Espion Noir escrita por carlotakuy


Capítulo 42
XXXXI.




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Quando o sinal gritou pelos corredores o quarteto já se encontrava na sala. Brad estava sentado longe dos amigos, com uma roda de conhecidos, conversando animado sobre algum assunto irrelevante.

Henry também estava longe e ao invés de estar conversando jazia lendo um livro velho, com o nome já desbotado, que havia encontrado por acaso na biblioteca.

Alex e Thomas se mantinham lado a lado, sentados no final da sala ainda quase vazia, e conversavam sobre um dos jogos que o castanho havia comprado e insistia, incansavelmente, para que o amigo também o acompanhasse na jogatina.

Mas no momento Alex não tinha como se dedicar aos jogos que sempre gostara porque estava sendo perseguido por agentes secretos que o queriam morto. Como diria isso ao amigo, que com olhos tão brilhantes, o fazia um relatório do jogo?

Após muito pensar, e remoer o assunto, Alex suspirou. Contaria a Thomas tudo que estava acontecendo. Ele era seu amigo e além dele e Arabella, com quem mais poderia desabafar?

Por mais que não parecesse, e ele realmente não queria transparecer, aquilo tudo era pesado demais para ele. Alex era um garoto comum até dias atrás, com uma vida pacata e tranquila, com apenas problemas adolescentes para se preocupar.

Mas agora era procurado por inúmeras pessoas que, pelo simples dever de um trabalho, o matariam sem mais nem menos. Se não fosse Arabella, ele sequer saberia como se impor nesse contexto.

Para continuar firme como estava, Alex precisava desabafar e por mais egoísta que fosse sabia que podia contar com Thomas. Com seu sigilo e seu apoio.
E com mais um suspiro foi isso que ele fez nos minutos que faltavam para a aula começar.

O castanho expressou de surpresa e curiosidade à medo e no final do relato se jogou desajeitado na cadeira, com as pernas bem esticadas e o corpo reto, com olhos fixos no quadro logo a frente. Alex se posicionou do mesmo jeito e suspirou mais uma vez.

— Loucura, não é?

— Com certeza. Juro que não achei que toda essa história de espionagem estava inserida nisso. Estão tentando te matar!

— Essa é a pior parte – Alex fez uma careta.

— Não quero acreditar nisso – Thomas se posicionou corretamente na cadeira.

— Nem eu.

— Pode contar comigo – disse convicto o castanho.
Alex sorriu.

— Obrigado.

— E vocês dois?

Os olhos do amigo caíram sobre Thomas que sorriu animado.

— Você e Arabella – reforçou ao não receber uma resposta – o que aconteceu depois de vocês saírem daqui na sexta feira?

Alex o fitou confuso.

— Sim, eu vi vocês saindo junto – piscou.

O garoto riu e se acomodou mais confortavelmente a cadeira, recebendo um olhar ainda mais interrogativo do amigo.

— Nós fomos para a mansão do avô dela, a que falei que era colossal – ressaltou – e conversamos...

Thomas ergueu a sobrancelha e notou o amigo corar. Não como o fazia normalmente e ele havia presenciado muitas vezes para se enganar quanto a isso.

— O que aconteceu nessa conversa?

Alex resmungou alguma coisa, tentando mudar de assunto e Thomas sorriu, rindo em seguida.

— Vocês fizeram sexo!

O garoto fitou o amigo pasmo enquanto ele se deleitava na descoberta.

— Não acredito nisso! E eu aqui preocupado com o que poderia ter acontecido...

Alex fez uma careta e Thomas riu novamente.

— Fico aliviado em saber que vocês estão bem. Tão bem. De verdade.

A mão do castanho pousou no ombro do amigo e ele lhe sorriu, agradecido.

— Agora quero saber onde eu posso fazer oferendas a essa deusa que salvou sua alma?

Ambos riram e Alex resmungou alguma coisa. Ele mal conseguiu responder, com o início da primeira aula, e entre o assunto da prova que viria e anotações o garoto abriu a bolsa.

Lá dentro, misturado aos seus materiais, estava os equipamentos de Bill. 

Encarandoas pessoas ao seu redor antes de voltar a remexer em suas coisas, Alex puxou o óculos disponibilizado pelo velho.

O pôs no rosto sem dificuldade e, ao ouvir o riso dos colegas pelo novo visual, bufou.

— Você precisa de óculos? – perguntou Henry debruçado sobre a banca.

— Agora, sim – Alex puxou o livro da bolsa.

Thomas encarou o amigo de soslaio após suas palavras. O contexto em que ele se encontrava e que havia acabado de compartilhar deixava suspeito o uso repentino de óculos, mas buscando esquecer o assunto, se voltou a aula que iniciava.

O grupo se reuniu novamente ao final da segunda aula e rindo de algum comentário bobo de Brad eles seguiram pelo corredor. O dia estava ameno em comparação ao frio que assolou a cidade durante a estação, e boa parte dos alunos estavam agitados.

O tumulto no corredor era notável e entre a massa de alunos o quarteto se desvencilhava, tendo que parar vez ou outra, dos alunos de outras salas. No meio da multidão, longe o suficiente para fazer Alex duvidar de seus olhos, surgiu uma cabeleira negra.

Os olhos amendoados tentaram se fixar na imagem, através do óculos, mas com o fluxo o perdeu de vista. Com um sorriso de lado ele negou com a cabeça seus pensamentos. Será que Arabella estava realmente ali? O óculos o avisaria, não?

