Acordei cedo para fazer o café da manhã do meu filho antes de irmos para a escola e minha família estava toda reunida na cozinha, curiosa para saber todos os detalhes do meu encontro com Alejandro.

—Ele me levou para jantar em um restaurante em que podemos pintar quadros, e nos divertimos muito tentando pintar um.- disse enquanto  fazia o lanche de Vinicius  e eles sorriram.- Depois fomos para uma casa de dança e dançamos muito.

—Você se divertiu mesmo querida.- minha mãe disse suave e sorri.

—E como. Acredita que Alejandro se ofereceu  para custear uma exposição minha, se eu quisesse voltar a pintar de novo?

—Serio?- minha irmã questionou surpresa.

—Sim, mas fiquei surpresa com a oferta.- disse enquanto colocava  café no copo térmico da minha mãe antes de colocar no do meu pai.

—E o que você vai fazer filha?- meu pai questionou colocando suco para Lizzie e Vinicius.

—Não me sentiria bem aceitando o dinheiro do Alejandro, pai. Eeu gosto de ensinar. Por enquanto montar uma exposição não é algo que quero no momento.

—Se fosse você aceitaria, afinal ele mais do que qualquer um aqui entende o seu amor pela pintura. Apenas, não descarte a ajuda do Alejandro.- Lizzie disse suave antes de tomar o seu café.

—Vou pensar nisso Lizzie, obrigada.- disse e comecei a tomar o meu café.

Assim que terminamos nossa refeição, papai e mamãe se despediram de nós e saíram no carro de papai, enquanto eu levava as crianças para a escola.

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—Interrompo?- Megan questionou assim que entrou em minha sala durante o intervalo das crianças.

—Não, pode entrar.- disse deixando o celular de lado.

—Você parecia tão concentrada ao telefone, que pensei que iria atrapalhar.- ela disse sem graça e sorri.

—Não, só estava falando com o Alejandro sobre a apresentação de bale da Luna.

—Há sim, você vai?

—Eu e meu filho vamos, Alejandro nos convidou. Mas e você, ao que devo a honra da visita da primeira dama?

—Assuntos da cidade.- ela disse e pisquei confusa, afinal o que eu tinha ver com os assuntos da cidade.

—O concurso da miss Coleman está chegando e preciso de ajuda para organizar as meninas, e a maioria das misses saíram da cidade. Mas agora que você voltou, o que acha de me ajudar? – Megan implorou enquanto me olhava nos olhos.

—Tem certeza disso?- questionei desconfiada, afinal sabia o quanto Megan gostava de brilhar, e me oferecer um cargo de importância em um concurso de beleza, não a ajudaria a brilhar perante todos da cidade.

—Claro que tenho, você foi a miss Coleman de 2005. É a garota de ouro da cidade. As pessoas te adoravam Liv, você venceu por unanimidade.- ela disse e revirei os olhos.

—Isso foi no passado. E além do mais, as pessoas dessa cidade parecem não gostar de mim.- disse dando de ombros.- Tem certeza que não quer a coroa?

—Claro que não, quero a sua presença no evento para me ajudar a organizar as candidatas. E que tal se você coroa-se a campeã?

—Tudo bem Megan, vou te ajudar. Mas só posso depois do aniversario da Luna, porque já prometi que vou ajudar Alejandro na festa.- disse e ela concordou.

—Tudo bem, me dê o seu numero e mando a programação do evento.- ela disse e concordei antes de lhe falar meu numero.- Eu conto com você Olívia.

—Não se preocupe, estarei lá.

—Nos vemos na apresentação de balé da Luna.-  Megan disse  e nos despedirmos  antes dela sair.

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As sete em ponto Alejandro veio nos buscar e me surpreendi, por vê-lo usando um terno vinho de seis botões.

—Outra reunião com os sócios?- questionei depois que ele me deu um beijo e lhe convidei para entrar.

—Não, só quis me arrumar para você e para a Luna, afinal é um dia importante.- ele disse confuso e sorri.- O que foi? Por acaso estou mal vestido?

