Espion Noir escrita por carlotakuy


Capítulo 36
XXXVI.




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/756291/chapter/36

Quando Arabella ligou o carro Alex a observou de canto de olho. Ela tinha a expressão séria e as mãos firmes no volante o que fez o garoto ficar ainda mais apreensivo. 

Alex soube, de imediato, que havia algo além dos homens que vieram atrás dele e de suas palavras. Tudo na expressão corporal dela o denunciava isso.

— E então – ela interrompeu seus pensamentos – como foi a prova?

— Boa – murmurou – e você, como ficou me esperando?

A garota deu de ombros.

— Não demorou muito, fiquei dentro do carro.

Eles se entreolharam e, depois de segundos se encarando, riram juntos.

— Que tipo de conversa é essa? Somos o que, dois velhos?

Eles riram novamente.

— Nossa situação é um pouco complicada também – comentou a garota, trocando de pista.

— Verdade. O que aconteceu com a gente?

Os olhos novamente se encontraram e a jovem abriu um sorriso tristonho.

— Tanta coisa – sussurrou fixando o olhar além do vidro do carro.

Alex assentiu e se apoiou na porta do carro, encarando pensativo a janela. A paisagem lá fora era cinzenta, com a frieza do inverno invadindo a cidade e deixando-a cada vez mais sombria. Assim como o clima dentro do carro. 

Ele nunca fora tão soturno.

Quando Arabella fez mais uma curva, entrando por uma trilha sinuosa e de terra, o garoto franziu a sobrancelha, afastando os pensamentos e voltando a posição correta no assento.

— Para onde estamos indo?

Arabella sorriu de lado.

— Vou levar você as respostas que tanto procura.

— Pensei que você pudesse me dar as respostas.

A garota assentiu vagamente.

— Também, mas prefiro que veja com seus próprios olhos.

— Ver o quê?
Ela lhe piscou divertida, pondo o dedo sobre a boca num sinal de silêncio.

— Se eu contar, perde a graça.

Alex sorriu. Aquela parte dela, que sempre o fazia ceder, permanecia intacta em contraste a personalidade que ele vira naquele dia, com os dois brutamontes. Arabella ainda era Arabella no final das contas.

O resto do percurso foi mais silencioso, com apenas o som da rádio do carro como plano de fundo. O carro pulou, afundou, levantou e ziguezagueou até chegar em seu destino e quando os olhos de Alex pousaram sobre a imensa construção a sua frente, sua boca abriu automaticamente em espanto.

Arabella riu do garoto e após sinalizar para os guardas no portão, entrou com tudo. O garoto observava admirado as árvores, gigantescas, do tamanho de prédios, as esculturas e fontes, os bancos e as cabanas ao longo de toda a estrada.

O lugar era imenso, com o verde do espaço entre o portão e o casarão completamente preenchido e sumindo aos olhos. Alex virou-se completamente para Arabella quando o portão já não podia ser mais visto e tão pouco a construção principal se encontrava visível.

Mas a garota, numa crise de risos, sequer conseguiu olhá-lo.

— Você se acostuma.

— Com tudo isso?!

Ela riu mais um pouco.

— Essa foi exatamente minha reação a primeira vez, é normal.

— Minha reação ou o tamanho colossal desse lugar?

— Os dois.

Arabella riu novamente, acelerando, e deixando a enorme construção a mostra.

— Tudo o que você procura – os olhos de Alex fixaram-se em na jovem – tem a ver com tudo isso.

O garoto assentiu, observando mais uma vez o tamanho do local em que se encontrava.

— Tem a ver com o tamanho – ela continuou com os olhos fixos na casa logo a frente – mas não com o todo. Como você sabe dos homens que estavam atrás de você?

Alex enrubesceu e num tom baixo, sobrepondo-se exclusivamente a rádio do carro, lhe disse:

— Eu vi quando você enfrentou dois agentes, na terça-feira.

Arabella o fitou e em seguida desviou seu olhar. Abriu a boca duas vezes, tentando falar algo, mas nada saiu e focada na estrada, suspirou.

