Espion Noir escrita por carlotakuy


Capítulo 50
XXXXX.




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O quarto cedido a dupla por Bill não era gigantesco como o garoto achou que seria, mas possuía espaço suficiente para acomoda-los. Em poucos minutos dentro dele a dupla se organizou como pôde.

Arabella descobriu a cama velha e empoeirada pondo sobre ela um pano com menos ácaros. Na mesa próxima a mesma Alex conseguiu instalar todos os equipamentos necessários e com o computador que Bill lhe cedeu, já começava a reta final do download dos arquivos.

Sentado numa cadeira velha de frente ao aparelho ele encarou a tela carregar, lentamente, a porcentagem. Arabella se apoiou em seus ombros, por trás, apertando suavemente a extensão do mesmo.

— Vai dar tudo certo – disse ao pé do seu ouvido.

Alex assentiu soltando um suspiro. Não sabia qual era o plano ou quais as intenções de Bill em conseguir os arquivos de seu pai. Depois da traição de Samuel, confiar nos outros ficava cada vez mais complicado e se não fosse pelo contexto em que se encontravam, Bill seria um suspeito de altíssimo nível.

Conhecia muito bem a organização, era um ex-agente e estava sendo misterioso demais quanto ao plano em que usaria os arquivos.

Alex estalou a língua com o pensamento, sentindo as mãos de Arabella em seus ombros. Ele tinha que ficar esperto em relação a isso.

— Vou tentar achar algo sobre o envolvimento de minha mãe com a descoberta de seu pai – Arabella se afastou dos ombros do mesmo.

O garoto girou a cadeira velha, que rangeu incômoda, na direção da jovem.

— Se existir algo eu com certeza vou descobrir – ela piscou e lhe deu um beijo rápido.

Alex observou a expressão de seriedade da mesma e não conseguiu não sorrir de volta, ainda que seu corpo mau conseguisse relaxar os músculos.

— Certo, estarei aqui esperando por você – ele a puxou para si.

Arabella apoiou as mãos no braço da cadeira e sorriu ao ver o sorriso no rosto do garoto. Lentamente ele a beijou, a aproximando de si pelo rosto, e a mesma sentiu-se derreter com o toque.

Assim que seus lábios se separaram eles passaram segundos a fio se encarando, olho no olho, decifrando aos poucos a alma um do outro. Arabella conseguia notar uma diferença em Alex que não conseguia explicar.

Ele estava mais intenso, mais firme e mais terrivelmente sexy.

— Vá – ele a beijou de novo, se aproveitando da distração da mesma – e não demore, preciso de você.

Arabella sorriu e o beijou de volta, endireitando a postura em seguida. A jovem saiu do quarto em passos lentos e fechou a porta atrás si. Alex a observou por cada segundo até ela desaparecer de sua visão e respirou fundo.

Seu corpo ardia quando estava perto dela e ele sentia que talvez já não conseguisse controlar seu desejo de tocá-la, de beijá-la e fazer tantas outras coisas mais. Sorrindo Alex voltou-se à tela.

Como podia, no meio daquele caos, ele conseguir pensar naquelas coisas?

•••

Alex estava deitado na cama encarando o teto gasto do quarto. No computador o download continuava faltando pouco para terminar, mas levando mais tempo do que ele gostaria.

Os pensamentos aleatórios do garoto sobre batata frita e hambúrguer foram interrompidos pelo som da porta velha sendo aberta. Ele sentou de imediato com os olhos fixos nela, esperando Arabella passar no pequeno vão.

Mas para sua surpresa quem surgiu foi Bill, com seu sorriso e sua careca, sua roupa chamativa e um recheado copo de whisky.

— Posso entrar?

Alex assentiu, confuso com a súbita aparição do homem, e esperou pacientemente ele se acomodar ao seu lado na cama.

— O que faz aqui? – perguntou pausadamente, medindo as palavras.

Depois do acontecido com a mãe de Arabella cautela era uma coisa que Alex começara a prezar.

— Quem sabe? – ele deu de ombros.

Alex o observou calado e em silêncio permaneceram por longos segundos.

— Como você me vê, garoto?

O jovem o fitou com as sobrancelhas erguidas e recebeu um olhar despreocupado do velho sobre si.

