Espion Noir escrita por carlotakuy


Capítulo 52
Epílogo




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Eram quatro horas da tarde e a hamburgueria estava agitada. O fluxo constante de clientes ao caixa e as mesas lotadas era constante e o cheiro salgado ao longe explicitava a localização: uma lanchonete na beira da praia.

A decoração era simples e além de cadeiras plástico e mesas de mesmo material alguns vasos de planta completavam o visual da simples lanchonete móvel.

Adolescentes riam e se divertiam em grandes grupos, conversando bobagens e tomando refrigerantes. Adultos relaxavam do trabalho apreciando um hambúrguer triplo com camada extra de cheddar.

Em uma das poucas mesas do recinto, um casal se deliciava no seu milk-shake enquanto comiam, calmamente, algumas batatas fritas que sobraram do seu lanche.

A mulher sugou até a última gota da bebida antes de afastar o canudo da boca, preenchida de um vermelho vivo, e sorrir para o companheiro. Os cabelos negros e longos estavam presos por uma trança em suas costas e os olhos esmeraldas jaziam escondidos por óculos escuros​.

Mas o sorriso, aquele sorriso, ela nunca conseguiria esconder.

— Em que está pensando Alex? – perguntou a mesma após segundos sendo observada pelo homem a sua frente.

Ele sorriu à pergunta, notando que havia sido pego no meio de sua contemplação. Dando de ombros ele mordiscou uma batatinha perdida na bandeja e fitou profundamente a mesma. Os olhos amendoados contrastaram com a barba rala em seu rosto, tão negra quanto seus cabelos curtos e sem qualquer resquício de gel.

A expressão em seu rosto o denunciou em poucos segundos.

— Por que está me perguntando isso?

Arabella ergueu a sobrancelha para o mesmo, reforçando sua pergunta, e mordendo uma nova batata que pairava na mão do homem. Ele a observou e sorriu em derrota.

— Em como esse cheiro de hambúrguer em você me faz querer te comer.

A mulher riu abertamente o levando consigo. Observando-a Alex comeu as últimas batatas sobre a bandeja e tomou os resquícios de seu milk-shake. O vento fresco do litoral sobrou suave entre os mesmos.

— Eu sei como podemos resolver isso – ela lhe sussurrou, baixinho, com um sorriso malicioso no rosto.

Seus olhos se encontraram, num choque gostoso, e ambos sorriram. Alex foi o primeiro a levantar, organizando a bandeja, enquanto a mulher guardava suas coisas na bolsa. Seguiram sem pressa para fora do pequeno espaço da lanchonete, na direção de um ainda menor estacionamento próximo.

Os primeiro passos para fora do recinto vieram acompanhados do ar salgado da praia logo a frente. Os olhos por detrás dos óculos escuros avaliaram a paisagem com admiração enquanto o homem seguia, em passos calmos e calculados, até um carro prateado no final do estacionamento.

O sol começava lentamente a descer pelo céu, esfriando seu calor, e refletindo vividamente na água cristalina da orla em que eles se encontravam. O azul anil estava vívido, quase sem nuvens para cobri-lo, deitando timidamente sobre suas cabeças.

O carro destravou e Arabella se apressou, numa corrida rápida, entrando no mesmo. Alex foi mais lento e antes de fechar a porta do motorista aprumou o retrovisor.

— Nem acredito que estamos de férias – comentou a mulher, afivelando o cinto.

— Nem eu – ele ligou o carro – aquela escola é um caos e aqueles alunos...

Arabella riu vendo-o sair do estacionamento.

— Não diga isso, você já foi estudante, lembra? E não foi um dos melhores.

Alex fez uma careta roubando uma risada da mulher.

— Eu só não era bom em biologia, há diferenças.

— Tanto que agora é professor de biologia – ela remexeu no porta luvas, tirando de lá um pirulito – o tempo passa rápido, não é?

A pergunta foi retórica e após a mesma o olhar da mulher pousou sobre a vista ao seu lado. Nos raios refletidos na água, nas poucas ondas quebrando na beirada da areia e nas pessoas que passeavam pela areia fofa e morna.

Era um clima bom, tranquilo e gostoso de se ver. O litoral nunca fez parte de seus planos quanto a estabelecer uma morada, mas tão pouco ela possuía um plano para isso.

Aquele lugar ameno e quente a fazia se esquecer do caos que foi aquela cidade fria e gélida que há muito haviam deixado para trás. Ali, naquele litoral, eles tinham encontrado uma nova chance.

Um novo caminho.

— Sim – ele a respondeu após alguns segundos – parece que foi ontem.

Os olhos de ambos se encontraram e eles sorriram juntos.

— Mas já passou – Arabella pôs o doce na boca – e é isso que importa.

Sim, definitivamente era isso que importava. Eles estavam​ juntos e longe de toda aquela organização maldita e de qualquer ameaça.

— Verdade – ele trocou a marcha – só me incomoda uma coisa.

Arabella o fitou com a sobrancelha erguida.

— O calor daqui é infernal.

A mesma riu retirando a pequena bola de açúcar da boca e assentiu. Assim como sentiu, ao chegar naquela cidade o frio lhe acertar em cheio, ao voltar aquele clima, também foi recebida com raivosas boas-vindas.

— Mas o frio de lá era excruciante! – tentou se explicar – O clima tropical é mil vezes melhor!

— Toda vez que vamos tomar banho de praia, só tenho que concordar.

Ele lhe lançou um sorriso safado e foi retribuído por tapas leves, seguidos de risos da mulher.

