[3ª Temporada] - STIGMA: Please, dry my eyes escrita por Carol Stark


Capítulo 24
Entre o real e o sobrenatural


Notas iniciais do capítulo

Taehyung decide superar seus medos. Mas, o que o aguarda?
Juntem as peças, criem suas teorias e vamos à leitura! ♥



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Naquele sábado, os sete rapazes haviam tido o restante do dia agradável entre brincadeiras, livros, TV e sessões de norebang, o karaokê coreano, com direito a um vinho velho o bastante para estar no ponto ideal a ser consumido naquele dia frio e alguns pedaços de pizza que, se dependesse deles, o Namgum nunca ficaria sabendo, claro.

Yoongi não resistiu às suas inspirações e logo depois de algumas rodadas cantando com os amigos animadamente, já completamente esquecido do braço que nunca ficou roxo, começou alguns rabiscos para uma nova música; Namjoon trocaria ideias infinitas com o Jin e o Hoseok sobre os propósitos da vida e a complexidade do ser humano, se não precisasse de algumas boas horas de sono, minutos depois, já tarde da noite, enquanto os mais novos revezavam o tempo entre o microfone do norebang, videogame e alguns fermentados de arroz, os saborosos sojus, que com certeza o Namgum entenderia se estivesse naquela pequena festa improvisada juto com eles. Perdoável para quem teve que passar os dois longos dias da quinta e da sexta regrados com a alimentação e com o que mais gostavam de fazer: dançar e treinar bastante.

Após terem gasto grande parte de suas energias com esta tarde e noite de lazer, resolveram se recolher para encarar um domingo sem muito planejamento. Quem sabe planejassem cozinhar sopas e ferver chás para a recuperação de ressacas ou alguns bons pratos de salada, arroz e kimchi para compensar a pizza gordurosa que garantiria um bom sermão do Namgum, se, claro, ele soubesse que haviam consumido. O que não viria a acontecer jamais. Antes voltar a morar em um dormitório apertado e precário a encarar o treinador furioso.

— O que está fazendo, Tae-ah? – Hoseok aproximou-se do amigo que digitava algo no celular largado no chão da sala, agora mais relaxado por sobre o branco tapete felpudo – Pelo visto só restamos nós dois. – Hoseok observou ao redor vendo toda a bagunça pelo chão, sofás e mesas e o silêncio da madrugada cair sobre eles após horas de completo barulho.

Todos já estavam em seus aposentos, aninhados em suas camas: Namjoon com o livro ao seu lado, amassava uma folha com o braço jogado por cima do mesmo, inconscientemente; Yoongi dormia por cima de alguns papéis e canetas estavam espalhados pela cama; Jin dormia deixando alguns farelos de biscoitos caírem de sua boca para o cobertor; Jimin respirava pesadamente enquanto dormia segurando o celular. Provavelmente após ter enviado também mensagens para sua noiva, a Nana, e Jungkook tinha o celular próximo ao ouvido. Talvez tivesse deixado Heuna sozinha do outro lado da linha enquanto mergulhava profundamente em seu sono ou esperou que sua noiva entrasse no mundo dos sonhos primeiro para poder, assim, sonhar com ela logo em seguida.

— Estou enviando algumas mensagens para a Bea Ni. – Respondeu com a voz igualmente relaxada e levemente rouca pelo álcool e cansaço.

— Hum. – Hoseok murmurou em concordância deitando-se ao lado do amigo com as mãos cruzadas abaixo da nuca. Seu rosto estava vermelho pelo vinho que compartilhou com os mais velhos e sentia suas pálpebras pesarem – Vocês formam um belo casal, Tae-ah. Espero um dia conhecer alguém em que eu possa amar assim, dessa forma. De um jeito simples, sincero e sem as máscaras que as vezes tenho que usar sendo o J-Hope. Também tenho meus dias tristes, sabia? – Hoseok falava com os olhos fechados e bocejou logo em seguida – ... Alguém que me ame apenas como o Hoseok, o garoto de Gwangju... – Falou ainda em meio a um bocejo.

Após alguns segundos pensativo sobre tal comentário confidente, Taehyung respondeu:

— Irá encontrar, hyung. – Um pequeno sorriso acolhedor desenhou-se - Irá encontrar alguém que realmente o mereça. Com o coração tão gentil e ensolarado quanto o seu. – Virou-se para Hoseok, mas o amigo já ressonava entregue ao sono.

