Nova Iorque, 25 de Julho de 2011

Bella estava sentada na imponente sala de estar dos Cullen. Alice, Rosalie e Esme estavam sentadas no sofá, com uma expressão preocupada, mas pareciam muito focadas nos programas de televisão que davam. De vez em quando trocavam alguns comentários entre elas sobre o que acontecia, mas o silêncio reinava naquela casa desde que os homens tinham saído , apressados, para alguma coisa que Bella não sabia o que era e que ninguém lhe explicava.

A morena estava sentada numa poltrona próxima da grande janela que iluminava a sala, e olhava para a cidade de Nova Iorque com algum pesar nos pensamentos. Conhecer a família de Edward devia ser um encontro bom. Fácil depois da primeira hora, a hora da vergonha e constrangimento. Não devia ser o dia em que ela descobria que o sogro queria que ela se casasse por causa de segurança e porque essa era a única opção depois de Edward a meter nesta família, mesmo que ela não soubesse o que isso significava e o porquê de parecer tão errado ela entrar.

Ela podia ver o desgosto de Carlisle ao tê-la na família, mas as palavras que saiam da boca dele vinha com autoridade, seriedade e algum sentimento de proteção.

Estava ali há horas a pensar no que fazer, nas palavras de Carlisle e de Edward e no pedido que o ruivo tinha feito antes de sair. A sua introspeção só foi interrompida nas várias vezes que a empregada da casa, uma mulher de cabelos pretos intensos e rosto maternal, lhe tinha ido perguntar se ela queria comer. Bella recusava, mas sorria para a simpática mulher todas as vezes que esta se aproximava preocupada.

O telemóvel de Esme tocou e a morena ao olhar para ela viu o alívio passar pelos olhos da mesma quando ela atendeu. A chamada demorou pouco tempo, Esme só disse "Estou?" e "Estamos à vossa espera". Bella percebeu logo de quem se tratava e qual o motivo do telefonema. Eles iam voltar e Bella sentia que não devia estar ali quando eles chegassem.

A única coisa que queria era sair dali ir para a sua casa, deitar-se na sua cama quentinha e dormir até o dia seguinte chegar. Até poder sair de casa, ir para o aeroporto e ir para Forks, o seu porto seguro.

A família de Edward tinha alguma coisa de estranha e por mais que o mistério a corroesse, Bella tinha a certeza que não queria saber. Não agora, não hoje.

Estava cansada de esperar. Esperou a tarde toda e grande parte da noite. Já eram quase onze da noite e ela só ficou ali à espera. Nem se deu ao trabalho de voltar a perguntar a alguma das mulheres da família o que se passava não depois da resposta que Esme lhe tinha dado na primeira e única vez que ela tinha perguntado.

"São coisas deles Bella. Coisas desta família, mas que só a eles dizem respeito. Nós só ficamos aqui, à espera que eles voltem. A rezar para que voltem bem. Habitua-te minha querida, habitua-te porque isto é o que te espera."

—Eles já estão a chegar! - anunciou Esme. Alice e Rosalie trocaram um grande sorriso.

—Eu vou para casa. - disse ela levantando-se e fazendo com que as três mulheres Cullen a encarassem.

—O quê? Não podes... - disse Alice.

—Olhem, eu fiquei aqui este tempo todo só para me certificar que o Edward estava bem. Se eles já veem é porque estão bem. Eu vou para casa.

—Mas o Edward pediu para tu ficares aqui até eles chegarem. É o melhor para ti Bella. - respondeu Rosalie.

—Eu estou farta! - gritou Bella. - Estou farta que me digam o que é melhor para mim. Estou farta que me digam que não posso saber nada da vida do meu namorado porque é melhor para mim, que tenho de ficar aqui porque é melhor para mim, que tenho de casar com o Edward porque é o melhor para mim! Se me explicasse alguma coisa que podia tentar entender, aceitar isso! Mas não... e desculpem se não sou um pau mandado como vocês, que comem e calam. Eu tenho vontade próprio e vou embora!

