Espion Noir escrita por carlotakuy


Capítulo 12
XII.




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— Alex?

Quando os ouvidos do garoto, tomados pelo álcool, ouviram a voz de Arabella ele sorriu, acreditando veementemente que era uma alucinação.

Seus olhos permaneceram fechados por longos segundos, e quando ele os abriu viu na sua frente a garota, lhe sorrindo animada.

Ela estava mais bonita do que quando lhe visitava em seu quarto.

Usava um vestido folgado e leve, num tom escuro, com agitados olhos claros carregados de maquiagem. 

Parecia tão diferente e ao mesmo tempo tão ela mesma, com seus longos cabelos ondulados lhe caindo pelos ombros, que Alex a admirou aturdido por breves segundos.

Arabella caminhou até a pequena inclinação em que ele se encontrava e parou em sua frente, balançando a mão sobre seu rosto.

— Está aí?

— Estou.

Novamente ela sorriu realçando os lábios avermelhados de batom. Uma amiga gritou seu nome e só então o garoto percebeu que ela viera acompanhada.

Logo atrás de Arabella jaziam duas outras garotas mais franzinas, uma de curtos cabelos loiros e outra de pele morena e madeixas rosadas.

— Podem ir na frente – gritou Arabella de volta e Alex a fitou assustado.

Desajeitado ele tentou levantar para impedi-la de fazer tal sandice – abandonar suas companheiras e ficar ali consigo –, mas tudo o que conseguiu foi levar um tombo, fazendo as duas figuras rirem enquanto prosseguiam para a festa.

Arabella, por sua vez, o salvou da queda, segurando em suas mãos e o impedindo de cair com tudo.

— Você bebeu?

Ele assentiu.

— Você deveria ir com elas.

Arabella o mirou com os olhos semicerrados e sentou vagarosamente ao seu lado.

— Por que?

— Ficar aqui comigo não vai ter nada de bom – disse dando de ombros – estou bêbado, abandonado e olhando para a bunda de outras meninas.

Arabella seguiu o olhar do garoto e riu de suas palavras.

— Você está encarando o nada.

— Mas imaginando bundas, com certeza.

Novamente a garota riu e roubou dele um sorriso. Logo eles ficaram em silêncio e quando juntos tentaram falar algo e automaticamente se interromperam, riram novamente.

— Você primeiro – ela bateu seu ombro no dele.

— O que faz aqui?

— Algumas amigas me convidaram – Arabella deu de ombros – pensei que como sou nova poderia conhecer algumas pessoas.

Alex soltou um murmúrio de concordância e balançou a cabeça na direção da mesma.

— Sua vez.

Arabella juntou as mãos e encarou o movimento de jovens na porta da casa.

— Você foi abandonado?

Alex sorriu sofredor e assentiu.

— Sim, meus amigos estão lá dentro e...

A voz dele sumiu. Diria ou não diria a ela que havia sido abandonado também por uma garota? O pensamento o fez sentir-se estranhamente idiota.

— Só, simplesmente desapareceram – completou.

Foi a vez da garota fazer um barulho de concordância. Num salto Arabella levantou e estendeu a mão para o mesmo que a encarou confuso.

— Não adianta ficar aqui sozinho. Se a festa não vem até você, você vai até a festa, vamos!

— Eu não...

— Eu estou aqui, não se preocupe.

Os olhos dele perderam-se dentro dos dela e ele, lentamente, levantou, recebendo um sorriso de vitória da garota. De mãos dadas eles adentraram na casa, se espremendo no meio da multidão de jovens e da música alta.

A silhueta de Arabella, em conjunto com sua roupa, parecia definir ainda mais seu corpo, que para a percepção alterada do garoto a fazia se tornar extremamente sexy.

O que diabos estava pensando?

De súbito a garota parou e, tombando em suas costas, Alex fez o mesmo. Arabella virou-se para ele e a centímetros um do outro puderam sentir a pressão de seus corpos tão próximos.

