Espion Noir escrita por carlotakuy


Capítulo 13
XIII.




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Na manhã seguinte Alex acordou morrendo de dor de cabeça e sentindo que toda a noite anterior havia sido um sonho. 

Revirando na cama ele gemeu pelo mal estar. Não conseguia lembrar como chegara em casa ou como o resto da noite se deu após a saída de Arabella, mas de uma coisa tinha certeza: ela havia salvado sua noite.

Se Arabella não tivesse surgido, do nada, na sua frente no gramado ele provavelmente teria lamentado, sozinho, até o amanhecer naquela inclinação. Se juntos não tivessem se divertido, qual seria a lembrança que guardaria de sua primeira festa?

Ele riu, sozinho, ainda sentindo o efeito do álcool ao pensar sobre isso. Sem Arabella, ele não saberia qual lembrança guardaria. Mas com ela sabia exatamente qual se encontrava cravada em sua memória.

Eles dançando e rindo no mar de adolescentes.

Deitado e encarando o teto ele sorriu. Com ela tudo parecia mais fácil. A conversa que sofreu para manter com Cléo, fluiu naturalmente com Arabella, até mesmo quando as bobagens saíram sem querer.

Talvez fosse porque ela o considerava uma criança.

Algo revirou-se nas memórias do garoto e confuso ele respirou fundo. Era como se uma parte estivesse nublada e naquele exato momento, ele não se lembrava da reação de Arabella na pista de dança. 

Fosse tão próximos de se beijar, fosse na saída da multidão quando a adrenalina ainda lhes corria nas veias.

Alex suspirou tristonho. Estava pensando tanto nela e pela primeira vez não entendia o que sentia.

Com dificuldade o jovem sentou na cama e encarou seu notebook desligado. Foram longos segundos nessa mesma posição até um outro suspiro escapar de seus lábios e sem qualquer cerimônia ele se lançar para trás, desabando na cama.

Aquilo teria que esperar.

 

•••

 

O domingo acabou tão rápido quanto começou e a segunda não tardou a chegar. Alex levantou com dificuldade naquela manhã, ainda se sentindo com ressaca. Fez sem muito esforço seu ritual matinal e após o café da manhã se encaminhou a escola.

Não demorou a encontrar Thomas, que sorridente o cumprimentou, iniciando o diálogo que Alex adiou por todo o dia anterior.

— E então, como foi a festa? O que achou?

O garoto fez uma careta e o amigo riu.

— Você ficou muito bêbado.

— Nem me lembre – Alex abanou com a mão afim de afugentar os pensamentos – ou melhor, me lembre, porque eu não lembro de nada depois do quinto copo.

Thomas riu novamente e batendo no ombro de Alex fez uma expressão pensativa.

— Digamos que o encontrei resmungando em um canto qualquer, reclamando daquela garota que falou com você no início e depois de uma outra, que não soubemos nem quem era.

— Reclamei de duas garotas?

— Na verdade só de uma. A outra... para falar a verdade, não lembro direito. Estava tão bêbado quanto você parceiro.

— E lembra disso tudo, se não estivesse...

Ambos riram. O resto do percurso foi preenchido pela experiência de Thomas na festa, como a briga que arrumou após beberem de seu copo, ou como foi parar no meio da piscina depois de contar uma piada numa rodinha de amigos.

Henry e Brad também não tinham tido experiências muito legais, mas contaram rindo sobre os esporros e brigas que arrumaram com namorados ciumentos e mães em fúria.

O período pré-aula foi marcado por diversas histórias engraçadas dos garotos, que fizeram Alex se sentir minimamente feliz por ter aceitado o convite. Podia dizer que estava presente em determinada cena e rir escandalosamente como se ele mesmo tivesse passado por aquilo.

Entretanto, de súbito, Brad lembrou-se de uma coisa que o inquietou bastante.

— Quem era aquela sua amiga Alex?

— Que amiga? – perguntou Thomas curioso.

O olhar de todo o grupo caiu sobre Alex que levantou as mãos em sinal de inocência.

— Não sei de quem ele está falando.

Na verdade o jovem sabia muito bem de quem seu amigo estava falando. Mas pretendia deixar todos os acontecimentos daquela noite, naquela noite.

O simples pensamento sobre a cabeleira negra fez reviver todo o calor daquele dia. Quando, sem qualquer segunda intenção, ele a segurou em seus braços e ela riu se apoiando nele.

Como seria o reencontro entre eles?

O coração do garoto acelerou e ele tentou afastar o pensamento, ainda que dentro de si desejasse algo a mais.

A verdade era que ele ainda não havia visto Arabella desde então e com pesar descobriu que além de seu nome, seu sorriso e a facilidade dela com biologia, Alex não sabia quase nada sobre ela.

— Sabe sim! – contestou seu amigo, o acordando dos pensamentos – Uma garota bonita com cabelos pretos.

— Não era Cléo? – interveio Henry.

— Não, não, essa era bem mais bonita— fez gestos com a mão delineando uma silhueta.

Henry riu junto ao loiro pela expressão enquanto Alex ganhava algum tempo. Contava ou não contava sobre ela? Eles eram seus amigos, mas dentro dele...