—Não você está ótimo, o caimento é perfeito. Só que estou acostumada é vê-lo usando roupas despojadas. Nem sabia que você entendia de ternos.

— E não entendo, a Sylvia contratou o Paolo. Ele é um Personal Stylist, que entende tudo de ternos.- ele disse e sorri antes de me  aproximar  dele e ajeitar a sua gravata.

—Diga ao Paolo, que se você tiver que usar terno que seja de seis botões, porque a sua namorada tem uma queda por esse modelo, ainda mais se você estiver usando.- disse e ele sorriu suave.

—Não se preocupe, o Paolo vai saber da sua preferência.- Alejandro segredou e lhe deu um beijo antes de sermos interrompidos por meu filho.

—Mamãe pode me ajudar com o nó?- Vinicius questionou envergonhando por ter nos interrompido.

—Se você quiser, posso te ajudar. Meu tio me ensinou, ele sempre disse que ensinar a dar o nó na gravata é algo entre pai e filho.- Alejandro disse e meu filho ficou triste.

—Meu pai não pode me ensinar. A mamãe disse que ele fez escolhas ruins, e que agora está pagando por elas, por isso não pode estar comigo.- Vinicius disse e aquilo partiu meu coração.

Sem dizer uma palavra, Alejandro se separou de mim e se ajoelhou em frente ao meu filho.

—Sua mãe me contou. Mas tudo bem Vinicius, tenho certeza que ele se arrependeu do que fez, afinal isso está lhe impedindo de ficar com você. Mas em troca, você tem uma mãe que seria capaz de tudo por você.  Não é verdade?- ele questionou olhando nos olhos azuis do meu filho que sorriu quando olhou para mim.

—Sim, a vovó Sônia diz que a mamãe é uma leoa.- Vinicius disse e sorrimos.

—Isso é verdade, a sua mãe sabe defender o que pensa. - Alejandro brincou e sorrimos. – Posso lhe contar algo Vinicius?

—Claro tio Alejandro.

—Eu também não convivi com meu pai.

—Porque não tio?

—Porque ele morreu quando minha mãe estava grávida de mim. Se sou um bom homem e um  bom pai, é porque minha mãe foi uma leoa para cuidar de mim. E quando sentia falta de um pai, meu tio materno supria essa necessidade. Por isso foi ele quem me ensinou a fazer o nó da gravata. Se quiser posso te ensinar.- Alejandro ofereceu  e Vinicius concordou.

—E o senhor senti falta do seu pai?- meu filho questionou curioso enquanto Alejandro lhe explicava a seqüência dos nós.

—Todos os dias, apesar de não tê-lo conhecido. Minha mãe e minha avó dizem que sou a cara dele, e é verdade. Vi algumas fotos.

E ali vendo os dois conversando sorri emocionada, pois sempre quis que meu filho tivesse essa cumplicidade com o pai, mas Luciano nunca se preocupou em participar da vida do filho.

E Alejandro em tão pouco tempo, já era uma parte importante da vida de Vinicius.

—Pronto, entendeu tudo?- Alejandro questionou ajeitando a gravata de Vinicius.

—Acho que não, é muito complicado.- meu filho disse envergonhado.

—Está tudo bem Vinicius, vamos combinar um dia para treinamos mais. Combinado?- Alejandro questionou suave e logo os dois estavam trocando uma espécie de cumprimento, o mesmo que ele fazia com Douglas quando éramos adolescentes. -Muito bom garoto, você aprendeu rápido.

—Desculpe interromper a diversão dos meninos, mas precisamos ir.- disse e eles sorriram antes de virem até mim.

—Onde está a Luna, a sua mãe e a Abuela?- questionei assim que entramos no carro de Alejandro.

—Deixei elas antes de vir buscar vocês.- ele explicou e concordei antes dele começar a dirigir.

—Quando foi que você ensinou seu cumprimento secreto pro meu filho?- questionei curiosa e ele sorriu.

