Espion Noir escrita por carlotakuy


Capítulo 2
II.




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/756291/chapter/2

O toque do intervalo irrompeu pelos corredores e todas as portas das salas de aula da escola Junípero Serra abriram-se raivosamente enquanto os estudantes praticamente corriam até a cantina.

Os professores, por sua vez, organizavam preguiçosamente seus materiais esperando os últimos alunos saírem da sala levando suas bolsas para a próxima. Entre os últimos garotos que saiam da sala se encontrava Alex, o próximo alvo.

Ele riu caminhando junto aos colegas que conversavam sobre os triviais acontecimentos do dia anterior. O percurso foi rápido e ao chegar na cantina o grupo soltou baixas queixas. A fila para comprar o lanche estava enorme em todas as barracas.

— Sabia que deveria ter trazido algo de casa – resmungou Henry.

O garoto era o mais alto e magro do grupo e possuía a pele morena. Seu fardamento jazia todo desarrumado e sua bolsa caia desajeitada em suas costas. Os cabelos eram preenchidos por dreads e os olhos de um tom chocolate escuro quase negro. Despreocupadamente este seguiu até o final da fila em passos curtos.

— Mas nada se compara aos sabores de Junípero Serra – sorriu Brad seguindo o moreno.

Brad era musculoso e um pouco mais baixo que Henry, perdendo em poucos centímetros para o mesmo. Seu corpo era bronzeado e os cabelos aloirados eram queimados pelo sol. A farda lhe caia justa e em seu rosto era notável pequenas e imperceptíveis sardas contrastantes aos seus olhos caramelos.

A mão de Thomas caiu teatralmente sobre o ombro de Alex que sorriu puxando o amigo para a fila junto dos outros.

— O que pensa em comer? – perguntou enquanto era arrastado.

O garoto era mais alto que Alex e possuía um rosto angelical que o assemelhava a uma criança. Seu corpo era mediano e aqui ou ali já despontavam os sinais de sua primeira barba. Os cabelos castanhos caiam sobre seus olhos tapando as orbes azuis escuras do mesmo e seu corpo era um branco queimado pelo sol.

Alex refletiu sobre a pergunta e vagando seu olhar sobre as pequenas vendas deixou o mesmo cair sobre uma torta de chocolate que parecia gritar seu nome. Sorriu ao parar com Thomas.

— Uma maldita torta de felicidade – respondeu e seus amigos riram brevemente.

Alex era franzino e comparado aos seus amigos possuía uma altura mediana. O corpo mostrava alguns traços de músculo, mas era magro em sua totalidade. Os cabelos negros eram curtos e arrepiados para cima, cobertos por gel para manter a imobilidade. Sua pele era branca em excesso, denunciando o pouco contato com o sol, e os olhos eram preenchidos de um castanho amendoado luminoso.

Tão logo conseguiram chegar ao caixa e fazer seus pedidos seguiram para uma das mesas e lá se sentaram. Após comerem seus lanches e conversarem animadamente, o assunto mudou de qual lugar possuía a melhor comida à festas.

— E então? Vocês vão para festa do Asher? – perguntou Brad tomando em seguida um longo gole de seu suco de acerola.

— Não sei – respondeu Alex remexendo no último pedaço de torta com um garfo.

— Venhamos e convenhamos: Alex nunca vai – disse Henry dando de ombros.

Alex sorriu, mas não podia negar. Ele realmente nunca saia para festas com seus amigos.

— Mas eu vou – Brad sorriu de lado – e vamos nos divertir!

— Você deveria ir – sugeriu Thomas batendo no ombro do amigo com o seu próprio – ao menos experimentar.

Os olhos castanhos observaram seus amigos que o fitavam apreensivos e esperançosos. Rindo ele assentiu. Não ia fazer mal apenas uma vez e além do mais, ele havia declinado convites demais para contar.

O grupo comemorou enquanto o garoto ria. O resto da conversa se desenrolou para como seria a próxima aula e totalmente desmotivados eles seguiram para a sala de biologia. A aula mais chata com o professor mais chato da instalação.

Alex resmungou algo incompreensível quando entrou na sala e sentou em sua banca. Seus amigos acabaram sentando-se do outro lado da sala e sozinho ele não esperou um só minuto para dormir sobre sua bolsa. 

Quando chegou a acordar, no meio da aula, o professor Wiliam falava pausadamente sobre algo incompreensível para o mesmo, o que o motivou ainda mais a voltar a dormir.

William era o típico professor gordinho e careca em seus 54 anos. Vestia sempre uma roupa social e misturada com seu senso de humor essa variava de tons quentes, como vermelho, até os mais frios, como azul escuro ou preto.