— E então?

— Você parece ser alguém importante – arriscou – e muito habilidoso. Você e Arabella parecem se dar bem – complementou – são uma boa família.

Bill sorriu.

— Não se engane comigo, garoto. Não sou o velhinho inofensivo que você imagina.

Alex levantou as mãos em rendição.

— Eu não imagino nada.

O homem o avaliou.

— Eu não conheço muito a vida familiar de Arabella – admitiu o garoto – mas quando vejo vocês, penso que há pelo menos uma parte boa nela.

— O que quer dizer com isso? – Bill se inclinou na direção do mesmo, curioso.

— Conheci a mãe dela hoje e posso dizer com sinceridade que não esperava por aquilo.

Bill bebericou de seu whisky com um sorriso divertido.

— Não esperava uma mulher fria, calculista e sádica? Bem no nosso ramo?

— Não foi isso que quis dizer – ele se corrigiu – acho até bastante válido ela ser o que se espera, só... não me sinto bem em imaginá-la como mãe, sabe?

Foi a vez de Alex inconscientemente se inclinar na direção do velho.

— Elas são tão... diferentes.

Com um sorriso​ o homem assentiu.

— Sim, elas são diferentes. Nossa família é peculiar, como já deve ter percebido, e temo que minha filha realmente não tenha sido uma boa mãe.

Bill balançou a cabeça.

— Ela nem mesmo foi uma boa filha. Acredita que puxou o meu tapete mais de uma vez no nosso trabalho? Fazia de tudo para se dar bem e no final, conseguiu.

Ele tomou um longo gole da bebida.

— Sai da organização devido a ela – ele fitou o garoto – minha filha fez uma lavagem cerebral em todos para me afastar. Eu, que era um dos melhores agentes, e que ainda sou tão bom quanto na minha juventude!

O velho suspirou.

— Ela surgiu com exames falsos e usou minha idade como obstáculo. Eles alegaram que eu era velho. Velho!

Alex quis rir pela indignação de Bill.

— O próprio pai – cuspiu as palavras – eu criei uma cobra.

Bill cruzou as pernas.

— Nem mesmo uma boa esposa ela conseguiu ser.

— Com o pai de Arabella? O que o senhor sabe sobre ele?

Os olhos se encontraram e Alex se arrependeu instantaneamente pela pergunta impulsiva.

— Não o vi muitas vezes – o velho falou vagarosamente, como se escolhesse as palavras – parecia um homem honesto. E sempre fumava charuto junto comigo.

Ele se acomodou melhor na cama. O clima soturno do quarto com a chegada da noite na parte exterior, por um momento, se fez presente nos segundos que duraram os pensamentos do homem.

— Não foi o primeiro homem de minha filha, você sabe que Arabella tem irmãs, não é?

O garoto assentiu.

— Pois bem, ele era um empresário de nossa cidade natal. Até hoje não descobri como conseguiu se envolver com minha filha, mas deles surgiu Arabella e cá estamos nós agora.

Alex processou as informações.

— É uma pena ele ter desaparecido. Por que será que sumiu?

Um sorriso de lado surgiu no rosto do velho.

— A pergunta não é o porquê, mas sim quem o fez sumir.

O garoto fitou o homem aturdido. Do que ele estava falando?

— Está insinuando que alguém é responsável por isso?

Bill deu de ombros tragando seu fumo.

— É exatamente isso que estou insinuando. Mas quem sabe?

Antes que Alex pudesse continuar a conversa Bill se levantou e alongou sem jeito as costas.

— Você está em farrapos garoto – mudou de assunto – deveria tomar um banho.

Alex encarou suas roupas apenas para constatar seu estado deplorável. O símbolo de sua escola na farda estava quase irreconhecível e o tecido, de um cinza escuro, parecia negro.

— Tem um banheiro neste corredor – disse o velho se afastando até a porta.

— E que roupas irei usar? Não tenho nada aqui.

Um sorriso divertido cruzou os lábios de Bill que virou-se para o jovem, apontando para sua bolsa.

— Trouxemos tudo que iria precisar. Estão ali.

Alex concordou com a cabeça e fitou apreensivo o computador. O homem seguiu seu olhar de imediato.

