Espion Noir escrita por carlotakuy


Capítulo 18
XVIII.


Notas iniciais do capítulo

Estou inspirada depois de uma história que li, então, compartilhando minha animação com vocês: mais um capítulo em plena segunda-feira!

Não é pra qualquer um hein?



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As semanas seguintes foram tranquilas. Arabella e Alex se viam vez ou outra nos corredores da escola e conversavam brevemente até algum deles ter que se ausentar.

Thomas sempre brincava com o amigo, sobre a relação amorosa entre a dupla, mas Alex sempre o rebatia com alguma brincadeira ou um não viaja.

Brad, como sempre, vivia seu dia a dia normalmente rodeado de garotas junto a Henry, e parecia já ter superado o episódio Arabella, ao menos na frente de seus amigos.

A escola nunca foi um lugar pelo qual Alex tivesse muito interesse.

Ele era bom em algumas matérias, ruim em outras e péssimo em biologia. Convivia pacificamente com os professores e além das advertências que recebia, geralmente por dormir na aula ou por rir junto com seus amigos durante as mesmas, nada de extraordinário acontecia em seu cotidiano escolar.

Até a estranha motivação que havia surgido o mover a sair mais cedo da cama, se arrumar e chegar minutos antes das aulas a escola, desejando encontrar Arabella em algum corredor.

Falando em Arabella, o mesmo se repetia do lado de lá, com ela sempre esperando, ansiosa o próximo dia para ao menos ver o garoto, falar com ele e saírem juntos pelas ruas da cidade.

No decorrer das aulas matutinas de uma quarta-feira Arabella parou para conversar com Alex. E até aí tudo normal, eles sempre faziam isso. Mas quando se separaram tamanha foi a surpresa do rapaz ao ver Henry se aproximar da mesma e começar uma conversa casual.

De onde estava o garoto não conseguiu ouvir uma só palavra da dupla, mas sentiu o peito comprimir ao ver um sorriso surgir no rosto de Arabella. 

Ele se xingou pela sensação e ignorando a cena na sua frente rumou a sala de aula, negando para si mesmo que aquilo fosse ciúme.

Mas o episódio se repetiu durante o resto da semana, adentrando a seguinte, e toda vez que Alex se sentia incomodado, arranjava uma desculpa para si mesmo contra aqueles sentimentos. Como um exímio orgulhoso.

Pelas semanas​ adentro, Arabella, tendo dito que ajudaria Sofia, fez valer suas palavras e no período em que não estava na escola, ou dando as aulas de Alex, ajudou a mulher com os serviços da casa.

Durante as primeiras atividades juntas Arabella escutou atenta a mesma lhe contar sobre seu ex-marido, falecido e morto pelas empresas. 

Elas estavam preparando o café da manhã na ocasião.

— Acorda cedo mesmo assim ou foi só por minha causa? – brincou Sofia separando a louça para o café.

A jovem, sentada a mesa, fez uma careta involuntária roubando uma risada de Sofia, que já começava a organizar os pratos e copos na superfície.

Arabella sempre acordava cedo, ou melhor, sequer tinha que acordar, pois mal dormia. Mas como diria isso para a mulher a sua frente? Com uma vida tão normal?

— Não simpatizo muito com o sono – comentou – sempre acordo cedo.

— Eu também – Sofia retirou habilidosamente o bolo de dentro de uma sacola da padaria, sem machucá-lo – tenho dificuldade de dormir desde que meu marido faleceu. Não sei bem dizer o porquê, talvez seja saudade dos roncos dele – brincou com uma risada breve.

Arabella riu junto com a mesma, mas sentiu o peito apertar.

— Ele era um homem bom – alojou o bolo dentro do prato raso – o conheci na adolescência, na escola. Sempre foi muito gentil comigo e quando passamos juntos na faculdade ele me pediu em namoro.

A mulher riu, sem lançar mais olhares a Arabella. Porém a garota podia sentir o tom de tristeza em sua voz.

— Ele se enrolou todo na época e acabou me pedindo em casamento – riu mais um pouco – ele era meio atrapalhado às vezes, mas sempre achei que era seu charme, sabe? E claro, aceitei sua proposta na hora, ainda que tenhamos decidido começar com um namoro simples.

Ela encarou segundos a fio o bolo sobre mesa com um pequeno sorriso.

— Como ele... morreu?

A pergunta de Arabella foi pontual, porém receosa. Ela queria muito saber, pela ótica de Sofia, o que havia destruído sua família, seu lar. Mas ainda assim, com toda aquela curiosidade querendo transcender as informações já fornecidas, ela se sentia pesada.

Com surpresa a jovem percebeu que o que lhe travara a garganta era a possibilidade de machucar Sofia.