A consciência de que Alex havia visto uma parte sua tão horrível a atingiu como um balde de água fria. Ele lhe viu quebrar o braço do homem sem a menor misericórdia.

Com os olhos inquietos ela trocou a marcha e em silêncio Alex afundou no banco do carona.

— Miguel também era?

Arabella o fitou confusa.

— Um de vocês – murmurou.

A garota assentiu devagar, entortando a boca em desgosto pela resposta que teria que dar.

— Sim, ele é.

Alex soltou um bufo baixo e a jovem se encolheu imperceptivelmente.

— Você realmente daria conta dele sozinha.

O comentário do garoto fez Arabella sorrir.

— Mas você me defendeu muito bem.

— Muito bem — zombou.

— Ei! Estou falando sério – ela lhe deu um tapa entre risos – você mesmo pediu para falar a verdade, não foi?

Alex fez uma careta.

— Sim, algo assim.

Arabella o fitou com a sobrancelha arqueada.

— Algo assim nada.

O garoto a observou surpreso pelo tom rígido de suas palavras.

— Você me pediu para ser verdadeira – batucou no volante – então não vou ter escolha se não elogiar você durante vinte e quatro horas sempre que você sorrir – ela trocou a marcha – ou quando você corar, como está fazendo exatamente agora enquanto te elogio.

Alex enrubesceu, rindo da garota enquanto ela o acompanhava.

— Tirando o tom de brincadeira – ela fez baliza na entrada da mansão – estou falando muito sério em relação a isso.

Arabella estacionou e virou-se para Alex, que sem deixar de fitá-la desafivelou o cinto.

— Em relação a tudo que diz respeito a você.

A jovem tirou o próprio cinto.

— Alex, eu sei que te enganei e sinto muito, muito por isso. Não tive a intenção de te magoar e ainda assim o fiz.

— Ara...

Ela lhe tocou os lábios, impedindo-o de falar, e sorriu.

— É a minha vez de falar.

Alex sorriu de lado.

— A culpa é minha, e inteiramente minha, por não te contar sobre minhas intenções, sobre a missão, sobre a organização. No momento em que decidi ficar do seu lado devia ter lhe contado sobre tudo. E por mais que queira dizer que não tê-lo contado foi para lhe proteger, eu sei, aqui dentro, que é apenas uma desculpa.

Arabella respirou fundo sentindo os olhos arderem e o coração apertar. Aquela faceta sua, tão verdadeira, parecia lhe rasgar por dentro ao sair. Ela estava exposta, nua. Alex se sentiu assim ao contá-la suas inseguranças?

— A verdade é que tinha medo de te contar sobre isso.

Os olhos dela se fecharam com força e Alex se segurou para não abraça-la.

— Depois que te conheci – ela sorriu – tudo parecia tão leve. A vida em si era tão simples, confortável, cômoda. Eu senti vergonha de tudo isso. De tudo o que eu sou, de tudo o que fiz a minha vida inteira.

Arabella fez gestos amplos com os braços mostrando todo o lugar em que se encontravam e abriu lentamente os olhos.

— Eu simplesmente não queria que soubesse o quão suja sou – segurou o soluço do choro – o quão podre sou.

Alex não conseguiu se controlar e tocou gentilmente o rosto róseo da jovem, beirando lágrimas. Arabella abriu os olhos e sentiu as lágrimas descerem ao ver a expressão no rosto do garoto. Ele sorria compreensivo.

— Sou uma idiota por ter feito tudo isso com você Alex – as mãos dela se entrelaçaram as dele, em seu próprio rosto – eu não mereço, nunca mereci você. Eu só achei... achei que talvez pudesse continuar nesse... sonho, pra sempre. Meus sentimentos por você são verdadeiros, por favor, acredite em mim.

Os olhos esverdeados, cobertos por gotículas de água e preenchidos por um vermelho tênue, se mostravam a Alex em sua forma mais pura. Era verdade, era tudo verdade. Ela o amava tão intensamente quanto poderia.

Arabella soluçou e o garoto sentiu o coração comprimir em seu peito.