— Não se preocupe quanto a isso – abriu a porta – nada aqui vai fugir de você.

Com um aceno Bill atravessou o batente e dobrou para o corredor, fechando a porta atrás de si. O garoto ponderou por breves segundos as palavras do mesmo, mas nada o incentivou mais do que o cheiro de gambá que o impregnava.

Com uma careta ele pegou a bolsa, agora mais leve, e saiu para o corredor, em busca do primeiro banheiro que encontrasse.

•••

Alex encarou seu reflexo no espelho manchado do banheiro e suspirou pela terceira vez seguida depois de vestir a roupa que Bill havia separado para ele. Agora ele entendia o sorriso divertido que o homem lhe lançara antes de sair do quarto.

A roupa era totalmente negra, da calça à camisa, e o deixava mais pálido do que o clima gélido da cidade permitia. O tecido de couro da calça o fazia se sentir um ridículo e desengonçado agente de cinema.

E o pior era o casaco de couro que o garoto nem ousou provar pondo-o no braço. Ele saiu do banheiro de fininho, tentando evitar qualquer olhar que o julgasse uma criança tentando usar roupas de adulto, de volta para o cômodo que ficara fazendo dowload.

Quando Alex chegou e entrou Arabella estava sentada à cama com papéis espalhados sobre a colcha, de forma desorganizada. A expressão no rosto da jovem era séria e compenetrada e o coração do garoto deu um salto. Era incrível a forma como qualquer expressão dela mexia consigo.

Entrando no quarto ele limpou a garganta.

— O que você tem aí?

A voz de Alex fez os olhos de Arabella caírem sobre ele e por um breve momento o ar faltou nos pulmões da jovem. Aquela roupa definitivamente combinava bem melhor com ele do que uma farda suja. E o deixavam muito mais sexy e irresistível.

Um grunhido baixinho foi contido.

Ele estava tão...

— Se continuar me olhando assim vou começar a ficar extremamente constrangido.

A razão voltou à Arabella e o sorriso travesso que Alex lhe lançou a fez retribui-lo. Não era hora de pensar naquele tipo de coisa.

— Onde arranjou essa roupa?

Um sorriso envergonhado cruzou o rosto de Alex.

— Seu avô separou pra mim. Ele com certeza gosta de uma boa piada.

As sobrancelhas de Arabella se ergueram surpresas.

— Piada?

Alex indicou a roupa com as mãos.

— Calça folgada, camisa apertada e um casaco de couro – ele levantou a peça com o braço – que me faz diminuir dez centímetros quando o visto.

Arabella riu e o garoto confirmou para si mesmo que o que dizia era realmente verdade. Ele estava ridículo.

Mas a jovem saltou da cama na direção dele tirando o casaco de seu braço e, contornando, o fez vesti-lo. Quando Alex endireitou a peça de roupa Arabella o puxou para si pela gola, beijando-o. A ação foi rapidamente retribuída pelo garoto, que agarrou a sua cintura puxando-a para si.

Quando os lábios se separaram e Alex aturdido tentou questioná-la o sussurro baixo de Arabella lhe interrompeu, fazendo um arrepio suave descer-lhe na coluna.

— Você não está uma piada e também não parece que diminuiu.

Ela abriu um sorriso de lado que o fez querer beijá-la novamente.

— E é melhor você não usar essas roupas na frente de outras pessoas – ela o puxou pela gola novamente – ou vou ter uma crise de ciúmes.

Alex apertou prensando-a contra si.

— Se assim você deseja.

Sem esperar qualquer resposta ele a beijou e Arabella mergulhou nele, sentindo os pingos gélidos de seu cabelo recém lavado lhe molharem o rosto.

Foi preciso batidas na porta para os separarem e eles riram entre si. Arabella arrumou os cabelos, bagunçados pelos dedos de Alex, e o garoto aprumou o casaco, que quase caia pelas investidas da garota.

A porta abriu e um agente totalmente desconhecido parou na soleira, com os olhos baixo e uma voz tão baixa quanto.

— Perdoem a intromissão. Bill me mandou avisar que partiremos amanhã cedo, assim que o download estiver concluído.