— Ele estava no lugar errado na hora errada – Sofia suspirou sorrindo tristonha para a garota.

O olhar dela vagou para as paredes da cozinha e parecendo rememorar o acontecido, deixou seu semblante se tornar de tristeza, fazendo Arabella se sentir cada vez mais culpada pela pergunta.

— Foi em um assalto ao banco – disse por fim sentando de frente a jovem – ele estava lá para resolver algumas coisas, pagar umas contas e foi atingido em cheio pelos ladrões.

Conveniente demais.

— Ele morreu na hora.

Arabella assentiu observando a feição entristecida da mulher que depositou um segundo prato na frente dela.

— Eles devem ter sofrido muito... – as palavras saíram espontaneamente e a garota se martirizou por isso.

Os olhos amendoados de Sofia cravaram-se sobre a jovem, confusos.

— As crianças, quero dizer.

Houve um murmúrio de concordância da mesma.

— Sim, foi muito difícil. Principalmente para Alex, o pai era tudo para ele.

— Imagino que sim...

— Vamos deixar essas lembranças tristes de lado, que tal?

Com essa última frase o assunto mudou de rumo e pelo resto dos encontros o nome do homem não foi citado mais nenhuma vez sequer. E Arabella não a forçou, deixando a curiosidade em segundo plano.

Pelo tempo que se seguiu, nesses dias de auxílio a Sofia, Alex e Arabella chegavam a estudar biologia na cozinha enquanto lavavam os pratos, com Alex buscando explicar toda a grade de citologia enquanto Arabella o corrigia nas partes que errava. Também estudavam quando juntos varriam o quintal numa disputa de vassouras sobre ecologia.

Às vezes eles se separavam e cada um fazia uma coisa.

Nesses momentos Arabella aproveitava para implantar escutas por toda a extensão da casa, enquanto passava um pano por sobre os móveis e objetos. Nanocâmeras também foram instaladas junto a sensores de movimento, tudo por precaução.

Durante os cinco dias das semanas a dupla se viu todos os dias e quase o dia inteiro. Nenhum dos dois reclamou e até aproveitaram, nas pausas entre as tarefas domésticas, para jogarem juntos no console da sala ou até mesmo no chão do quarto, com cada um munido de um psp.

Esses momentos eram de pura alegria. Eles riam quando perdiam e quando ganhavam, se alfinetavam durante as disputas e se xingavam em mesma proporção. 

Alex se alegrou ao saber do gosto de Arabella por jogos, e até propôs um quiz para ela, que ganhou sem esforço algum.

De tanto conviver com a jovem em seu próprio quarto e casa Alex podia sentir seu aroma passear livremente e vez ou outra se pegava pensando nela quando o cheiro doce lhe entrava pelas narinas.

Eles estavam, com certeza, mais próximos.

Brigavam durante as tarefas domésticas, quando um planejava uma coisa e o outro discordava fazendo o contrário. E com a percepção desse lado brigão de Arabella, que batia o pé e não recuava, Alex começava a observa-la por outro ângulo.

A garota tão perfeita também tinha suas imperfeições, como o gênio forte e a forma orgulhosa que sempre retrucava-o em suas brigas. Mas nada disso fazia Alex deixar de sorrir quando ela resmungava e o olhava com raiva, cedendo minutos depois com seu tom contrariado ao pedir alguma coisa, como a toalha para enxugar a louça.

Eles também discutiam, mais civilizadamente, na discordância entre os melhores jogos e filmes, com ambos defendendo com unhas e dentes seus favoritos, rindo ao final, ou abrindo mão vez ou outra quando os argumentos os faziam perder a briga.

Mas eles também se divertiam muito durante seus afazeres.

Como quando Alex encharcou Arabella no quintal da casa enquanto regavam a grama e ambos levaram sermão de Sofia, que riu da dupla, ao vê-los espirrando depois do acontecido.

Ou no momento em que se afogaram em espuma ao dar banho em Clara, que, obviamente, ficou do lado de Arabella durante a guerra.

No final de todo o dia, na hora do adeus, eles brindavam com copos de suco e um lanche reforçado. Conversavam sobre o próximos dia e rindo de sua condição precária, terminavam o lanche. Acenavam ao se despedirem e cada um seguia seu rumo.

Arabella para seu apartamento e Alex para seu quarto.

Aquela rotina se seguiu por toda a semana seguinte também, ao menos até a sexta-feira.

 

•••

 

Naquele dia a dupla não se encontrou nos corredores.

Estranhando tal ausência de Arabella o garoto passou boa parte da aula especulando para si mesmo o que deveria ter acontecido e riu sozinho ao imaginá-la encharcada de papéis do projeto para organizar e resmungando, como sempre fazia, perdida no meio dos documentos.