— Me situe aqui dentro, por favor.

Alex riu, ainda sob o efeito da bebida, e indicou uma direção com a cabeça guiando-a até uma mesa mais afastada da multidão. A mesa ainda se encontrava cheia de garrafas, porém estas, quase vazias, denunciavam o excesso de bêbados.

— O que vocês, jovens, fazem nessas festas? – perguntou a garota debruçando-se sobre a mesa.

Com mãos ágeis ela encheu um copo com bebidas diversas e virou-se animada para Alex, que a observou ainda com um sorriso grogue no rosto.

— Eu não sei, realmente. É minha primeira festa.

— Com dezessete anos? – ela abriu um sorriso brincalhão.

— Não me lembre disso!

Alex se pôs ao seu lado também preparando uma bebida para si.

— Se não vai a festas, o que fez durante esses anos?

Arabella observou o mesmo fazer uma careta e riu.

— Jogo muito – admitiu entornando um copo cheio.

— Só? – ela deu um gole rápido em seu copo recheado.

— Sim – os olhos dele a fitaram – e você?

A pergunta a pegou desprevenida e enquanto bebia pensou rápido.

— Procrastino muito em sites diversos.

— Como os que vi no meu computador no nosso primeiro dia?

Ela riu novamente e piscou para o mesmo.

— Exatamente.

A pequena multidão atrás deles​ agitou-se e a música que ricochetava em seus corpos, numa batida intensa, iniciou novamente num som mais animado. A dupla se entreolhou com o estranho convite.

— Jovens também dançam?

— Se eles são jovens e estão dançando creio que sim – deu de ombros.

Arabella, sentindo o efeito das diversas bebidas, deu três pulinhos fazendo o garoto rir.

— Vamos dançar!

— Mas eu...

Ela o olhou insistente e sem forças para negar-lhe o pedido Alex apenas sorriu, bebendo de uma vez só mais um copo. 

A garota sorriu, animada, e fez o mesmo com seu mix alcoólico. Num único movimento ela o puxou e rindo a dupla adentrou no meio dos jovens.

De início eles não souberam o que fazer e sob o efeito da bebida se empenharam num balanço desastroso, que resultou em Arabella caindo sobre uma rodinha de garotas e Alex rindo, a ajudando.

— Siga os outros – sugeriu o garoto.

A dupla começou a imitar o grupo ao seu lado e numa dança desajeitada aproveitaram boa parte da música. 

Arabella ria, divertindo-se como nunca havia feito. Afinal suas missões não envolviam pessoas da sua idade, muito menos festas agitadas como aquela.

Alex girou a garota duas vezes e riu às gargalhadas vendo-a pender para os lados. Naquele momento eles não eram professora e aluno, nem mesmo jovem e adulta. Eram apenas duas pessoas que riam e se divertiam no balanço e na batida da música, que nenhum dos dois sabia qual era.

Após mais uma série de risadas eles tombaram e ainda gargalhando perceberam a estranha aproximação. Ela o tocava informalmente, agarrando-se nele quando pendia, e o garoto a puxava de volta para si pela cintura, quando desastrada, ela perdia o equilíbrio.

As vibrações vindas da música adentraram em ambos que ao alcançar o olhar um do outro, sentiram como se aquela batida viesse direto de seu coração. 

E um coração acelerado pode significar várias coisas, ainda mais quando se tem alguém com quem compartilhar isso.

Arabella foi a primeira a voltar a si e num impulso fitou Alex que já a encarava nublado pela bebida.

Os olhos caçavam uma ao outro no meio daquele mar de jovens e quando se encontravam, num balançar de suas cabeças, pareciam ferver seus donos.

Recebendo o olhar da garota ele piscou, quase desperto. A batida soou com força em ambos e a falta de espaço se fez ainda mais presente. 