Quando Alex acordou o sinal gritava em seus ouvidos. O professor guardava tranquilamente seus materiais e os outros alunos jogavam apressadamente suas coisas na bolsa para ir o mais rápido para casa.

Assim que se endireitou no assento e se espreguiçou Alex sentiu os olhos de William sobre si. Ignorando o homem o garoto pegou sua bolsa, sequer aberta, e como um raio saiu pela porta.

Olhou ao redor atrás dos seus amigos e os encontrou apoiados nos armários do corredor. Seguiu até eles vagarosamente e no meio do caminho sentiu uma estranha sensação de estar sendo observado. Percorreu todo o lugar com seus olhos, mas ao não encontrar nada voltou-se aos seus colegas. Era coisa da sua cabeça.

— E aí – cumprimentou Thomas abrindo espaço para Alex.

— E aí – respondeu o garoto.

— Tudo que eu quero agora é um banho e dormir o resto da tarde – comentou Brad fechando seu armário.

— Não só você meu amigo – Henry o imitou.

— E então? Vamos? – Alex puxou a alça da bolsa mais para cima.

Os outros assentiram e juntos saíram do colégio. As ruas passaram rápidas e, se separando no meio do caminho de seus amigos, Alex logo se viu mais uma vez sozinho. Em passos rápidos ele já se encontrava em sua rua e observando mais uma vez a mesma o garoto sorriu consigo mesmo.

Enquanto passava pelas casas os vizinhos, desde os presentes em seus quintais aos que se encontravam próximos a qualquer janela, o cumprimentavam com sorrisos e acenos. Era um local muito aconchegante.

De frente a porta de sua casa Alex girou a maçaneta. Quando a porta abriu ele não conteve o riso. Sua mãe se encontrava vestindo um avental rosa bebê cheio de babados e com os cabelos presos nas duas extremidades, assemelhando-se a uma criança.

— O que está acontecendo aqui? – perguntou entre gargalhadas.

— Não ria Alex!

Sofia pôs as mãos na cintura com um olhar sério. Era uma mulher esguia. Seus cabelos eram de um negro lustroso e o rosto, pouco abalado pela idade, ressaltava os olhos amendoados.

O garoto fechou a porta atrás de si limpando as lágrimas que surgiam em seus olhos. A mulher soltou um longo suspiro desfazendo as chiquinhas de seu cabelo.

— Sua irmã é impossível – disse com um sorriso.

— Ela tem a quem puxar – Alex tirou os sapatos.

— Nunca fui assim! – defendeu-se Sofia

O garoto a olhou sugestivo e a mesma fez uma expressão de derrota desatacando a parte traseira do avental. Alex riu com a confirmação corporal da mãe e deu um primeiro passo no assoalho de madeira.

— E então, cadê ela?

— Finalmente dormiu – a mulher levantou os braços agradecendo – e não ouse ir acordá-la mocinho – apontou o dedo para o garoto que levantou as mãos em sinal de inocência.

— Pode deixar.

— Mais tarde tenho algo que quero conversar com você – a mulher dirigiu-se a sala de estar – mas por hora vá tomar um banho e descansar.

— Certo capitão – brincou o mesmo fazendo a mãe sorrir.

Alex subiu as escadas de madeira que se posicionavam de frente a porta em saltos e correu até seu quarto. O cômodo era coberto de um tom esverdeado nas paredes, que por sua vez eram cobertas por pôsteres e porta-retratos.

Ao lado da cama jazia uma pequena mesa de cabeceira de mesmo tom madeira da cama e próximo a uma poltrona se encontrava uma outra mesa, quase vazia, exceto por dois consoles de PSP.

De frente a cama e do lado da porta havia uma mesa de tom mais escuro que os demais móveis e sobre esta se encontrava um notebook, com mouse usb adaptado ao mesmo. Sobre o monitor se apoiava um headset avermelhado e tomando o resto do espaço da mesa havia uma impressora pequena.

Ocupando a outra extremidade do quarto, no canto mais afastado da porta, se encontrava uma cômoda. Acima desta variados frascos se misturavam. Desde o gel para cabelos a perfumes.

Alex largou a bolsa na poltrona ao lado de sua cama e se jogou sobre a mesma respirando fundo. Aquele era seu porto seguro.

 

•••

 

Num apartamento luxuoso se encontrava Arabella. A sala era enorme e quase vazia de móveis, sendo preenchida por um longo tapete de felpudo branco contrastante ao piso negro, dois grandes sofás que alojavam no centro do cômodo, tendo em sua frente uma enorme televisão apoiada na parede, e abaixo desta jazia um pequeno centro preenchidos com livros em sua superfície.

