Espion Noir escrita por carlotakuy


Capítulo 3
III.




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O garoto piscou três vezes antes de processar as palavras da estranha a sua frente. Seus olhos chocaram-se com os dela e a mesma sorriu. Alex a examinou de cima a baixo, sem se deixar abalar por qualquer reação fisiológica que ela gerasse nele. Quem era a dona daqueles olhos?

Alex foi tomado de rubor ao notar que ela também o avaliava com os olhos e Arabella sorriu mais abertamente ao perceber a mudança na coloração do rosto do mesmo. Se ele fosse tão transparente quando parecia em relação as suas emoções, descobrir seus segredos seria muito mais fácil do que pensava. Alex seria como roubar doce de criança.

Sofia se aproximou, ficando ao lado de Arabella, e quebrando o breve momento entre a dupla. O garoto se remexeu na cama desconfortável.

— Não preciso de uma babá — resmungou olhando desafiadoramente para Arabella.

A jovem sorriu de lado e pondo a mão na frente de Sofia, num pedido silencioso para que ela não o repreendesse, rebateu o olhar dele.

— Sou uma professora, não uma babá.

— Não preciso de uma professorinha.

— Mas precisa passar em biologia — ela ergueu a sobrancelha cruzando os braços.

Alex se calou e bufou. Era verdade que andava indo mal nessa matéria havia algum tempo. E pior ainda: não fazia ideia sobre quais os assuntos que perdera. Mas não aceitaria tão fácil ser submetido a humilhação de receber aulas de reforço. Mesmo que seu corpo gritasse pedindo por aquela estranha.

— Você não tem o que querer — interveio Sofia — estamos resolvidos?

Alex ia rebatê-la, mas sua mãe sequer o deu oportunidade, dando meia volta e seguindo até a porta.

É, ele não teve opção de escolha e ia ter que aceitar e se submeter as aulas.

— Arabella, querida, gostaria de um pouco de café?

A garota virou seu rosto na direção da mulher e sorriu.

— Claro.

Sorrindo também, em resposta, Sofia saiu do cômodo acenando em direção ao corredor, chamando a garota para fora do quarto. Arabella a seguiu de pronto, mas parando na porta antes de sair voltou-se para Alex com um sorriso divertido nos lábios.

— Estou ansiosa por nosso próximo encontro — piscou.

Quando a cabeleira negra já não era mais vista todo o quarto pareceu tornar-se vazio. Ainda parado na cama e olhando fixo para o local no qual a garota saíra, deixando a porta aberta, Alex soltou um baixo resmungo.

— Que próximo encontro que nada.

Mas dentro de si uma chama parecia queimar e indo contra todos os seus atos, seu corpo esperava eufórico para estar frente a frente com aqueles olhos esverdeados uma vez mais.

 

•••

 

Arabella caminhou em passos lentos atrás de Sofia, admirando cada parte da casa, avaliando seus pontos cegos e captando informações, quando seus olhos pararam sobre uma imagem pendurada na parede do corredor. Seu coração imediatamente apertou.

— Você tem uma filha?

A pergunta soou despretensiosa, mas parecia carregar um peso enorme para a jovem. Todos os seus trabalhos e casos envolviam alvos sem muitos vínculos familiares e afetivos, e a presença de uma criança, ainda que num caso de monitoramento, parecia perigoso.

Quase como se aquele pequeno ser humano, tão puro, fosse ser corrompido. E isso ela não desejava a ninguém. Afinal, havia vivido na pele a perca de sua infância.

Afastando os pensamentos voltou-se à Sofia e a mulher, que seguia mais a frente, parou virando-se para ela com um sorriso orgulhoso.

— Sim, só tenho ela de menina, é uma gracinha, não é?

Sofia se pôs ao lado da garota e admirou a foto dentro da moldura. Havia ela e seus dois filhos abraçados e sorrindo para a câmera, com a paisagem de uma praia ao fundo.

— É sim.

Logo, ambas se puseram a caminhar novamente e Arabella voltou a escanear a casa com seus olhos em busca de qualquer informação útil. Até ser interrompida pela mulher.

