[3ª Temporada] - STIGMA: Please, dry my eyes escrita por Carol Stark


Capítulo 25
No silêncio, a resposta




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— Aigo, eu não gosto de lugares assim... – Yoongi falou olhando ao redor.

— Mas--

— Tá, tá. Sei que fui eu quem lhe incentivou a vir e eu não deixaria você sozinho nessa. Só estou dizendo que lugares assim me dão cala frios. – Yoongi se explicou, interrompendo Taehyung e puxou a gola do próprio casaco cruzando os braços em seguida enquanto caminhavam.

Aquele era um enorme cemitério conhecido em Seoul, localizado em um bairro afastado da cidade. Todos os antepassados do jovem de fios acinzentados estavam lá, em urnas, as quais possuíam uma ampla área para tais, assim como várias outras linhagens antepassadas de várias famílias que iam regularmente realizar visitas e deixar fotos e flores em homenagens aos já falecidos.

O local possuía uma sofisticada arquitetura com um hall de entrada ovalado de teto alto. Algumas esculturas ocupavam o silencioso e tristonho lugar e as paredes eram em um tom perolado e dourado deixando tudo ainda mais amplo e bem iluminado com algumas de suas áreas em mármore. Um terreno anexo, de um campo bem cuidado com altas árvores e algumas colinas, era dedicado às lápides. Local também pertencente àquele majestoso cemitério.

Ao atravessarem o hall de entrada Taehyung pôde avistar ao longe, por uma das largas janelas laterais, a área anexa separada apenas por um alto portão envelhecido que permanecia aberto até certo horário estabelecido e logo lembrou-se de seu sonho com a estranha lápide sem flores e sem nome. Seguiram por mais alguns corredores e salas, em que outras famílias visitavam seus antepassados e entes queridos nos columbários e, vez ou outra, o jovem Taehyung olhava o amigo de soslaio vendo-o encolher-se em seu casaco. Tinha quase certeza que não era pelo frio matutino deste domingo.

— Você está bem, hyung?

— Ficarei melhor quando estivermos em casa... – Yoongi respondeu baixo olhando para os lados – Este lugar à noite deve dar arrepios.

— Ah, ye. Com certeza. – Taehyung respondeu lembrando-se mais uma vez do seu sonho da última noite.  

— Você lembra onde está, bem... – Yoongi começou reticente sem saber como faria aquela pergunta.

Taehyung meneou a cabeça positivamente antes de responder:

— Ye. Tive que cuidar de tudo... Junto com vocês. - Yoongi abaixou a cabeça sem palavras sentindo-se triste pelo amigo - Na época em que tudo aconteceu, vocês foram meus únicos pilares. – A voz aveludada de Taehyung tomou um tom profundo.

Yoongi permaneceu calado encarando as próprias passadas naquele chão envernizado.

Taehyung parou diante de um dos columbários e adentrou o salão luxuoso seguido de Yoongi.

E lá estava ela:

Kim HyumTae

Parte do ambiente era dedicado as urnas dos antepassados de Taehyung, todas guardadas em pequenos armários em madeira maciça e lustrosa com portas de vidro. A família Kim de Daegu.

Ele sentiu uma pontada em seu peito por ver fotos envelhecidas e manchadas e resquícios de pétalas já ressequidas pelos longos anos.

Depositou um delicado ramalhete de flores perto da urna de sua irmã e, com os olhos cerrados, entregou-se a pensamentos para seus familiares ali, eternizado em cinzas.

— Sinto tanta falta... – Começou Taehyung de forma intimista. Ele não parecia falar com Yoongi.

Yoongi, ao lado do amigo, apenas o observava imaginando o quão difícil aquilo deveria estar sendo para ele e viu que lágrimas tímidas e silenciosas desciam lentamente por sobre o rosto de Taehyung.

— Você vai ficar bem? – O mais pálido inquiriu preocupado.

— Ye, hyung. Eu preciso fazer isto. – Taehyung fungou enxugando as lágrimas com as costas das mãos – Me desculpa... – Novamente dirigiu-se à frente – Me perdoa por ter te abandonado, HyumTae.

Yoongi afastou-se dando privacidade ao amigo, porém ainda o observando a alguns passos atrás.

— Depois que nossos pais morreram, perdi meu chão. Quase desisti de tudo. Quase desisti do meu sonho. – Taehyung iniciou com seus pensamentos ainda nublados – Mas olhei para o lado e vi você, HyumTae. Ainda tão pequena. A vida foi injusta em tê-los tirado de nós, não acha? Mas agora eles são nossos anjos. – Ele deu uma pausa. Seus olhos brilhavam pelas lágrimas e refletiam uma velha foto da irmã ainda criança – Eu não queria que eles fossem trabalhar naquela noite. Se eu soubesse o que aconteceria... Mas éramos apenas crianças. O que poderíamos fazer? – Taehyung tinha flashes em sua memória dos tempos passados - Meus amigos nos acolheram e ganhamos mais seis famílias, mas, nunca poderia ser igual... – Ele pausou não suportando o nó na garganta e apenas chorou. Aquilo estava sendo doloroso, mas ele entedia que era também libertador. Após um longo minuto, ele prosseguiu:

— E eu vi que você só tinha a mim. Eu cuidei de você e te protegi como se fosse minha própria filha. Você foi minha força, HyumTae e tudo que fiz foi por você, dongsaeng. Segui com meu sonho de ser cantor e trilhei os passos dos meus amigos, por você. Para termos uma vida melhor; para te ver feliz ao poder te dar o que quisesse nesse mundo todo. Mas eu falhei.