— Vou entender se você não quiser mais me ver e está tudo bem, é compreensível. Está tudo bem se você...

Alex a abraçou e surpresa ela foi lentamente sendo envolvida por seus braços.

— Pare de ser racional apenas por um minuto – ele lhe sussurrou com o rosto afundando entre suas madeixas – você sempre tenta ser forte, acha que não percebo? Apenas dê uma pausa.

Arabella riu, sentindo as lágrimas lhe descerem quentes pelo rosto frio.

— Está tudo bem agora – Alex a apertou mais contra si – eu amo você e vou te aceitar com todas as suas sombras.

A garota sorriu, numa mistura de riso e soluço, encostada no peito do jovem que lhe beijou os cabelos.

— Eu estou aceitando você por inteiro Arabella.

As mãos finas de Arabella cruzaram as costas de Alex e quase sem forças o abraçaram de volta, num aperto frouxo.

— A última coisa que quero é deixar você ir embora novamente.

Alex afundou no abraço.

— Eu não queria dizer aquelas coisas pra você. Não lhe dei a oportunidade para se explicar e também sinto muito por isso. Eu fui um imbecil, um idiota, eu estava com raiva e...

Arabella riu, interrompendo o garoto.

— Eu entendo perfeitamente.

Alex sorriu de lado e lhe beliscou.

— Menos racional, menos racional.

Arabella riu, se desvencilhando de seus braços e com um sorriso tímido, enquanto limpava as poucas lágrimas que ainda lhe cobriam o rosto, apoiou a mão no ombro do garoto.

Naquele curto espaço de tempo os olhos de Alex a admiraram tão exposta e frágil. Era diferente de sua postura usual, firme e decidida, e ele sentiu-a como Arabella, não como a espiã que descobrira.

Ela era a garota que apareceu em seu quarto e o conquistou com simples sorrisos.

— Você fala isso – sussurrou quase sem voz – mas quando estou com você toda minha racionalidade vai embora.

Alex sorriu e ela o acompanhou. Num movimento singelo ele lhe beijou e foi um beijo tão terno, que por longos segundos, o tempo permaneceu parado. Foi uma mistura de sentimentos.

Alex a puxou para si e entre a marcha do carro e o assento do garoto Arabella se apoiou no corpo do mesmo, com as mãos nos dois lados de sua cintura, apertando-a fracamente.

Quando os lábios se separaram, brevemente, por falta de ar, Arabella sorriu, roçando os lábios nos dele.

— Repete pra mim o que você falou, acho que não escutei.

Alex sorriu em resposta a garota enquanto ela riu, melódica e rouca pelo choro, sendo tomada para mais um beijo. O carro tornou-se pequeno demais para os dois que, entre beijos e apertos, se esqueceram completamente do que haviam ido fazer ali.

Até a garota apertar ocasionalmente a buzina, entre um beijo e outro, despertando do feitiço chamado Alex. Eles se entreolharam e riram, trocando mais um beijo rápido antes de sair do carro.

Quando os pés de Alex pisaram no concreto do pátio em frente a mansão o mesmo respirou fundo. De repente, estava nervoso demais sobre o que viria a seguir. Estava decidido a não se afastar mais de Arabella, mas quanto mais pensava, mais tudo parecia surreal.

Começando pela mansão colossal que jazia ali na frente aos seus olhos.

— E então, pronto?

Os olhos amendoados mergulharam nos verdes da jovem e tudo que Alex fez foi sorrir, caminhando para o seu lado.

Espiã, agente secreta ou professora, não importava mais. Ele estava ali disposto a encontrar as respostas que havia ido buscar, mas acima de tudo sabia, como que por intuição, que nada mais importaria além de estar de volta a jovem a sua frente.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Yay! O feeling está de volta galera!

Estou pensando seriamente em postar o próximo capítulo ainda hoje (e ele é bem grande), mas até lá, fiquem com essa reconciliaçãozinha ♥

[Já era bem esperada, mas só pra fechar os pontos nos i's]



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Espion Noir" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.