A vira fazer isso em sua própria casa, quando ela levou vários livros que compara sobre biologia e se perdeu entre tantas páginas e anotações, fazendo Alex rir boa parte da aula da sua indignação em não encontrar o assunto desejado.

Também a viu resmungar quando, empenhada em uma horta nos fundos da escola na segunda-feira, ela se sujou toda de terra. Alex a estava ajudando no dia e riu muito de sua indignação e até a ajudou, assim que conseguiu esconder a ereção de vê-la tão sexy e suja de areia.

Eles plantaram batatas e cenouras naquele dia e lavaram-se juntos após o trabalho pesado. Mas, claro, não sem antes se atacarem com respingos de água um no outro.

Arabella lhe explicara na ocasião, usando as plantas já crescidas que havia plantado na semana anterior, sobre biologia, e ele riu comentando sobre o quanto ela conseguia associar aquela matéria com tudo.

— Isso porque a biologia está em tudo – ela dissera pegando uma semente – esse daqui é você quando eu cheguei – plantou a mesma – e aquelas ali são você agora – apontou para os primeiros brotos do outro lado – biologia também é evolução... gostaria de saber o quanto você cresceu durante esse tempo...

A expressão no rosto da mesma o havia inquietado pelos dias que se seguiram. Era como se ela estivesse distante, quase flutuando para um lugar longe de seu alcance. 

Estavam tão próximos, mas Arabella ainda era um mistério para ele.

Alex queria poder mudar isso.

— Pensando nela? – comentou Thomas alongando os braços por cima da banca.

— Tudo que eu faço você associa a ela, será que dá pra parar?

O amigo riu baixo.

— Não dá pra resistir, você faz umas expressões muito características quando fala com ela. E as está fazendo exatamente agora.

— Não estou – resmungou mudando a página do caderno – e que características são essas?

O sorriso no rosto do castanho fez Alex revirar os olhos, já se arrependendo de ter perguntado.

Até o final da aula Thomas listou todas as formas possíveis que Alex reagia a Arabella. A forma na qual seu rosto corava perto dela e o quanto atualmente isso havia diminuído de proporção. O modo como ele a fitava intensamente nos olhos inconscientemente, o jeito que mexia os dedos próximo a ela ou quando ela ria/sorria e ele a acompanhava quase de imediato.

O monólogo de Thomas serviu apenas para fazer Alex suspirar pesaroso. Se até seu amigo conseguia enxergar aquilo, como poderia ele continuar negando? Tinha que admitir: estava realmente gostando de Arabella.

E intimamente sabia que era algo muito além de simplesmente gostar.

Todos os dias quando a via ele se enchia de uma nova energia. Quando conversavam, quando trabalhavam juntos ou quando estudavam ele sentia tudo ao redor de uma nova forma. Uma nova cor.

Quando se tocavam, informalmente, ele sentia todo o corpo queimar pedindo por mais. Mas esse calor não se limitava ao tato e todos seus sentidos pareciam estar ligados a ela, já que só de admirar aqueles olhos esverdeados, ou de sentir aquele aroma adocicado, todo seu corpo o traia. Principalmente nas partes baixas.

Com o soar do sinal Alex apoiou a testa na sua mesa e suspirou.

— Eu estou perdidamente apaixonado por ela.

— É assim que se faz meu garoto! – comemorou Thomas levantando e puxando o amigo.

— O que eu faço? – murmurou sendo puxado – Não sei lidar com isso. Sou muito melhor com o mundo virtual do que o real.

— Trate isso como sempre tratou – respondeu Thomas seguindo seu percurso até o corredor – não precisa se declarar para ela. Você só precisa saber o que sente.

— Você é um péssimo guru amoroso.

— Qual é, eu entendo das coisas – piscou para o amigo parando no pé da escadaria – agora vai e fala com ela.

— Você me disse agorinha que não tinha que me declarar para ela! – protestou Alex já no primeiro degrau.

— Se declarar não, mas você não a viu hoje, estou fazendo um favor a você e ao seu humor melancólico que durou toda a manhã.

Alex riu pela expressão de seriedade do amigo e encarou a escada a sua frente.

— Vai lá, você precisa disso.

Sem olhar para Thomas o garoto aprumou a alça da mochila e começou sua subida. Cada passo parecia uma batida do seu coração e na aceleração que ele se encontrava, em poucos segundos o mesmo se encontrava de frente ao corredor do segundo andar.

Ele não estava movimentado e, pelo contrário, parecia até mais vazio do que realmente deveria estar. 

