Espion Noir escrita por carlotakuy


Capítulo 34
XXXIV.




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/756291/chapter/34

Durante o resto da semana os dias foram normais para Alex, que acordou preguiçosamente, tomou seu rápido café e foi junto a Thomas para a escola. 

Desta vez não contou ao amigo nada sobre o que viu acontecer na terça-feira, e que ainda lhe invadia os pensamentos, e apenas manteve a conversa sobre o jogo eletrônico que o amigo tanto havia gostado.

Na escola Henry e Brad contaram aos risos sobre a festa que haviam ido, com tantas situações engraçadas e constrangedoras que só concluíram o relato no início da sexta feira.

E nesse mesmo dia, parado no pátio exterior da escola e na rodinha eclética de colegas de seus amigos, Alex estudava, com outros dois garotos, para a prova de biologia que seria no primeiro horário.

O grupo se encontrava sobre uma das diversas mesas de refeitório dispersas pelo local, que acomodava com maestria todos os jovens, tanto em seus assentos quanto em suas superfícies. 

Sentado na ponta do banco retangular, de frente aos garotos, e com o resto dos adolescentes do lado oposto conversando animados, Alex suspirou. Seu olhar caiu novamente sobre o livro que levara para estudar e ele leu mais uma vez a última linha.

Enquanto isso, Brad e Henry conversavam animados com os outros sobre tudo, menos a matéria em questão, e Thomas, infelizmente, ainda não havia chegado.

— Você é realmente bom em biologia – comentou um dos garotos que estudava com Alex.

Alex se remexeu no banco, sorriu de lado e agradeceu com a cabeça.

— Não sou tão bom assim – disse trocando a página do livro – e além do mais tive ajuda de uma grande amiga.

A dupla a sua frente trocou olhares.

— Certo – murmurou o outro deles – poderia me ensinar esse assunto de novo?

Alex sorriu ao pedido e prontamente reexplicou. Os dois não tardaram a ir embora da mesa, e tão logo seus outros companheiros passaram, agradecendo a Alex, eles se afastaram depressa. O mesmo observou-os ir embora e suspirou consigo.

— Uma grande amiga? – resmungou sozinho – Você com certeza já foi melhor com as palavras Alex.

Um corpo sentou ao seu lado e Thomas surgiu com um sorriso.

— E então, preparado para o confronto?

— Nem um pouco.

A dupla riu e o garoto novamente mudou a página. Nesse momento, um monte de papéis saltou de dentro do livro, surpreendendo-os.

— O que é isso? – perguntou Thomas tomando um dos papéis em mãos.

Alex fez o mesmo e ao abrir o primeiro sentiu seu corpo pesar. Eram todos os memorandos que Arabella havia feito para ele, da primeira à última aula que eles tiveram, com todos os assuntos possíveis.

Seu peito apertou e ele se sentiu genuinamente estúpido.

Um imbecil por tudo que havia feito com Arabella e consigo mesmo.

Mas algo ainda o travava a garganta e ele suspirou pesarosamente.

— É incrível – comentou o castanho ao seu lado fazendo o amigo olhar para ele – está tão bem explicado e sintetizado. Entendo porque você se tornou bom em biologia.

Alex sorriu e encarou os outros papéis na mesa os juntando em mãos. Passando de um por um ele se lembrou do que sentiu ao vê-los espalhados por seu quarto, ao ler suas mensagens de incentivo e ao ver que biologia só era difícil na teoria.

Ele lembrou também de cada momento junto a garota. Do seu calor, do seu riso, do toque que trocaram. Da longa noite que passaram juntos se divertindo numa disputa acirrada em seu console. Quando transaram e o tempo que pareceu correr por entre seus dedos.

Arabella era um pedaço de sua vida que ele havia feito desaparecer, sem nem ao menos pensar nas consequências. E ele sentia isso agora por todo seu corpo.

Um abafado soluço se alojou em sua garganta.

— Eu só queria saber até onde tudo foi mentira...

Um estrondo tomou conta de toda a escola e os autofalantes chiaram ensurdecedores. Alex e Thomas taparam os ouvidos enquanto o grupo a sua frente fez careta de surpresa com o estranho barulho.