A iluminação era forte e as paredes brancas sustentavam poucos quadros. Atrás dos sofás, separados por um pequeno balcão, se encontrava uma minúscula cozinha. Os eletrodomésticos eram de última geração cobertos de um tom prateado e próximo ao balcão se encontrava bancos altos de mesma cor.

A garota jazia de frente a uma enorme janela na lateral do cômodo. Esta ia do teto ao chão e sumia de vista para os lados, que possuíam grossas cortinas cor de vinho. 

Com um longo suspiro Arabella encarou a paisagem abaixo de si. Sua nova carteira tremia em sua mão e na mesa ao seu lado além de um vaso de flores se encontrava uma pilha de papéis. A papelada de sua missão.

— Vai começar mais uma vez – pensou alto afastando-se da janela.

O relógio dourado em seu pulso apitou e seus olhos caíram sobre o mesmo, desligando o alarme.

— Hora de ir – murmurou caminhando até o porta-casaco ao lado da porta.

Puxou um sobretudo marrom escuro e o vestiu, cobrindo o vestido preto que já vestia. Tirou do bolso uma chave e abriu a porta a sua frente. Depositou sua nova carteira em outro bolso e saiu, trancando a porta atrás de si.

 

•••

 

Alex já havia almoçado e teclava fervorosamente em seu computador. Entrava e saia de sites em uma enorme velocidade enquanto em seus fones uma playlist animada tocava. Entre as viagens do mouse ao teclado a porta do quarto do garoto abriu e surpreso ele fechou todas as abas que navegava. Abaixando o headset até o pescoço encarou a porta ao seu lado apenas para ver sua mãe com um sorriso de lado.

— Bati cinco vezes – disse a mesma se defendendo.

Alex assentiu e desligou o aparelho, tirando os fones de si e depositando sobre a tela. Em seguida levantou da cadeira e sentou na cama, convidando sua mãe a fazer o mesmo.

— É sobre o que queria falar comigo?

— Sim – Sofia sentou-se – recebi uma ligação de seu colégio.

O garoto fez uma careta e a mulher sorriu.

— Seu professor de biologia falou muito mal de você. A assistente que me contatou descreveu tudo que ele ressaltou de você na reunião e não foi nada bom.

Alex suspirou. Soube que havia algo errado no momento em que William o encarou na aula.

— Pois bem – a mulher se endireitou no colchão – para melhorar sua reputação e desempenho na matéria dele a assistente me recomendou aulas de reforço.

— Reforço? – a voz do garoto soou alta e esganiçada.

— Sim, reforço. Fazem quatro meses que você não presta atenção as aulas e já tirou nota baixa na última avaliação.

— Como sabe tudo isso? – resmungou.

Sofia o fitou com intensidade de forma a não precisar responde-lo.

— Mas eu não preciso de aulas de reforço – argumentou – biologia é uma matéria fácil, consigo me virar sozinho.

— Não Alex – a voz da mulher era firme – depois de saber tudo isso não posso simplesmente deixar assim. Confiava que você estava se esforçando e estudando, mas parece que não.

— A aula dele é muito ruim e ele...

— Não tem desculpa. Para que eu possa voltar a ter essa confiança em você terá de aceitar os meus termos.

Alex suspirou pesarosamente. Odiava deixar sua mãe daquele jeito, mas aquela sugestão era demais. Ele nunca precisou disso, sabia muito bem ser autossuficiente. Era bobagem.

— E tem mais – Sofia levantou o dedo.

A campainha soou alta e um sorriso surgiu no rosto da mulher. Alex estremeceu.

— Chegou! – comemorou a mesma levantando em um salto.

— O que chegou? – perguntou o garoto.

Mas sua mãe já não se encontrava lá e ele pôde ouvir a mesma descer ruidosamente as escadas. O garoto soltou um longo suspiro. O que ela estava aprontando?

Alex ouviu a porta abrir e passos voltarem para o seu quarto. Encarando a porta a sua frente ele esperou o pior. Mas quando viu a cabeleira negra passar pela mesma seu coração acelerou. A garota sorriu e ele paralisou hipnotizado por seus olhos esmeraldas.

Dando um passo para dentro do quarto ela se posicionou de frente para ele e inclinando-se sobre a cama permitiu que Alex pudesse sentir a doce fragrância de ameixa que seu corpo exalava.

Sofia sorriu ao ver a situação e em seguida pigarreou, acordando o filho do transe.

— Alex essa é sua professora de reforço.

Os olhos esverdeados da mesma foram para a mulher e em seguida caíram sobre o rapaz. Ela novamente sorriu.

— Alex, não é? – estendeu-lhe a mão – me chamo Arabella.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Qual é, aulas de reforço foram um mega plot twist, né? Hehe.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Espion Noir" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.