—Foi no dia que levei as crianças para lanchar e encontrei o Douglas com a Ária lá. Vinicius viu nosso cumprimentou e pediu para ensinarmos a ele. Agora ele faz parte do nosso clube secreto.- Alejandro disse e piscou para o meu filho que piscou para ele em resposta.

—Obrigada.- sussurrei para Alejandro, enquanto Vinicius estava concentrado em assistir algum desenho que passava nas pequenas telas que haviam atrás dos assentos da frente.

—Não precisa agradecer, ele é o seu filho e eu amo esse garoto, por que ele é um pedaço de você.- ele disse e sorri emocionada para ele.

—Eu te amo.

—Eu também te amo Liv.

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Assim que chegamos Alejandro nos levou até nossos lugares, onde já esperavam Guadalupe e Abuela.

—E a Luna, mamá?- Alejandro questionou a mãe .

—Está atrás das cortinas com as outras meninas e a professora.- Guadalupe respondeu suave enquanto me entregava a programação da apresentação.

—Vou ver mi hija e volto logo.- Alejandro disse e concordamos.

—Há quanto tempo a Luna dança balé?- questionei a Guadalupe que sorriu ao lembrar da neta.

—Desde os dois anos de idade. Ela viu uma apresentação de balé na televisão e ficou encantada, Alejandro percebeu e colocou a filha na aula de balé.

—Ele é excelente pai.- disse e ela sorriu orgulhosa.

—Sim ele é.

—E ele aprendeu com a melhor.- disse olhando para ela que sorriu agradecida.

—Como ela está?- questionei a Alejandro assim que ele voltou dos bastidores.

—Concentrada, ela praticamente me colocou para fora de lá. Ela ainda nem fez sete anos e já tem vergonha de mim, imagine quando tiver dezessete.- Alejandro disse magoado e sorrimos enquanto ele se sentava ao meu lado.

—Isso é assim mesmo amor, e a Luna te adora.- disse tentando animá-lo, mas logo foi anunciado o inicio do espetáculo.

E devo dizer que Luna me surpreendeu, pois ela dançava divinamente bem e achei justo ela ter o papel de bailarina principal, pois ela realmente dançava com a alma. Algo que ela deve ter herdado dos seus avôs.

Já Alejandro se comportou como um verdadeiro pai coruja, ele sorria feito bobo enquanto acompanhava com os olhos atentos cada passo da filha e dizia a todos das cadeiras a nossa frente que aquela era a filha dele, enquanto sua mãe gravava tudo no celular.

Assim que a apresentação terminou todos aplaudiram e percebi que Alejandro estava chorando.

—Amor, você está chorando?- questionei surpresa e peguei um lenço dentro da minha bolsa antes de oferecer a ele.

—Estou. A mi hija é maravilhosa, ela é tão talentosa e carismática.- ele disse emocionado e sorri suave enquanto segurava a sua mão.

—Sim ela é, e ela herdou isso tudo de você. E o que Olívia não herdou você a ensinou.- disse e ele sorriu surpreso por me ouvir referindo-me a Luna por seu segundo nome.

—Obrigado pelo elogio, mas não sou tudo isso. Só tento ser um bom pai.

—E você é. Qualquer criança seria sortuda em ser seu filho.- disse e ele sorriu agradecido antes de me dar um beijo.

Depois que fomos parabenizar Luna nos bastidores, Alejandro fez questão de convidar todas as colegas de Luna do balé para uma festinha que ele havia preparado em sua casa, com o objetivo de comemorar o sucesso da apresentação.

—Então você é a namorada do Alejandro?- uma mulher questionou meio em duvida assim que entrou na cozinha e me surpreendeu pegando um copo de suco para o meu filho.

—Sou, e você é?- questionei confusa.

—Sou a professora da Luna. Me chamo Phoebe.- ela disse suave enquanto estendia sua mão para mim.

—Eu me chamo Olívia.- disse apertando a sua mão.