Alex caminhou lenta e gradualmente até a porta da sala de Arabella e respirou fundo antes de entrar.

Mas antes que sua mão alcançasse a maçaneta um baque estrondoso inundou o corredor. Os ouvidos de Alex aguçaram-se e ele perdeu toda consciência do corpo quando ouviu as palavras que saíram em gritos de dento da sala.

— Me larga Miguel!

Alex abriu a porta com tudo e não se deu nem um segundo para avaliar a situação. Miguel estava prensando Arabella na parede com uma das mãos lhe apertando a face enquanto a outra se encontrava prestes a rasgar sua tão bela roupa social.

Com o barulho da porta a atenção do homem vacilou para o rapaz, tempo suficiente para a jovem se desvencilhar dele.

Alex se lançou na direção do mesmo, com tudo, acertando um soco certeiro e pesado no olho do homem. Miguel grunhiu segurando o local da pancada e, com a visão do único olho que lhe sobrara, revidou o soco, quase sem força.

A dupla se atracou enquanto Arabella encarava a cena admirada. Alex era rápido e se esquivava com facilidade das investidas de Miguel, que se o acertassem de forma certeira, o renderiam uma bela ida ao hospital.

Houveram mais socos, de menor intensidade e que acertaram vacilantes seus alvos, e uma rasteira.

Miguel foi ao chão num baque, batendo a cabeça, e o garoto se pôs sobre ele, segurando-o pela gola da camisa.

— Fique longe dela – cuspiu as palavras.

O homem, tonto pelas pancadas, grunhiu numa resposta desafiadora, mas caiu com a cabeça no chão em seguida sem conseguir fazer qualquer esforço. 

Alex respirou fundo, recobrando a razão, quando sentiu o olhar da garota sobre si.

Ele estivera raivoso demais com aquele homem a sua frente para perceber o que realmente fizera. Arabella devia achar que ele era ainda mais como uma criança, impulsivo, fazendo tudo lhe dá na cabeça, e se xingou por isso.

Por outro lado, na visão da jovem, Alex passava longe do que imaginava estar sendo. Era mais do que óbvio que Arabella conseguiria escapar das mãos de Miguel, fora treinada para tal e se havia conseguido se livrar daquele maldito homem fardado no caso com Samuel, Miguel era fichinha com ela conhecendo seus prontos fracos.

Ela só não esperava que ele aparecesse ali e sem pensar duas vezes a defendesse.

A garota se sentia extremamente feliz pelo ato. Ele a defendeu de pronto e esse pensamento fez com que rasas lágrimas lhe brotassem nos olhos. 

Era um misto de sentimentos novos e ela tinha certeza, que entre eles, se encontrava a felicidade.

Alex levantou cambaleante pelos socos trocados e trotou até onde a jovem se encontrava. Ele abriu a boca para dizer alguma coisa, se explicar talvez, mas nada saiu. Arabella o avaliou rapidamente e agradeceu mentalmente por ele não ter se ferido.

Os olhos amendoados, tomados de auto desaprovação, caíram sobre os esverdeados de Arabella, num silencioso pedido de desculpas.

Ela correu e o abraçou.

Alex ficou atônito por breves segundos até perceber o que acontecia. Arabella o apertou com força contra si controlando seu desejo de derreter naquele calor.

Alex a envolveu em seus braços, num abraço desajeitado, e apoiou o rosto dela em seu peito.

Era a primeira vez que eles tinham esse tipo de contato, pensou Alex ainda no turbilhão que o tomava, aquele era o primeiro abraço da dupla.

Arabella afundou o rosto no peito do garoto e pela primeira vez sentiu o fraco, mas delicioso aroma de sabonete que o mesmo emanava. Ela nunca estivera tão próxima a ele, pensou, e se permitiu afundar ainda mais naquele calor acolhedor.

Longos segundos se passaram. Eles lentamente se separaram e ao se entreolharem sorriram um para o outro. Sem qualquer palavra a dupla deixou a sala, com um Miguel ainda atordoado no chão gélido.

Alex guiou a jovem escada abaixo segurando fortemente sua mão, como que com medo de perdê-la, e encarando as costas eretas do garoto ela não conseguiu controlar o sorriso.

Toda a postura dele o denunciava. Estava apreensivo e preocupado, nervoso.

Mas mesmo que a jovem conseguisse distinguir tão bem a perca de compostura de Alex, ainda não havia processado o acontecido.

Como a conversa deles chegou naquele ponto?


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Notas finais do capítulo

Touché.

[Não sei se conseguiu ficar claro no texto, mas o período discorrido no início aconteceu no decorrer de duas semanas: com a sexta-feira do capítulo sendo quatorze dias após a do capítulo anterior.]



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