Espion Noir escrita por carlotakuy


Capítulo 14
XIV.


Notas iniciais do capítulo

Sendo rápida: essa semana tenho provas me engolindo dos pés à cabeça, então, como provavelmente não terei tempo para respirar resolvi adiantar um pouco por aqui e deixo com vocês​ um pedaço beeeem grande da história! Espero que apreciem ♥



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Durante todo o final de semana Arabella permaneceu na cama, fosse mexendo no laptop, vendo filme, lanchando ou jogando. As lembranças da festa vez ou outra lhe voltavam a mente e ela sorria sem perceber. 

Foi uma das primeiras festas adolescente que havia ido, tirando a sua própria, que ocupou um salão inteiro com convidados que ela sequer sabia o nome, e com uma família que sequer era a dela.

Rolando pela cama ela lembrou-se, com desgosto, da loira que viu beijar Alex. 

Não sabia por que aquela visão a havia incomodado tanto, mas depois dela, a própria presença do garoto a deixou desconfortável.

Ainda que durante toda sua estadia lá a presença dele tenha lhe significado muito. E tanto significou que Arabella não havia conseguido qualquer informação adicional para sua pesquisa, ainda que tenha ido especialmente para isso.

Foi realmente para isso que ela havia ido?, retrucou sua consciência.

E ainda assim ela tinha feito tudo ao contrário e ao invés de coletar o máximo que podia do garoto, para descobrir sobre as suspeitas que caiam nas costas do mesmo, havia simplesmente negligenciado tudo. E se divertido como nunca antes.

Essa questão assombrou a jovem durante todo final de semana e, enquanto revezava entre filmes e jogos, Arabella não conseguiu esquecer o calor que sentiu enquanto dançavam. 

Ou quando riu junto ao mesmo, genuinamente, por cair desastrosa em cima das outras garotas. Ou até mesmo quando ele, sem intenção alguma, lhe fazia uma cara sexy ao puxá-la de volta, para salva-la de mais um tombo.

Quando essas lembranças vinham a garota gritava contra o travesseiro, abafando os pensamentos que lhe inundavam a cabeça. E todos eles se resumiam única e exclusivamente a um só: Alex.

Segunda feira de manhã Arabella se levantou cedo e após um longo banho para acordar sentou preguiçosa no sofá. Ligou sua televisão de monitoramento e observou, sem muito ânimo, o jovem se arrumar para a escola.

— Talvez fosse mais interessante se ele vestisse a roupa no quarto em vez do banheiro – resmungou.

Ela parou por um momento refletindo suas próprias palavras. O que diabos estava dizendo?

Assim que a porta do quarto dele abriu e Alex saiu para a escola Arabella desligou automaticamente a televisão. Um longo suspiro escapou dos seus lábios e ela se encolheu no sofá, com o pés encostando em seu tronco, ainda sentada.

Todos os pensamentos sobre Alex, fossem exclusivamente pelo falo dele ser seu alvo, fosse por ele ser um adolescente que lhe atraia pelo simples fato de ser quem era, não eram de inteiro bons para ela. 

Arabella tinha que fazer algo quanto a isso. E rápido, ou o destino de Alex não poderia ser um dos melhores.

Entre tantos pensamentos o laptop apitou no mesmo instante em que o celular da jovem iniciou um toque padrão. Ela encarou os dois objetos e puxou o celular, que jazia na mesa de centro, atendendo a ligação.

— Bom dia senhorita Arabella, somos da Junípero e estamos ligando para lembrar-lhe da reunião que havíamos marcado no domingo.

Um sorriso de canto surgiu no rosto da garota.

— Bom dia, agradeço a ligação, comparecerei aí no horário marcado.

— Tudo certo, tenha um bom dia.

— Vocês também.

Quando Arabella desligou o celular soltou um baixo gritinho de alegria, ligando em seguida a televisão normal num canal aleatório de culinária. Tudo estava indo perfeitamente bem.

Passada a euforia a mesma lembrou-se da notificação vinda do aparelho sobre o centro e o tomou em mãos.

