Espion Noir escrita por carlotakuy


Capítulo 53
Spin-off [Dubai]


Notas iniciais do capítulo

E como prometi aqui está o mimo!

E é isso mesmo, spin-off de SAMUEL!
Completamente narrado por ele e com a história que deu início a amizade do século.
Espero que gostem e se divirtam!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/756291/chapter/53

A primeira vez que ele a viu ela sorriu e lhe cumprimentou com o ânimo de uma adolescente. Pela aparência, cabelos lisos e negros, grandes olhos verdes e sorriso bobo ele lhe dava no máximo dezessete anos. Seu sorriso era bonito, não conseguiu negar, mas era no todo uma criança.

Nem mesmo o corpo, de uma adulta, mudava sua percepção.

O homem tentou olhar para a loira, a responsável pela missão, em busca de alguma explicação mas a ela o ignorou permanecendo na cabeceira da mesa de madeira. A sede deles na França era menos cinza do que todas as outras ao redor do mundo, mas nem mesmo a decoração em madeira com quadros de paisagens alegres mudava o fato daquela mulher ser tão fria quanto gelo.

Entrando mais na sala ele sorriu.

— Bom dia senhoritas.

Ele acenou para a dupla, mas apenas a mais jovem lhe correspondeu o movimento e o sorriso.

— Está atrasado – acusou a loira batendo mecanicamente em sua pasta na mesa com a ponta de sua unha.

Antes que ele se defendesse a mulher começou a explicar a missão, praticamente o obrigando a se sentar. Do outro lado da mesa a garota que os acompanhava prestava bastante atenção, quase como se estivesse uma animada aula. O moreno suspirou.

A missão era ranking SS, infiltração e risco de vida. Entrariam na cidade como novos moradores e investigariam todos os grandões, afim de recolher material suficiente para que seu contratante pudesse vir a chantageá-los. Mas as potências da cidade não abaixariam a guarda com facilidade e não deixariam estranhos​ fazerem o que quisessem, então tinham que ficar alertas.

Quanto mais o roteiro era apresentado, menos a jovem ali fazia sentido para ele. Era uma criança numa missão de alta periculosidade.

Mas a mulher estava resoluta e pragmática, como sempre, e ele sabia que ela não voltaria atrás naquela decisão. Esperava apenas que aquela menina não estragasse tudo saindo do personagem com aquele sorriso patético e infantil no rosto.

— Você será Kaled Jameel, único herdeiro de uma generosa fortuna que está de volta para Dubai afim de aproveitar os prazeres da vida.

Ele assentiu recebendo a pasta com suas informações.

— Você será Ravena, a amante de Kaled.

A surpresa no rosto do homem não abalou a loira. Nem mesmo a jovem ao seu lado pareceu atingida, acenando um sim metódico. Suspirando frustrado ele se levantou.

Não era possível. Aquela garota tinha a aparência para ser sua filha! Não, talvez não filha. Mas era muito mais nova que ele com certeza. Os papéis não iriam dar certo.

— Se isso é tudo vou embora.

Pela primeira vez o loira sorriu e os olhos verdes da garota ao lado dela caíram sobre ele. Com um tímido sorriso a dona da cabeleira negra também se levantou estendendo simpática sua mão.

— Espero que possamos trabalhar bem, Kaled.

Sustentando o olhar da jovem ele apertou a mão menor que a sua com sua melhor demonstração de simpatia.

— Eu também, Ravena.

E dizendo isso o homem saiu desejando que pudesse começar e terminar aquela missão o mais rápido possível. Odiava trabalhar com crianças.

•••

Uma semana depois Kaled foi enviado para Dubai. Chegou com festa dos vizinhos e conseguiu alguns bons contatos durante os dois primeiros dias que esteve ali. Para manter o papel ele demonstrou ser um viciado em diversão frívolo indo em todos os lugares mais badalados da cidade, acompanhado de seus vizinhos e novos amigos.

Ou quase isso.

Kaled se esforçou em busca de informações, mas nem mesmo seus vizinhos da casa ao lado pareciam confiar nele. Entretanto ainda eram os primeiros dias, o homem repetiu para si aprumando o blazer, eles teriam muito tempo ainda pela frente.

No dia seguinte, Ravena chegou. A limusine apareceu no portão antes mesmo de Kaled chegar a porta e os criados, muitos, se aglomeraram ansiosos ao pé da grande escada de concreto que levava à entrada do casarão. O carro luxuoso estacionou de frente à escadaria e o motorista saiu, apressado, para abrir a porta.