Num suspiro tranquilo, Taehyung deixou o celular ao seu lado, levou as mãos agora desocupadas para apoiar a cabeça e encarou o teto por alguns minutos deixando seus pensamentos vagarem para Bea Ni que agora deveria estar adormecida, tranquila por haver falado com o Taehyung depois de ele ter dito que estava bem. Pensava o quão sortudo era em tê-la por perto e o quanto gostaria de gritar aos quatro ventos que a amava.

Sabia que este sentimento era algo sério a se assumir e sabia também que não é o tipo de coisa que se diz como um “bom dia” para um amigo ou mesmo para um estranho ao passar na rua ou ainda o tipo de coisa que se diz na frequência de como quando se troca de roupa. O amor verdadeiro deve ser o tipo de coisa especial, para pessoas especiais e, desde que a vira pela primeira vez, que algo nele havia se iluminado como nunca antes com nenhuma outra mulher. Apesar de jovem, Taehyung era intenso o suficiente para distinguir seus sentimentos e sentir seu coração vibrar pela coisa certa. Bea Ni era a luz dos seus dias desde que a reencontrara e foi sua esperança por um longo ano até o momento em que a viu novamente. Ela o tirava da escuridão de seu estigma e, a cada dia, significava muito em sua vida e para ele.

Em meio aos seus devaneios, o jovem de fios cinzentos, percebia que estava na hora em deixar-se descansar, mas sua mente ainda vagava para mais distante.

Piscou algumas vezes com os olhos já exaustos em manterem-se abertos encarando aquele teto sem graça e o grande lustre ao centro, apagado. Ouvia a respiração leve do seu amigo ao lado, alheio à sua presença ali, debilmente vigilante, sob a fraca luz do luar que adentrava por uma janela qualquer.

Meu estigma. – Pensou o Taehyung – Como pude fazer o que fiz? Mesmo sendo pela HyumTae, foi em vão.

Ele finalmente sentia que precisava ir até ela, visitá-la, aliviar-se. Precisava sentir que ela o entendia. Precisava sentir de algum modo seu perdão.

Irmã, me perdoa. – Foi o último pensamento de Taehyung antes de finalmente deixar que o véu da noite o cobrisse carregando-o para longe dali.

Para mais um de seus sonhos...

 

POV Taehyung

 

O teto branco da sala de repente ganhou um tom vermelho que se espalhava com rapidez e logo gotas vermelhas começaram a cair pingando direto em minhas mãos. Olhei assustado para o lado, mas Hoseok não estava mais lá.

Mais gotas vermelhas caíam sobre mim e levei instantaneamente as mãos ao rosto me protegendo, mas de nada adiantava e senti minha roupa empapada com o líquido quente e viscoso. O tapete felpudo, de branco, ganhou uma tonalidade rósea em contato com o... Sangue?!

NÃO!

Gritei fechando os olhos com força, me encolhendo em posição fetal, mas assim que os abri me encontrei em um lugar calmo, o ar era úmido e a neblina cobria meu campo de visão. Tudo parecia cinza neste lugar. Será que o sol não alcança aqui? Afinal, estamos já perto do verão.

Uma rajada de vento soprou a copa de algumas árvores que pareciam tristes em viver aqui. Andei alguns passos seguindo o caminho que a neblina deixava ao dispersar-se com aquele sopro rápido. Caminhei sem saber ao certo onde estava.

Não demorou muito e vi lápides espalhadas. Mas estavam tão bem cuidadas. Pareciam lindos monumentos cheios de flores coloridas que eram as únicas vidas neste lugar monocromático.

Olhei mais adiante e apenas uma placa não possuía flores. Também não havia nome algum ali lapidado. Mas, como pode?

Um medo quase palpável pareceu preencher meu coração em fração de segundos e levei minha mão ao peito como uma tentativa falha em fazer este órgão acalmar-se dentro de mim. Como num flash vi o rosto borrado do homem que matei seis anos atrás relampejar em minha memória e logo em seguida, um vulto apareceu ao meu lado, misterioso, com o rosto coberto por um capuz ou seria pela escuridão que parecia exalar?

Gritei num impulso com toda a força que consegui recolher dos meus pulmões e tropecei para trás sem cair, cambaleando para longe, mas a figura pareceu não se abalar permanecendo estática.