—É um prazer conhecê-la.- ela disse me olhando de cima a baixo.- Sabe, fiquei até surpresa quando vi o Alejandro com você, porque desde que o conheço ele não se relaciona com ninguém.

—Alejandro é discreto e cuidadoso, afinal ele tem uma filha pequena.

—É verdade, mas sempre achei que ele deve ter ficado abalado com a morte da mãe da Luna.- ela disse e fiquei confusa.

—Como assim, com a morte da mãe da Luna? Quando a mãe da Luna morreu?- questionei confusa, afinal não sabia que Nicole tinha morrido.

—Ele não te contou? A mãe da Luna morreu de complicações no parto.- ela disse confusa, mas antes que eu pudesse dizer alguma coisa Alejandro entrou na cozinha de mãos dadas com o meu filho.

—Foi um prazer conhecê-la Phoebe.- disse tentando me livrar dela.

—Digo o mesmo Olívia, você está com o melhor homem.- ela sussurrou suave antes de sair da cozinha.

—Vinicius disse que você estava demorando para buscar o suco dele, então viemos ver o que estava acontecendo.- Alejandro disse sorrindo para o meu filho.

—Meu bem, porque você não vai comer alguma coisa ao lado da Luna enquanto a mamãe conversa com o tio Alejandro.- pedi ao meu filho enquanto lhe entregava seu suco.

—Claro mãe.- ele disse pegando seu suco e saindo da cozinha.

—Eu conheço esse olhar.- Alejandro disse preocupado assim que prestou atenção em mim.- Você quer discutir a relação é isso?

—Não Alejandro. Eu quero saber por que você contou para todo mundo, que a mãe da Luna morreu de complicações no parto?- questionei seria e ele me olhou confuso.

—Quem foi que te contou isso?

—Não importa quem contou, quero saber se você inventou essa mentira?

—Foi a Nicole quem inventou. Eu disse que iria contar a Luna quando ela estivesse maior quem era a mãe dela, mas Nicole me obrigou a mentir. Se não dissesse que ela morreu no parto, seria uma quebra de contrato e ela poderia tirar a minha filha.- ele disse serio e pisquei confusa.

—Vocês fizeram um contrato decidindo se a Luna iria nascer ou não?- questionei horrorizada.- Que tipo de homem você se tornou?

—Olívia, eu lhe contei toda a verdade sobre o nascimento da Luna, e tudo que fiz foi para garantir que minha filha pudesse ver a luz do sol. E não me arrependo de nada, seria capaz de tudo de novo para ter a minha filha. Você como mãe deveria me entender.- ele disse serio e balancei a cabeça em negação.

—Posso entender o sacrifício, mas não entendo a mentira. Quando a Luna souber que você mentiu sobre a mãe dela durante todos esses anos, ela vai te odiar Alejandro. Você nunca pensou em como a Luna se senti ao pensar que pode ter causado a morte da mãe dela? Que tipo de pai é você para deixar a sua filha passar por isso durante sete anos?- questionei chocada com as ações de Alejandro.

—Quer saber, acho melhor eu ir para casa, porque hoje não quero olhar para você. Os segredos da sua família me deixaram enjoada.- disse seria antes de sair da cozinha mas Alejandro segurou meu braço me impedindo de sair.

—Olívia, por favor, apenas tente me entender. Vamos conversar, posso te explicar tudo.- ele implorou desesperado.

—Não quero explicações nenhuma, agora me solta.- disse seria enquanto me soltava de sua mão.- Não sou a Olívia certa para ouvir as suas explicações.

—Olívia.- Alejandro disse fazendo a menção de me seguir assim que comecei a sair da cozinha.

—Não me siga, porque não quero falar com você agora. Eu preciso de um tempo.- disse seria enquanto olhava em seus olhos antes de deixar a cozinha.

 Me despedi de Luna e peguei meu filho no colo antes de sair da casa de Alejandro, pois não conseguia acreditar que ele foi capaz de mentir para a filha, que ele tanto ama.

O que me fez questionar, que ele  seria capaz de mentir para mim também.