—Tu não entendes... - disse Alice. - Não somos assim porque queremos ou fomos educadas assim, somos assim porque já nos provaram que é o melhor para nós.

—Não, Alice. Eu não entendo. Ninguém me explica como é que posso entender? - disse a morena num tom mais baixo e virou-se pronta para ir embora. Mas deparou-se com Edward, Carlisle, Jasper e Emmett a olhar para ela.

Edward olhou para Carlisle e deve ter feito algum pedido mudo porque Bella só viu Carlisle abanar a cabeça positivamente.

—Bella... - disse o ruivo com um ar sério. -Vamos?

Bella assentiu, as suas bochechas estavam coradas pelo seu show ter sido ouvido por mais pessoas do que ela esperava.

Edward seguiu em frente sendo seguido pela namorada. Os dois desceram pelo elevador até à garagem, entraram no carro e seguiram caminho. Isto tudo em silêncio.

Edward estava focado na estrada e Bella focada em olhar para Edward. Nunca o tinha visto com cara séria durante tanto tempo.

—Edward... - sussurrou ela. -Desculpa se eu te ofendi a ti ou à tua família de algum modo com aquilo que disse. Eu só fiquei nervosa com o que aconteceu hoje.

—Bella tu não ofendeste ninguém. - sussurrou ele

—Então porque é que estás chateado comigo?

—Eu não estou chateado morenita. Eu só estou nervoso com o que te vou ter de contar. Não sei se é o momento certo...

—Porque é que não haveria de ser o momento certo?

—Porque vais ter vontade de fugir, vais ter medo... e amanhã vais embora. E eu tenho medo que não voltes para mim. - disse ele com uma voz trémula.

—Edward... - sussurrou Bella. -Eu não vou fugir. Eu amo-te.

Edward encarou-a durante alguns segundos, com as luzes da cidade Bella conseguia ver bem os seus belos olhos verdes muito abertos. Havia receio, tristeza e amor espelhado neles. A morena tocou levemente no rosto do ruivo, acariciando a sua bochecha fazendo-o sorrir lindamente com esse gesto.

—Eu também te amo.

Os dois trocaram um olhar cúmplice e um grande sorriso, a mão de Bella deixou a cara de Edward e voou para a perna dele, fazendo alguns carinhos ali. O Cullen voltou a encarar as grandes e iluminadas ruas de Nova Iorque.

—Para onde é que estamos a ir? - perguntou Bella.

—Vou te levar para um lugar especial para mim.

Bella assentiu e ligou o rádio, encostando a cabeça ao banco e fechando os olhos. Ela tinha razão ao achar que o mistério existia porque aquela família escondia algo mau, realmente mau. Mas ao ver o medo de Edward ao perdê-la ela soube que fosse o que fosse ela ia aceitar.

Cerca de 20 minutos depois de terem deixado o Jenga-like, chegaram ao seu destino. Edward estacionou o carro e os dois saíram dele enfrentando a noite relativamente quente que a cidade lhes proporcionava.

Bella sorriu ao ver onde estava. Edward já a tinha levado ao High Line Park durante um encontro. Eles caminharam ao longo de toda a plataforma suspensa de mãos dadas e com várias paragens para observar a paisagem, namoraram e tiraram algumas fotos.

—Edward, o parque está fechado. - relembrou ela.

—Nunca nada está fechado para mim. - afirmou ele.

Os dois chegaram a uma das entradas do parque, que estava fechada tal como a morena tinha dito. Um segurança encontrava-se ao portão.

—Desculpem, mas o parque fecha às 23h.- informou o segurança.

Edward avançou, largando a mão de Bella, e sussurrou algo ao ouvido do segurança. A cara do homem mudou de expressão, não foi para medo como Bella pensou, mas sim respeito.

—Com certeza senhor Masen. Entrem! - disse o homem e abriu o portão.

Edward e Bella passaram, Bella sorriu timidamente ao passar pelo segurança que a cumprimentou com a cabeça.

—Edward... - sussurrou quando já estavam ligeiramente afastados da entrada. - Porque é que ele te chamou senhor Masen?