— Sua mãe adorou a praia – disse após o estapear – e Clara adorou poder passear com o Scooby na areia.

— Nem me fale naquele cachorro infernal – Alex bateu em sua própria testa.

Arabella riu fitando sem propósito a pista a sua frente. Os olhos despretensiosos se tornaram lentamente baixos e reflexivos. Mais uma vez a mulher voltou a chupar o doce.

— Aquele velho realmente pensou em tudo, não foi?

As orbes amendoadas fitaram a mulher surpresas​ pelas palavras. Há quanto tempo ela não falava sobre o avô? Desde o momento que descobriram sobre o testamento de seu avô e viajaram para aquele país, ela sequer havia entrado no assunto.

Não que Alex não tentasse, mas ela se trancava e pedia, quase numa súplica, para que não falassem sobre esse assunto. E olhando naqueles olhos, como ele poderia insistir?

— Ele comprou ações e negócios aqui, uma casa – riu sem vontade – até mesmo um cachorro para sua irmã. Bill sabia exatamente para onde nos mandar em segurança antes de ir embora.

Alex sorriu.

— Sim – lhe respondeu​ – ele pensou em tudo.

A mulher sorriu sem força e debruçou-se na janela, encerrando o assunto e deixando, a mercê do som da água ao longe, o momento entre eles.

Não haviam pensamentos, apenas o apreciar sincero de todo aquele momento. Do sol descendo gentilmente sobre o mar, da água espirrando ao longe, dos pássaros afoitos sobrevoando a água, de Alex, ao seu lado, tocando suavemente em sua mão com a dele.

Alex ligou o som do carro.

Arabella's got some interstellar-gator skin boots
And a helter skelter around her little finger and I ride it endlessl

Ele sorriu.

She's got a Barbarella silver swimsuit
And when she needs to shelter from reality
She takes a dip in my daydreams

Alex fechou os olhos momentaneamente, diminuindo a velocidade, e sentindo a música entrar por seus ouvidos. Lentamente ele permitiu aos olhos espiarem, de lado, a silhueta ao seu lado.

Arabella fitava a paisagem fora da janela com um sorriso tímido no rosto, quase que inconsciente. Seu rosto agora se encontrava corado já não pelo frio, mas pelo sol excessivo do trópico, e todos os seus traços permaneciam tão belos quanto sempre foram.

A visão dela o fez relembrar tudo que passaram juntos, do momento em que se conheceram ao que se apaixonaram.

Foram tantos perigos, tantas curvas ao longo do caminho, mas ali, naquele momento, depois de tudo ter passado, nada parecia fora do lugar. Absolutamente nada.

My days end best when this sunset gets itself behind
That little lady sitting on the passenger side
It's much less picturesque without her catching the light
The horizon tries, but it's just not as kind on the eyes
As Arabella, oh

Gradualmente o carro foi parando, ainda na orla, frente a uma casa de praia grande, espaçosa e de madeira. Seu tom era de um branco simples, com janelas em vidro e uma grande porta de madeira frontal. O portão pequeno em sua frente e a areia fina da praia adentrando no quintal eram o cartão postal da mesma.

Da casa que pertencia a eles.

 Arabella voltou lentamente de seus devaneios e sorriu para Alex, com ele a retribuindo em seguida. Num movimento simples ela tirou os óculos escuros, mostrando com clareza os olhos esverdeados que ele tanto amava.

No banco do passageiro ela parecia um anjo envolta no brilho ameno do pôr-do-sol. Sua silhueta, seu sorriso, seus olhos. Alex estava completamente desarmado e apaixonado por aquela mulher.

Arabella's got a 70's head
But she's a modern lover
It's an exploration, she's made of outer space
And her lips are like the galaxy's edge
And her kiss, the color of a constellation falling into place

No momento em que ambos desafivelaram os cintos ele a beijou. O carro e o oxigênio foram insuficientes para a intensidade da dupla. Foram beijos longos, profundos, demorados. Os lábios deles imploravam um pelo outro, o calor e o suor se misturavam ao doce cheiro de ameixa.

Era desejo.

Era necessidade.

Era amor.

Eles entraram dentro da casa aos tropeços, agarrados, beijando-se e sentindo o choque de seus corpos um no outro, em êxtase. Depois de tantos toques cada novo momento daquele ainda era deliciosamente excitante.

Arabella riu subindo as largas escadas, afastando-se momentaneamente de Alex, o fazendo persegui-la. Ele a alcançou no início do primeiro andar e prensando-a contra a parede derreteu-a em seus braços.

Quando entraram no quarto e caíram sobre a cama, ambos ainda rindo, Alex a observou. Os olhares se completaram e as respirações se sincronizaram. Eles sorriam e o beijo seguinte foi uma confirmação mútua de que finalmente eles haviam encontrado seu caminho.

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You can't be sure

...


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Notas finais do capítulo

SIM, o nome dela foi inspirado na música Arabella de Arctic Monkeys! ASHJSHJ.

E chegamos ao final...
Obrigada a todos que leram, acompanharam, se emocionaram e comentaram a história de Arabella e Alex. A autora sabe que vacilou sumindo e tudo mais, mas cá estamos no final. No final da história deles e da nossa. Espero ver alguns de vocês no futuro, em meio ao Nyah, mas caso isso não aconteça, aqui me despeço e agradeço novamente, e profundamente, quem chegou até aqui (sejam antigos ou novos leitores),

Então, é isso. Desculpa e obrigada. Nos vemos por aí ~



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