Alguns cochichos começaram a ser ouvidos entre a criadagem e Kaled saiu porta a fora, curioso com o que despertara tanta curiosidade em seus novos funcionários. Quando viu o carro ele lembrou de sua parceira de trabalho e todos os dias anteriores, em que lutou para conseguir montar uma imagem à seus vizinhos, pareceu ir por água abaixo sob sua pele.

Lá vinha ela destruir sua missão.

O choque de Kaled ao ver aquela garota descer da limusine em frente a mansão foi maior que sua surpresa quando havia chegado e descobrira que ficaria ali por longos seis meses. A silhueta que desceu do carro fez o ar tanto do homem quanto dos criados faltar.

Ravena saltou da limusine lançando um sorriso para o motorista que corou e acenou, fechando a porta atrás dela. Os cabelos negros ainda caiam lisos em suas costas, mas os olhos verdes estavam escondidos por óculos escuros e a pele clara contrastava ao batom vermelho que ela carregava.

A elegância da jovem deixou Kaled ainda mais impactado. A figura a sua frente não era a garota sentada naquela sala da organização, sorrindo e sendo patética. Ela tinha uma aura ao seu redor, felina e fatal, e o sorriso branco que a mesma lhe lançou capturou completamente o homem frágil por de trás do personagem.

Kaled deveria ser frívolo e superficial, flertando a torto e a direito, esbanjando riquezas e dando festas luxuosas, afim de atrair os mais poderosos da região e descobrir alguns segredos que eles foram muito bem pagos para investigar.

O homem se questionou qual seria a utilidade da garota, uma amante que provavelmente faria escândalos a cada flerte de seu companheiro. A loira lhe explicou ríspida, por telefone, que ela o ajudaria de outras formas e que sua personagem não iria fazer nada do gênero.

Kaled não acreditou, pelo menos não até vê-la descer do automóvel e ter certeza de que seria ele a fazer escândalos por causa dela. Ravena tirou os óculos e varreu o lugar com os olhos, sorrindo para os criados que a cumprimentaram com acenos.

Kaled engoliu em seco.

Aquela era Ravena. A personagem. A amante.

Correndo na direção dele a garota o envolveu num abraço com um gritinho de alegria.

— Kaled, eu já estava com saudade!

O beijo que ela lhe deu o surpreendeu ainda mais, mas dentro do personagem o homem a envolveu nos braços como uma amante, exibindo-a na frente dos funcionários que os rodeavam, reiterando a história criada para eles.

Amantes.

Ah, minha querida, não sabe como os dias duraram séculos sem você.

A jovem riu, melódica, e o estapeou de leve no peito, puxando-o para mais um beijo. A criadagem ao redor permaneceu parada, algumas com olhares de pena outras risonhas. Afinal, Kaled havia levado várias mulheres para a mansão até então.

— Então que tal matarmos a saudade agora mesmo?

Sem receber resposta Ravena o puxou para dentro, fazendo gestos com a mão para os funcionários que prontamente tiraram seus pertences da mala.

No instante em que entraram no quarto ele imaginou que seria hora de abandonar o personagem, de conversarem seriamente sobre seu serviço ali: espionagem. Mas Ravena se jogou na cama como uma felina, ronronando pelo seu dono parado na porta do quarto.

Kaled hesitou antes de sair do papel puxando uma papelada numa escrivaninha em seu quarto e sentando preguiçosamente na cadeira próxima a ela, virado para a garota.

— Precisamos conversar sobre negócios.

A jovem bufou e se jogou de costas na cama. Aquele gesto pareceria birra de adolescente, mas não. A personagem ainda estava lá e seus movimentos eram um deleite para os olhos. Mas algo estava errado. Não precisavam de personagens naquele momento.

— Claro, Kaled, você sempre prioriza os negócios – ela rolou ficando de bruços e de frente para ele – quem vamos enganar dessa vez? – sorriu animada – Senhorinhas ricas ou os filhos delas?

Inconscientemente o homem sorriu vendo-a totalmente incorporada ao personagem. Ravena não era apenas a amante de Kaled, era sua fiel companheira em tudo. Nas festas, nas brincadeiras, nos momentos de prazer. Aquela garota conseguia sintetizar tamanha complexidade em seus movimentos, em seus olhos, em suas palavras.

Ela podia superá-lo daquele jeito. Mas ele não iria ser derrotado tão fácil.

Jogando os papéis para trás, os mesmos​ que lera tantas vezes desde que chegara a mansão, ele aumentou o sorriso e caminhou até a cama, recebendo um sorriso malicioso de sua companheira.

