Espion Noir escrita por carlotakuy


Capítulo 16
XVI.


Notas iniciais do capítulo

Feriado é dia de relaxar, então nada como um dia relaxante e tranquilo para nossos personagens também!



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Após as aulas Alex rumou até o estacionamento com uma estranha animação. Tivera de comentar com Thomas sobre sua saída naquele dia e sob as risadas do amigo conseguiu mais uma desculpa.

Naquele momento ele se perguntou o quão próximos os dois se encontravam. Que tipo de relacionamento era aquele de professora e aluno que saiam juntos para comprar roupas​ juntos?

Alex fez uma careta com o pensamento, que logo desapareceu quando ele avistou o vestido esvoaçante de Arabella. Ela digitava algo no celular com uma expressão séria enquanto o vestido de um azul celeste se debatia contra a ventania. 

A mesma se encontrava encostada a um Fox branco, com as chaves, aparentemente do mesmo, enroscadas em seus dedos.

Quando ela o viu um sorriso animado surgiu em seu rosto e o celular foi completamente esquecido. Alex corou com toda atenção sobre ele, mas continuou passo a passo aproximando-se e sentindo o corpo inteiro agitado.

— Você realmente veio! – comemorou a jovem.

— Achava que não viria? Você me deu um ultimato!

Arabella riu fazendo o garoto sorrir.

— Não seja dramático – ela destravou o carro pelo molho de chaves – e então, pronto para uma aventura?

Alex sorriu tirando a mochila das costas.

— Só se minha segurança for garantida.

A jovem fez uma careta para ele abrindo a porta.

— Engraçadinho – ironizou enquanto o garoto a imitava.

Com os dois dentro do carro ela deu partida, saindo do estacionamento em seguida.

— Para onde vamos? – perguntou Alex, já de cinto posto.

Arabella sorriu e passou a marcha dobrando na curva.

— Você vai saber quando chegarmos lá.

— Estou sendo arrastado para o inferno – murmurou o garoto recebendo uma tapa de Arabella.

Ambos riram. Dentro do carro Alex comentou sobre suas últimas tentativas de comprar roupas sozinho, fazendo a jovem gargalhar pelas descrições que ele próprio fazia de si.

O tema ainda cruzou por preferências e hobbies e enquanto Alex observava a jovem dedilhar no volante pensando seriamente sobre sua comida favorita ou a cor que mais lhe atraia, ele se sentiu estranhamente íntimo dela.

A partir daquele momento o garoto poderia afirmar com convicção a preferência dela pelo tom preto, por pizzas e hambúrgueres, por gatos ao invés de cães, pelo frio ao invés do calor e pela companhia dele a do seu companheiro de projeto.

Aliás, quando o tema Miguel entrou na conversa Alex se sentiu imediatamente incomodado. Mas assim que Arabella começou a reclamar dele Alex pôde perceber uma ínfima felicidade se alojar dentro de si.

Seu amigo Thomas denominaria isso de ciúmes, mas ele ria quando isso acontecia. Ciúmes? Por que ele teria ciúmes dela?

Talvez porque você goste dela, lembrou-se do que Thomas dissera quando foi questionado sobre sua implicância com Miguel durante toda a semana. Mas não, não seria isso.

Arabella também não podia dizer que aquela atmosfera íntima em seu automóvel não havia lhe afetado. Confirmando isso, vez ou outra, entre uma pergunta dele e uma resposta do mesmo ela fazia questão de o observar de canto de olho.

Era tudo tão natural que a jovem desejou que aquela agradável conversa e as animadas risadas durassem para sempre. Que não tivesse que, ao sair daquele carro, voltar a interpretar mais um papel.

Há quanto tempo ela havia transformado Arabella numa versão dela mesma? Com sinceridade, ela não saberia dizer.

Em algum momento entre monitorar o garoto e conviver com ele, ela deixou que a personagem saísse de cena.

E tinha consciência disso.

Arabella agora era a parte mais verdadeira dela e por conseguinte a parte que ela mais temia em mostrar. 

Envolver-se com Alex estava, claro, dentro do plano. Nada amoroso ou tão íntimo, mas se aproximar a fim de conseguir mais informações para o caso era a parte saudável da missão.

A patologia começou quando ela gostou de estar na companhia do garoto. De vê-lo estudar e da forma atenta que ele lhe olhava quando lhe explicava os assuntos, do modo como ele ruborizava com algumas de suas ações e quando, naquela noite de sábado, estiveram tão próximos a ponto de se beijar.

Arabella sabia que era problema, mas não mexeu um dedo para impedir que essa aproximação acontecesse. E pior: parecia reforçá-la, como naquele exato momento, em que estavam indo juntos fazer compras no shopping.

Se suas irmãs a vissem, com certeza iriam rir.

Quando Arabella parou o carro no estacionamento quase teve que arrastar Alex para fora dele. Andaram por quase todas as lojas do shopping e em todas ela sentava-se nos assentos de frente ao provador e fazia o jovem mostrar-se para ela.

Mas vestido com as roupas escolhidas, claro.

Ela ria muito quando as roupas ficavam maiores do que aparentavam, ressaltando a forma franzina do rapaz, ou quando ficavam menores colando-se ao seu corpo. 

Alex resmungava sempre, mas ria junto com ela, fazendo comentários brincalhões sobre o estilo que as roupas faziam em seu corpo.

Às vezes eles entravam em lojas de roupas extravagantes e ambos experimentavam as roupas, rindo um do outro pelos estilos que misturavam.

Alex surpreendeu-se quando a jovem, desta vez com mais seriedade, engatou numa procura pelas roupas de verdade que eles comprariam e separou combinações que ele jamais escolheria, mas que lhe serviram perfeitamente.

