Espirais escrita por neko chan


Capítulo 2
2° ciclo da espiral




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Fiquei dirigindo por algumas horas, não tinha nada muito interessante naquela cidade próxima, apenas ruinas e a biblioteca que estava intacta. Os monstros não costumavam nos atacar, não éramos alimento para eles, então eles apenas nos ignoravam quando passávamos por eles.

Estava começando a sentir muita fome, parei o veículo e desci do banco do motorista para ir para a parte de trás e procurar por alguma comida, abro a porta, Brook estava dormindo com o livro com a capa de couro marrom aberta contra seu peito encima do velho colchão, puxei o cobertor que estava no chão e o coloquei sob ela, abro uma das caixas de papelão procurando alguma coisa, mas só encontrei o pacote de ração na terceira caixa.

Escutei através dos cientistas que antigamente haviam muitos tipos diferentes de comida, mas passaram a não ter mais tempo para fazer refeições e começaram a produzir o que chamaram de rações, eram apenas barras com o gosto de outra comida, na embalagem da que eu peguei estava escrito "maçã", eu não tinha ideia do que era ou como se parecia uma maçã, mas ela não parecia ter um gosto muito forte, depois de um tempo, comer se tornou mais uma necessidade do que um prazer.

— Audrey. - ela murmura se levantando devagar e abrindo os olhos - Já está comendo?

— Parei um pouco para descansar

— Eu posso dirigir se você quiser. - ela pega uma barra

— Você não sabe dirigir

— Mas não tem muita coisa em que eu poderia bater e nem muitos danos que eu poderia causar

— Fique a vontade então. - sento na beira do colchão

— Consegue ler essa parte? - ela vira as páginas voltando à primeira, aponta para a primeira linha

— "Pertencente à.......", acho que é um nome, mas...... está um pouco borrado, quase não consigo ler

— Que nome pequeno, nunca escutei nomes com 3 letras que não fossem um código. - diz encarando o livro de perto

— Pra quê você acha que eles escreviam tantos livros?

— Eu não sei, para se lembrar das coisas talvez

— Se lembrar?

— Para não esquecer de alguma coisa importante, deve ser isso

— Você já esqueceu de alguma coisa importante?

— Acho que se eu tiver esquecido eu não vou conseguir lembrar do nada

— Então por que não escrevemos?

— Não temos nada de muito interessante para escrever e mal sabemos ler

— Tem razão. - ela parece desapontada

Agora que pensara melhor, esse deveria ser a primeira vez que falei por tanto tempo com Brook, geralmente os espécimes como nós não tinham muito contato com outras pessoas, eu quase nunca falara com os cientistas que trabalhavam comigo, apenas os escutava, nunca passei tanto tempo falando.

— Talvez nós consigamos aprender sozinha. - digo tentando anima-la, ela sorri para mim e se levanta do colchão

— Eu vou dirigir agora, se encontrar algum lugar interessante eu te chamo, pode dormir um pouco se quiser também, já deve estar de noite

— Não dá pra saber se é dia ou noite com a nevoa

— Mas acho que vi um relógio no meio das coisas. - ela sai e fecha a porta, olho em volta e vejo o pequeno relógio de bolso marcando 21:00

Brook dirigiu por um tempo, eu apenas fiquei deitada no colchão encarando o teto e o pedaço do céu coberto de nevoa através da janela da frente das laterais, me sentia incomodada, um pouco hiperativa, não sabia bem o motivo.

— Brook, pode para por um segundo? - digo colocando a cabeça para fora da janela

— Certo. - ela começa a parar o veículo, eu pego o lençol e saio pela porta, me sento do lado dela, o banco do motorista era bem largo, mesmo que fosse apenas um, embrulho os ombros de nós duas com o cobertor

— Você não deveria estar descansando lá dentro?

— Eu queria conversar, eu acho

— Ah, é? - ela volta a dirigir

— Sobre o que?

— Eu não sei, nunca conversei tanto antes

— Podemos falar de qualquer coisa então

— ........ Você sabe o que é uma emoção?

— Como assim?

— Escutei os cientistas falarem disso algumas vezes, mas nunca tinha visto nenhuma espécime como nós sorrindo antes, isso é uma emoção certo?

— Eles sorriem quando estão felizes

— E como sabem que estão felizes?

— Alguma coisa no organismo deles 

— Tipo fome?

— Deve ser

— Isso é estranho. - solto um som estranho da garganta

— Isso é uma risada? - ela pergunta me encarando

— Risada?

— É uma coisa natural do organismo eu acho, de toda forma, ainda temos parte do nosso DNA como de uma humano e um lobisomem, o riso é um som que eles fazem quando acham algo engraçado ou quando estão felizes também, foi o que me falaram

— Somos cheias de coisas que não descobrimos ainda, não é?

— Acho que, nesse quesito, somos bem parecidas com eles então

— Eles também não se conheciam?

— Acho que não queriam se conhecer

Ficamos quietas por um tempo, o silêncio parecia confortável dessa vez, pude ignorar completamente os familiares sons estranhos das criaturas a minha volta.

— Vamos voltar para dentro. - ela fala parando o veículo e retirando a chave - Deveríamos dormir um pouco

— Ok

A sigo para dentro, ela coloca o livro encima de uma das caixas e deita na cama se afastando para o lado deixando espaço para mim perto dela, eu me deito e continuo encarando o teto sem conseguir dormir.

— Ainda está acordada? - pergunto depois de uns minutos de silêncio

— Aham

— Não consigo dormir

Ela levanta da cama e sai pela porta por alguns pouco minutos, volta segurando uma folha entre seu indicador e seu polegar.

— Não achei que ainda houvessem muitas folhas verdes lá fora

— Foi apenas sorte. - ela se deita novamente ao meu lado, colocar a folha em frente a sua boca e começa a assoprar fazendo uma melodia

Ela tocou aquela musica baixa por um tempo, já tinha escutado musica algumas vezes de longe, mas não sabia que podia ser tão bonita quando escutada bem de perto.

— Antigamente as pessoas escutavam musicas sempre, em festivais, em casa, entrem amigos, diziam que a musica conseguia harmonizar as emoções de todas as pessoas que a ouviam

— O que quer dizer?

— Algo como... musicas tristes deixariam nós duas tristes e musicas felizes deixariam nós duas felizes

— Existe um mundo inteiro de coisas que não conhecemos

— Mas ainda podemos conhecer. - ela volta a fazer a melodia com a folha

O som vai gentilmente preenchendo o silencio daquele pequeno espaço, a calmaria aconchegante me envolvia enquanto eu começava a cair no sono.


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