A mensagem contida ali não poderia ser mais gratificante.

Toda a papelada está pronta para ser assinada.
                                                                              — M. A.

 

•••

 

Alex estava exausto sobre a carteira resmungando sobre guerra fria junto com seus colegas enquanto fingiam se dedicar no debate da aula de história, que havia tomado lugar da de biologia pela ausência do professor.

Thomas era o mais interessado entre todos do grupo, pontuando marcos importantes entre as duas grandes nações e discutindo com uma garota do outro lado da sala, que discordava de algumas de suas palavras.

Quanto tempo havia se passado ali? Segundos? Minutos? Horas? Tudo parecia uma eternidade e saber que era segunda-feira piorava ainda mais o ânimo de Alex. Nas segundas não havia aula particular de biologia.

Mas não que isso o estivesse incomodando imensamente, claro que não, era o que repetia para si mesmo.

Após mais um muxoxo Brad cutucou o amigo e fingindo perguntar sobre o assunto lançou mais um ultimato a Alex.

— E então, o que tem a falar sobre a garota?

Henry pareceu apurar os ouvidos com as palavras do loiro e se aproximou propositalmente roubando um sorriso do amigo. Alex respirou fundo, pronto para falar, mas como que por ironia do destino o diretor surgiu na porta.

O trio imediatamente se dispersou, fingindo anotar algo no caderno e até mesmo encarando o professor como se guerra fria fosse o tema de sua tese de doutorado, da faculdade que nem haviam iniciado.

O homem alto e grisalho que passou pela porta sequer prestou atenção neles e se encaminhou direto ao professor. Eles conversaram baixo por poucos segundos até o professor de história, baixo e moreno, se levantar e chamar a atenção da turma enquanto o diretor voltava a porta, chamando alguém do lado de fora.

— O diretor Ronald pede a atenção de vocês para um comunicado.

A maioria dos alunos assentiu sem saber muito como responder, e outros se dispersaram mexendo no celular e conversando baixinho entre si. Mas esse breve momento não durou muito quando uma cabeleira negra passou pela porta.

O coração de Alex acelerou com a visão e mesmo sem qualquer motivação da parte dele, ele soube que estava com um sorriso no rosto. 

Toda a sala se calou com a entrada de Arabella e de um outro homem.

Este era um pouco maior que a garota e possuía uma barba bem aparada. Seus cabelos e pelos do rosto eram de um castanho vivo que de tão claros se assemelhavam ao mais puro ruivo. 

O homem sorriu quando se posicionou ao lado da jovem, mostrando com clareza de detalhes seu maxilar quadrado, seu sorriso límpido e os olhos de um azul escuro.

Arabella se firmou altiva ao lado do diretor e lançou seu melhor olhar avaliativo pela sala, encontrando Alex com os olhos. Ela lhe abriu um sorriso tímido, como quem se encontra por acaso.

Mas era claro que a jovem sabia muito bem que o encontraria ali.

— Bom dia estudantes – pronunciou-se o diretor – como sabem, nossa escola está incentivando, desde o ano passado, projetos sociais. Assim como nos empenhamos durante as gincanas e jogos internos em contribuir ao máximo com nossa comunidade, desta vez resolvi fazer diferente. Com a ajuda de nosso corpo docente organizamos e desenvolvemos por nós mesmos, e quando falo em nós, quero me referir a instituição como um todo, um projeto social próprio.

Alguns jovens revezavam sua atenção entre a dupla intrigante e o velho diretor, confirmando com a cabeça sobre o que quer que o homem estivesse falando. Entretanto, para Alex, não havia outro lugar em que seus olhos pudessem estar se não em Arabella tão segura de si lá na frente.

Os seus amigos começaram a cochichar ao seu lado, mas ele permaneceu firme ouvindo atento as palavras do diretor.

— Pois bem – prosseguiu – gostaria de apresentar-lhes os coordenadores do projeto, senhorita Arabella Turner – a jovem deu um passo a frente com um sorriso – e Miguel Anderson.