Edward deu-lhe um sorriso enigmático, mas não respondeu. Os dois seguiram pela plataforma, em silêncio. Bella estava a ponto de rebentar de tanta curiosidade quando Edward parou em frente a um dos muitos bancos espalhados pelo parque e num pedido silencioso pediu para Bella se sentar. Em frente deles a imponente cidade de Nova Iorque parecia iluminada como se fosse dia.

—Este foi o banco em que o meu pai me contou a nossa história. Tinha 10 anos na altura e foi a partir desse dia que a minha vida mudou.

Bella permaneceu em silêncio sem saber se devia ou o que comentar.

— Eu já tinha notado que não éramos uma família igual às outras, quer dizer eu via os meus amigos da escola a falar sobre a vida deles e em quase nada tinha haver com a minha. Sempre tive muitas regras, muita disciplina, fazia aulas de tudo e mais alguma coisa, desde música a karaté, passando por italiano, francês... até chinês. As minhas irmãs passavam horas atrás da minha mãe a aprender coisas sobre a casa, a aprender cozinhar, a limpar, a organizar coisas e mais coisas... quando elas pediam para ir comigo para uma das minhas aulas o meu pai vinha sempre com a mesma resposta: que aquilo era uma coisa que homens e que só eu é que podia aprender. Então no dia em fiz 10 anos e ele me contou a verdade, tudo fez sentido para mim. Eu percebi porque é que só eu é que devia ter aquelas aulas e porque é que não era uma coisa para mulheres. Tudo não se passava do início da minha preparação, da minha iniciação.

—Iniciação? - sussurrou Bella e lembrou-se que já tinha ouvido aquela palavra em filmes e séries, quando estas falavam de Ganges ou da máfia.

—A minha família é italiana. O meu bisavô, Lucky Masen, veio para Nova Iorque nos anos 20 e foi conquistando a cidade pouco a pouco. Ele já vinha com ...hum... negócios de Itália, já tinha a sua fama lá e esta facilmente se espalhou por aqui. Ele começou por um cargo mais baixo numa das famílias e foi subindo e subindo, até chegar perto do topo. Infelizmente como membro de fora da família ele nunca ia conseguir a posição de chefe, nunca a não ser que... matasse o outro chefe e reivindicasse o poder. Ele foi juntando apoiantes e mais apoiantes até que conseguiu ter grande parte do clã na sua mão depois disso foi só conseguir apanhar o chefe num momento oportuno e matá-lo - Bella prendeu a respiração neste momento. - A sua fama só cresceu com isso, afinal ele tinha tido a coragem de matar um dos cinco chefes mais poderosos da Cosa Nostra... as pessoas ganharam-lhe medo e respeito e ele conseguiu o tão desejado lugar de poder. Claro que houve pessoas que se rebelaram contra ele, mas tal como aconteceu chefe só havia uma maneira de se livrar deles...

A boca de Bella estava entreaberta, a sua garganta estava seca e ela não sabia o que dizer, o que pensar, o que sentir...

— Depois da morte de Lucky, o cargo passou para o meu avô. Ele mudou algumas coisas, adicionou negócios e eliminou outros. A coisa mais importante que ele fez foi conseguir controlar o território e os casinos de Atlantic City. Desde aí que só crescemos, em poder, influência, território e dinheiro. Os nossos negócios são de todas as formas e feitios, uns mais legais que os outros...a Cullen Techonology por exemplo, é uma empresa real...., mas tem o seu lado menos politicamente correto. Fazemos negócios com várias partes do mundo e também serve para lavagem de grande parte do nosso dinheiro. Atualmente tudo isso está nas mãos do meu pai e eventualmente vai passar para mim. - sussurrou ele.

Bella evitava olhar para Edward, os seus olhos estavam esbugalhados com tanta informação... o que é que ela devia fazer?

—Então é isso... eu faço parte da Cosa Nostra Americana Bella... a minha família é uma das cinco máfias mais perigosas e importantes de Nova Iorque... e a partir do momento em que eu comecei a namorar contigo que estás envolvida nisto até ao último fio de cabelo.