— Desta vez precisamos pensar mais alto, minha querida Ravena. Precisamos encontrar informações importantes entre nossos convidados – ele deslizou a alça do vestido solto que ela usava, expondo o ombro alvo.

— Convidados? – ela sorriu animada – Teremos festas?

— Muitas festas – Kaled a deitou na cama e em cima dela o homem por trás do personagem se deteve.

Ela era uma adolescente e ele um adulto.

Delicadamente Ravena puxou a cabeça dele para si, porém, em vez de beijá-lo, parou com a boca em sua orelha, deixando-o em alerta.

— Desde que chegamos estamos sendo observados de todos os lados.

Kaled ameaçou recuar, mas ela o segurou.

— Sem movimentos bruscos – sorriu maliciosa, mordiscando a orelha dele – está tudo sob controle. Espero que consigamos nos dar bem, agente. Conto com sua experiência.

Puxando-o finalmente para um beijo, que o homem não conseguiu resistir, ela rolou na cama, ficando por cima. Riu, como se estivesse adorando o poder da situação, e saiu da cama deixando Kaled em busca de ar.

— Preciso de um banho quente e longo, a viagem foi cansativa – ela fez sinal visual para ele indicando a janela – continuamos isso uma outra hora, meu amor. Tchauzinho!

Sem esperar resposta Ravena saiu do quarto. Ainda atordoado na cama o homem se levantou e, depois de disfarçar sua falta de fôlego com sorrisos e um suspiro de frustração, ele foi até a janela. Fechou lentamente a cortina e percebeu, assim que o tecido dela deslizou, um microfone escondido nela.

Surpresa e admiração se embalaram dentro dele. Em que momento aquela garota havia notado aquilo? Nem mesmo ele, que estivera ali sozinho por dois dias inteiros antes dela percebeu. Com poucos segundos ela havia notado algo tão importante.

Por isso não saiu do personagem, ele constatou tirando o microfone do lugar.

Aquilo era algo importante demais para deixar passar. Eles não eram os únicos atrás de informações ali aparentemente.

•••

Os dias da dupla em Dubai foram lentamente se moldando a seus respectivos papéis. Kaled, o mais rápido que pôde, deu uma festa. A maioria dos convidados vieram de todo lugar e Ravena conheceu e identificou boa parte deles, deixando relatórios detalhados no quarto do homem toda vez que iam para lá com desculpas de fazer sexo.

Não que Kaled não quisesse. Sentia um grande desejo pela garota a sua frente, sedutora, maliciosa, intensa e divertida. Mas era um personagem, não a pessoa real, se lembrava. E quase nunca saíam do personagem quando sozinhos.

Exceto nos momentos dos bailes e das festas, em que sussurravam​ códigos indicando alvos sob tom de sussurros maliciosos.

Ao contrário do que Kaled pensou Ravena não se tornou uma amante maçante que tinha ciúmes excessivos, mas a personalidade dela a fazia incentivar os flertes do companheiro. Dessa forma Kaled não teve dificuldade em seduzir jovens e descobrir alguns segredos políticos importantes.

Entretanto, apesar de adepta a poligamia, Ravena era possessiva em público e quando seu querido Kaled não estava com outras ela o tocava de maneira que deixava claro que ele lhe pertencia. Para isso o homem ria internamente e seu personagem recompensava ela com beijos intensos.

Em cinco meses a dupla conseguiu fazer um dossiê sobre a boa parte da missão. Nesse meio tempo Kaled teve que admitir as habilidades da jovem, tanto de atuação como sociais. Ravena se infiltrava em todas as conversas do salão com facilidade e saia delas ainda mais rapidamente. Às vezes as pessoas não lembravam se ela estivera ou não conversando sobre determinado assunto, assim como esqueciam que fora ela mesma a puxar outros.

No mais eles se divertiam muito, dançando, brincando, bebendo. Se tornaram próximos, mesmo sem ele saber se havia sido devido ao personagem ou não. O narcisismo dele ainda lutava contra as habilidades da companheira, mas eles estavam juntos naquilo, então não havia como escapar.

E todo os dias eram divertidos. Era isso que importava, além do trabalho quase completado. Eles era uma dupla e tanto, Kaled concluía sempre que terminavam uma noite de festa com tanta informação que às vezes se cansavam.

Foi numa dessas luxuosas festas que o homem se surpreendeu com sua companheira de trabalho ao vê-la completamente bêbada no salão, dançando a torto e a direito com os homens sorridentes e famintos ao seu redor. Podia ser só mais uma encenação, ele pensou. E ela não era problema dele também.

