e Eleanor foi até um canto do quarto e pressionou um botão, logo as luzes artificiais se acenderam iluminando um pouco o quarto, que era bem piro do que Luna pensava quando se via com um pouco mais de luz. Por fim elas voltaram a conversar.

Alimente bem ela, consiga algumas roupas simples. A melhor forma de tirar vocês é se passando por empregadas, podem fingir que moram no quatro e descer até lá quando tudo estiver mais calmo. Vou pedir para o meu pai esperar vocês no limite da floresta, assim só vão ter que passar pelo portão principal e eu estou pensando em arrumar uma distração para facilitar. — Despejou Luna de forma rápida, ela já tinha demorado tempo demais ali

— E como você pretende fazer isso? — Questionou Pablo dando uma pequena risada de deboche.

Luna o encarou irritada, ele realmente estava testando a paciência dela. Não era possível. A morena respirou fundo contando até três mentalmente para não mata-lo ali mesmo.

Os Campbell tem uma loja no quatro, de caridade. Eu posso dar um jeito de me levarem até lá e faço algum tipo de escândalo para atrair a atenção dos guardas. Não sei, vou dar tempo o suficiente para você passar elas pelo portão. Mas você não pode sair da cidade. — Explicou Luna para Pablo de forma pausada e com deboche. Depois ela voltou a falar com Eleanor. — Pablo vai deixar vocês no portão principal e vocês vão correr o mais rápido que conseguirem para a floresta e lá meu pai vai cuidar de vocês.

Não precisa falar comigo como se eu fosse um retardado. — Resmungo Pablo cruzando os braços.

Então pare de agir como um, porra! Desde que chegamos está questionando as minhas decisões, desde que chegamos está esquecendo qual é a porra do seu lugar e qual é o meu. — Disse ela irritada, ele realmente queria tira-la de sua graça hoje.

Tudo bem, eu já entendi. Eu vou deixar tudo pronto, a hora que vocês vierem eu subo com Cristal e saímos pelos fundos. Vai ser fácil arruma-la para parecer uma das empregadas. — Disse Eleanor.

Talvez demore alguns dias, tenho que conseguir falar com meu pai e convencer os Campbell a me levar ao nível quatro. Esteja pronta e alimente bem a garota, para que ela aguente o percurso. — Disse Luna e em seguida se virou para Pablo. — Temos que ir, já está tarde e eu preciso dormir um pouco.

Pablo somente assentiu em silêncio, ele pelo visto tinha ficado irritado com as palavras de Luna. Ela não costumava tratar alguém daquela forma fazendo questão de lembrar de sua posição dentro do clã, mas geralmente ela não precisava fazer isso porque ninguém questionava suas ordens. Agora estava começando a se arrepender da liberdade que havia dado a Pablo, pelo visto ele não sabia o que era limites. Eleanor se aproximou de Luna e a abraçou forte, por alguns segundos a jovem ficou perdida, mas resolveu retribuir o abraço.

Se cuide criança e obrigada!! — Sussurrou a mulher em seu ouvido.

Não precisa agradecer, tia. — Disse Luna com um pequeno sorriso nos lábios.

Se afastou de Eleanor e foi até Cristal, abaixou na frente dela e lhe deu um pequeno sorriso. A jovem retribuiu o sorriso de Luna de forma animada, ela tinha ficado em silêncio, mas havia entendido que muito em breve teria sua tão sonhada liberdade.

Se cuida e vê se come direito. Logo, logo você vai saber como é lá fora. — Disse Luna sorrindo, a jovem assentiu e a abraçou.

Luna retribuiu o abraço e depois se afastou, colocou a capa novamente e puxou o capuz para cobrir seu rosto. Jogou a lanterna dentro da bolsa, já conhecia o caminho e a lanterna chamaria menos atenção. Começou a  subir as escadas de forma rápida e silenciosa e não precisou olhar para saber que Pablo estava logo atrás, ao chegarem a bifurcação que levava ao andar de cima e ao corredor Luna parou por um segundo pensando qual seria o melhor caminho.

Acho que por aqui é mais rápido. — Disse Pablo apontando para o corredor.

Mas não é mais seguro, se algum empregado nos pegar lá? Seguro é voltar pelo escritório e pular da sacada. — Disse Luna como se fosse obvio.

