Espion Noir escrita por carlotakuy


Capítulo 24
XXIV.




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Eles se beijaram de pé no meio da sala por longos e infinitos segundos. As bolsas que traziam já se encontravam no chão e seus corpos comprimidos um no outro.

Eles se afastaram, momentaneamente, e com um sorriso bem maior do que quando havia entrado Arabella abraçou o rapaz.

— Estava preocupado – murmurou o mesmo – você não apareceu e eu...

— Eu estou bem. Só tive alguns problemas com a febre de novo, devia ter avisado, não quis preocupar.

Alex a acolheu em seus braços e assentiu.

— Tudo bem, é bom ver que está melhor.

Ele passou as mãos pelas madeixas negras sentindo-as curtas. Era diferente, mas nada deixava de ser Arabella. Ela era única.

— Você realmente cortou – comentou o mesmo deslizando a boca entre os fios – ficou muito bom.

O nariz do jovem passeou, despreocupado, pelas madeixas trazendo para si o perfume doce de ameixa que tanto gostava. Alex queria estar mais perto dela, saber mais sobre ela, pode continuar sentindo seu perfume e seu gosto cada vez mais.

Ele queria poder explorar a garota em seus braços e como nunca antes amá-la. Era definitivo: ele amava Arabella. Todo o seu corpo lhe dizia isso, reagindo, acelerando.

Era a primeira vez que Alex se via tragado tão fortemente por alguém. Ele já havia tido algumas paixonites, coisa de criança, no fundamental e no início do ginásio. Nunca foi correspondido ou escolhido por alguém, e também nunca se importou muito com isso.

Ele não pensava sobre isso, na verdade. Estava tempo demais recluso nele mesmo, em seus jogos, para poder se ligar a essas coisas. Mas agora não. Agora tudo estava diferente e Arabella era a causa disso.

Com sentimentos tão intensos o que poderia ele fazer se não se entregar completamente?

A jovem se afastou do abraço e girou trezentos e sessenta graus, fazendo os cabelos balançarem ao vento frio do cômodo. Alex acompanhou o movimento com olhos fixos na mesma e sorriu ao final, ao constatar que ela estava tão linda como sempre.

— Me sinto mais leve. Me sinto mais eu mesma.

— Você sempre vai ser você mesma.

Arabella sorriu, sabendo que ele não lhe entenderia. Delicadamente pegou as mãos dele na sua e focou seus olhos no dele, quase derretendo com o encontro dos mesmos.

— Você me faz sentir assim, Alex. Você me faz sentir tantas coisas. – o mesmo sorriu constrangido e corado – Eu nunca tive muita coisa na vida – apertou suas mãos juntas – e nem acho que terei algum dia algo realmente meu.

Os olhos dela caíram sobre suas mãos e ela sorriu tristonha, sabendo que era verdade. A organização era tudo que tinha, mas naquele momento, Alex a fazia parecer nada.

— Mas esses sentimentos e isso aqui é algo que vou guardar para sempre. Muito obrigada.

Por fim beijou suas mãos juntas.

O garoto lentamente se desvencilhou de seu aperto e tocou delicadamente no rosto da jovem, puxando-o para um beijo terno. Ao final quando se olharam novamente ambos sorriram.

— Você me diz isso e eu não sei como responder... não sou muito bom com as palavras...

Alex fez sua melhor expressão de estar sem jeito roubando uma risada melódica da mesma.

— E você não precisa.
Ela encaixou sua mão na do garoto, que lhe afagava a face.

— Eu consigo sentir na ponta dos seus dedos.

Alex sorriu abertamente e a beijou novamente. E de novo, de novo e de novo. Cada novo beijo parecia não ser o suficiente para ambos e a cada respiração ofegante entre o toque de seus lábios o calor lhes consumia o corpo. 

Eles foram interrompidos por um dos alunos participantes do projeto que entrou de supetão na sala, interrompendo-os, e constrangido fechou a porta rapidamente. 

A dupla, no meio da sala, se olhou e entre risos se afastaram.

Arabella organizou superficialmente seus cabelos bagunçados e pegou de volta sua bolsa, depositando-a sobre a escrivaninha. Alex também pegou a sua.

— Tenho que ir para casa – anunciou tristonho fazendo a mesma sorrir – mas fico preocupado com você na mesma sala que...

— Fala de Miguel?

Os olhos do garotos responderam-se por si só.

— Não precisa se preocupar. Falei com a ouvidoria e ele já foi demitido – piscou.

A verdade é que o havia mandado embora com a ajuda de agentes de sua organização, com a desculpa de que seus atos estavam atrapalhando a missão. Mas Alex não precisava saber disso.

— Assim fico mais tranquilo – o garoto a abraçou por trás – então vou indo.

Ele beijou-lhe o pescoço, agora bem mais visível, e agradeceu mentalmente ao corte de cabelo. Arabella arrepiou-se e virou, depositando um beijo suave nos lábios do mesmo.

— Vou passar lá assim que sair daqui. Vai me esperar?

— Pode apostar que sim.