Gritei mais uma vez sentido o medo tomar conta de mim por aquela presença ruim e escura, pondo as mãos na frente dos meus olhos como uma criança que se esconde embaixo da coberta. Inútil.

Tomado em desespero ao ver a figura aproximar-se sem pressa, senti mais uma vez forte necessidade em gritar, desta vez por ajuda e já sentia minha voz falhar. Onde estavam os outros? Onde estaria o Yoongi? O Jungkook, o Namjoon? Porque o Jin ainda não havia aparecido para me tirar daqui? E o Hoseok? Porque o Jimin não vinha me ajudar?

HYUNGS!

Taehyung!

Pude ouvir suas vozes vindas de algum lugar e me acalmei por um segundo. Não deu tempo de pensar em nada e me vi ofegante em meu quarto no segundo seguinte.

Bea Ni. Preciso encontrar a Bea Ni. Preciso protegê-la.

Queria ir até ela. Me sentir acolhido com o calor do seu abraço e protegê-la de qualquer mal.

“Taehyung”.

Parei ao ouvir meu nome por uma voz diferente...

“Taehyung”.

A voz suave se repetiu. Era profunda, assim como a minha.

“Taehyung, cuidado”.

Eu conheço essa voz! Parecia distante, mas tão real. Ela parecia sussurrar em meu ouvido algo que eu deveria ouvir. Isto me acalmou, mas não consigo lembrar-me o que dizia .  

Virei-me para um outro ponto do meu quarto a procura da dona da voz e finalmente a vi.

HyumTae!

Aproximei-me para abraçar minha dongsaeng. Minha única irmã que, apenas dois anos mais nova que eu, parecia tão mais velha com o semblante tão preocupado.

Era etéreo.

Não consegui alcançá-la e meus olhos lacrimejaram por não poder mais sentir seu abraço carinhoso. Eu sentia sua falta.

Ela sorriu fechado, encurvando os lábios para cima e seu sorriso me lembrou nossa mãe. Levei a mão ao peito sentindo-o pulsar mais forte em um misto de pesar e amor profundos. Um amor imenso que eu não sabia como expressar, tampouco colocá-lo para fora agora em que tudo parecia tarde demais.

“Não é tarde demais, TaeTae”.

Ela parecia ouvir meus pensamentos. Sua voz me acalentou e ela aproximou uma de suas mãos ao meu coração que pareceu preencher-se instantaneamente com uma onda morna e agradável, assim como nossos velhos abraços que aproximavam nossos corações ainda tão jovens.

“Estaremos sempre unidos”.

Apenas a ouvi.

“Sei que o que fez foi para me proteger. Você estava como medo”.

 Me perdoa, HyumTae.

Minhas lágrimas escorreram pesadas. Eu não suporto mais viver com este peso...

“Não tenho o que te perdoar, TaeTae. Você sempre será o meu herói”.

“Não chore mais por mim, por favor”.

Gostaria de dizer que sua voz tinha a doçura de nossa mãe, mas eu não consegui pronunciar nada. As lágrimas não cessavam e o ar ficava difícil para meus pulmões.

“Eu estou bem. Taehyung, eu estou bem, irmão”.

Não me lembro de ter chorado antes tão intensamente. Eu soluçava como uma criança em frente à minha irmã mais nova. Ela não deveria me ver assim... Ninguém nunca havia visto este meu lado tão cru, mas está difícil para mim. Não posso mais esconder este meu outro eu. Fraco, quebrado. Mas minha pequena HyumTae parecia saber arrancar minhas dores e apaziguar meu caos. Ela parecia me entender.

Queria que você estivesse comigo HyumTae. Só tínhamos um ao outro...

“Eu estou com você, oppa. Todo este tempo, sempre estive com você”.

Tudo por culpa daquele maldito... Mas, mas eu não deveria ter feito o que fiz. Tê-lo matado não a traria de volta. Vivo com esta marca horrenda. HyumTae, eu não sou mau! Me perdoa!

Mais uma vez eu me sentia afogar em lágrimas. Quando cessariam?

“Te perdoo, TaeTae, se é disto que você precisa, mas não carregue este ódio em seu coração. Você tem aos seus amigos. Você tem a Bea Ni. Ela também precisa de você tanto quanto você precisa dela”.

A encarei ainda sem conter as lágrimas.