— E então, de onde você vem?

A garota respirou fundo. Havia lido toda sua nova documentação e já sabia a história que diria desta vez. Só precisava ser firme.

— Venho de uma pequena cidade ao norte daqui, Paraíso, conhece?

— Já ouvi falar sim – respondeu Sofia iniciando a descida das escadas.

— É um ótimo lugar para descansar a mente e o corpo. Eu e minha família possuíamos uma fazenda por lá, mas a vendi semana passada.

— E por que isso? Não gostava do lugar?

Arabella puxou todo o ar que pôde pelos pulmões. Esse era o momento exato.

— Gostava sim – sua voz saiu arranhada – mas meus pais acabaram morrendo em um acidente e fiquei sozinha.

Sofia, que já se encontrava ao pé da escada, voltou-se à garota e xingou-se baixinho ao ver as lágrimas que saiam dos olhos da mesma. Arabella soluçou e terminou sua descida sendo surpreendida pelas finas mãos da mulher, que envolveram as suas num movimento gentil.

— Sei que não é o que deseja ouvir – sua voz saiu tranquilizadora – mas saiba que tudo isso vai passar. Seus pais estariam orgulhosos de você agora, tenho certeza.

O sorriso de Sofia desconcertou Arabella que sorriu tímida, fazendo as falsas lágrimas pararem.

— Muito obrigada.

Sofia assentiu, satisfeita, e voltou sua marcha em direção a cozinha, porém ainda com sua mão na da garota.

— Meu marido morreu fazem alguns anos – comentou a mulher – nós ainda não superamos completamente sua perda, mas os dias sem ele vem se tornando mais suportáveis.

A garota balbuciou um sim em resposta e logo elas já se encontravam na cozinha. Sofia dirigiu-se a cafeteira e indicou uma cadeira para Arabella sentar-se e de pronto esta a obedeceu.

Enquanto a mulher falava sobre assuntos triviais o olhar de Arabella esquadrilhou todo o perímetro ao seu redor. 

A cozinha era rústica e possuía móveis antigos. Uma bancada extensa se iniciava ao lado do fogão e seguia rente a parede até o canto desta. Sobre ela se apoiava a cafeteira que Sofia utilizava e um pequeno micro-ondas.

A mesa na qual Arabella se encontrava ficava no centro do cômodo e não era de todo grande, mas cabia com facilidade seis pessoas. 

A decoração ao redor era escassa e além de um gasto papel de parede de flores e folhas, apenas uma janela ocupava a parede, com a paisagem do quintal da família ao fundo. Todos os móveis eram de madeira, incluindo os armários altos sobre o balcão e as cadeiras ao redor da mesa. 

Ao fim de sua avaliação a garota voltou seu olhar sobre Sofia que, de costas para ela, colocava o café dentro de suas xícaras.

— Então você poderia vir três vezes na semana? Pagarei pela diária, claro.

Sofia depositou a xícara na frente de Arabella, abrindo um açucareiro e o pondo no meio da mesa. A garota fitou a mulher que se sentava a sua frente e segurou a xícara em mãos, assoprando dentro desta para esfriar a bebida.

— Claro que posso — sorriu através da xícara.

A dupla conversou pelo resto da tarde sobre negócios e se acertaram em relação ao horário, que seria na chegada do garoto da escola, e ao dinheiro, pagaria por semana uma quantidade fixa. Sofia ficou aliviada ao ouvir a garota falar sobre seus conhecimentos no assunto e ainda mais por esta ter sido indicada por um professor.

Quando já não havia nada a tratar Arabella se encaminhou para casa. Mas após sair parou no quintal da família e fitou a janela do quarto do garoto. Para sua surpresa Alex parecia a estar espiando por entre as cortinas da janela e rindo ao perceber isto Arabella acenou para ele. 

Alex de pronto fechou completamente a cortina e, ouvindo o baixo riso da garota na parte de fora de sua casa, foi tomado por rubor.

O que estava acontecendo com ele?


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Notas finais do capítulo

Jovens e suas tentativas falhas de argumentar com as mães, ai ai



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