O homem se pôs ao lado da jovem e eles se entreolharam numa concordância mútua.

— Certo pessoal – começou Arabella – peço um pouco da atenção de vocês.

Quando todos os olhares caíram sobre ela a mesma iniciou uma introdução ao projeto, que era voltado a auxiliar a comunidade carente da cidade, com uma horta pública, doações e outras ações sociais. O homem ao seu lado, Miguel, dava ênfase a todas as palavras da jovem, complementando os pontos positivos do projeto.

Alex, por mais que quisesse, não conseguia desviar seus olhos de Arabella e enquanto a esquadrilhava de cima a baixo, observando a blusa mais social e justa, a calça jeans arraigada a suas coxas e a pequena sapatilha com salto, se perguntou como ela conseguia parecer tão bonita de jeitos tão variados.

— Então estamos contando com vocês para fazer desse projeto real – finalizou Miguel.

— Alguma pergunta?

O questionamento de Arabella gerou várias mãos levantadas e rindo pela grande quantidade ela indicou a primeira pessoa.

— Qualquer pessoa pode participar?

— Sim, qualquer pessoa. Irão ser vários atos sociais, vocês podem contribuir da forma que puderem.

— Quantos anos vocês tem?

— Eu tenho trinta e dois e ela vinte e dois.

— Vocês são parecidos, são irmãos?

Miguel riu e a jovem sorriu em contra partida, negando com a cabeça.

— Somos colegas de trabalho.

— Amigos, na verdade.

Corrigiu o homem fazendo toda a sala soltar um chiado de malícia. Arabella fuzilou Miguel com o olhar enquanto este deu de ombros fugindo do esporro.

— Sem perguntas que não tenham ligação ao projeto, por favor – interveio o diretor.

Várias mãos se abaixaram e apenas uma se manteve de pé. Era Thomas. Arabella o fitou com estranha curiosidade, enquanto, de soslaio, viu Alex cobrir vergonhosamente o rosto.

— Você e o Alex se conhecem?

Alex soltou um longo suspiro enquanto sorrisos sacanas surgiam nos rostos de seus amigos. Miguel encarou a jovem confuso e a mesma, com um sorriso de lado no rosto, assentiu.

— Sim, nos conhecemos, não é Alex?

Toda a sala vibrou e o garoto quis se esconder debaixo de um poço bem fundo. Henry e Brad riram abertamente enquanto Thomas bateu no ombro do amigo, que sem olhar para ninguém, concordou com a cabeça fazendo mais barulho soar na sala.

— Como vejo que não tem mais nenhuma questão quanto ao nosso projeto, iremos sair, não vamos atrapalhar mais sua aula professor – Miguel voltou-se ao homem que acenou em resposta.

— Se quiserem mais alguma informação ou desejarem participar nos encontramos na sala 405 do segundo andar – continuou Arabella – foi um prazer nos conhecermos.

— Faço das palavras dela as minhas – completou Miguel.

Suspiros femininos tomaram a sala. O diretor apertou a mão do professor, desculpando-se pelo contratempo e rumou a porta, saindo junto a dupla.

Mas antes de sair, e como não podia perder a oportunidade, Arabella lançou um olhar discreto até Alex e, percebendo que ele a observava com o rosto tomado de rubor, lhe sorriu acenando.

Quando a porta se fechou Arabella ainda pôde ver os amigos de Alex brincarem com ele, com empurrões e cascudos enquanto o mesmo tentava se explicar e ficava cada vez mais vermelho.

Arabella riu consigo mesma. Ela sempre adorava essas expressões dele.

 

•••

 

O resto da aula de história foi um inferno para Alex que passou os últimos trinta minutos da mesma explicando a seus amigos sobre a jovem que minutos atrás havia estado ali.

Brad não acreditou quando o garoto afirmou que ela era sua professora de reforço e o atazanou até conseguir finalmente aceitar. Henry ria vendo Alex tentando se explicar e Thomas o seguia, vez ou outra opinando no assunto.

Aliás, foi Thomas quem associou a mesma com a jovem que havia estado na festa, fazendo Alex novamente, nervoso como estava, explicar o que havia acontecido.