Eles se beijaram novamente e se afastaram com rapidez após uma batida sinalizadora na porta, anunciando que o participante ainda se encontrava do lado de fora. 

Eles se despediram, com Arabella roubando mais beijos antes do garoto sair, e Alex rumou para casa enquanto a mesma convidava o aluno para entrar.

Alex sorriu descendo as escadas, saindo da escola, no caminho para casa e chegando em sua residência. 

Todos os seus sentimentos, todos os sentimentos dela, todos os beijos, todas as carícias, todos os toques. Tudo ali o fazia sentir-se num nirvana.

O amor era algo dos deuses, com certeza.

 

•••

 

Quando mais tarde a campainha tocou e Sofia a abriu, um largo sorriso surgiu no rosto da mulher. Ela se encontrava vestindo uma roupa longa e quente, para fugir do frio do início do inverno. Seus cabelos jaziam soltos e envoltos em seu pescoço, esquentando-o.

— Que surpresa boa! Entre querida.

Arabella sorriu tímida e aceitou o convite, já depositando seu sobretudo no lugar usual. A casa estava estranhamente quente e ela logo notou o responsável por isso: uma lareira crepitando na sala de estar.

— Boa noite – respondeu-lhe com um abraço.

— Boa. Cortou os cabelos? Está mais jovem!

Arabella lhe sorriu envergonhada.

— Cortei sim – passou o dedo entre os fios – achei que estava na hora de uma mudança.

Sofia sorriu.

— Às vezes realmente precisamos disso. Fico feliz que esteja nesse processo. Afinal, uma casa que nunca muda é uma casa morta.

A garota assentiu, feliz pelo comentário. Ela realmente estava voltando a vida. Ao menos, a vida dela.

— Está melhor? Alex me contou que ficou doente.

A jovem maneou a cabeça num sinal de mais ou menos.

— Tive uma febre muito forte durante a sexta-feira que se alongou por todo final de semana. Acho que o frio repentino não me fez muito bem.

— Repentino? – a mulher riu – Está um frio terrível desde o começo do outono.

Arabella piscou percebendo a besteira que havia falado.

— É modo de falar – emendou com um sorriso de lado.

— Entendo – Sofia caminhou até a sala sendo seguida pela garota – os jovens e seu próprio tempo.

Ela sorriu, concordando com a mulher, mas soltou imediatamente um suspiro imperceptível. Havia sim sofrido um choque térmico ao sair do rígido sol do trópico para chegar ali, naquelas terras tão próximas do polo.

A jovem sorriu com o próprio exagero.

— Mas é bom ver que já se encontra melhor.

— Com isso eu tenho que concordar.

Ambas riram. Sofia sentou-se ao sofá e Arabella fez o mesmo.

— A que devo a visita?

— Na verdade, infelizmente – ressaltou com uma atuação de falsa tristeza que fez a mulher sorrir – vim falar com Alex. Sobre um projeto da escola que estou coordenando.

A expressão da mulher foi preenchida por um animado sorriso.

— Um projeto? Que maravilhoso! De que se trata?

— Organizamos movimentos para auxiliar a comunidade carente da cidade, com doações de alimentos, vestimentas, higiene. E também outras ações que os integre mais a sociedade.

Sofia assentiu deslumbrada com as palavras da jovem.

— Nós, pais, podemos ajudar?

A jovem sorriu.

— Claro que podem. Trabalhamos mais com os alunos para tentar conscientiza-los dos problemas presentes na sociedade, mas os pais sempre podem participar também.

As mãos da mulher se juntaram sobre seu colo agitadas.

— Certo, pode contar comigo.

Arabella concordou com a cabeça.

— Vai ser uma honra!

Sofia riu pelas palavras da garota e sua animação.

— Gostaria de perguntar também se amanhã, ao invés de ter aulas de reforço, Alex poderia me acompanhar no projeto?

— Claro! – Sofia riu animada – ele está se comportando muito bem – piscou.

Arabella sorriu.

— Você veio falar com ele, sim? Está lá em cima no quarto. Não repare na bagunça.

— Nem precisa falar.

Elas riram novamente e se levantaram. Pedindo a licença da mulher Arabella rumou a escada enquanto Sofia seguiu para a cozinha. 

Os degraus pareceram pequenos demais para a jovem quando ela finalmente subiu.

Em passos lentos caminhou até o quarto de Alex, parando momentaneamente para observar através da porta entreaberta do quarto de Clara, a mesma dormindo profundamente envolta em coloridos bichinhos de pelúcia. 

Arabella sorriu à visão.

Com o tempo que haviam passado juntas a pequena se tornara tão importante para ela quanto o próprio irmão. Clara era uma criança animada e esperta, que lhe fazia rir e até mesmo refletir sobre certas coisas. Estava no auge de sua infância e quando Arabella pensava sobre isso, já não ficava tão triste quanto antes.

Aquela casa e aquelas pessoas eram como uma família para ela agora. Ainda que não admitisse completamente. E família era algo muito importante.

Afinal, ela mal tivera uma.