Durante a última troca Arabella o examinou de cima a baixo, com os olhos atentos e avaliativos. Alex corou sentindo o corpo esquentar sob o olhar da garota e o fez ainda mais quando ela se aproximou, desamassando algumas partes da camisa e dobrando outras.

Eles estavam tão perto que o doce cheiro de ameixa se fez rapidamente presente. 

Alex​ nunca gostou de ameixa, mas o cheiro de Arabella o deixava instantaneamente inebriado, desejando senti-lo cada vez mais. Às vezes, sem perceber, ele também lhe despertava outras reações, estas, bem entre suas pernas.

Quando terminou de arrumá-lo a jovem sorriu para si mesma, admirando seu próprio trabalho e notou próximo ao bolso da bermuda do garoto um estranho amassado. Sem pensar muito ela passou a mão para tirá-lo.

Tamanha foi a surpresa quando a estranha deformação na vestimenta sequer se modificou e a mão da jovem bateu contra algo duro e quente. 

Arabella paralisou aonde estava, ainda com a mão suspensa no percurso de volta, e lentamente voltou seu olhar para o garoto.

Alex estava corado. Ele deu alguns passos para trás, entrando com tudo de volta no trocador, e fechando mais que rapidamente a cortina. 

Sozinha Arabella encarou sua mão e sentiu-se também esquentar. Havia tocado sem querer na ereção do garoto e ela parecia estar bem vívida.

 

•••

 

Quando saíram da loja buscaram agir como se nada tivesse acontecido e a tática até que funcionou muito bem enquanto, vitoriosos pelas compras, pararam para tomar um sorvete de casquinha. 

Alex riu com Arabella sujando boa parte das mãos e do rosto com o gelado e a tentou ajudar, melando-a ainda mais no processo.

Com uma careta ela o observou rir novamente e o sujou propositalmente também.

— Ei! – protestou o mesmo, ainda rindo.

— Pra ver se esfria essa cabeça de cima – resmungou a jovem dando uma grande mordida no sorvete.

Alex fez uma careta ao comentário e foi a vez de Arabella rir e bater seu ombro no dele.

— Qual é, tudo bem, é coisa da idade.

Ele ergueu instintivamente a sobrancelha para Arabella que fez sua maior expressão falsa de inocência.

— É mesmo, sou uma criança para você – rebateu o mesmo imitando a mordida no sorvete.

— Uma criança...

Por um momento Arabella refletiu nas palavras dele encarando a vitrine de frente ao assento em que jaziam. Ela realmente o via como uma criança?

O silêncio da garota ao lado aguçou a curiosidade do rapaz que, ao bisbilhotar de canto de olho, viu uma expressão que nunca havia visto no rosto de Arabella.

Ela parecia estar dispersa.

Depois de alguns segundos fora do ar a mesma sorriu e balançou negativamente a cabeça.

Alex a observou atento, mas ao vê-la se levantar a fitou em confusão. O que aqueles gestos queriam dizer?

— Vamos? Está ficando tarde – a jovem olhou seu relógio de pulso.

— Claro – levantou-se.

A dupla caminhou de volta ao estacionamento em silêncio. Só ao abrir a porta e alojar as sacolas no banco traseiro, fechando-a em seguida, foi que a jovem se pronunciou.

— Você não vai precisar comprar roupas pelos próximos anos – brincou se acomodando no banco do motorista.

— Pode ter certeza que sim – Alex sorriu sentando ao seu lado.

O percurso de volta foi mais silencioso. E entre alguns poucos comentários sobre o trânsito e a rádio Alex lançava olhares furtivos para a garota ao seu lado. O que ela quis dizer ao balançar a cabeça naquela hora?

Que não o via como uma criança ou que não dava para vê-lo sem ser como uma criança? Seus neurônios tentavam inutilmente achar a fórmula para esses questionamentos, mas nada parecia surtir efeito.

Afinal, só Arabella poderia responder aquelas perguntas e ele não estava disposto a perguntar.

Arabella desligou o carro de frente a casa de Alex e a dupla se entreolhou, sorrindo em seguida.

— Chegamos – comentou a jovem.

— Sim – ele assentiu tirando cinto – sabe o que é mais estranho?

Ela o fitou curiosa.

— O que?

— Nos conhecemos há duas semanas e saímos para fazer compras juntos.

Eles riram brevemente e Arabella se apoiou na direção com o tronco voltado para o rapaz.

— A culpa não é minha se decidiu usar o uniforme escolar no nosso encontro e me fazer parecer sua mãe em todas as lojas que fomos – brincou.

Eles riram novamente.

— Dá próxima vez me lembre de separar meu smoking.

— Próxima vez? – ela lhe lançou um sorriso divertido – Está esperando que saiamos novamente?

— E por que não? – Alex piscou.

Arabella momentaneamente ficou sem palavras, dando tempo suficiente do garoto abrir a porta e sair do carro sem esperar resposta. Após tirar suas sacolas ele parou na janela da porta do carona.

— E então, até segunda?

A jovem deixou seus olhos caírem dentro dos dele e sorriu assentindo.

— Até segunda.

A dupla se despediu com acenos e enquanto observava as costas eretas do garoto um sorriso de lado surgiu nos lábios de Arabella.

Alex virou antes de abrir a porta e acenou mais uma vez, sorrindo para Arabella, que o retribuiu dando partida no carro. O garoto entrou e ela seguiu seu rumo, tamborilando no volante.

— Criança? – riu voltando-se ao retrovisor, com os olhos caçando a casa do garoto – É claro que não.


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