Todo o seu esforço em manter em sigilo se estilhaçou quando Thomas falou:

— Lembro de Alex falando de uma garota assim – os olhares foram para ele – ele parecia muito triste por ela ter ido embora – sorriu – será que foi abandonado garotão?

Todos do grupo riram e salvo pelo toque da aula Alex suspirou. O quarteto se encaminhou para sala, mas não sem antes Brad intimar o amigo a contar tudo direitinho depois das aulas.

A escola seguiu normal. E vez ou outra, entre prestar atenção ao professor de português e copiar suas palavras no caderno, Alex lembrava-se de Arabella. 

Com um suspiro ele apagou sua última palavra copiada e encarou o papel. Algo oscilava em suas lembranças o inquietando, mais especificamente no meio das pernas. 

Alex respirou fundo e apagou mais uma palavra. Thomas lhe tocou o ombro no processo e surpreso o garoto virou-se, fazendo o amigo rir baixo.

— No que está pensando?

Alex olhou para o professor, que não parecia se importar nem um pouco com a conversa deles, e em seguida para o garoto, suspirando mais uma vez.

— Na garota da festa.

Thomas abriu um largo sorriso e se inclinou ainda mais para o amigo, tocando teatralmente em sua própria orelha, incentivando-o a continuar. Alex sorriu para ele.

— Sabe a minha professora de reforço?

— Não me diga que... – Thomas arregalou os olhos.

— Exatamente. Era ela.

O amigo riu baixo fazendo Alex se constranger pelas poucas pessoas que os encararam pelo barulho.

— Não acredito! – riu novamente – Vocês dois realmente...

— Nós nada – cortou Alex – não teve nada Thomas.

— E você está pensando nela? – lançou um sorriso malicioso.

Alex sorriu.

— Pois é, tem algo errado comigo.

— Isso se chama adolescência – Thomas bateu de leve no ombro do amigo – seus hormônios se atraem por qualquer mulher mais velha.

— Ela não é tão velha assim – murmurou Alex.

Thomas ergueu a sobrancelha para o amigo, mas antes que esse lhe  respondesse, uma outra pergunta surgiu para o castanho.

— Ela é bonita como Brad disse?

Alex abriu a boca duas vezes e a fechou, sem saber como responder aquela pergunta. Nunca havia parado para admirar, em suas poucas aulas com Arabella, especificamente o corpo dela. Ainda que esse se sobressaísse naturalmente quando a mesma se alongava depois de muito tempo em uma determinada posição.

Arabella era bonita, de fato. A expressão suave de seu rosto, o nariz pequeno e as bochechas quase sempre coradas de frio saltavam aos olhos do garoto. Assim como os cabelos da mesma que vez ou outra, entre as pausas de suas explicações, faziam Alex se perguntar se eram macios como aparentavam.

Thomas deu um peteleco na testa do amigo que o fitou em confusão, notando que ainda não havia respondido. Um sorriso constrangido surgiu em seu rosto ao admitir para si mesmo que o corpo de Arabella lhe atraiu bastante naquela noite de sábado.

O garoto atrás dele riu abertamente pela expressão do amigo, chamando a atenção de boa parte da sala e interrompendo a conversa.

O resto da aula foi tranquila e enquanto copiava do quadro Alex se perguntou porque, horas atrás, estava tentando manter com tanto afinco Arabella em sigilo.

Ele por si só não sabia responder e enquanto copiava a outra linha algo totalmente fora de contexto cruzou seus pensamentos.

Porque ela havia ido embora às pressas?

O sinal tocou num grito desesperado, anunciando a próxima aula. Alex fechou seu caderno e guardou suas coisas com tranquilidade enquanto os amigos já o esperavam na porta, numa conversa animada.

Quando Alex se posicionou pronto para seguir para a próxima sala, um grupo de garotas assediou Brad e Henry. Eles lançaram olhares de socorro para Thomas e Alex, que riram vendo-os se distanciar no mar de alunos que preenchia o corredor.

Entre as garotas Alex viu Cléo e uma careta cruzou seu rosto. Thomas riu e puxou o amigo na direção da dupla que sumia de vista.

Alex deu os primeiros passos para seguir no corredor quando viu ao longe uma cabeleira negra bastante conhecida.

A garota estava de costas e usava uma calça jeans que lhe contornava com precisão as belas curvas.

O garoto virou-se para Thomas, ao seu lado, pronto para relatar o que havia visto, mas quando seus olhos, naquele curto espaço de tempo, voltaram-se para o local aonde a garota jazia, nada se encontrava lá.

— O que aconteceu? – perguntou Thomas seguindo o olhar do amigo e franzindo o cenho ao não encontrar nada.

— Não foi nada – respondeu Alex ainda piscando sem acreditar – apenas uma miragem.

O amigo riu puxando Alex pelos ombros, o desviando de um grupo no corredor.

— Vamos atrás dos meninos, eles não podem mais perder tanta aula.

O garoto assentiu, mas antes de sair do corredor lançou o olhar uma última vez para a lateral em que a jovem havia evaporado. Com um sorriso de desdém ele maneou a cabeça negativamente.

Já não bastava pensar em Arabella quase o tempo inteiro, ainda tinha que alucinar com ela?


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Notas finais do capítulo

Alex é muito meu neném ♥

[Informação importante: Na Junípero Serra as salas são divididas por matéria, logo, os alunos que migram de sala.]



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