— Eu não acredito – soltou Brad após o monólogo do jovem – ela estava lá e eu não a vi? Que ultraje!

— Você estava bêbado morrendo – soltou Henry.

— Verdade – admitiu – melhor ela não ter me visto naquele estado, quem sabe ainda tenho chances com ela.

— Chances? – Thomas arqueou a sobrancelha.

Um sorriso sacana surgiu no rosto do loiro.

— Vocês realmente acham que vou deixar essa me escapar?

— Ela não é as garotas que você brinca, Brad – lançou Alex, com ar de indiferença.

— Ainda não – atentou o rapaz.

— Ela deve nos ver como crianças – comentou Thomas – viu a postura dela lá na frente?

Alex ia concordar, mas algo lhe fechou a garganta. Arabella o via realmente como uma criança, mas e seus amigos? Ela também os veria?

— Então serei o adulto que ela vai implorar para ter – piscou o loiro.

Os outros três reviraram os olhos fazendo o amigo rir. O resto da aula foi mais um monólogo de Alex sobre Arabella, da forma mais superficial possível.

Quando o sinal soou, anunciando o final das aulas, o grupo rumou a porta com mochilas nos ombros. Entretanto, Brad interceptou os amigos puxando-os para a escadaria e eles logo entenderam o que o loiro pretendia. 

Sem perceber Alex revirou os olhos.

— Não acredito nisso – soltou o rapaz.

Brad virou-se para Alex com um sorriso nos lábios.

— Estou muito motivado em ajudar a comunidade, qual é.

Os outros riram, exceto Alex que pesarosamente seguiu-os até o segundo andar na direção da sala do projeto. 

O segundo andar era o piso mais utilizado para atividades extracurriculares, contendo salas de aula de música, letras e até mesmo culinária, com um longo corredor repleto de portas.

O jovem se perguntou, durante todo o percurso, como seria o reencontro com a professora. Depois daquela noite ela ainda o trataria igual?

Depois daquela expressão que ela havia feito...

Alex franziu o cenho. 

A lembrança dela nervosa sobre a mesa de bebidas, com o rosto corado e cabelos bagunçados parecia nova em sua memória. Havia realmente acontecido?

O grupo parou de frente a porta e agindo no automático Alex abriu-a. Após os primeiros passos para dentro do recinto os olhos esverdeados capturaram os amendoados do garoto. 

Ambos sorriram e o jovem soube, de imediato, que aquela cena não era fruto da sua imaginação fértil ou dos seus hormônios.

Era tão real e vívida quanto aqueles olhos que o tragavam.

— Alex! – a voz dela soou, animada, despertando-o do transe.

Constrangido pelos olhares que caíram sobre ele o mesmo acenou respondendo ao chamado da jovem e roubando um sorriso da mesma.

O grupo já se encontrava em peso dentro da sala e a porta pela qual entraram jazia fechada. O cômodo era largo e de um tom branco gelo, com cerâmica alva por toda extensão do chão. Nas paredes à lateral da porta se mantinham pequenos sofás de dois lugares, já ocupados pelas bolsas de Alex e Thomas.

Depois dos estofados se encontravam dispostas duas escrivaninhas, uma de frente para a outra, com os nomes de Arabella e Miguel em evidência, porém com o mesmo design: cinza metálico, com diversas gavetas na lateral e um notebook sobre elas, vinculado a uma impressora grande. 

Logo atrás delas jaziam grandes armários de arquivo que tomavam conta de boa parte da parede.

As únicas cadeiras no cômodo ocupavam os dois lados das escrivaninhas enquanto sobre as paredes vários documentos emoldurados enfeitavam o local. 

Em cantos estratégicos do cômodo, pequenos vasos, com flores coloridas, completavam a decoração, em conjunto a um pequeno bebedouro azul. 

— Arabella, não é?

Brad apressou-se caminhando até a jovem. A mesma estava parada de pé próxima ao armário de arquivos, com uma das gavetas abertas, claramente tendo parado sua procura com a chegada do grupo. Arabella sorriu simpática.