A dupla assentiu, com Arabella brincando com os dedos de Alex no seu. O homem saiu do mesmo jeito que chegou e novamente sozinhos a jovem abriu o seu melhor sorriso sedutor, puxando o garoto para si.

— Onde paramos?

Alex retribuiu o sorriso, mas a beijou brevemente, se afastando com dificuldade.

— Você ia me mostrar o que trouxe para o quarto.

Arabella resmungou baixinho, mas aceitou as palavras do garoto e caminhou com ele na direção da cama. Ela sentou e o esperou se acomodar.

— Eu vinha organizando as documentações de Bill sobre a empresa dele, lembra que te falei sobre ela?

Alex assentiu.

— Pois bem, devido a isso tenho acesso aos arquivos que ele mantém sobre a Dieu. Foi com esse passe que usei o computador do escritório dele e encontrei o que estávamos procurando.

Ela estendeu um envelope para o garoto. Lentamente Alex o aceitou em mãos, com os olhos fixos sobre o papel e os ouvidos voltados à Arabella.

— Bill guardou todo o histórico da minha mãe na organização – ela apontou para os papéis espalhados na cama – e ela realmente trabalhou em sigilo enquanto ficava nas sedes.

Alex olhou para Arabella buscando algum sinal de tristeza, mas a expressão em seu rosto era neutra, quase profissional, e Alex sentiu que naqueles míseros segundos estava lidando com a agente e não com a pessoa.

— Imprimi tudo relacionado a ela nos arquivos.

Alex abriu sem pressa o envelope.

— Ela tem um passado sombrio – as mãos dela puxaram algumas das folhas amareladas sobre a colcha – mas com certeza as coisas dessa casa estão num passado bem pior. Olha a cor das folhas que consegui para imprimir – balançou-as na mão – devem ser de mil e duzentos.

Sem perceber o garoto riu, seguido da mesma. Era um humor ameno que logo sumiu assim que a atenção da dupla desceu sobre os documentos em suas mãos.

Era um compilado relativamente grande e passando os olhos pelas primeiras páginas Alex paralisou. Havia a foto da loira e de um homem alto, pálido e de cabelos tão negros quanto os de Arabella.

É o pai dela, pensou instintivamente a fitando e percebendo, tarde demais, que ela já havia visto a imagem. Aquele envelope ela não havia aberto ainda. Algo dentro de Arabella se revirou em angústia. Aquele rosto...

Por anos Arabella não conseguia se lembrar detalhadamente do rosto de seu pai. Vê-lo ali, tão nítido, a fez querer chorar. Era como ver pela primeira a pessoa que ela amou por toda a sua infância, o fragmento que havia se agarrado tanto antes de sucumbir a sua mãe.

A jovem quis chorar, mas se conteve. Pegou de forma mecânica o papel das mãos de Alex e o examinou de cima a baixo, lendo, de forma rápida, as informações do mesmo.

Era um resumo da vida do homem, desde sua infância, nos melhores colégios da França até sua ascensão profissional, como um dos empresários mais bens sucedidos de sua cidade. O final do relatório terminava em aberto com seu desaparecimento sem explicações e as brigas judiciais que ele havia travado com sua mãe por sua guarda.

Arabella leu e releu o documento diversas vezes, buscando detalhes que poderia ter perdido, ou revendo coisas que a interessavam sobre o mesmo. Como seus gostos exóticos por bebidas e seu paladar regional. Sua personalidade forte e incisiva, mas carinhosa e fraternal.

Todos os anos que passou junto dele voltaram à Arabella como um tsunami, a encharcando de sentimentos. Ela não se lembrava, mas sentia na sua pele o calor que recebeu de seu pai, o amor e o cuidado.

Por que ele havia ido embora?

Alex encarou a jovem quando ela entrou no seu próprio mundo e até tentou chamá-la, mas sem sucesso desistiu. Entendeu que Arabella precisava daquilo e dando-a seu tempo ele voltou-se aos outros papéis, os folheando com avidez.

Não eram tantos papéis quanto Alex achou que seria e sem dificuldade ele separou-os espalhados com os outros pela cama, enquanto Arabella puxava mais dois relacionados ao seu pai. O silêncio que se instalou no vão deu espaço para todas as reflexões da dupla.