Bea Ni. Nossos destinos de cruzaram e ambos temos passados difíceis que não parecem tão distantes assim.

“Tem razão. Não sei o que o futuro os reserva, mas por favor, tenha cuidado”.

Sua voz ficava distante novamente.

HyumTae!

A chamei com os olhos em súplica para que não fosse.

“Estou com você, TaeTae”.

Ela aproximou sua mão desta vez ao meu rosto e pude sentir uma agradável sensação como se seu carinho pudesse ser passado apenas com o pensamento.

Saranghae.

Foi o que consegui dizer sentindo que uma parte do meu coração também estava indo embora.

“Saranghae, oppa. Te amo mais”.

Ela sorriu e se foi.

 

 

— HyumTae! – Acordei de súbito sentando-me e vi que ainda dormia no chão da sala. O dia parecia querer despertar com uma brisa suave e uma fraca luz que não era mais a da lua.

Olhei ao lado e Hoseok não estava. Deveria ter acordado no meio da noite e ido dormir em seu quarto. Respirei fundo me sentindo extremamente cansado. Passei a mão no rosto e senti as lágrimas ainda presentes. Não haviam secado. Foi real.

— Ela veio em meus sonhos... – Pronunciei reticente e pensativo com tudo o que me havia acontecido estranhamente nesta noite. Me senti preocupado. O encapuzado do sonho, a lápide sem nome, HyumTae me recomendado cuidado... – HyumTae. – Falei novamente para mim mesmo tocando meu coração e novamente a calmaria veio como uma onda morna e agradável. – Gomawo, irmã. Definitivamente não estou sozinho. – Um sorriso tímido desenhou-se em meus lábios como uma esperança pousando em meu rosto. Como uma flor que brota mesmo em terrenos áridos.

— Flores. – Lembrei-me – Preciso fazer uma visita à HyumTae. Suga hyung! – Levantei-me do chão apressado – Suga hyung, acorda! Aquela proposta ainda está de pé? – Segui corredor adentro certo em aceitar a sugestão do hyung em ir comigo visitar finalmente minha dongsaeng.

Certamente eu me sentiria melhor. Já podia sentir os efeitos positivos da nossa conversa em sonho. Me sentia, apesar de preocupado com meu futuro e com o futuro da Bea Ni, feliz por não ter tido mais uma recaída em meio ao meu caos e feliz em ter a certeza do carinho ainda vivo da minha irmã por mim. Esta era a minha dúvida e motivo de meu maior medo por todos estes anos.

Saber que temos exatamente as pessoas que das quais se precisa por perto é a fortaleza para qualquer coisa que esteja por vir.

Acredito que nunca irei me esquecer deste momento divisor em minha vida desde que tudo aconteceu há seis anos...

Este momento estranho, porém igualmente vivo entre o real e o sobrenatural.

— Hum? – Suga hyung murmurou quando o sacudi em sua cama acordando-o – O que você quer, Taehyung? – Ele abriu os olhos minimamente me encarando feio e se eu não o conhecesse, seus cabelos desgrenhados e sua cara de poucos amigos seriam motivos suficientes para eu me assustar e sair correndo para longe.

— Preciso de você, hyung. Você disse que iria comigo se eu quisesse ir visitar minha dongsaeng. – Me sentia ansioso.

Ele me analisou por breves segundos e sua expressão se apaziguou. Então, falou:

— Ye, ye. Vou com você. – Sua voz estava grave e lenta ainda cheia de sono, mas me permiti suspirar aliviado. Sabia que nenhum dos meus amigos me deixariam na mão – Só me dê mais uma hora... – Suga hyung virou-se para o outro lado puxando os lençóis.

— Uma hora, hyung?! – Arregalei os olhos deixando meus ombros caírem pesados.

— Ye! Está bem. – Pude ouvir um pequeno riso abafado - Cinco minutinhos... – Murmurou.

Saí do quarto para me arrumar dando-lhe o tempo para levantar-se.

Sabia que meus hyungs e o maknae não me deixariam na mão, assim como eu também jamais os deixaria, mas, bem, acredito que todos têm um pouco do Suga hyung, não é mesmo?

Sorri satisfeito enquanto escolhia uma roupa para aquela fria manhã de domingo.


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Notas finais do capítulo

Um dia de atraso, mas cá estou o/
E então, o que estão achando?
Posso contar com vocês?

Até breve



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