— Sim, eu mesma. A que devo a visita?

Ela fechou a gaveta e, ignorando a aproximação do garoto, voltou até sua escrivaninha sentando na cadeira atrás dela. O loiro, notando o recuo, não se deu por vencido e se apoiou na parte frontal da mesa inclinando-se sobre a jovem.

O trio logo atrás se entreolhou soltando um longo suspiro.

— Viemos nos inscrever no projeto.

— Ei! Fale por si só – protestou Thomas.

Henry e Alex riram roubando um sorriso de Arabella.

— Parece que seus amigos não estão nem um pouco empolgados.

— Se eles não estão eu estou – fez uma careta para o grupo, roubando mais risos.

Arabella prontamente sentou-se ereta na cadeira e encarou o loiro no fundo dos olhos. Por um momento ele se sentiu estático.

— Olha, Brad, não é? Se estiver tentando entrar com o intuito de me paquerar, saiba que levarei isso ao diretor.

O loiro gelou aonde estava.

— Segundo, isso é um projeto sério, não irei admitir brincadeirinhas adolescentes aqui, está me entendendo?

Brad assentiu lentamente enquanto o trio logo atrás se encarou nervoso.

— Ela é assustadora – comentou Thomas baixinho para Alex.

O mesmo assentiu vendo a expressão firme que a jovem fazia para seu amigo. Todo o ar ao redor deles, além do frio ameno do ar condicionado, era tomado de tensão, que aumentou ainda mais quando Arabella se encostou a cadeira em que estava com um lápis de ponta fina em mãos.

Era a personificação de um demônio, pensou Brad.

— Então o que me diz de pensar um pouco sobre isso? Volte aqui amanhã se realmente estiver interessado e podemos conversar, certo? – ela sorriu.

Brad concordou rapidamente e com um sorriso nervoso se afastou da mesa.

— Farei isso sim, muito obrigado.

Num só movimento ele virou-se e puxou Henry consigo, que saiu da sala protestando por estar sendo arrastado. Quando a porta fechou Thomas e Alex trocaram olhares nervosos, mas ao voltaram-se para Arabella tudo pareceu completamente normal.

A jovem riu às gargalhadas roubando sorrisos da dupla.

— Vocês viram a cara dele? Foi impagável!

Thomas riu junto a mulher batendo seu ombro no do amigo. Passado alguns segundos de risos Arabella respirou fundo e, retomando sua postura usual, indicou as cadeiras a frente da mesa para os jovens sentarem.

— Como sabia a fraqueza dele? – perguntou Thomas assim que sentou.

— Conheço só de olhar – deu de ombros – e então, a que devo a honra?

A pergunta foi direcionada a Alex que ao vê-la tão casual como sempre sentiu as lembranças da festa como algo distante e até mesmo inalcançável.

Ela não se lembrava?

— Fomos arrastados por ele – admitiu – mas você mandou muito bem.

— E não foi? – ela riu de novo.

— Onde está o tal Miguel? – perguntou o mesmo se apoiando no encosto da cadeira.

— Ele saiu faz meia hora – comentou como se não fosse nada demais – provavelmente deve estar atrás de garotas para se inscreverem, ele é sempre assim.

— Se conhecem de muito tempo?

Arabella lançou um olhar divertido para o garoto que percebeu seu tom ser um pouco mais interessado do que o normal.

— O conheci quando cheguei a cidade. Ele é professor de antropologia da universidade daqui.

Alex soltou um chiado de concordância fazendo Thomas rir.

— E você, quem é? – voltou-se ao castanho – Me perdoe os modos.

O garoto sorriu.

— Tudo bem, não se preocupe. Sou Thomas, fiel escudeiro do Alex.

Alex o fitou com a sobrancelha arqueada e recebeu um piscar de olhos do amigo.

— Ele me falou sobre vocês. Isso inclui os dois que saíram às pressas – apontou para a porta.

O castanho assentiu inclinando-se para a mesa com um sorriso divertido no rosto.