Alex leu, surpreso, que a mãe de Arabella havia vindo do subúrbio da cidade luz. A mulher crescera junto com o pai na organização e toda a história da dupla deixava bem explícito de onde vinha todo o dinheiro que Bill esbanjava.

Os outros documentos, além do histórico familiar e de vida da mulher, eram mais concisos. Cada um falava sobre uma missão diferente que ela havia participado no período em que Arabella afirmou não tê-la visto indo a campo.

Todos, sem exceção, eram confidenciais e de ranking SS, o que intrigou o garoto. Eram​ missões de fato importantes, como a queima de provas contra uma empresa, infiltrações com mortes envolvidas e queima de “arquivo”.

Mas nenhuma missão ofuscou as duas que gelaram o rapaz. A loira estivera envolvida em uma missão de queima coletiva de arquivo, envolvendo operários que conseguiram informações valiosas e chantageavam em grande grupo seus patrões.

A mão de Alex tremeu quando ele leu o local do acontecimento, a data e a quantidade de pessoas mortas. Batiam perfeitamente com os arquivos que estivera baixando, mas era muito vago e ele tentou não se precipitar, assim como Arabella o ensinara.

Mas o conteúdo que complementava as informações o desorganizou completamente. Uma das missões da mulher foi seu pai. Alexandre Martin, leu mentalmente, suspeito de descobrir ações confidenciais da empresa 9T62. Investigar a demanda. Alvo perigoso: exterminar ao menor sinal de envolvimento.

Os olhos de Alex piscaram, incrédulos. As páginas ainda jaziam em sua mão, amareladas e velhas, e rapidamente elas se tornaram turvas pelas lágrimas que preenchiam seus olhos.

Era isso. Ela matou seu pai. Ela enganou seu pai o ajudando e o matou assim que descobriu que ele estava com os arquivos. Alexandre morreu pelas mãos daquela mulher, não em um assalto. Foi tudo mentira. Tudo mentira.

Alex largou os papéis na cama e se encolheu minimamente, sentindo seus sentimentos de raiva, tristeza e dor se embolarem. Os olhos amendoados caíram sobre Arabella e ele a viu tão abalada quanto si próprio.

Quando lentamente as orbes esverdeadas chocaram-se com as dele, ambos estremeceram. Talvez, as coisas fossem pior do que parecessem. Alex respirou fundo.

— Ela o matou – sussurrou – meu pai foi assassinado por ela.

Arabella amassou o papel em sua mão.

— Ela matou o meu pai – Alex repetiu e rangeu os dentes frente a sua própria afirmação.

Ela tornava tudo mais real. Mais palpável.

Arabella tentou controlar as lágrimas em seus olhos.

— Ela também matou o meu pai – Arabella socou o colchão – aquela desgraçada! – ralhou descontando no acolchoado – Eu a odeio! Odeio!

Alex se impulsionou na direção da jovem afim de acalmá-la mas recuou segundos depois, temeroso. Arabella exalava uma aura perigosa e seus socos e gritos se tornavam cada vez mais intensos.

Contra todos os instintos de sobrevivência que seu corpo lhe dirigia, Alex segurou os punhos da mesma. Ela grunhiu, mas não se mexeu​, descendo os olhos sobre ele num misto de raiva e tristeza.

— Ela olhou nos meus olhos – confidenciou baixinho – e me disse que ele estava abrindo mão de mim. Ela me disse que ele estava indo embora por vontade própria! Ela o matou e mentiu pra mim! Nos meus olhos Alex, nos meus olhos! A filha dela!

Alex conseguia sentir a frustração dela atingi-lo como um soco e lentamente ele soltou os finos pulsos da mesma, levando as mãos ao seu rosto. Com um sorriso compreensivo delicadamente afagou suas bochechas e Arabella fungou, tentando conter as lágrimas.

— Ela é um monstro – sussurrou abatida.

Antes de Alex puxá-la para si um apito estridente preencheu o quarto. A dupla se entreolhou e a garoto estremeceu, reconhecendo-o. Os olhos focaram no computador e na tela, agora em um tom vermelho escarlate, se lia:

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