Mas Kaled sentiu o personagem ganhar mais força que seus pensamentos racionais e a tirou das mãos de um dos lobos ali presentes. Ravena riu em seus braços, com seu sorriso sedutor e os lábios vermelhos de batom. Os olhos verdes intensos hipnotizaram o homem que se viu tragado completamente por eles.

O agente dentro de Kaled sentiu na pele o magnetismo dela.

— Se eu não me interessasse mais por homens – resmungou ajudando-a a subir as grandes escadas da mansão em direção ao quarto dela.

A jovem apoiada a suas costas riu.

— Oh, Kaled, não seja tão chato! Eu estava me divertindo!

— Você está bêbada, Ravena.

Ela riu novamente como se ele tivesse contado uma piada.

— Eu estou feliz! Conseguimos completar nossos planos, não está também?

O homem parou na boca do corredor.

— O que?

Brincalhona ela desenhou círculos nos ombros largos do homem. Ele se arrepiou.

— Os homens com quem dancei me deram tudo que precisávamos. E coloquei rastreadores – beijou o pescoço dele – e nanomicrofones em suas roupas.

Kaled a tirou de suas costas, apoiando a jovem em seus braços, e sorriu para ela, lhe presenteando com um beijo intenso.

— Você é incrível, meu amor.

— Não mereço nenhuma recompensa? – sussurrou deslizando o dedo sorrateiramente pelo cabelos do homem.

Kaled a apertou contra si e entrou com tudo no quarto, ao som do riso melódico dela. Ele não sabia o que havia ido fazer ali. Os personagens eram loucos um pelo outro, mas os agentes não precisavam dar conta de tudo que os personagens deles desempenhavam.

Mas Kaled queria e quando jogou aquela garota na cama e ela o puxou para si, sedenta, ele não conseguiu evitar. Os beijos se tornaram carícias, as mãos dele deslizaram pela pele macia e os cabelos dela, antes presos num arranjo decorado, foi completamente desarrumado.

Ravena tirou a roupa dele e ele tirou a roupa dela, foram longos minutos de beijos intensos e toques ainda mais quentes, até eles finalmente transarem. E foi intenso, rápido e ruidoso. Como seus personagens. Como a personalidade e o desejo deles pedia.

Mas Kaled aproveitou enquanto homem por trás do papel e deu tanto prazer à Ravena quanto jamais pensou ter dado para nenhum outro. Os gemidos e gritos dela lhe deixavam enlouquecido e os toques lhe queimavam a pele.

O homem mergulhou na sua amante e sentiu quando ela tremeu, da cabeça aos pés, no ápice do seu orgasmo.

•••

No dia seguinte Kaled acordou com o corpo macio de Ravena enrolado no seu, ela murmurando coisas incompreensíveis e completamente nua. Se lembrou da noite anterior e se martirizou. Era mais velho, mais experiente e devia ter dado contornos quanto aquele tipo de conduta e envolvimento em missões.

Mas quando o corpo ao seu lado abriu os olhos e sorriu, Kaled nada falou. Envolveu Ravena em seus braços e beijou o topo de sua cabeça, sentindo o cheiro de flores silvestres que ela exalava.

— Você foi muito bem, minha querida. Nós finalmente acabamos por aqui.

Assentindo e abraçando o corpo ao seu lado ela deslizou, subindo nele. Com um sorriso de lado ela deslizou os dedos pelo peito do mesmo.

— Então deveria ir organizar logo minhas coisas. Passeios de helicóptero são tão entediantes.

Sem perceber ele riu, pondo uma mecha dos cabelos negros atrás da orelha da jovem.

— O farei ser mais interessante.

Com um sorriso entre a malícia e a animação ela saltou para fora da cama, se enrolando num roupão disposto ao lado dela. Piscando ela saiu do quarto e Kaled desabou na cama macia, revivendo a noite passada e pensando como explicaria a uma adolescente que aquilo fora apenas atuação.

Mas não foi, sua consciência o corrigiu. Ele a ignorou e levantou, pronto para tomar um banho.

A volta à sede seria bem longa.

•••

Ravena não levou mala nenhuma, como havia dito, e parada nos jardins ao lado do helicóptero Kaled pensou o quanto sentiria falta daqueles​ personagens. Da relação deles, do companheirismo, da diversão. Kaled era um devasso e Ravena era tanto quanto ele. Mas nada os abalava enquanto casal, ou algo assim.