Sem esperar uma resposta ela voltou a subir de forma rápida, ela queria tomar um banho e deitar. Suas pálpebras já estavam pesadas, havia sido muito informação para absorver e ainda tinha o fato de que Pablo havia conseguido irrita-la de todas as formas naquela noite. Ela não via a hora de ficar bem longe dele, se não poderia acabar matando ele e isso obviamente geraria um grande problema entre o seu clã e o clã do Brasil. Sem nenhum empecilho eles conseguiram sair daquela casa.

Eles já estavam de volta as ruas escuras de Borthen, conforme andavam Luna puxou mais o capuz para frente, não podia ser vista ou isso estragaria tudo, ainda mais agora que tinha que libertar aquelas duas. Com um pequeno suspiro ela continuou a caminhada até a mansão dos Campbell. Antes dela passar pelo cercado dos fundos que dava para o jardim ela se virou para Pablo e o encarou séria.

Primeiro, nunca mais questione as minhas ordens ou minha autoridade. Se eu te disse algo apenas faça, não me importa qual é a sua opinião. Se não tem a capacidade de obedecer as minhas ordens e acatar as minhas decisões pode ir embora. — Disse ela em um tom firme e baixo para que ninguém além dele a escutasse. — Segundo, pode ir. Daqui é mais seguro eu ir sozinha, se alguém me ver consigo inventar uma desculpa se eu estiver sozinha

— Luna me desculpa, eu achei... — Antes que Pablo terminasse de falar ela ergueu a mão o silenciando.

— Não me importa o que você achou. Se não for capaz de seguir ordens não tem serventia para mim aqui. Agora vá e que isso nãos e repita, Pablo, — O tom de Luna era firme.

Pablo respirou fundo e assentiu, o rapaz se virou e sumiu no meio da escuridão indo na direção que ela sabia que ficava a casa dos Steves. Ela respirou fundo e se virou, não precisou se agachar muito para pular a cerca e cair silenciosamente no jardim dos fundos, com passos calmos ela foi na direção da casa. Sempre se esgueirando pelas sombras, quando finalmente conseguiu entrar olhou ao redor procurando sinal de qualquer pessoa. Quando não sentiu a presença de ninguém ela retirou a capa e a dobrou cuidadosamente, a enfiou dentro de sua bolsa e começou a caminhar em silêncio. Sem a capa era fácil de inventar a desculpa que tinha ido tomar um ar caso alguém a visse.

A segurança daquele lugar na verdade era uma grande merda, não demorou muito para ela conseguir chegar em seu quarto sem que os empregados ou seguranças a vissem. O dia que tivesse a invasão seria extremamente fácil tomar aquele lugar, eles havia ficado confiantes e relaxados demais com o tempo. Ao chegar em seu quarto ela não estranhou ao observar o corvo de Madame Seraphine parado do lado de fora de sua sacada. Em passos rápidos ela caminhou até a sacada e abriu a porta de vidro, rapidamente o animal entrou e se empoleirou  na escrivaninha.

— Espera um pouco que já vou te dar o que você quer. — Resmungo Luna.

A jovem rapidamente jogou sua bolsa dentro do armário e em seguida retirou as botas , deixou as mesmas ao lado do guarda roupa. E em seguida foi direto para o banheiro, uma ducha rápida e relaxante era o que ela precisava. Quando esse problema foi resolvido ela se sentou e começou a escrever tudo o que tinha acontecido naquele dia, desde o assassinato até o encontro com Eleanor, contou também o plano de extração e disse que avisaria a noite exata que ia acontecer. Mas ela sabia que tinha que ser rápido, porque a Lua Cheia estava próxima e o melhor era elas duas longe daquela cidade quando isso acontecesse. Quando ela finalmente terminou dobrou a carta e amarrou ao pé do animal, fez uma pequena caricia na cabeça do corvo por alguns minutos. Depois o animal saiu voando pela porta e Luna suspirou enquanto a fechava. Ela estava exausta, havia sido um dia e tanto, tudo que ela queria era dormir e foi exatamente isso que ela fez. Nem se deu o trabalho de botar uma roupa, deitou na cama enrolada no roupão e deixou o cansaço tomar conte de seu corpo.


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