Da última vez que aquilo aconteceu no corredor...

Algo agarrou o braço do garoto subitamente e assustado ele virou-se para a figura. Era um homem alto, robusto e com olhos de um negro intenso. Alex não teve tempo suficiente para captar mais qualquer características quando as lentes de seus óculos tornaram-se vermelhas e o sorriso do homem o fez estremecer.

Perigo, dizia o óculos e todo o corpo do garoto.

— Te encontrei.

A voz da figura soou como o arranhar de um disco e Alex estremeceu, levando a mão para a bolsa apoiada em seu ombro. Ele pensou em correr, em atacar e paralisa-lo com a caneta.

Mas tudo que fez foi ficar estático.

Até a voz de Arabella o tirar do transe.

— Alex!

Os olhos amendoados desviaram para a figura feminina e o aperto afrouxou. Quando o olhar do jovem voltou novamente para o homem já não havia nada lá e ele sentiu como se todo o sangue de seu corpo fosse drenado em breves segundos.

O que diabos estava acontecendo? Quem era aquele homem? O encontrou? Como ele chegou ali? E a segurança de Bill?

— Alex?

A voz de Arabella o fez piscar, aturdido, e fitando-a ele percebeu que o óculos voltara ao normal. O corredor continuava agitado e seus amigos estavam tão longe quanto poderiam.

A garota estava parada ao seu lado, com as mesmas roupas de mais cedo, porém com um semblante de preocupação no rosto.

— Tinha alguém...

— Eu sei – ela lançou seu olhar para trás do garoto – vem comigo.

Alex assentiu, sentindo lentamente os movimentos voltarem ao seu corpo.

— O que está fazendo aqui? - sussurrou a seguindo.

Arabella não o respondeu e eles entraram com tudo na sala de história, que vazia e com as luzes apagadas mostravam apenas uma luz fantasmagórica proveniente da janela mal coberta pela cortina. 

Arabella trancou a porta em um só movimento e voou para cima do garoto, que já se encontrava apoiado com o quadril em uma das cadeiras e o óculos em mãos, quase o derrubando. Ela o examinou de cima a baixo, procurando feridas.

— Ele fez alguma coisa?

— Não – murmurou se apoiando novamente na cadeira – como ele chegou aqui? E você?

O olhar de fracasso de Arabella fez o garoto se xingar pela pergunta.

— Ele derrubou dois de nossos agentes dentro da escola e fui alertada de imediato – ela suspirou terminando a inspeção – aqui já não é mais seguro.

As mãos do garoto tomaram as de Arabella para si, surpreendendo-a. Com os olhos fixos nos dela ele rebateu:

— E onde é seguro agora?

Arabella não conseguiu mentir para Alex e quando seus olhos se encontraram a responda saiu sem palavras: lugar nenhum.

— Vamos continuar com o plano.

As palavras de Alex desesperaram a jovem que foi contida pelo aperto da mão dele na sua.

— Eu não vou recuar agora.

— Mas Alex...

— Por favor – ele reforçou o aperto – vai dar tudo certo.

Arabella fez uma careta que roubou um sorriso do jovem. Delicadamente ele soltou suas mãos e a puxou para si pela cintura, depositando um beijo suave em seus lábios.

Ele não queria preocupa-la, de jeito nenhum. Logo ela, que sofreu maus bocados para protegê-lo. Mas era algo que ele deveria fazer. Alex tinha que combater seus medos. Medo da solidão, medo da perca e medo da morte.

Seu pai morreu por seus ideias, era a vez dele dar a cara a tapa.

— Vou reforçar a segurança – sussurrou Arabella em contragosto.

Alex sorriu novamente.

— Mas a melhor escolha seria manter você em casa agora – argumentou contrariada.

— Você mesma me disse que nunca sabemos quais são as melhores escolhas.

Arabella ergueu a sobrancelha, pronta para retrucar, quando ele riu da sua reação levantando as mãos em inocência.

— E eu sei que essa também pode não ser a melhor – admitiu suavizando a expressão da mesma – mas não quero dar o braço a torcer agora. Estou tão perto de descobrir tudo, de fazer valer o que meu pai esteve tanto tempo pesquisando, eu não vou fugir para um canto qualquer só pra salvar minha pele. Quero continuar a baixar as informações e seguir minha rotina escolar. Estou chegando na semana de provas, sabia?

Os olhos esverdeados passearam brevemente pelo rosto do rapaz confirmando para si mesmos a certeza e a persistência dele. Arabella queria poder retrucar, mas não tinha forças contra a determinação de Alex.

E ele, com toda aquela postura, lembrava alguém que Arabella conhecia bem. Bill.

— Vocês são tão parecidos – suspirou desistindo.

Alex a fitou em confusão e curiosidade, sendo surpreendido em seguida por um beijo demorado, que colou seus lábios por segundos a fio.

Quando se afastaram, com Alex mais uma vez sujo de batom e Arabella com um sorriso animado no rosto, eles se entreolharam.

— Eu compactuarei com tudo isso se você concordar com uma coisa.

Alex ergueu a sobrancelha, permitindo um sorriso surgir em seu rosto em resposta a expressão da jovem, que além de firmeza demonstrava divertimento.

O que ela estava aprontando?


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