Yoongi respirou fundo e deixou que uma lágrima caísse enquanto Taehyung ainda falava com sua irmã na qual ele agora sabia: o compreendia no silêncio.

— Eu não esperava que você também me deixasse, HyumTae. – Taehyung falou num sussurro enxugando as lágrimas mais uma vez – Como sou egoísta não é mesmo? Não aceitei sua partida. Me revoltei. Afundei de vez em não te ver mais ao lado, irmã. Porque as coisas tiveram que ser assim?! – Seu tom de voz aumentou, mas logo ele se recompôs – Mas agora você também é meu anjo. Eu sei disso.

Taehyung relembrou de seu sonho e da voz de sua irmã:

 “Todo este tempo, sempre estive com você”.

— Todo este tempo, esteve comigo... Me perdoa, HyumTae, por não ter cuidado de mim mesmo. Por não ter visto motivos para seguir em frente sem ter você por perto para me sorrir sempre que eu pensava em desistir. Me perdoa por eu ter esquecido de você durante esses anos de dor e ódio. – Taehyung encarou novamente a foto velha perto da urna da irmã e viu ali o sorriso que lhe fazia falta. Os olhinhos infantis cheios de ternura que pareciam falar com ele dizendo novamente que estava tudo bem – Eu sei que fui fraco e esqueci que era o irmão mais velho. Apenas queria ser seu irmão novamente e o filho que orgulhava nossos pais. Hoje carrego a culpa de sua ausência e o peso de uma morte... – Ele não conseguiu prosseguir e entregou-se ao choro novamente cobrindo o rosto com as mãos.

— Taehyung. – Yoongi aproximou-se buscando o olhar do amigo – Você não precisa. Não precisa reviver isto. A HyumTae sempre irá te compreender e ela está aqui, com você. – O mais pálido apontou para o coração do amigo que sacudiu a cabeça afirmando, com o rosto úmido pelas lágrimas.

— Eu me sentia morto por dentro, hyung. - Taehyung continuou agora olhando para Yoongi com os olhos caídos e o cenho franzido – A HyumTae era meu único motivo para viver. Mas, depois que ela se foi, eu não via o quanto estava sendo egoísta... Não via que vocês também se esforçavam por mim, para me ajudar, me reerguer e proteger. Mas agora eu sei. – Olhou de volta para a foto recostada na urna da irmã – Eu só precisava querer fazer isto e tudo ficaria melhor. Eu precisava encarar este passado e me perdoar com você, HyumTae.

Não tenho o que te perdoar, TaeTae. Você sempre será o meu herói”.

Mais uma vez, Taehyung lembrou-se da conversa com a irmã em sonho.

— Talvez eu tenha que aprender a me perdoar. – Falou pensativo - Seu silêncio significa tanto agora que sei que me perdoa. ­Você me mostrou que sou amado e que tenho os melhores amigos do mundo. Você me fez ver que não estou sozinho. – Olhou da foto para o Yoongi que enxugou rapidamente uma lágrima – Tentarei fazer diferente, HyumTae: agora eu viverei.

Taehyung pôs a mão no bolso e retirou de lá uma foto. A última que havia tirado com sua irmã.

— Estaremos sempre juntos, certo? – Ele falou com a voz entrecortada pela emoção e encarou a foto uma última vez. Ali podia-se ver irradiar toda a cumplicidade entre aqueles dois irmãos e ambos sorriam felizes nestes tempos distantes – Voltarei a sorrir como antes. Promete que estará comigo? – Um sorriso fraco desenhou-se no rosto do Kim e ele pôde jurar para si mesmo que ouviu um límpido

Prometo.

 

***

 

— Onde está a papelada?! Alguém encontra o restante dos documentos, por favor. – Hua Le via-se louca diante de tantos documentos, dossiês e pastas. Ela seguia de um lado a outro da sala com uma prancheta em mãos conferido o que reviravam.

O trabalho havia avançado bastante desde que toda a parceria entre empresas havia iniciado e os designers da nova coleção da Kang’s Company para os futuros garotos propaganda estavam finalmente elaborados, apenas restando serem entregues para a equipe da Big Hit Entertainment para assim, serem avaliados e aprovados. Pelo menos assim esperavam as gerentes e líderes da equipe, a Bea Ni e a Hua Le.  