Quando por fim chegou ao quarto do garoto o observou através de uma pequena abertura da porta. Alex estava sentado na cadeira giratória do computador com os olhos fixos na tela e as pernas em cima do estofado, concentrado em algo.

Suas vestes eram caseiras e das tantas vezes que ela o havia o visto assim, nas suas idas a casa para auxiliar Sofia, começava a achar extremamente sexy seu corpo coberto por uma camiseta fina e um calção folgado.

As mãos do mesmo deslizavam rápidas pelas teclas do notebook e diferente das muitas vezes que ela o vira pelas câmeras, ele não usava seu headset,  nem cantarolava alguma música desconhecida.

Arabella bateu duas vezes na porta e entrou com tudo, fazendo a atenção do rapaz ir diretamente para ela. Imediatamente surgiu um sorriso em sua face. 

As mãos antes tão rápidas subitamente pararam e a jovem sequer notou quando um dos dedos apertou um último botão, fechando todos os aplicativos abertos.

Alex levantou com tudo enquanto a mesma fechava a porta atrás de si. Ele a abraçou e foi retribuído, com um singelo beijo na bochecha.

— Pensei que não viria mais.

— Lhe dei minha palavra, está duvidando de mim? – soltou com sua melhor atuação de ofensa.

Alex, entretanto, não pareceu se abalar e a beijou em seguida, ignorando a cena. Ela o correspondeu e sorriu ao sentir o gosto de bala de uva em sua boca.

— Não foi esse garoto que conheci quando entrei pela primeira vez nesse quarto.

Alex sorriu ao comentário.

— Talvez eu não seja mais aquele garoto.

Ele novamente a beijou e a mesma o retribuiu.

— Avisei a sua mãe que vim falar com você sobre o projeto, comporte-se! – disse entre risos.

— Projeto? – perguntou sem soltar sua cintura.

— Sim. Preciso da sua ajuda.

— Em que?

— Digamos que ir comigo em um lugar – piscou – só preciso saber agora se aceita, é uma surpresa. Quero levar você.

Ela envolveu o pescoço dele com seus braços, o puxando para mais perto.

— E, claro, não teremos reforço. Gostou da proposta?

Alex sorriu fazendo uma careta e antes da jovem rebater, sorriu a dando um breve beijo.

— Claro que vou. Vou para qualquer lugar com você.

Arabella comemorou e o beijou de volta, fazendo-o cambalear em direção a cama. Juntos caíram sobre ela. As orbes esverdeadas e castanhas colidiram num misto intenso. 

A jovem o beijou. 

E foi um beijo tão doce que desarmou qualquer teor sexual. Ela estava se entregando para Alex ali, naquele momento, e ele a aceitou retribuindo-a.

Arabella havia demorado tanto para admitir seus próprios sentimentos, que agora, podendo tocá-lo como sempre desejou, já não conseguia mais controlá-los.

Durante boa parte da noite eles conversaram e riram animados. Alex contou sobre o dilema de Thomas e as enfermeiras mal encaradas do hospital e a jovem o atualizou sobre o final de semana.

Eles também tomaram parte da noite jogando nos consoles, com Arabella ganhando invicta no um a um ao final de seis rodadas. Alex, indignado, pediu revanche e após quebrar o recorde da garota, voltou a perder consecutivamente.

Para consolar Alex a garota o encheu de beijos e quando o desarmou afundou nos braços dele. A dupla ficou abraçada por longos minutos, conversando baixinho, revezando entre comentários e carinhos.

Nos braços dele Arabella sentia o peito quase saltar de tanta alegria. Respirar parecia precário e seus sentidos todos gritavam em alerta.

Mas além de toda a excitação sexual que aquele corpo quente lhe oferecia, ela também sentia algo a mais. Um sentimento que transcendia o desejo e a fazia ter consciência de que ainda que ele não lhe incitasse tanto, ela ainda adoraria estar envolta naqueles braços.

Alex, por sua vez, sentia tudo como um sonho. O toque e o som da voz dela, o cheiro que o impregnava e a forma como ela o olhava. Ele gostava tanto daquela sensação que seu peito chegava a doer.

O quão intensos eram seus sentimentos?

Em tão pouco tempo ela o havia conquistado... e ele se sentia inseguro. Ele sempre se sentia inseguro. Mas Arabella parecia ser o auge daquele sentimento. Alex nunca se permitiu estar tão envolvido por algo e naquele momento, estava profundamente.

Quando o silêncio se instalou o sono os capturou com maestria e eles imediatamente adormeceram. Um no braço do outro, desfrutando do calor que os envolvia. O rosto de Arabella jazia encaixado no pescoço de Alex enquanto ele a mantinha próximo de si pela cintura, num encaixe quase perfeito.

Sofia riu baixo com a cena, quando entrou para reclamar da hora com filho, e apenas os deixou lá. Desligando a luz e o computador, fechando a porta e descendo as escadas ela abriu um sorriso satisfeito no rosto. 

Seus instintos de mãe não falhavam nunca e agora ela tinha certeza disso.


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Notas finais do capítulo

Mais um pouco de tranquilidade para vocês ♥



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