Os grupos começaram a gritar animados com a nova música enquanto a dupla, perdida ali no meio, sentia o toque como o empurrão final.

Eles estavam próximos demais para protestar. Estavam inebriados ainda mais para impedir. Mas não houve beijo, apenas uma intensa troca de olhares.

Alex e Arabella foram tragados um pelo outro enquanto sentiam seus corpos se inclinarem para frente.

Suas testas se tocaram, seus narizes se encostaram e suas respirações, após segundos, entraram em sincronia.

Nenhum deles soube dizer quanto tempo aquilo durou.

O perfume doce que seguia Arabella se fez presente e o garoto fechou seus olhos, sentindo-a com toda intensidade. Ela, por sua vez, observou a ação do garoto e sabendo que o que estava fazendo se desviava completamente de sua missão prendeu ligeiramente a respiração retomando o controle de seu corpo.

Arabella pousou a mão no ombro de Alex o fazendo abrir os olhos assustado. Com dificuldade ela fingiu ser empurrada e colando seus corpos sorriu sem jeito, com o rosto encaixado no pescoço do garoto.

— Está muito apertado, não está? Melhor sairmos um pouco.

Alex processou as palavras da jovem enquanto seu corpo reagia descontrolado ao toque da mesma. Sua cabeça lentamente acenou um sim e aspirando profundamente, e sem querer, o cheiro doce de seus cabelos, ele abriu espaço para que ambos passassem, sem afasta-la de si e a envolvendo com seu braço livre.

Já fora do enorme grupo amontoado na sala a dupla respirou aliviada, fosse pelo sufoco em meio a multidão ou pelo descontrole de seus corações.

Ambos estavam suados.

Os cabelos longos de Arabella envolviam suas costas praticamente grudados, enquanto ela os puxava, tentando manter o mínimo de integridade. 

O caso de Alex não era muito diferente, mas ele mal podia perceber o cabelo perder a fixação do gel, já que o mesmo se encontrava fora de seu alcance visual.

A dupla novamente respirou fundo.

Não era apenas ele que estava sentindo aquilo, mas Alex não sabia, e retomando de volta a consciência tirou a possibilidade de sua mente, afirmando internamente para si mesmo de que ela o via só como uma criança.

Era loucura estar tão atraído por uma garota que apareceu do nada em sua vida e parecia se encaixar perfeitamente nela. Arabella chegou como uma chuva forte num dia quente, pronta para acalentar quem quer que estivesse com calor. E aparentemente, nessa sua metáfora, ele estava pegando fogo.

Era tudo imaginação da sua cabeça influenciada por hormônios e álcool. Tinha que ser.

Arabella riu sozinha, voltando-se a mesa de bebidas e preparando mais um copo para si. Todo seu corpo parecia tremer longe da proximidade de Alex, que por sua vez, se posicionou ao seu lado, numa distância cruel.

Quando os olhos do mesmo caíram sobre a garota toda sua convicção em ser apenas uma criança para ela estilhaçou-se, vendo-a ruborizada e nervosa enquanto procurava as bebidas mais fortes espalhadas na mesa.

Um pequeno sorriso surgiu em seu rosto com a constatação, enquanto uma leviana esperança se fazia presente.

— Um dançarino nato – brincou Arabella.

— Digo o mesmo, sabe cair como ninguém.

Ambos riram e no breve segundo que seus olhos se encontraram e os sorrisos se completaram um calor subiu no corpo dos dois. 

Arabella assentiu, constrangida, e virou para dentro o copo que acabara de encher.

— Vou ao banheiro – acenou para o corredor ainda visível – volto logo.

— Cuidado para não se perder.

Ela sorriu em resposta engatando uma saída. Alex permaneceu ali, parado, observando-a se afastar. 

Sua mente não conseguia associar que ela estava realmente ali, em carne e osso. E calor.