— Alguém faz a missão quase impossível de separar todos os nossos arquivos em uma ordem de produção senão não sairemos daqui hoje e juro que quem encontrar, neste caos, o restante dos documentos que completam nosso projeto, pago um mês de churrasco com o melhor molho barbecue da cidade! – Bea Ni exclamou enquanto andava de um lado a outro na sala de trabalho junto com toda sua equipe que vasculhava agitada cada gaveta e arquivos.

— Bea Ni, isto é caríssimo. Mas pense pelo lado positivo: se formos despedidas não precisará cumprir esta promessa – Hua Le observou com os olhos em uma expressão já quase insana. Seu penteado havia se desmanchado e alguns fios caíam arrepiados.

Bea Ni, tensa como estava, apenas virou-se para a amiga, encarando-a incrédula antes de falar entre dentes:

— Acho que você tem que rever seu conceito de prioridade.

Hua Le mostrou os dentes com um sorriso congelado e logo voltou o foco ao que estavam fazendo:

— Por tudo que é mais sagrado, alguém encontrou? Estamos com o prazo estourando para entregar nosso projeto ao Bang PD para avaliação.

O burburinho tomava conta da sala da equipe Kang’s e quem passasse pelo corredor veria que aquilo estava longe de ser algum tipo de operação para se encontrar alguma coisa. Mais parecia que estavam tentando esconder algo pelo meio daquela bagunça ou teriam enlouquecido de vez com tanto trabalho.

— Não está em lugar nenhum. – Julee Hu admitiu preocupada pondo as mãos na cabeça.

— Caramba, prometemos entregar nosso projeto hoje. – Man Guk, o mais velho da equipe, parou suspirando aflito a medida que folgava a gravata.

— Não acredito que isto está acontecendo. – Soo Ji, uma das colegas olhou toda aquela bagunça em volta juntando-se à Man Guk.

— Vamos manter a calma! – Bea Ni exclamou estressada o suficiente para fazer os demais calarem, olhando-a espantados. Não bastasse a própria situação em pensar terem perdido o tal documento. O principal documento— Irei repassar o que tenho em mãos para vermos se o que temos pelo menos está certo, caso contrário--

— NÃO! – Todos gritaram em uníssono.

— Ani. Não haverá isto de caso contrário. – Hua Le falou tentando controlar o próprio desespero.

— Ye. Dossiê com o perfil dos sete rapazes. – Bea Ni começou separando o que ia ditando a ser repassado.

— Nee. – Os demais confirmaram.

— Os primeiros esboços das nossas peças com as medidas, sugestões de cores, modelos, acessórios...

— Nee.

— O atestado de compra com a fábrica de tecidos. Material, valores, quantidades e tipos... – Bea Ni mantinha os olhos fixos nas papeladas enquanto ia repassando e empilhando tudo numa mesa ao lado.

— Nee.

— ... Pasta com os designers editados depois da nossa primeira reunião. – A garota, a medida que ia revendo os mesmos documentos, sentia suas bochechas esquentarem de nervosismo a medida que, em seu rosto, formavam-se gotículas de suor por não ver nem um sinal do que precisava.

— Nee.

— Aqui está a caixa com os protótipos que costuramos. As camisas, jaquetas e calças...

— Ye, nee.

— E ONDE ESTÁ ESTE MALDITO-- - Bea Ni pronunciava entre dentes numa tentativa de conter todo o estresse que sentia pelo peso daquela responsabilidade. Era a líder da equipe e um grande projeto lhe havia sido confiado. Não foi à toa que voltou da América determinada a crescer neste mercado da moda. Ela ainda não entendia como aquele documento havia sumido daquele jeito. Tanto tempo dedicado à este trabalho. Sentiu que uma lágrima estava prestes a escorrer, mas respirou fundo relutante consigo mesma.

— Está falando disto?

Todos viraram o pescoço tão rapidamente na direção daquela voz estranha que algum estalar de ossos pôde ser ouvido.

Uma figura feminina, jovem e elegante apareceu na porta da sala com uma pasta erguida em uma das mãos, esboçando um sorriso ameno e até agradável às vistas de todos ali presentes, se não estivessem com os nervos à flor da pele pela tensão daquela situação, claro. Afinal seus empregos dependiam do sucesso com atual projeto.

— Quem é você? – Hua Le inquiriu surpresa, sem cerimônias.

— E onde conseguiu isso?! – Bea Ni cuspiu as palavras franzindo os cenhos extremamente incomodada por ver uma estranha com o principal documento da equipe Kangs em mãos: a pasta com todos os desenhos finalizados e design bem ilustrado pelo melhor programa que possuíam para a apresentação da nova coleção, assinados por cada membro da equipe e pelo Sr. Kang, ninguém mais, ninguém menos que o dono da grande Companhia de moda.

— A propósito, muito prazer. Sou a Kyung Hee, a nova funcionária da Big Hit.


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