— Alex fala muito sobre nós?

Arabella retribuiu o sorriso.

— Sim, injusto não acha?

— Muito. Acho que devo retribuir o favor.

Alex fez uma careta e a dupla riu. Logo uma conversa animada sobre o jovem foi iniciada. Thomas e Arabella se divertiam enquanto Alex tentava se explicar nas histórias que Thomas contava sobre ele.

Sobre o quão alto o ronco dele atrapalhava as aulas ou como ele sempre recebia reclamações  dos professores mesmo sem ter feito nada. Ou até a sua péssima habilidade com qualquer tipo de esporte.

O grupo riu animado por longos minutos até a porta abrir e mostrar Miguel, que de imediato os fitou em confusão.

Thomas e Alex se calaram enquanto Arabella pigarreou e remexeu em alguns papéis fingindo organizar uma papelada.

— Então estão certos em entrar no projeto?

Ela conteve o riso pela expressão da dupla.

— Claro... – começou Alex tentando olhar para Miguel por cima dos ombros.

— Sim... – continuou o amigo fazendo o mesmo.

— Então deixarei o nomes de vocês aqui. Amanhã no intervalo, caso desejem confirmar, venham até aqui.

— Não pode ser depois das aulas? – perguntou o castanho.

— Não estarei aqui no período da tarde. Quem vai estar no meu posto durante esse horário é Miguel. E não quero ele roubando os garotos que eu conseguir. Ouviu Miguel?

Falou mais alto fazendo surgir um sorriso no rosto do homem que bebia água calmamente no bebedouro na lateral do cômodo.

— Por que não vai estar de tarde? – reforçou Thomas.

Alex sentiu o olhar da jovem passar por si antes de responder e se deu conta de que durante a tarde ela estaria com ele, no reforço. 

Um sorriso de canto surgiu em seu rosto com a percepção.

— Por que estarei em outro lugar – piscou.

Thomas fez uma careta, não aceitando muito bem a resposta, enquanto Alex corou, desviando o olhar. Arabella riu brevemente abrindo uma gaveta lateral da escrivaninha e pondo lá dentro os papéis com os nomes dos jovens.

— Então estamos indo – o castanho se levantou.

— Nos vemos amanhã – ela pousou o olhar sobre Alex – garotos.

O mesmo imitou o amigo, levantando, e no tempo de Thomas ir buscar sua bolsas no sofá Alex foi puxado de encontro a mesa.

— Como foi a aula de biologia? – perguntou a jovem no tom mais baixo que conseguiu.

O jovem franziu as sobrancelhas roubando um sorriso da mesma.

— Como sabe minha grade de aulas?

Arabella piscou.

— Sou rápida.

O garoto sorriu em resposta.

— Na verdade não teve hoje, o professor faltou.

Ela assentiu soltando o braço do rapaz. Alex sentiu o local do toque formigar por breves segundos, sentindo falta de pele da garota.

— Certo, amanhã você poderia passar aqui antes de ir para casa? – o coração do jovem acelerou.

— Você não ia sair de tarde?

Arabella lançou um sorriso divertido para o mesmo.

— Eu vou dar as suas aulas, .

Alex riu baixo pela expressão da garota.

— Combinado então?

— Combinado o que? – perguntou Thomas se aproximando com um sorriso malicioso.

— Vocês virem aqui amanhã para confirmar o projeto – adiantou-se Arabella, lançando um olhar autoexplicativo na direção do homem que se encontrava atrás da dupla.

Thomas piscou captando o sinal.

— Estamos combinados – continuou Alex, se referindo ao assunto anterior.

A jovem sorriu vitoriosa e enquanto via a dupla seguir até a porta sentiu o coração comprimir-se. 

Depois de tanto tempo longe ver Alex havia renovado alguma coisa dentro dela. Mas algo parecia não ter mudado e o fato de ter tido tanta expectativa com o reencontro a deixo brevemente decepcionada.

Será que ele lembrava da festa? Lembrava dela? Do beijo que havia dado na loira?