Um sorriso esperançoso surgiu em seu rosto, lembrando-se dos momentos em meio a multidão. Do toque, ainda que despropositado, do riso, do olhar...

Não sabia o que pensar sobre Arabella, não enquanto ela confundia todos os seus sentidos. E ainda assim era tão boa em biologia.

Uma mão lhe tocou o ombro e surpreso ele recebeu Brad, bêbado, apontando na direção pela qual Arabella havia desaparecido.

— Quem é aquela?
Seu hálito era puro álcool e rindo do estado do amigo, enquanto o ajudava sentando-o numa cadeira, Alex explicou com gestos.

— Uma amiga.

— E que amiga! – brincou o loiro, rindo e se jogando para frente.

Alex revirou os olhos e notou a chegada de Henry, que riu alto do estado de Brad, que até tentou retrucar a risada do amigo, mas tudo que conseguiu foi grunhir.

— Eu vou levar esse aqui – Henry apoiou o amigo no ombro – espero que esteja se divertindo.

— Estou sim – Alex elevou o copo, como que para confirmar suas palavras – tenho bebida e música, nada me faltará.

Henry sorriu e uma nova voz se sobrepôs a música, ao lado dos mesmos.

— Nada mesmo.

Cléo, que havia sumido no início da festa, voltou e agarrou Alex pelo pescoço com um sorriso claramente afetado pelo álcool.

Henry lançou um olhar de quem entendeu o recado e com um sorriso de lado afastou-se da dupla, saindo da casa.

Alex, após a saída do amigo, virou-se para a garota com as sobrancelhas levantadas enquanto ela riu, apertando-o contra seus seios.

— O que faz aqui?

— Você não queria minha companhia? – ela o apertou mais contra si – Fui sua escolhida quando chegou.

Os lábios dela roçaram os dele, o convidando para um beijo.

— E sumiu assim que consegui sua companhia – ele tentou afastar-se – não adianta voltar agora.

— Você é tão chato – resmungou a mesma soltando-o.

— Você não viu nada – ele levantou o copo e tomou um longo gole.

— Gostaria de ver tudo – Cléo sorriu, piscando.

Alex suspirou depositando o copo sobre a mesa.

— Qual é, não sou tão ruim assim, sou?

— Quando é rejeitada por todos os garotos e volta para mim como sua última opção, sim, você é ruim.

Cléo revirou os olhos e batendo os pés seguiu o caminho de Henry, deixando Alex mais uma vez sozinho. Dando de ombros o mesmo voltou a pegar seu copo e bebendo boa parte do conteúdo observou os corpos na pista de dança.

Um movimento ao seu lado o fez virar-se e lá estava Arabella, com um sorriso constrangido e o cabelo, antes bagunçado, todo no lugar.

— Atrapalho algo?

Alex expressou confusão.

— O que quer dizer?

— Nada – ela negou com a cabeça – olha, tenho que ir.

O garoto tentou contestar, mas a mesma lhe sorriu de forma artificial e depositando uma tapinha em seu ombro, concluiu:

— Nos vemos depois.

Ela afastou-se rapidamente sumindo na multidão.

Alex permaneceu parado e, quase estático, a acompanhou sumir, sussurrando uma despedida. 

Seu corpo pareceu perder todo o calor e com um suspiro ele voltou-se a mesa.

O garoto a encarou por longos segundos até que algo surgiu em sua mente. A possibilidade das palavras dela estarem a ligadas a Cléo.

Num movimento rápido ele seguiu até a entrada da casa, mas já não pôde avistar a cabeleira negra de Arabella. 

Alex se apoiou no portal e com mais um longo inspirar bebeu o resto da bebida em seu copo.

— Você não atrapalhou nada – murmurou encarando os dois lados da rua.


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Notas finais do capítulo

Quando terminei esses capítulos pensei "não posso guardar isso só para mim". São tantas emoções! Quero todos sentindo isso comigo! E então, consegui? Hehe.



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