Suspirando para si mesmo ele se aproximou, com uma mala que guardava todas as informações que juntaram durante os seis meses. Ravena sorriu quando o viu, ainda enigmática e sedutora, e o acompanhou para dentro da aeronave. Olhou tristonha para a grande casa que deixavam para trás e Kaled instintivamente apertou a mão dela, solidário.

Ela sorriu para ele, mas no instante em que as portas do helicóptero se fecharam, Ravena desapareceu. Não que a aparência dela tivesse mudado, pelo contrário, parecia muito mais bonita do que antes. Mas o olhar que a jovem ao seu lado lançou para ele foi diferente da devoção. Ainda que minimamente caloroso.

— Ouvi dizer que duvidou de mim até o último minuto, Kaled.

O homem ficou meio surpreso e meio atordoado com a mudança, mas saiu do personagem, afastando as mãos da garota ao seu lado.

Dezessete anos, repetiu para si.

— Você é muito jovem, não costumo fazer trabalhos com gente mais nova.

Ela chiou em concordância.

— Entendo, quantos anos você tem?

Kaled respondeu e descobriu que ela tinha vinte, não dezessete. Conversaram sobre várias coisas, na verdade, e quando deram por si o clima havia se tornado tão amigável quanto na mansão. Ravena descobriu que seu companheiro gostava de comida italiana e roupas de marcas. Kaled se surpreendeu ao ouvi-la dizer que começara a trabalhar com doze anos e riu quando ela contou sobre uma de suas missões.

Nas poucas horas que durou o percurso Kaled mudou completamente sua visão sobre ela. Era uma jovem forte, determinada e habilidosa. E divertida também, o que acabou fazendo-o se abrir um pouco mais do que deveria. Mas podiam se tornar bons colegas de trabalho, pensou.

E lembrou da noite anterior.

Assim que o helicóptero parou acima do prédio principal da sede e eles desafivelaram os cintos e desceram, Kaled a interceptou. Ravena ainda usava as roupas árabes da sua última missão e estava tão bonita que Kaled sentiu tristeza antes mesmo de perceber que estava sentindo aquilo.

— Sobre ontem…

Ela pareceu pensar e corou, abrindo um sorriso de lado.

— Eu não deveria ter feito aquilo, desculpe. É só que… – jovem apontou para si – Ravena estava louca por aquilo. Você a deixou esperando seis meses, Kaled, ela estava muito triste.

— Ela ou você?

O olhar que ele recebeu foi intenso e repreensor.

— Por favor, não se engane. Estávamos a trabalho.

— Mas sexo não estava na lista de coisas a se fazer.

— Então deveríamos ter colocado – ela rebateu com as mãos na cintura – assim eu não teria tido tanta dificuldade em manter o papel durante todos esses meses.

— Você? Dificuldade?

O homem riu.

— Você é simplesmente perfeita atuando! Como pode dizer algo assim? Eu nunca sabia quando era Ravena ou quando era você.

A jovem se surpreendeu com o elogio, mas uma sombra passou detrás dos olhos dela que foi indecifrável para o moreno.

— Mas não se ache muito – pigarreou.

Ravena sorriu.

— Obrigada por achar isso, mas eu também nunca sabia quando era você ou o personagem.

— E você descobriu sobre as escutas também – lembrou-a – você é uma ótima agente.

— Obrigada? – ela murmurou.

O silêncio que se seguiu foi breve tão logo Kaled retomou o assunto.

— Então o que fizemos ontem… Tudo bem?

— Sim, tudo bem. Foi ótimo, mas foi trabalho. Vamos deixar isso lá em Dubai, sim?

A consciência de Kaled se tornou mais leve e ele sorriu sabendo que a partir daquela missão eles seriam bons colegas. Se não grandes amigos.

— Claro, claro, então vamos?

Ele se colocou ao lado dela indicando a saída com a mão ainda possessivamente em suas costas. Ravena sorriu e aceitou sua direção.

— Então quer dizer que eu fui ótimo?

A garota riu descendo as escadas, seguida do homem, e eles mergulharam dentro da organização. Aquele foi o primeiro trabalho deles juntos e com certeza não o último. Foi a primeira vez que ele havia se surpreendido com alguém e sentido tanta atração e desejo por uma mulher antes.

Mas Ravena se dissipou naquela noite, sob a brisa fria da França naquele prédio suntuoso. Entretanto o moreno foi embora sabendo que ainda teriam uma longa história pela frente. Kaled tinha certeza disso.

•••

— Bem vinda querida, como devo chamá-la dessa vez?

— Arabella, e você?

— Samuel.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E então? Algum xingamento, elogio ou gritinhos histéricos? Hihi.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Espion Noir" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.