Com um suspiro e ignorando o sentimento ela acenou para os mesmos quando estes saíram, deixando-a sozinha com Miguel. 

O homem, imediatamente após a saída dos garotos, voltou-se a ela jogando seu peso sobre a cadeira do outro lado do cômodo.

— Como anda a colheita?

Os olhos esverdeados da jovem cruzaram o vão até baterem com os azulados e ela deu de ombros.

— Não é da sua conta.

Miguel sorriu e depositou o copo ainda cheio de água sobre a sua escrivaninha.

— Desde que você me arrastou para sua missão, deveria ao menos me deixar a par de tudo.

A jovem sorriu com desdém.

— Estou pagando você bem demais para reclamar, não acha?

O homem elevou as mãos em sinal de inocência e girou na sua cadeira giratória, ficando de frente ao grande armário.

— Como quiser, Lúcia.

— Meu nome nessa missão é Arabella— retrucou digitando no teclado sem prestar muita atenção ao mesmo – Miguel.

O homem riu puxando um documento de dentro da gaveta e voltando à mesa.

— Se me permite esse novo nome combina com você. Mais especificamente com os seus olhos.

A garota não conseguiu não sorrir e acabou permitindo que seus olhos caíssem sobre a figura debruçada sobre a escrivaninha do outro lado. Miguel lhe sorriu piscando.

— Guarde seus galanteios para as adolescentes.

— É só um mal hábito meu. Releve.

— Estou relevando fazem quatro anos.

Eles permaneceram em silêncio por míseros segundos até a voz do homem novamente se pronunciar.

— Percebi que vocês se dão bem.

Arabella tirou os olhos da tela do computador e cravou-os em Miguel, que do outro lado da sala parecia não perceber o quanto aquelas palavras alertavam a moça.

— O que quer dizer?

— Você e o garoto. Parecem ser bem próximos.

— Estou fazendo meu trabalho, apenas isso.

— Isso me intriga, sabia? – Miguel abandonou o dispositivo voltando-se a jovem.

— O que? – ela ergueu as sobrancelhas para o mesmo numa posição desafiadora.

Miguel, claro, notou e seu sorriso saiu deliciosamente provocativo.

— Você ter me convocado para participar desse plano do projeto, com o intuito de observar ele mais de perto. Sendo que, pelo que parece, você já tem condições suficientes para terminar esse trabalho se quiser.

Os olhos esverdeados, tão calorosos para Alex, encararam frios a expressão de presunção do colega. Miguel era um ótimo profissional e ela sabia que podia contar com ele para a tarefa, mas sua curiosidade e o fraco por mulheres sempre foram empecilhos.

E quando ele não estava indo atrás de moças jovens e bonitas, estava ali, lhe pondo contra a parede por pura diversão.

Notando o ar sombrio que surgia Miguel encolheu os ombros tomando o último gole do copo que havia enchido.

— Mas isso é só o que eu acho. Não fique tão mal-humorada.

— Não estou mal-humorada.

— Claro que não – ele riu roubando um sorriso da jovem – e eu sou o próprio presidente.

— Não seja bobo – Arabella suspirou voltando ao computador – sabe que prefiro pecar pelo excesso.

— Sei bem – murmurou o mesmo imitando-a.

E assim passaram o resto da tarde, digitando formulários e organizando quadros de horário. Vez ou outra voltavam a conversar com assuntos mais triviais, ou relacionados ao trabalho que faziam no projeto ou sobre o dia a dia amoroso do homem.

Mas sempre que se calavam Arabella voltava seu olhar ao computador, sem realmente enxerga-lo a sua frente, pensando em Alex. Em todo o espaço que ele vinha ocupando e no modo como ela não queria que esse lugar só dele desaparecesse.

Antes que pudesse ir mais a fundo nesses pensamentos era sempre acordada pelo colega de trabalho e colocava tanto o garoto quanto sua missão em segundo plano. Mas tendo certeza, que na primeira oportunidade, eles voltariam.


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Notas finais do capítulo

Até a próxima próxima semana galera, hehehe ♥



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