De repente, houve silêncio e todos se entreolharam.

Tirando meu nome e história de vida, tudo a partir do momento em que te conheci foi verdade Alex.

Thomas olhou para o amigo e o mesmo para ele. Alex sabia de quem era aquela voz. Arabella.

Todo o grupo amontoado logo a frente voltou-se ao garoto que encarou estático o autofalante logo acima de sua cabeça. Ela havia o escutado?

Arabella só existiu por você e você me fez Arabella.

Suas mãos correram nervosas por seu corpo, atrás de alguma escuta, e não a encontrando ele voltou-se ao castanho ao seu lado, que procurava com os olhos de onde poderia ter vindo o som.

Ah se você soubesse o quanto demorei para entender isso Alex. Entender as coisas que você me mostrou e me fez sentir.

Havia dor em sua voz e algo a atrapalhando a fala. Sem demora o garoto percebeu ser o desenrolar de um choro.

Diferente de quando ficou inerte no arbusto, escondido da jovem, seu coração ricocheteou e num só movimento ele levantou correndo para dentro da construção. Precisava encontrá-la, era o que sua mente e seu corpo lhe diziam.

Thomas sorriu ao ver o amigo correr e se afastar, levando consigo um grito animado dos amigos de Henry e Brad, que também comemoraram ao vê-lo entrar na escola.

Eu sei que nós nunca daríamos certo.

Alex parou no corredor, incerto para onde ir.

Mas eu me ceguei a tudo isso.

Retomando fôlego ele correu até a sala de rádio.

Eu quis acreditar que mesmo apesar de tudo seríamos felizes.

O garoto abriu com força a porta da sala, mas tudo que viu foi o técnico dela desorientado lá dentro, de um lado para o outro, procurando a fonte pela qual invadiram o sistema.

O ser humano é tão tolo que se agarra até o último segundo a um fio de esperança.

Alex respirou fundo tentando pensar rápido sobre o possível lugar em que ela poderia se encontrar.

Hoje eu estou soltando esse fio.

O coração do garoto se comprimiu e ele correu para a parte traseira da escola, onde se encontrava a estufa. Seus olhos se encontravam queimando, de dor, de tristeza, de saudade. As palavras dela o estavam destruindo por dentro.

Havia sido assim para ela naquele dia?

Quando seu corpo atravessou o portal da entrada traseira seus olhos caíram certeiros sobre o corpo apoiado próximo a uma das paredes da instituição.

Arabella estava praticamente a ponto de cair, se apoiando e gradualmente perdendo a força.

Aquele, para ela, era o seu último adeus. Não conseguiria manter a esperança de algum dia continuar ao lado de Alex. Os inimigos viriam aos montes e para protegê-lo ela teria que desistir dele. 

Ainda que fosse doloroso demais.

E acima de tudo ela precisava que ele a escutasse. Que escutasse seus sentimentos. Mas como Alex não lhe deixara falar naquele dia, aquela era sua única alternativa, sua última carta na manga.

Arabella se apoiou novamente na parede, agora de costas para ela, se sentindo lentamente ceder. Seu rosto estava coberto de lágrimas e a cada palavra seu coração parecia sumir dentro de seu peito. O espaço dedicado a Alex estava gradualmente indo embora para nunca mais voltar.

Ela fechou os olhos com força e aproximou o dispositivo-microfone dos seus lábios.

— Eu só queria que soubesse que...

— Eu te amo — outra voz se juntou a dela.

Quando Arabella abriu os olhos cobertos pelas lágrimas viu a imagem de Alex a sua frente. Todo seu corpo formigou e as mãos perderam a força, deixando o aparelho em sua mão cair de encontro ao chão.

— Alex...

O garoto a puxou para si. As mãos a envolveram, firmes em sua cintura, os corpos se colaram, quentes, e as bocas se encontraram, num misto de saudade.

Alex a beijou intensamente e foi retribuiu com igual proporção. O tempo parou naquele momento para os dois.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Eu também esperei muito por isso, vocês não tem noção! AAAAHHHHHH ♥



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Espion Noir" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.